Reflexão sobre Donzela: Vingança Cega e Bravura Feminina

Reflexão sobre Donzela: Vingança Cega e Bravura Feminina

Olá, marujos! Hoje, farei uma reflexão sobre o filme Donzela. Nesse filme, a jovem Elodie é sacrificada a um dragão e precisa lutar para sobreviver. Na reflexão, abordarei o problema da vingança cega e também a bravura feminina. Teremos spoilers do filme na parte da reflexão. Vamos lá!

Sobre o Filme (SEM Spoilers)

Donzela é um filme de 2024 da Netflix, estando disponível na sua plataforma. Ele é do gênero aventura e fantasia, sendo baseado em um livro de mesmo nome.

Elodie (Millie Bobby Brown) é filha de um nobre cujo reino passa por necessidades materiais. Por causa disso, seu pai aceita um casamento arranjado com o príncipe Henry (Nick Robinson) do reino de Aurea.

Em um primeiro momento, Elodie não gosta da situação. Porém, depois de conhecer o príncipe, acaba simpatizando com ele.

O dia do casamento chega e tudo estava indo bem, até todos irem para uma cerimônia ritualística pós-bodas. Lá, após um “pacto de sangue”, a agora princesa Elodie é jogada como sacrifício a um dragão que vive nas montanhas.

Elodie sobrevive à queda e agora precisa lutar para fugir. Será que ela conseguirá? Descubra vendo Donzela na Netflix.

Reflexão sobre Donzela: A Vingança nunca é Plena, Mata a Alma e a Envenena…

Todos os ciclos de vingança possuem um começo. No caso do filme Donzela, tudo começou quanto o primeiro rei de Aurea foi até o covil de uma criatura que morava nas terras que ele tinha tomado posse e matou suas três crias.

Como vingança, a dragoa (é um dragão-fêmea) exige do rei o sacrifício de suas três princesas para não destruir o reino. Porém, isso não seria só naquele momento, seria perpetuamente, a cada geração.

Conforme vemos no filme, o pacto foi mantido, mas a família real de Aurea encontrou uma brecha para não sacrificar seus descendentes. Em vez de dar como sacrifícios filhos legítimos, eles casavam o príncipe com uma jovem, misturavam seu sangue para “o tornar” real e daí davam a menina à dragoa.

A dragoa estava tão cega pela vingança que nem conseguiu perceber, ao longo dos séculos, que seus tributos não eram o que deveriam ser. Ela simplesmente “cheirava” o sangue real e partia para a carnificina.

Foi apenas com Elodie – quem conseguiu enfrentá-la – que a dragoa descobriu a farsa. Nessa hora, ela percebeu o mal que cometeu a diversas meninas inocentes.

A ironia que ela se depara é o fato das suas filhas inocentes terem sido mortas por motivo nenhum e, ao longo dos anos, ela ter matado jovens inocentes que não tinham nenhuma relação direta com a realeza de Aurea.

Porém, o mais “interessante” é perceber que até mesmo o fato dela ter matado as três filhas do primeiro rei como vingança e a possibilidade de ela ter recebido apenas filhas legítimas da realeza como sacrifício não muda o fato de que sua vingança continuou sendo sem sentido porque TODAS as pessoas sacrificada foram ou seriam inocentes.

O único culpado pelo crime era o rei e só ele merecia punição. Qualquer outra pessoa seria uma vítima inocente no final das contas….

Esse é o problema da vingança, especialmente a vingança cega. Ela não resolve o problema original e acaba criando mais e maiores problemas com o tempo.

O sistema judicial não é vingativo. Ele é (ou deveria ser) punitivo e reparativo. Ou seja, uma sentença judicial legal deve punir àquele que comete um crime (para que não repita mais o ato e, de certa forma, até sirva de exemplo para que outras pessoas desistam de cometer tal crime) e reparar (ou tentar reparar) àquele que foi lesado pelo crime.

Normalmente, o ato da vingança surge quando não existe possibilidade judicial ou aquele que foi lesado não confia na justiça ou não concorda com a decisão tomada. No caso do filme, a dragoa só tinha como recorrer à vingança porque não existia lógica judicial naquela situação.

Porém, sua proposta punitiva acabou atingindo pessoas inocentes (já que o rei sofreu, mas suas filhas também). Além disso, a única “reparação” foi a satisfação de ver seu algoz sofrer já que nada do que fosse feito traria os bebês dragão de volta a vida.

Isso ocorre porque quem se vinga usa os seus próprios critérios para medir o quanto pode “exigir” da sua vítima. Como, nesses momentos, a ação está tomada de emoções negativas, não existe possibilidade da “cobrança” ser feita de forma racional, sendo, na maioria das vezes, exagerada e/ou ineficiente.

Dito tudo isso, podemos concluir que a vingança nunca consertará o mal causado e, muito provavelmente, será executada de forma desmedida – o que acarretará na busca por vingança do novo lesado.

Por exemplo, se a dragoa tivesse matado o rei ou simplesmente feito um acordo do tipo “não voltem mais aqui ou mato todo mundo”, as princesas inocentes não teriam sofrido o que sofreram.

Eu não estou defendendo a justiça como “aquela que vai resolver todos os conflitos de forma 100% eficaz e justa”. Entretanto, entre ela e vingança, acredito que a justiça trará melhores resultados.

Reflexão sobre Donzela: A Donzela em perigo já não existe mais…

O filme Donzela busca trazer o protagonismo para todas as personagens femininas, seja como heroína ou vilã. Os homens do filme são praticamente acessórios das mulheres (tirando, talvez, o Lord Bayford [Ray Winstone] – pai de Elodie -, mas ele é retratado como um FDP por ter entregue sua filha sabendo o que aconteceria).

O trailer do filme acaba vendendo mais do que o próprio filme a mensagem de que não podemos acreditar em contos de fada e que príncipes encantados são uma farsa.

No filme, vemos que Elodie não é uma menina frágil e inocente, mas ela acaba acreditando que realmente poderia ter uma história legal com seu príncipe. Só que o sonho acaba rápida.

A mensagem que podemos tirar disso não é que não existam finais felizes ou príncipes encantados, mas que não dá para acreditar em uma história dessas ou uma pessoa assim de forma ingênua e imediatista.

Na história, o pai oferece a filha em casamento sem nem saber que o tal reino de Aurea existia. E a Elodie acabou baixando sua guarda mesmo conhecendo o príncipe por um dia (claro que ela só fez isso por confiar no pai).

De qualquer forma, para os dias de hoje, o alerta é para as mulheres não confiarem em homens que conheceram a pouco tempo ou que estão se relacionando amorosamente a pouco tempo. Homens podem ser falsos e mudar completamente de atitude assim que compreendem que dominam toda a situação.

Não Pode Esperar Sentada!

Outra mensagem importante do filme é que uma mulher não pode ficar sentada esperando ser resgatada por um homem. Ao contrário, ela precisa agir por conta própria para resolver seus problemas.

Em um primeiro momento, a princesa Elodie (compreensivamente), acreditou que seria resgatada. Mas quando ela sentiu que ninguém viria, ela correu atrás da sua liberdade.

Assim precisamos agir. Não podemos esperar que alguém venha resolver nossos problemas, mesmo que não tenhamos sido nós quem criamos o problema. 

Confia (mas nem tanto) na Sororidade!

Sororidade é um termo feminista que busca “dar a ideia de irmandade entre as mulheres, independente de suas peculiaridades, apresentando entre elas o compromisso de empatia e companheirismo“.

No filme, vemos essa sororidade presente entre as várias meninas que passaram pelo covil da dragoa. Aquelas que conseguiram, deixaram dicas para as próximas. As que não trouxeram dicas, ao menos registraram seus nomes como forma de reforçar o fato de todas estarem ali participando de um mesmo destino e darem força para a próxima.

Sem essa ajuda concreta e espiritual, dificilmente Elodie chegaria aonde chegou.

Também vimos um gesto de sororidade com Elodie mandando embora àquela que seria a próxima vítima; e na madrasta Lady Bayford (Angela Bassett), que arriscou uma indisposição com o marido para alertar Elodie que algo estava errado.

Isso mostra como mulheres podem e devem se ajudar na luta pela igualdade de gênero. Há séculos, mulheres que se conhecem já se ajudavam em situações como tarefas domésticas ou cuidado com os filhos. Então, porque não se juntarem a mulheres desconhecidas para criarem uma sociedade melhor para todas?

Por outro lado, também não se pode ser ingênuo em achar que só porque alguém é mulher significa que vai defender a causa feminista ou que vai preferir uma mulher a um homem. Cada situação é única e requer inteligência para não se deixar levar.

No filme, a rainha Isabelle (Robin Wright) fez todo um discurso bonitinho a Elodie só para, no final, não ter pena de matá-la ou sua irmã.

Logo, é importante que mulheres se juntem, mas também não é para sair confiando em qualquer uma!

Reflexão sobre Donzela: Conclusão

Donzela é um filme que busca mostrar às mulheres que elas precisam lutar por conta própria, contando – muitas vezes – com a ajuda de outras mulheres, mas nunca dependendo de homens. Por outro lado, também serve para os homens pararem de querer ser príncipes encantados ou de ficarem esperando princesas em perigo. Por fim, para todos fica a reflexão que a vingança cega não vai satisfazer suas necessidades e ainda é capaz de criar problemas para pessoas que não estavam envolvidas no conflito original.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.