Platão Descomplicado: Biografia e Filosofia

Platão Descomplicado: Biografia e Filosofia

Olá, marujos! Hoje falaremos sobre a vida e a filosofia de Platão de um jeito descomplicado. A proposta é falar um pouco sobre a história de vida desse filósofo e explicar brevemente, de um jeito simples e descomplicado, sobre as suas principais teorias filosóficas. Assim, você poderá conhecer bem esse filósofo e ter um apanhado geral das suas teorias filosóficas. Em alguns dos tópicos de filosofia, vocês terão um ou dois links extra, que vão direcionar para uma explicação descomplicada completa daquela teoria e/ou uma proposta para ensiná-la de um jeito diferente (com uma dinâmica ou jogo). Vamos lá!

Platão Descomplicado: Biografia

Infância e Juventude

Platão nasceu no ano de 427/428 a.C. em Atenas, na Grécia. Ele era de uma família nobre, aristocrática. Sua família, por parte de mãe, tinha parentesco com Sólon, um famoso legislador ateniense.

Existem especulações de que o nome verdadeiro de Platão era Arístocles. Platão seria um apelido, porque ele tinha ombros largos ou porque ele tinha uma ampla eloquência ao falar (Platon pode ser traduzido como grande / largo / amplo). Mas tudo indica que o nome de Platão era Platão mesmo, já que esse era um nome comum naquela época.

As fontes dizem que Platão deve uma excelente formação, especialmente nas áreas de gramática, música e ginástica. Platão ficou famoso por ser o maior discípulo de Sócrates, mas o primeiro contato de Platão com a filosofia foi com Crátilo (discípulo do pré-socrático Heráclito).

Decepção com a Política Ateniense e Primeira Viagem à Sicília

Como dito anteriormente, Platão era de uma família nobre e teve a chance de ocupar grandes funções políticas na época da tirania, mas recusou por considerar errada aquela forma de governo.

Sua decepção com a política ateniense chegou ao máximo quando, já na democracia ateniense, seu mestre Sócrates foi julgado e condenado à morte. Isso fez com que Platão começasse a criticar o atual sistema e defender a introdução da filosofia nas questões políticas.

Ele sai de Atenas após a morte de seu mestre (399 a.C.) com medo de uma perseguição aos discípulos de Sócrates. Suas viagens culminarão na Sicília, onde ele tentará implementar um novo tipo de governo, inspirado na sua teoria do rei-filósofo. Porém, irá se desentender com Dionísio I, tirano de Siracusa (uma região da Sicília) e precisará fugir (alguns relatos dizem que Platão chegou a ser vendido como escravo, mas foi libertado).

Fundação da Academia de Platão

De volta de Sicília, por volta dos anos 388 a.C, Platão fundou uma escola para jovens e anciãos estudarem. O objetivo era o saber pelo seu valor ético-político.

O nome dado à escola era “Academia” porque estava localizada em um bosque no subúrbio de Atenas dedicado ao herói Academo.

Não se tem registros do que exatamente era ensinado na Academia. Provavelmente, a proposta era a construção de novos conhecimentos, especialmente os teóricos, através do método da dialética.

Sabe-se que, durante a direção de Platão, não se era cobrado nada para os alunos.

Segunda e Terceira Viagens à Sicília

Com a morte de Dionísio I em 366/377 a.C., Platão foi convidado por seu amigo Dion a voltar para Siracusa e tentar implantar seu ideal da República com o novo tirano Dionísio II.

Platão aceitou e teve progresso por um tempo, mas devido à limitação intelectual de Dionísio II, se desentendeu com ele e precisou fugir novamente.

Platão ainda foi uma terceira vez a Sicília, por convite de Dionísio II, para ajudá-lo a “por ordem” na cidade. Mas fracassou novamente.

Velhice e Morte

Platão regressa para Atenas em 360 a.C. Ele ficará na Academia ensinando e escrevendo até sua morte, em 348/347 a.C. Ele morreu com 80 anos. Acredita-se que ele foi sepultado no terreno da Academia.

Platão Descomplicado: Obras e Estilo Literário

São muitas as obras atribuídas a Platão. Dessas, sabe-se hoje, em sua maioria, quais são e quais não são deles.

Platão ficou famoso pelo seu estilo literário. Ele escreveu a maior parte dos seus livros em forma de diálogo, em que Sócrates era o protagonista e aquele que produzia o conhecimento filosófico do diálogo.

Suas obras são normalmente divididas em diálogos do período inicial, médio e tardio. Acredita-se que os diálogos iniciais possuem muito daquilo que Sócrates ensinava, e foi a forma como Platão conseguiu preservar a filosofia de seu mestre. Já os diálogos tardios seriam a filosofia mesma de Platão, suas teorias filosóficas originais.

Platão Descomplicado: Metafísica

Teoria das Ideias

Para um artigo dedicado à Teoria das Ideias, acesse: A Teoria das Ideias Descomplicada.

Para um artigo dedicado ao ensino da Teoria das Ideias, acesse: Ensinando Teoria das Ideias de Platão através de Jogo: Jogo dos Grupos.

Platão quis resolver um antigo problema filosófico, trazido no debate entre o pensamento de Heráclito e Parmênides: como as coisas podem mudar de aparência e continuar sendo elas mesmas. Ou seja, como entender as mudanças constantes das coisas, as suas várias variedades, ao mesmo tempo em que entendemos que uma mesma coisa sempre é ela mesma.

A solução de Platão foi a noção da existência do mundo das ideias. Platão defenderá que existem duas realidades: uma é o mundo sensível, esse mundo que conhecemos e estamos. Esse mundo é afetado pelo devir, ou seja, pela mudança. Nesse mundo as coisas são aparentes, transitórias. A outra realidade é o mundo das ideias, um mundo inteligível. Esse mundo só pode ser entendido pelo intelecto, pela razão. Nesse mundo tudo é perfeito e nele estão as ideias puras de tudo o que existe no mundo sensível.

Sendo assim, o nosso mundo, com todas as suas variedades dos mesmos seres são cópias imperfeitas das ideias perfeitas. Todas as cadeiras que conhecemos são cópias da ideia perfeita de cadeira. Todos os gatos são cópias imperfeitas da ideia de gato. Todas as ações justas são cópias imperfeitas da ideia de Justiça. Com isso, percebemos, com Platão, que esse mundo em que estamos é limitado e transitório. Tudo o que nele existe pode apontar para a perfeição, mas nunca é perfeito.

Para se chegar à verdade, temos que sair da análise do que é sensível, e partir para o conhecimento puramente teórico. Só assim conseguiríamos entender as verdades eternas, aquilo que é imutável.

Platão Descomplicado: Antropologia / Psicologia

Tripartição da Alma

Para um artigo dedicado à Tripartição da Alma, acesse: A Tripartição da Alma Descomplicada.

Para Platão, o ser humano é formado de corpo e alma. O corpo é a parte sensível do ser humano, limitada, imperfeita e finita. A alma seria a parte inteligível do ser humano, ilimitada, perfeita e eterna.

O corpo surge no mundo sensível. A alma, no mundo inteligível. Enquanto encarnada, a alma se dividiria em três partes ou funções: a parte concupiscível (ou apetitiva) seria responsável pelos prazeres e desejos do corpo (com o objetivo de fazer o corpo querer se nutrir e reproduzir) e atuaria especialmente no baixo ventre (estômago e órgão sexual); a parte irascível (ou impetuosa) seria responsável pela autopreservação do corpo e estaria localizada no tronco; por fim, a parte racional seria responsável pelo conhecimento e controle dos impulsos sensíveis das duas outras partes, e estaria localizada na cabeça.

Quando o corpo morre. Resta apenas a função racional daquela alma. Ela, então, volta para o mundo inteligível e aguarda uma nova encarnação.

Platão Descomplicado: Teoria do Conhecimento

Reminiscência

Para um artigo dedicado à Reminiscência, acesse: Teoria da Reminiscência Descomplicada.

Platão acreditava que a alma, quando criada no mundo das ideias, sabia todas as verdades porque estava em constante contato com as ideias perfeitas.

Contudo, ao encarnar, ela esquecia essas verdades. Restando apenas um conhecimento esmaecido (desbotado) delas.

Sendo assim, o papel da filosofia é, através do diálogo, relembrar a alma das verdades que ela esqueceu.

O conhecimento, então, não é o aprendizado de algo novo, mas um ato de relembrar aquilo que já se sabia, mas havia esquecido. Todos nós temos todo o conhecimento dentro da gente, precisamos apenas relembrá-lo.

Mito da Caverna / Alegoria da Caverna

Para um artigo dedicado ao Mito da Caverna, acesse: Alegoria da Caverna Descomplicada.

Platão escreveu uma história de um prisioneiro que se liberta e descobre que aquilo que ele achava ser a verdade eram apenas sombras dos objetos refletidas no fundo da caverna. Depois, esse prisioneiro vai descobrir que os objetos são cópias dos elementos da natureza. Depois de encontrar a verdade, o prisioneiro volta para contar a novidade para os demais, mas esses não acreditam, achando que o ex-prisioneiro ficou louco, e o matam.

Essa história, além de ser uma homenagem ao seu mestre Sócrates, também mostra as etapas do conhecimento. Mostra que o ser humano vai evoluindo intelectualmente, aprendendo a abandonar as cópias imperfeitas do mundo sensível e alcançando as ideias perfeitas. Mesmo assim, é um processo difícil e doloroso, que nem todos estão dispostos a percorrer. Por isso, poucos são filósofos.

Mito da Linha Dividida / Alegoria da Linha Dividida

Outra história de Platão é que o conhecimento é divido em quatro graus. Os dois primeiros momentos pertencem ao que podemos conhecer do mundo sensível. Os dois últimos é o conhecimento adquirido pelas reflexões sobre o mundo inteligível.

O primeiro momento é chamado de Eikasia, é o conhecimento pela imagem das coisas (como se fosse a cópia / pintura / escultura de algo real). O segundo momento é a Pístis ou Doxa, que é a formação de um conhecimento baseado naquilo que nos é ensinado e naquilo que sentimos com os nossos sentidos. O terceiro momento é a Dianoia, que seria o raciocínio lógico e a abstração. Por fim, a Nóesis ou Episteme, que seria a intuição das essências e das ideias perfeitas, a filosofia.

Nesse relato, vemos as etapas pela quais uma pessoa passa para chegar ao conhecimento verdadeiro.

Platão Descomplicado: Ética

Mito do Cocheiro / Alegoria do Cocheiro

Para um artigo dedicado ao Mito da Caverna, acesse: Mito do Cocheiro Descomplicado.

Para um artigo dedicado ao ensino do Mito do Cocheiro, acesse: Ética de Platão através de um Jogo.

Platão dirá que o ser humano é semelhante a uma biga controlada por um cocheiro. A biga é o corpo, um dos cavalos é a parte concupiscível da alma, o outro cavalo é a parte irascível, e o cocheiro é a parte racional.

Dessa forma, Platão entende que, enquanto encarnado, algumas partes da alma se “contaminam” com os prazeres sensíveis e podem se perder na sua função. A parte apetitiva pode se entregar aos desejos e tornar o corpo escravo deles. A parte impetuosa pode se entregar à violência e colocar o corpo em risco desnecessário.

A única parte que não se contamina é a racional, porque todo o seu trabalho está ligado diretamente ao conhecimento, ao intelecto. Sendo assim, cabe a ela “por ordem na casa” e impor limites às outras duas partes.

Platão Descomplicado: Política

Divisão das Tarefas

Para um artigo dedicado à Divisão de Tarefas, acesse: Política de Platão Descomplicada.

Platão acredita que a cidade perfeita é aquela em que cada um trabalha naquilo em que se tem habilidade e desempenha uma função a qual tem aptidão. Para saber qual é a predisposição de cada pessoa, deve-se observar qual parte da alma ela tem em maior destaque na sua vida.

As pessoas que possuem a função concupiscível em destaque exercerão as profissões ligadas à criação de bens (agropecuária e artesanato) e comércio, já que elas tem propensão ao acúmulo e satisfação das necessidades físicas. As pessoas que possuem a função irascível em destaque exercerão as profissões ligadas à proteção da cidade (seriam nossos policiais e militares), já que elas tem propensão ao uso da força bruta. Já as pessoas que possuem a função racional em destaque exercerão as profissões ligadas ao conhecimento e à administração.

Rei-filósofo

Na cidade ideal de Platão, o principal cargo deve ser exercido por um filósofo. Ou quem o exerce deve se tornar um filósofo. Para Platão, somente o filósofo conhece a verdade, a ideia de Bem e de Justiça. Logo, para conduzir uma cidade à justiça e ao bem, faz-se necessário que o governante seja um excelente filósofo.

Platão Descomplicado: Educação

Educação Pública e Obrigatória

Para Platão, o Estado deve conduzir a educação das crianças e dos jovens. Através de diversas etapas eliminatórias, vai-se percebendo as aptidões da alma de cada um. Dessa forma, o governo pode direcionar cada indivíduo para a função específica que melhor exercerá para o bem da cidade.

Os filhos seriam tirados de seus pais, para não serem contaminados pelas ideias dos mais velhos. Eles teriam primeiro treinamento físico, com ginástica, esportes e brincadeiras. Depois, um treinamento artístico musical. Só então aprenderiam conteúdos como matemática, história e ciência.

Somente os que ficarem até o final poderão exercer os altos cargos na cidade. Esse sistema de educação termina aos 35 anos, sendo ainda mais 15 anos de estágio / treinamento prático, na vida pública.

Platão Descomplicado: Conclusão

Como disse o escritor Alfred North Whitehead: “a caracterização geral mais segura da tradição filosófica europeia é de que ela consiste em uma série de notas de rodapé sobre Platão”. Isso mostra o tamanho da influência de Platão na filosofia, e podemos até mesmo dizer na cultura ocidental. A religião cristã também foi fortemente influenciada pelo platonismo. Com esse artigo, é possível ter um apanhado geral das principais teorias filosóficas de Platão.

E aí? Sentiu falta de alguma teoria de Platão? Deixa nos comentários que eu acrescento! Gostou desse artigo? Compartilha e ajuda a divulgar o blog! Quer sugerir algum tema para artigo? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Platão Descomplicado: Referências

Coleção Ensino Médio 1° ano. Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2020. 98 p.: il. (Volume Único)

Platão, o primeiro pedagogo (em https://novaescola.org.br/conteudo/1850/platao-o-primeiro-pedagogo)

Wikipédia (os artigos utilizados estão na forma de hiperlink dentro do texto).

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.