Uma Reflexão sobre A Batalha do Apocalipse: Um “Problema” Chamado Deus

Uma Reflexão sobre A Batalha do Apocalipse: Um “Problema” Chamado Deus

Uma Reflexão sobre A Batalha do Apocalipse: Um “Problema” Chamado Deus

Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre o livro A Batalha do Apocalipse. Nesse livro, vemos uma interpretação sobre o juízo final, o fim dos tempos previsto na maioria das religiões. É uma história de aventura, que acompanha a trajetória de um anjo querendo cumprir seu objetivo existencial: proteger a raça humana. Esse artigo contém spoilers que revelarão a natureza de Deus segundo o livro, mas não estraga a história em si. Por isso, vale a pena ler o artigo mesmo sem ler o livro antes (inclusive, vai até mesmo instigá-los a ler essa obra). Vamos lá!

Sobre o Livro

A Batalha do Apocalipse é um livro que se passa em um futuro próximo, onde se inicia a terceira guerra mundial. Essa guerra marca o início do fim dos tempos, quando Yahweh irá despertar do seu sono (que se iniciou no fim do sexto dia e terminará no fim do sétimo dia). Ou seja, toda a história da humanidade seria o sétimo dia, o dia do descanso de Yahweh.

Nesse livro, o personagem principal é Ablon, um anjo renegado. Ablon foi exilado na Haled (o mundo terreno) porque se insurgiu contra o arcanjo Miguel, que assumiu o comando dos anjos enquanto Deus dormia e decidiu exterminar a raça humana (que seria a maior criação de Deus).

Nós acompanhamos a história de Ablon, mesclando presente e passado, acontecimentos atuais e lembranças, tudo para mostrar a trajetória desse anjo, na luta à qual ele se sente destinado a lutar.

Uma Reflexão sobre A Batalha do Apocalipse: Deus realmente existe?

No livro, é certo que Deus existe. No caso, não só o Deus Yahweh, que é a divindade cultuada pelas três grandes religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo), como também todos os outros deuses que conhecemos das mitologias.

Na história, eles não têm uma existência idêntica àquela que cada religião defende, mas ao menos possuem existência, são reais. Entretanto, no tempo presente, a maioria das pessoas esqueceram esses deuses e isso criou o chamado “tecido da realidade”, uma membrana invisível que separa o mundo físico do espiritual. Dessa forma, mesmo existindo criaturas espirituais, os seres humanos não sentem mais essa presença e ignoram o que ocorre no plano espiritual (sem saber que o que acontece lá afeta aqui).

A questão sobre a existência dos deuses é um problema que sempre esteve presente na filosofia. A filosofia surgiu, nos seus primórdios, para dar uma explicação racional para o surgimento do universo. Os pré-socráticos, com sua busca pela Arché (o elemento primordial que deu origem a tudo), estavam tentando mostrar que a origem do universo não foi divina.

Entretanto, isso não fez com que a ideia de Deus desaparecesse. Platão, por exemplo, defendia a ideia de um demiurgo, um ser racional que moldaria a matéria a partir de ideias eternas. Já Epicuro defendia que os deuses existem, mas não se importam com a gente (e, consequentemente, não deveríamos nos preocupar com eles).

No entanto, foi na filosofia medieval, na Europa cristã, que o problema da existência de Deus se tornou uma questão filosófica. Pensadores como Agostinho de Hipona e Anselmo de Cantuária se valeram da filosofia para fundamentar racionalmente a teologia cristã. O ápice desse pensamento foram as Cinco Vias da Existência de Deus de Tomás de Aquino, que provou racionalmente que Deus existe.

Contudo, o período moderno ficou marcado pelo antropocentrismo – o ser humano como centro do universo. Essa situação fez surgirem as primeiras críticas modernas a Deus, mostrando, a princípio, que a razão não pode provar a existência de Deus, não sendo esse o papel da filosofia. Aqui, temos Blaise Pascal e Immanuel Kant como exemplos desse pensamento. Enquanto que, para Pascal, a razão só poderia provar que vale a pena crer e seguir Deus; Kant já defendia que Deus transcende a razão humana, deixando de ser objeto de estudo dela.

Na contemporaneidade, temos decretada racionalmente a morte de Deus com Nietzsche. Ao mesmo tempo, em que Feuerbach disse que Deus é apenas uma forma do ser humano expressar tudo aquilo que ele gostaria de ser, mas não consegue; temos Marx dizendo que “a religião é o ópio do povo” porque ela é uma invenção de algumas pessoas que impede a população de lutar pela igualdade de direitos, acreditando que seu sofrimento terreno vai lhe garantir um lugar no céu.

É por isso que a teoria de A Batalha do Apocalipse sobre o tecido da realidade faz tanto sentido. Se nos primórdios da humanidade existia uma convivência feliz e harmoniosa com as forças divinas, o passar do tempo fez com que o ser humano fosse esquecendo a existência divina e confiando apenas em si mesmo e na razão para explicar e definir o mundo.

Uma Reflexão sobre A Batalha do Apocalipse: onde está Deus?

Durante o livro, o anjo Ablon fica ansioso pelo despertar de Deus. Ele acreditava que Yahweh iria acabar com a briga entre Miguel, Lúcifer e Gabriel e trazer a paz ao universo. Só que no final da história, ele descobre que Yahweh não estava dormindo, que na verdade ele dispersou a sua essência entre os seres humanos ao criar a alma dotada de livre-arbítrio, e que todas as almas humanas possuem uma centelha divina, que lhes fazem participantes da divindade criadora.

Essa interpretação do livro se aproxima uma pouco da teoria filosófica de Santo Tomás de Aquino. O filósofo defende que, durante o processo de criação das coisas, Deus colocou o seu “ser” nelas.

Seria mais ou menos assim: as substâncias materiais seriam a união da matéria (algo físico, tipo os átomos) com a forma (algo extrafísico, que seria o molde dos átomos). Essa união geraria a chamada substância (que é o que nós vemos e sentimos).

Enquanto que, para Aristóteles, essa substância teria dentro de si a divisão entre essência (a coisa em si, que define algo) e acidente (características não necessárias e mutáveis), o doutor angélico defende a tese de que essa substância ainda precisaria do “ser” divino para existir. A substância ainda seria algo em potência (que não é ainda) e o “ser” seria o Ato, um acréscimo dado por Deus que permitiria à substância ganhar realidade. Esse “ser” que toda substância recebe é uma participação no ser divino. Como curiosidade, para Tomás de Aquino, Deus é “puro ser” ou “Ato puro”.

Como não possuem totalidade, as coisas ainda têm um fim (não são eternas). Por outro lado, essa participação divina daria a chance da imortalidade: quando mais “ser” recebessem, mais chances de imortalidade elas teriam. Já podemos intuir que para Tomás de Aquino, a alma humana era a manifestação máxima do “ser” de Deus nas coisas materiais e, por isso, continuaria existindo mesmo após a morte do corpo físico.

Uma Reflexão sobre A Batalha do Apocalipse: Conclusão

Dessa forma, vemos que literatura e filosofia se aproximam para defender que os seres humanos possuem algo que os torna diferenciados de todas as demais coisas existentes: eles possuem uma alma, que é a manifestação máxima de Deus na sua criação.

E aí? Ficou ainda mais curiosos sobre quem é Deus? Deixa aí nos comentários sua interpretação filosófica da divindade! Já tentou explicar Deus para um amigo, mas ele não aceita? Compartilha com ele esse artigo e vê se resolve! Quer que eu explore mais temas ligados a compreensão do que é Deus a luz da filosofia? Me manda a sugestão de tema pelo formulário de contato.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.