Alegoria da Caverna Descomplicada: Pedagogia de Platão

Olá, marujos! Hoje vamos entender a famosa passagem filosófica da alegoria da caverna de Platão de forma descomplicada. Vamos relembrar brevemente quem era Platão, o que é a alegoria da caverna e como entendê-la de forma simples.

Platão

Platão é um filósofo grego, que viveu entre os anos de 427 a.C. e 347 a.C. , ou seja, pertence ao período da Filosofia Antiga. Ele foi o maior discípulo de Sócrates e o maior defensor de seu legado. Seus textos mais famosos são os diálogos, que sempre trazem Sócrates como principal personagem. Apesar disso, hoje se sabe que existem diálogos em que Platão foi mais fiel ao seu mestre Sócrates (diálogos da mocidade) e diálogos em que o pensamento era totalmente de Platão (diálogos da velhice).

A Alegoria da Caverna

Sobre o texto

Essa passagem aparece em um diálogo da velhice de Platão chamado A República. Nesse texto, Platão trabalha questões como política, educação e conhecimento. A famosa passagem da caverna aparece na parte em que Sócrates (o personagem principal) conta para Glauco essa alegoria para mostrá-lo como o homem pode estar vivendo a ignorância sem perceber e como é difícil para ele se libertar dela, e viver uma busca pela verdade.

A alegoria da caverna é uma história imaginária. Por isso, era muito comum chamar esse texto de mito da caverna. Mas isso parou para não se confundir mitologia com filosofia.

A história

Na história, existiam pessoas acorrentadas no fundo de uma caverna. Elas estavam acorrentadas de tal forma que não podiam se mexer, nem mesmo a cabeça, que estava voltada para o fundo da caverna. Essas pessoas já nasceram nessas condições e por isso só conheciam aquela realidade. O fundo da caverna ela iluminado por uma fogueira que ficava atrás dos prisioneiros. E entre a fogueira e os prisioneiros, existia um muro do tamanho de uma pessoa. E atrás do muro, tinham pessoas livres que carregavam sobre suas cabeças estátuas de animais e de plantas. Logo, a fogueira gerava uma sombra dos objetos no fundo da caverna. Os prisioneiros já estavam acostumados com aquelas sombras, sabiam o momento em que cada uma iria aparecer. E as sombras era tudo o que eles conheciam e tinham como verdade sobre o mundo.

Eis que um dia, as correntes de um desses prisioneiros se solta, ele consegue se mover e, ao olhar para trás, descobre que as sombras não são as únicas coisas que existem. Na verdade, existem objetos que tem as suas sombras refletidas no fundo da caverna devido ao fogo. Aí ele decide sair da caverna e ao olhar para fora, para a luz do sol, seus olhos ardem e ele fica sem enxergar por um tempo até que se acostuma e consegue sair. Nisso, ele descobre o mundo exterior, descobre que existem animais e plantas vivos, e que aquilo que ele viu eram cópias dos seres originais, verdadeiros.

Assim, ele resolve voltar para a caverna e contar a novidade para os seus colegas presos. Ele volta e conta, mas ninguém acredita nele. Ele é considerado um maluco pelo grupo, que acha que ele está inventando tudo. Como o ex-prisioneiro ficou insistindo que ele sabia da verdade, e que aquilo que os demais viam era falso, foi ameaçado de morte. E como ele não se calou, foi assassinado.

Alegoria da Caverna Descomplicada

Bom, vamos lá tentar entender essa história louca e ver que é possível entender a alegoria da caverna de forma descomplicada. Primeiro, vamos deixar claro: isso é uma história! Logo, não fiquem se perguntando como que os presos comiam e iam no banheiro e nem como eles conseguiram matar o ex-prisioneiro se todos estavam acorrentados. Não é esse o objetivo. O que a gente quer entender aqui é a intenção de Platão ao contar essa história.

Platão quis dizer para a gente que não é porque a gente cresceu ouvindo algumas coisas como verdade que realmente aquilo seja verdadeiro. Pode ser que alguns conceitos ou ideias que cresceram com a gente, que viemos aprendendo desde crianças não são tão simples ou óbvios como parece e, às vezes, podem até mesmo estar errados.

Exemplo prático: você como prisioneiro

Pensa comigo: se você é criado a sua vida toda só comendo besteira, coisas cheias de gordura, caloria e açúcar, sem nunca ter visto na TV ou Internet alguém comendo comida saudável. Se ninguém do seu grupo nunca falasse que isso existia. Se todos os lugares que você frequentasse, nunca visse nem ouvisse falar de comida saudável. Vai ser óbvio entender que você nunca teria a noção de que existe comida saudável. Se você passasse algum dia por um hortifrúti você não ia entender porque alguém vende ou compra um monte de mato e plantas estranhas. Seria um choque para você se visse alguém comendo aquilo.

Aí, do nada, um amigo ou amiga chega para você e diz que descobriu que aqueles matos e plantas estranhas são comida, e mais, uma comida melhor e mais nutritiva que as besteiras que você come. Que essa é a verdadeira comida saudável e que o que você come é uma porcaria. Então você, que é uma pessoa gentil, dá a chance de provar uma dessas comidas e descobre que o gosto é horrível (comparado ao paladar que você tinha) e você fala que não é possível alguém comer aquilo e que não faz sentido uma coisa tão ruim ser melhor que uma coisa tão gostosa. 

Nisso, você fica se defendendo dizendo que se aquilo fosse verdade, seus pais tinham te mostrado aquilo antes. Que se fosse verdade, você teria visto isso na TV ou Internet. Se fosse verdade, todo mundo estaria comendo aquilo e não teria sentido ainda existir uma comida que faz mal se existe uma comida que faz bem. Ou seja, você defende a sua ideia de todos os jeitos e, praticamente, chama seu colega de maluco por dizer para você que verduras e legumes são mais saudável. E, de tanto ele insistir, você bloqueou ele nas suas redes sociais e parou de falar com ele definitivamente. Porque, na sua cabeça, faz mais sentido dedicar seu tempo para conversar com pessoas que te entendem e que concordam com você.

Exemplo prático: você como ex-prisioneiro

Um outra situação seria se você fosse a pessoa que descobriu os benefícios da comida saudável e tivesse que convencer os outros a mudar de opinião. Primeiro, você teria que mudar todo o seu hábito alimentar, aprender a gostar dessa nova comida e resistir à tentação de voltar a comer só junk food. Você sofreria bastante no começo, mas se resistisse, veria os benefícios da alimentação saudável e provaria que estava certo. Depois, você teria que se desdobrar para convencer os outros da sua descoberta, e seria chamado de chato e irritante por uma dezena de conhecidos. No final, ou você desistiria ou aguentaria porque sabe a verdade e quer o melhor para os seus conhecidos.

Outra coisa que Platão quer nos falar é exatamente ter a ousadia de querer saber a verdade, de não se acostumar com aquilo que você já sabe, de aceitar ouvir novas opiniões. De se desafiar ao novo e incentivar outros a tentarem isso também, mesmo que digam que é besteira ou desnecessário. Platão quer nos dizer que precisamos sair do nosso “mundinho” e explorar o mundo de verdade, um mundo muito diversificado.

Ah! Só para deixar claro: Platão não quer dizer que tudo o que aprendemos até agora está errado. Ele quer apenas que a gente confirme, busque por conta própria as origens e motivações dos nossos conceitos e ideias. Não é para negar tudo, e sim contestar. Mas se não for possível confirmar alguma verdade nossa, tem grandes chances daquilo estar errado.

A Alegoria da Caverna em outras mídias

Ao longo dos tempos, muitas ideias e teorias são recontadas ou reinterpretadas por artistas. Como sugestão, fica aqui o filme Matrix (1999) e o episódio Engenharia Reversa da série Black Mirror (3ª temporada, 5° episódio). Essas outras mídias são muito boas porque trazem de forma visual e “atual” a alegoria da caverna, não de forma descomplicada, mas diferente e provocativa.

Alegoria da Caverna Descomplicada: Conclusão

E aí? Agora conseguiu entender a Alegoria da Caverna? Compartilha esse post para ajudar outras pessoas a entenderem também! Já tinha entendido, mas gostou dos meus exemplos e da indicação das outras mídias? Deixa um comentário com outras sugestões de exemplo ou mídias que trabalharam a alegoria da caverna de Platão! Continuou não entendo e está com vergonha de admitir isso publicamente, me manda uma mensagem pelo formulário de contato que irei te ajudar a entender falando diretamente com você.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.