Política de Platão Descomplicada

Política de Platão Descomplicada

Olá, marujos! Hoje explicaremos a teoria política de Platão de uma forma descomplicada. Vamos muito brevemente relembrar quem é Platão e sua teoria antropológica (que é essencial para entender sua política) e depois explicar o tema de hoje com uma linguagem simples e vários exemplos. Vamos lá!

Sobre Platão

Platão é um dos três grandes filósofos da era clássica. De origem grega, viveu entre os anos 427/428 a.C. e 348/347 a.C. Foi o maior discípulo de Sócrates e o mestre de Aristóteles.

Escreveu diversos textos, a maioria em formato de diálogo, pois acreditava que a filosofia era construída na troca de ideias.

Foi o primeiro a criar um sistema filosófico, desenvolvendo diversas teorias que conversavam entre si e davam conta de responder aos problemas filosóficos de sua época.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Platão, recomendo o artigo: Platão Descomplicado: Biografia e Filosofia.

Sobre a Antropologia de Platão

Platão acreditava que o ser humano era composto de duas instâncias: corpo e alma (alma em grego é psykhé e, por isso, algumas pessoas chamam essa teoria de “psicologia de Platão”).

Para ele a parte mais nobre do ser humano era a alma porque ela é eterna, enquanto que o corpo é perene.

Essa alma, enquanto encarnada no corpo, possui três funções principais. Para cada função, Platão designou uma parte da alma. Assim, a alma humana se divide nas chamadas partes:

Concupiscível / apetitiva: função de manter o corpo vivo e saudável, além de estimular a reprodução.

Irascível: função de manter o corpo protegido e estimulado a agir (ter disposição para fazer as coisas).

Racional: função de pensar e aprender sobre as coisas.

Para saber mais sobre a Antropologia de Platão, recomendo o artigo: A Tripartição da Alma Descomplicada: Antropologia de Platão.

Política de Platão Descomplicada: A Busca da Harmonia

Para Platão, o bem estar de uma sociedade depende da harmonia dos seus habitantes.

Essa harmonia se dá tanto internamente (quando as partes da alma de um indivíduo estão cada uma cumprindo bem sua função) quanto externamente (quando os diversos indivíduos de uma sociedade estão cumprindo bem a sua função.

Para explicar como alcançar a harmonia interna, Platão propôs uma Ética.

Para explicar como alcançar a harmonia externa, Platão propôs uma Política.

Política de Platão Descomplicada: Cada um no Seu Quadrado

Platão defendia que a desarmonia de uma sociedade está no fato de que muitos indivíduos não trabalham naquilo em que eles são bons, nas suas vocações. Dessa forma, eles não maximizam seus potenciais e ainda podem ser cidadãos frustrados.

Para piorar, alguém que exerce uma atividade a qual não é apto pode criar um sério problema social (pensem, por exemplo, em um médico que não gosta de curar pessoas, um professor que não gosta de ensinar, um policial que não quer proteger as pessoas ou um político que não pensa no bem coletivo).

Uma curiosidade interessante é que Platão não fazia distinção de gênero dentro das funções da sociedade. Ele defendia que todos deveriam receber a mesma educação inicial e serem designados para as funções na cidade baseando-se exclusivamente nas suas aptidões independentemente do sexo que tinham.

Política de Platão Descomplicada: As Funções Sociais na Cidade de Platão

Platão vai dizer que existem três grandes funções na sociedade ideal e, para cada função, existe um tipo específico de indivíduo apto para ela:

Trabalhadores

São destinadas aos seres humanos que possuem a parte concupiscível / apetitiva da alma mais forte que as demais partes.

Platão associa essa função às pernas de um corpo humano, dizendo que a sociedade depende dos trabalhadores para o seu sustento.

Os indivíduos que possuem essa característica são naturalmente mais acumuladores que as demais pessoas. Por isso, se sairão bem em profissões cujo sucesso depende da vontade de acumulação de riquezas.

Todas as profissões da agropecuária e do comércio se enquadram aqui, sejam eles patrões ou empregados.

Quanto mais e melhor um produtor produz, mais ele lucra. E quanto mais e melhor ele produz, mais a cidade ganha em quantidade e qualidade de produtos.

Quanto mais e melhor um comerciante negocia suas mercadorias, mais ele lucra. E quanto mais e melhor ele comercia, mais a cidade ganha em quantidade, variedade de negócios e preço.

Eu também incluiria aqui as profissões de serviço (limpeza, transporte, manutenção, cozinha), a construção civil e ligadas à saúde porque os trabalhadores delas, no final das contas, estão trabalhando para si mesmos, buscando acumulação de bens.

Guerreiros

São destinadas aos seres humanos que possuem a parte irascível da alma mais forte que as demais partes.

Platão associa essa função aos braços de um corpo humano, dizendo que a sociedade depende dos guerreiros para sua proteção.

Os indivíduos que possuem essa característica são naturalmente mais aptos aos exercícios e treinamentos físicos. São pessoas naturalmente corajosas e dispostas a correr risco de vida.

Como podemos observar, o serviço de segurança exige muita disposição física e emocional em aceitar correr risco de vida para proteger um lugar. Dessa forma, quanto mais a pessoa tem essa disposição, mais a cidade ganha bravos guerreiros para defendê-la.

Todas as profissões que envolvem segurança se enquadram aqui. Ou seja, aqui estão os militares, os policiais, seguranças privados, porteiros, vigias, guardas de trânsito, agentes penitenciários.

Eu, pessoalmente, incluiria aqui os atletas porque, de uma certa forma, eles também prezam pelo cuidado com o corpo e são dotados de muita coragem nas competições.

Filósofos

É destinada aos seres humanos que possuem a parte racional da alma mais forte que as demais partes.

Platão associa essa função à cabeça de um corpo humano, dizendo que a sociedade depende dos filósofos para ter uma direção.

Os indivíduos que possuem essa característica são naturalmente mais propensos ao conhecimento e, por isso, são inteligentes para tomarem decisões públicas que irão impactar positivamente toda a sociedade.

Os indivíduos desse grupo buscam a sabedoria mais do que os demais. Nessa busca, eles sabem perceber o que é o melhor para a sociedade, priorizando a justiça e o bem de todos em vez de priorizar o bem privado. Dessa forma, a sociedade ganha pessoas honestas que se esforçam ao máximo para garantir o bem estar de todos.

Todas as funções ligadas ao serviço em si legislativo, judiciário ou executivo se enquadram aqui. Eu destaco o “em si” porque, como exemplo, um advogado ou funcionário administrativo do judiciário está incluído aqui, mas um segurança do tribunal, não. Os deputados e seus assessores estariam aqui, mas seus motoristas não.

Eu incluiria aqui as funções ligadas à educação em si, ou seja, professores, instrutores, auxiliares de aprendizagem porque essas funções demandam não só adquirir um conhecimento, mas também a capacidade de transmitir esse conhecimento.

Dentre os indivíduos desse grupo, um se destacará e será preparado para ser o líder dessa sociedade. Platão o chamou de rei-filósofo (em breve, um artigo específico para esse tema).

Artistas

Na cidade ideal de Platão, os artistas foram expulsos porque, segundo o filósofo, eles não são úteis para nada. Sua arte nada mais seria do que ficar contando falsas histórias que encantam as pessoas e as tiram do caminho da verdade.

Lembremos aqui que os artistas por excelência naquela época eram os aedos e rapsodos que, respectivamente, cantavam / tocavam e recitavam poesias sobre deuses e heróis gregos. E a filosofia vem para afastar o pensamento mitológico e defender o pensamento racional.

O teatro também não era bem visto por Platão porque as encenações seriam imitações empobrecidas daquilo que ocorreu. Esse desprezo pela imitação é forte porque ele considerava todo nosso mundo sensível como cópia imperfeita do mundo inteligível. Logo, a imitação de um acontecimento seria a cópia da cópia.

Alguns estudiosos defendem que Platão não rejeitou a arte como um todo, mas sim os maus artistas, aqueles que não conseguiriam produzir coisas novas e de valor social com sua arte. Dessa forma, a arte ainda existiria na cidade de Platão como forma de educação da população para a verdade.

Política de Platão Descomplicada: Conclusão

Diz-se que Platão se inspirou no modelo de vida espartano, que era bem rígido e pouco diversificado. O importante aqui é perceber que o sucesso de uma sociedade depende de cada um trabalhar na função em que é mais apto. Isso garantirá a prosperidade não só do indivíduo, mas de toda a comunidade. Por isso, não existe profissão mais ou menos importante para Platão, e sim a profissão certa para cada tipo de pessoa.

Aprofundando o Assunto

Se quiser aprender mais sobre a Política de Platão, recomendo a leitura dos seguintes livros (retirados da lista do Contra os Acadêmicos):

A República (Platão)

As Leis (Platão)

Para ler Platão – Tomo III (José Trindade Santos)

As leis de Platão (Jean-François Pradeau)

A república de Platão: outros olhares (Dennys Garcia Xavier)

As compras feitas através dos links acima ajudam na manutenção do blog. 🙂

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

O Pensamento Político de Platão (acessado em 22 de fev. de 2021)

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.