Reflexão sobre Fallout: O Meio Muda Quem Somos?

Reflexão sobre Fallout: O Meio Muda Quem Somos?

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série Fallout. Em um Estados Unidos pós explosão nuclear, acompanhamos uma série de personagens seguindo uma missão e um ideal, cada um do seu modo, trazendo diversos questionamentos sobre moralidade. Na reflexão, explorarei a atitude dos três personagens principais – Lucy, Maximus e o Necrótico – e como eles lidaram com o meio em que estão vivendo. Teremos alguns spoilers da série, mas sem entregar pontos cruciais. Vamos lá!

Reflexão sobre Fallout: Sobre a Série (SEM Spoilers)

Fallout é uma série de drama e ação, com estilo de sátira e pitadas de humor negro. Ela estreou em 2024 na Amazon Prime Video, e se baseia na franquia de jogos Fallout.

Em uma história alternativa da Terra, ocorreu uma explosão nuclear em 2077. Quem possuía condições financeiras, pode se abrigar em um bunker, chamado de Vault. Agora, estamos em 2296, mas de 200 anos depois da explosão.

Lucy MacLean (Ella Purnell) é uma jovem que nasceu e foi criada no Vault 33. Ela sempre ouviu que a superfície é um lugar perigoso e que seu propósito é repopular e redemocratizar o que sobrou da Terra. Porém, antes do tempo previsto, ela precisará sair do seu abrigo para resgatar seu pai, que foi sequestrado por habitantes da superfície.

Maximus (Aaron Moten) é um escudeiro da Irmandade do Aço. Sua missão é auxiliar soldados vestidos em trajes robóticos a recuperar tecnologias antigas e evitar que elas sejam usadas para o mal, especialmente iniciar uma nova guerra ou uma dominação de um grupo sobre outro. Sua missão é recuperar o fugitivo Dr. Siggi Wilzig (Michael Emerson).

Necrótico (Walton Goggins) é um pistoleiro e caçador de recompensas. Ele é um ser de pele deformada, semelhante a um zumbi, mas com consciência. Ele estava vivo na época da explosão nuclear de 2077. Ele foi retirado de sua cripta para ajudar outros caçadores de recompensa a também capturar o fugitivo Dr. Siggi Wilzig, mas ele possui objetivos próprios…

Em certo momento, o caminho dessas três pessoas se cruzará. Será que elas conseguirão cumprir seus objetivos? O que será que esse mundo pós apocalíptico reserva para cada um deles? Descubra vendo Fallout na Amazon Prime Video.

Reflexão sobre Fallout: O Meio Te Corrompe

Necrótico é o exemplo de que o meio em que vivemos pode nos corromper. Podemos dizer que ele é o exemplo “vivo” da famosa frase de Jean-Jacques Rousseau “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”.

Ao longo da série, descobrimos que Necrótico era um ex-ator famoso de Hollywood chamado Cooper Howard. Ele era um cara bom, que queria o melhor para sua família e para as pessoas.

Vimos como ele aceita sem reclamar provocações de convidados de uma festa infantil na qual ele estava trabalhando para ganhar seu dinheiro honesto. Vimos como ele, quando ainda era ator, não achava legal ter que matar o vilão se podia prendê-lo. Vimos como ele começou a desconfiar dos valores da Vault-Tec, empresa na qual sua mulher trabalhava e ele servia de garoto propaganda, e tentou fazer alguma coisa.

Ao olhar para esse homem, é triste ver como ele se tornou alguém totalmente desumanizado em todos os sentidos. Sua transformação em Necrótico não é o motivo de ele ter mudado. Na verdade, podemos interpretar que sua transformação é um simbolismo para a transformação da sua personalidade, sua alma.

Descobrimos, no final da série, que ele possui um objetivo secreto e específico, mas ele mesmo deixa claro no começo da série que sua vida agora se resume ao prazer de fazer aquilo que ele faz (o que basicamente é caçar sua recompensa usando quaisquer meios necessários, sem nenhum tipo de moralidade).

Necrótico nos mostra como uma realidade ruim, dura, amoral pode nos corromper, nos fazer esquecer nossos bons valores e provocar em nós a manifestação de instintos básicos de sobrevivência e até mesmo maus pensamentos e atitudes, como crueldade e maldade.

Exemplos

Um exemplo real que lembro é a corrupção de policiais militares e guardas, de presos por pequenos delitos e de alunos de boas escolas que vão para escolas ruins.

No caso dos policiais e guardas, muitos que entram honestos acabam se corrompendo porque seu meio pede para que eles participem daquilo e eles aceitam para não perderem o emprego ou suas vidas até o momento em que eles “abraçam” esse pensamento. Mesma coisa acontece quando essas pessoas são obrigadas a serem violentas e vingativas com meliantes sob a justificativa de que a justiça não vai dar o devido tratamento. Elas começam agindo contra sua vontade até que acabam incorporando esses atos e normalizando-os.  

Já presos por pequenos delitos acabam sendo colocados com presos mais violentos e envolvidos profundamente com facções. Nas cadeias, existe toda uma sociedade paralela e eles precisam se adaptar, se adequar, se unir a alguém para não morrerem ou sofrerem. Nisso, eles acabam sendo obrigados a viver de uma forma muito ruim e são cooptados a aceitarem aquela vida até mesmo depois de saírem.

No caso dos alunos, vejo claramente como alunos dedicados e comportados vão perdendo o interesse e mudando de comportamento ao longo do tempo em que vão convivendo em ambientes escolares mais “soltos” e menos exigentes. Como professor de escola pública de um estado que não faz nada para ajudar a instituição a ser exigente, aqueles que vem de escolas mais sérias veem seus colegas não fazendo nada e conseguindo progredir. Isso os desanima demais. Além disso, temos a convivência cotidiana com pessoas de valores moralmente questionáveis, e que acaba os levando para experiências ruins – interessantes como momentâneas, mas prejudiciais a longo prazo.

Conselhos

Por isso, tome sempre cuidado com o ambiente em que você convive. Evite ficar próximo de grupos ou lugares que possuem valores destoantes dos seus porque é muito provável que você se corromperá por necessidade ou costume por causa da convivência. Fique sempre próximo daqueles ambientes que coadunam com o que você defende para se sentir mais motivado e evitar chances de se perder.

Reflexão sobre Fallout: O Meio Te Melhora

Maximus é o exemplo de que o meio pode melhorar quem é você.

Ele nasceu na superfície, em uma cidade próspera e tranquila, até ser atacada. Acabou sendo adotado criança pela irmandade de aço e foi criado para ser um escudeiro. Sua criação lhe fez desconfiar de tudo e de todos. Além disso, sua moralidade era basicamente o seu instinto de sobrevivência, o qual ele demostrou utilizar muito bem no começo da série.

Sua atitude nobre como cavaleiro de aço não significava que ele era santo. Ele tinha seu ideal cavalheiresco, mas isso não fazia com ele que se importasse inicialmente com o bem maior. Ele só muda de postura após conviver com Lucy.

Lucy lhe serviu de bússola moral para que ele vislumbrasse uma forma de viver que prezasse pelo bem comum e ter atitudes positivas diante da realidade.

Maximus foi alguém que passou de um sobrevivente, para um vivente. Ou seja, alguém que simplesmente fazia de tudo para sobreviver para alguém que tinha um propósito maior na sua vida. Nessa situação, você não pode fazer qualquer coisa, você deve pesar suas ações para que seu agir corresponda àquilo que você acredita e àquilo que você quer motivar nas demais pessoas.

Exemplos

O primeiro exemplo “real” que me veio foi de uma criança adotada. Eu não saberia dizer se é assim na realidade porque não conheço casos, mas em filmes é mostrado como muitas crianças “rebeldes” e com valores deturbados vão aprendendo, aos poucos, a melhorarem de atitude e direcionando suas forças para coisas boas.

Outro exemplo que presencio anualmente são alunos problemáticos que, com o tempo, vão mudando de atitude e amadurecendo. Tenho certeza que a escola, os professores, e os bons alunos amigos e namorados/namoradas lhe ajudaram a “tomar jeito” e começar a pensar mais seriamente na vida.

Outro exemplo que vejo muito são pessoas que se convertem a religiões cristãs e abandonam suas vidas desregradas e adotam uma vida dentro dos preceitos religiosos, os quais são bem rigorosos (especialmente se comparar com o estilo de vida pré-conversão). Esse caso deve ser até o melhor exemplo porque a convivência religiosa costuma ser bem intensa, com muitas idas ao templo religioso, muitos encontros com grupos de fieis e toda uma doutrina que o convertido recebe e que precisa praticar diariamente. Esse exemplo claramente mostra a mudança de postura de alguém após o encontro com um novo meio que te educa em novos valores.

Só para deixar claro, não estou aqui falando de “lavagem cerebral”. Estou falando de casos reais de pessoas que tinham uma vida considerada desregrada para os padrões sociais independentemente de religião e que mudaram de atitude positivamente pela adoção dos valores de fé, se tornando bons cidadãos.

Conselhos

Dessa forma, fica o entendimento que existe esperança para todos de que um ambiente saudável e bons exemplos podem mudar para melhor a vida de alguém que esteja “perdido”. Aquele pensamento de que, para ajudar alguém é preciso colocá-lo para conviver em um ambiente melhor é real. Faça isso com você mesmo ou com alguém que precisa melhorar de atitude ou postura.

Reflexão sobre Fallout: O Meio Não Te Afeta

O último exemplo da série é Lucy. A jovem moradora do Vault 33 foi criada em um modelo rigoroso, mas amoroso de ética. Ela estava sendo preparada para habitar a nova Terra e levar o melhor do ser humano para lá, com todos os valores humanos necessários para a boa convivência, incluindo a regra de ouro “não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem contigo”.

Lucy teve que sair do seu bunker e encarar o mundo real, se deparando com uma sociedade com valores MUITO diferentes dos dela – valores que podemos considerar ruins -, mas ela conseguiu resistir heroicamente. Óbvio que tiveram momentos de dúvida e de hesitação, mas sempre que ela pensava em fraquejar, ela se recordava daquilo que aprendeu, dos exemplos de sua mãe, e agia conforme acreditava ser o certo.

Lucy é o exemplo de quem não abandona o que acredita, mesmo com todas as dificuldades, mesmo quando parece que tudo o que faz é inútil. Ela sabia que se se corrompesse, não seria somente ela que se perderia, mas toda a ideia dela de fundar uma sociedade boa. Se ela não conseguisse resistir à tentação de se tornar má para se adequar àquela realidade, como ela poderia pedir isso das demais pessoas (sejam aquelas que estivessem nos vaults, seja as que já estavam na superfície)?

A atitude de Lucy colocou em risco sua vida e sua missão? Muitas vezes. Ela se arrependeu? Com certeza, não. Ela sabia que aquilo era necessário e era o certo a se fazer.

Exemplos

Na vida real, temos diversos exemplos de pessoas que vão para ambientes “perigosos” (porque estão cheios de maus elementos) e conseguem resistir. Penso agora em casos como os da política e universidades.

São muitas pessoas bem-intencionadas que entram na política sabendo que é um ambiente corrompido e corruptível para tentar melhorar o sistema. Logo no começo, rapidamente surgem as oportunidades de agir errado, mas muitas resistem. Elas podem, por causa disso, ter muitas dificuldades de conseguir avançar com suas ideias, mas elas preferem o caminho mais difícil do que o mais fácil. É melhor se manter lá fazendo pouco, mas fazendo de forma justa e honesta, do que fazendo mais de forma injusta e desonesta, permitindo que em outras áreas a corrupção continue ou aumente.

No caso das universidades, são muitos os pais que tem medo dos seus filhos se perderem nesse ambiente cheio de “sexo e drogas”. Porém, não é porque o ambiente está propício a isso que o adolescente irá se entregar à vida desregrada e esquecer seus propósitos estudantis. Alguém que foi bem-educado em casa saberá chegar no ambiente universitário e aproveitar de forma correta tanto a vida acadêmica quanto social, separando tempo para ambos os momentos e sabendo os limites de casa um deles. É fácil se entregar aos prazeres e abandonar as responsabilidades? Com certeza, sim. Mas uma boa formação consegue dar ao jovem o norte necessário para “não fazer merda”.

Conselhos

Sendo assim, é possível também estar em ambientes totalmente diferentes do seu e não se deixar afetar por eles. É importante, inclusive, dizer que o caso oposto também é real: alguém mau pode continuar mau, mesmo convivendo em um ambiente bom. 

Nós somos seres influenciáveis, mas temos muito mais autonomia sobre nós mesmos. Por isso, seja para o bem ou para o mal, somos capazes de resistir e nos manter iguais quem sempre fomos, sem nos deixar influenciar pelo meio (seja positivamente ou negativamente).

Assim, fique tranquilo se você tem medo de “se perder” se for para um local de valores muito diferentes do que os seus. Pode ser que a experiência não seja tão agradável porque você inevitavelmente entrará em choque com algumas situações, mas nada que lhe obrigará a abandonar quem você é.

Reflexão sobre Fallout: Conclusão

No final dessa reflexão sobre Fallout, vimos que a série veio nos mostrar que mudar quem somos depende de uma combinação do meio em que vivemos e do quanto estamos dispostos a mudar quem somos. Para cada situação, para cada pessoa, o ponto de mudança (ou não-mudança) é diferente. Por isso, não adianta julgar ou se achar “à prova de balas”. O importante é saber que todas as situações são possíveis e precisamos ser resilientes para lidar com todas as questões com que nos defrontarmos. 

E aí? Curtiu essa reflexão sobre Fallout? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Fallout? Comenta! Quer uma reflexão sobre outra série baseada em jogos? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

———————————————————————————————

APOIE NOSSAS VIAGENS!

Faça um PIX de APENAS R$0,10 (dez centavos) 

Reflexão sobre Fallout: PIX

Chave PIX: contato@naudosloucos.com.br

———————————————————————————————

Posted in Reflexões Nerds, Séries / Minisséries and tagged , , , , , , , .

Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.