Reflexão sobre Samurai de Olhos Azuis: Contra o "Status Quo" e Busca pela Excelência

Reflexão sobre Samurai de Olhos Azuis: Contra o “Status Quo” e Busca pela Excelência

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a animação Samurai de Olhos Azuis. Nela, acompanhamos uma samurai de olhos azuis lutando por vingança no Japão Feudal, um ambiente que não respeitava nem mulheres nem estrangeiros. Na reflexão, mostrarei como o exemplo de várias mulheres da série (que lutaram ao seu modo contra a misoginia da época) pode nos inspirar e ajudar a melhorar como pessoas e também como o personagem Ringo nos mostra a importância da excelência. Teremos spoilers da animação. Vamos lá!

Sobre a Animação (COM Spoilers)

Samurai de Olhos Azuis é uma série de animação da Netflix de 2023. Tem uma temporada disponível e já foi renovada.

Mizu é uma mestiça de branco europeu com oriental japonês. Sua mãe japonesa foi estuprada por um dos poucos homens brancos que habitavam ilegalmente o Japão Feudal no período Edo, durante o xogunato Tokugawa.

Naquela época, ter traços ocidentais era motivo de preconceito e até assassinato. Como ela tinha a pele mais clara e olhos azuis, foi criada escondida das demais pessoas. Porém, teve que se revelar quando sua mãe morreu e sua casa pegou fogo.

Mizu, então, conseguiu abrigo na oficina de um ferreiro cego, famoso por fazer excelentes espadas. Ela aprendeu o ofício e também a lutar vários estilos marciais e de esgrima com os diversos clientes que vinham comprar as espadas.

Quando adulta, Mizu partiu para se vingar. Sua meta é encontrar os últimos quatro homens brancos que vivem no Japão e matá-los.

Nesse caminho, ela encontra Ringo, um hábil cozinheiro de macarrão que agora quer seu aprendiz. Mizu não o aceita imediatamente, mas acaba “tolerando-o” junto dela.

Ela também cruzará com Taigen, um samurai que ela derrotou e que fica lhe perseguindo querendo vingança (mas que, depois, começa a ajudá-la).

O que Mizu não esperava é que seu inimigo Abijah Fowler (um dos quatro brancos) está tramando contra o xogunato. Agora, a vingança de Mizu se misturou com problemas governamentais!

Será que Mizu conseguirá sua vingança? Descubra assistindo Samurai de Olhos Azuis na Netflix.

Reflexão sobre Samurai de Olhos Azuis: Existem mais Caminhos dos que os Pré-estabelecidos

No Japão feudal, assim como foi e ainda é em muitos lugares do mundo, existia uma discriminação enorme contra as mulheres. Basicamente, elas estavam ali para servir aos homens de diferentes formas, mas especialmente como esposas, mãe dos seus filhos, amantes e/ou serviçais.

Mizu é um exemplo de luta contra esse engessamento social ao desafiar as regras sobre samurais e se comportar como um. Ela, para ser aceita, se disfarçou de homem (em um caso parecido ao de Mulan) e, dessa forma, conseguia ser respeitada. Ela tinha acesso livre aos vários locais e estabelecimentos. 

Nada do que Mizu fez como “homem” era impossível para uma mulher, mas nunca a deixariam agir se soubessem o gênero dela. Por isso, ela não teve outra escolha a não ser o disfarce.

Porém, para mim, mais impressionante do que Mizu foram a princesa Akemi e a cafetina Madame Kaji. Essas duas mulheres lutaram contra o status quo do jeito que podiam sem esconder sua feminilidade.

Akemi, como tradicionalmente acontecia com filhas da nobreza, foi educada nos costumes para ser a esposa de outro nobre. Ela namorava Taigen e era apaixonado por ele. Quando descobriu que foi prometida para outro, decidiu abandonar seu lar para encontrar seu amado.

Após compreender a realidade do mundo – fora dos portões de sua mansão – também descobriu a força que possuía e sua vontade de poder. Obrigada a casar com um dos filhos do Xogum e sendo maltratada por sua sogra, Akemi percebe que conseguia influenciar seu marido e, com isso, adquiriu privilégios no xogunato. Depois, quando descobre os planos de seu pai e o destino lhe dá a oportunidade de se destacar ainda mais, ela abraça a oportunidade, deixando Taigen (como símbolo da sua antiga vida) para trás.

Já a cafetina Madame Kaji, a muitos anos descobriu que os homens controlam o mundo, mas as mulheres controlam os homens. Como diz a frase: você não precisa ser poderoso, precisa apenas ser amigo dos poderosos. Administrando um bordel que fornecesse todo o tipo de prazeres, ela conseguiu uma posição de “destaque” naquela sociedade. Porém, nem sempre as coisas dão certo e ela acaba tendo problemas, mesmo com sua influência.

De qualquer forma, o problema vivido por Madame Kaji também não é um problema que ela passou “só” porque é mulher. Provavelmente, se fosse um cafetão (ou seja, homem), ele também teria que passar pelos perrengues que Madame Kaji passou com Hamata.

A mensagem que a animação traz é que, infelizmente, as mulheres sofreram (e, convenhamos, ainda sofrem) muito para ocupar posições de destaque social e até mesmo para serem respeitadas na sociedade. Por causa disso, elas são obrigadas a buscarem estratégias para conseguirem ocupar espaços que normalmente não deixam para elas.

Mizu apelou para o disfarce; Akemi e Kaji para a influência. Independentemente do modo como feito, essas mulheres não aceitaram a submissão diante dos homens e lutaram como puderam para “serem alguém” nesse ambiente hostil.

Que elas sirvam de inspiração para que mais mulheres não aceitem se submeterem aos homens e, se lhes for dada a oportunidade, consigam sua independência social. Que façam isso como lhes for possível e viável.

Uma Questão sobre as Profissionais do Prazer

Muitas críticas são feitas às mulheres que “usam” seus corpos (de diferentes formas) para ganhar dinheiro e abrir portas. Elas estão erradas em fazer isso? Não acredito, porque essa é a oportunidade que elas possuem na sociedade em que vivem. Se elas não se importam com isso, é direito delas. John Locke já dizia (obviamente, não nesse contexto) que os seres humanos são donos de seus corpos e de tudo o que produzem com eles.

O que podemos questionar é se alguma mulher faz isso porque não encontra outra opção ou o fato de gastarmos dinheiro com esse tipo de “produto”. Mas ambas as críticas são às sociedades e aos homens e não às mulheres. Elas estão fazendo o que podem e merecem todo o respeito!

Lamentavelmente, o que vemos, na realidade, são várias tentativas de continuar a misoginia. Se, antes, as mulheres eram exploradas e abusadas sexualmente e a sociedade deixava ou fazia “vista grossa”, agora que elas aprenderam a fazer dinheiro e serem independentes com seus corpos, buscam-se formas de tentar minimizar seus esforços e menosprezá-las.

Não seja alguém que faça isso, seja você homem ou mulher. Se quer mudar as coisas, não vai ser criticando essas mulheres, vai ser respeitando-as e criando uma sociedade que não explora corpos, seja feminino ou masculino.

Reflexão sobre Samurai de Olhos Azuis: Busque Ser o Melhor

Todos os que visitavam a loja de macarrão onde Ringo trabalhava dizia que aquele era o melhor macarrão da região. Ringo se orgulhava disso. Mesmo assim, ele decidiu abandonar o local e seguir Mizu para se tornar um samurai.

Ringo acreditava que tinha alcançado a excelência no seu macarrão e, ao se admirar com as habilidades de Mizu, decidiu embarcar em outro desafio.

As coisas mudam um pouco para ele quando a dupla chega em um festival cheio de lojas excelentes de macarrão. Ringo percebe que o seu macarrão, do qual se orgulhava, estava muito aquém daqueles que ele estava provando. Ou seja, Ringo não tinha alcançado a excelência.

Depois, após vários atritos com Mizu, Ringo também desistiu da vida de samurai e se voltou para o ofício de forja, junto ao mestre cego Eiji. Agora, Ringo busca a excelência na forja de espadas.

Qual a lição que podemos ter? De que a busca pela excelência é de nossa alma e não só daquilo que fazemos. Somos nós que precisamos ser excelentes e não nosso ofício. O ofício é apenas um modo de demonstrar a nossa excelência.

Ringo buscava a excelência e por isso quis ser aprendiz de Mizu. Depois, ele percebeu que não era excelente no macarrão e que Mizu não estava disposta a treiná-lo devidamente. É por isso que ele fica com o mestre Eiji. Eiji é o tipo de pessoa que busca a excelência em tudo o que faz e, com certeza, estaria disposto a treinar Ringo para a excelência.

Normalmente, ouvimos muito que precisamos ser excelentes naquilo que fazemos e não percebemos que aquilo que fazemos é um meio para a excelência de nós mesmos, e não o fim. Devemos trabalhar duro, dando nosso máximo, porque isso nos torna excelentes e, automaticamente, isso refletirá no nosso ofício. Ao contrário, errado estamos em apenas querermos executar nosso ofício de forma excelente, não se importando com nós mesmos.

É por isso que Ringo está certo em mudar constantemente o que quer fazer. Porque ele está buscando algo que lhe ajude a ser excelente muito mais do que executar algo de forma supostamente excelente.

Assim como Ringo, nós também temos esse direito e, quiçá, dever. Logo, não sinta medo de mudar de formação ou profissão para encontrar algo que lhe desafie a ser ainda melhor. Ao mesmo tempo, não ache que só porque você é muito bom em algo que você faz, você é uma pessoa excelente. A arrogância pode lhe derrubar.

Aristóteles, que refletiu em sua ética sobre a virtude (palavra derivada do latim a qual significa excelência), nos mostra que, para os seres humanos, a excelência está no hábito, na constância de atitudes físicas e mentais equilibradas, que exercitam ao máximo nosso intelecto (aquilo que temos de exclusivo frente aos outros seres).

Dessa forma, parafraseando o estagirita, busque a excelência e encontrará a felicidade, a boa vida.

Reflexão sobre Samurai de Olhos Azuis: Conclusão

Samurai de Olhos Azuis nos transporta para o Japão Feudal e nos mostra que aquelas pessoas tinham lutas interiores e exteriores que, de certa forma, ainda perduram em nossa sociedade. Podemos melhorar a nós mesmos e o nosso entorno? Com certeza e isso é, em última análise, um dever nosso. Devemos ser melhores hoje do que fomos ontem e assim sucessivamente. Devemos agir dessa mesma forma como pessoas públicas: criar uma sociedade melhor a cada dia.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.