Dialética Transcendental de Kant Descomplicada

Dialética Transcendental de Kant Descomplicada

Dialética Transcendental de Kant Descomplicada

Olá, marujos! Hoje vamos entender o conceito de dialética transcendental de Immanuel Kant de forma descomplicada. Vamos conhecer um pouco sobre esse importante filósofo do período moderno e compreender esse conceito que definirá a forma de fazer ciência e termos importantes para a filosofia, como fenômeno e númeno. Vamos lá!

Immanuel Kant

Kant nasceu em 1724 em Königsberg (atual Kaliningrado) e morreu na mesma cidade em 1804. Foi uma pessoa de vida pacata e regrada, tendo se destacado na filosofia tardiamente, na época com 57 anos. Seu sistema filosófico ficou conhecido como criticismo porque suas principais obras se chamavam Críticas: Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e Crítica do Juízo. Considera-se que ele é o ápice da filosofia do período moderno, conseguindo conciliar os pensamento até então antagônicos do Racionalismo e do Empirismo. Basicamente, suas obras buscaram entender como funciona a razão humana para conhecer o mundo e agir nele.

Crítica da Razão Pura

Nessa obra, Kant vai buscar compreender como podemos fazer juízos (julgamentos) capazes de, ao mesmo tempo, nos trazer informações novas e que sejam válidas universalmente. Basicamente, ele quer entender como funciona o raciocínio humano e se ele é capaz de fazer ciência. Sua conclusão, resumidamente, é a de que produzimos juízos sintéticos a priori. Isso significa que a nossa razão é capaz de adquirir e unir informações novas da natureza adaptando-as às formas que já estavam contidas no nosso entendimento. Para entende isso melhor, pode acessar esse artigo.

Dialética Transcendental de Kant Descomplicada

Inversão Copernicana

Após compreender como funciona o raciocínio, Kant percebe uma coisa: não é o objeto que determina o sujeito, mas o sujeito que determina o objeto.

Em outras palavras, o filósofo está dizendo o seguinte: quando a razão humana processa uma informação vinda da natureza, essa informação só se torna compreensível para nós após passar pelas doze categorias, que são os conceitos a priori do entendimento. Logo, a informação nunca chega “pura”, ela já chega com um grau de interpretação. Dessa forma, tudo o que conhecemos do mundo já é uma interpretação humana sobre ele.

Para exemplificar: imagine se fôssemos um cachorro. Nós compreenderíamos o mundo tal como um cachorro o compreende, com alguns sentidos mais apurados e outros não, como uma limitação cognitiva própria do cérebro do cachorro. Isso aconteceria da mesma forma para cada tipo de ser vivo. A questão é: algum deles está certo? Algum deles compreende o universo por completo, na sua essência? Ou todos eles estão limitados aos seus limites físicos e intelectuais? Pois bem, é a mesma coisa com o ser humano. Nós estamos, de uma certa forma, limitados pela razão humana e pelos nossos sentidos. Só podemos compreender a natureza até o limite da capacidade intelectual da raça humana e dos seus sentidos (ou tecnologia que permita fazer mais).

Até um tempo atrás, não tínhamos informações sobre DNA, sobre planetas além do sistema solar, sobre buracos negros, sobre propriedades constitutivas do corpo humano e de outros seres vivos. Essa limitação se deu pelos limites dos nossos sentidos e capacidade interpretativa. A cada dia, vamos avançando mais, com mais capacidade tecnológica e mais interpretação. A palavra chave é INTERPRETAÇÃO. Sempre estamos interpretando os resultados, as informações são interpretadas à luz da razão humana.

O termo “inversão copernicana” faz referência a Nicolau Copérnico, que provou que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário, como se acreditava antes. Copérnico inverteu o ponto de vista da astronomia e permitiu um grande avanço dessa ciência. Kant, por sua vez, quando clarificou que é o ser humano que determina o que a natureza é, sendo impossível conhecê-la de forma pura, revolucionou o pensamento científico.

A partir desse momento, só se torna objeto da ciência aquilo que pode ser compreendido pela razão humana a partir de experiências sensíveis.

Fenômeno e Númeno

Kant, como foi dito, entendeu que tudo o que conhecemos já possui um grau de interpretação da natureza. Ele chamou essa informação recebido de fenômeno. Ela é uma combinação da informação pura da natureza interpretada pela mente humana. Dessa forma ela já é uma interpretação, uma aparição em nossa razão. Em oposição ao fenômeno, teríamos o númeno, a coisa em si. Esse seria a informação pura, tal qual estaria sem nenhuma interpretação.

Como já se pode compreender, o ser humano é capaz de entender o fenômeno, mas não o número. Dessa forma, o ser humano, através da ciência, pode fazer experiências para obter resultados interpretados da natureza, que são os fenômenos. Mas não cabe à ciência compreender coisas que não possuem algo para ser experimentado, o que abrange especialmente a metafísica (que traduzindo é “o que está para além da física”).

Questões como Deus, alma, liberdade, infinitude do universo seriam, para Kant, problemas da metafísica. Eles transcenderiam, vão além da compreensão racional. Logo, não deveriam ser preocupações científicas.

Dialética Transcendental

Kant, na parte da dialética transcendental, vai demonstrar que a razão humana não tem fundamento nenhum para criar argumentos referentes a esses objetos da metafísica. Tudo o que produzimos, como não está pautando na experiência, seriam ilusões, pois seriam reflexões feitas em cima de reflexões, sem nenhum fundamento empírico que desse uma certeza que universalizasse o pensamento.

Dessa forma, para os problemas da metafísica, todas as respostas são possíveis. Tanto se pode argumentar muito bem a favor ou contra alguma coisa, e ambos estão certos e errados ao mesmo tempo. São argumentos sem provas e por isso não se sustentam e nunca serão aceitos universalmente.

No caso de Deus, por exemplo, você pode dizer que sente Deus em você, mas não tem como fazer alguém sentir o que você está sentindo. E mesmo que você consiga, através de uma experiência mística ou religiosa fazer alguém sentir Deus, isso não seria universal, as pessoas não poderiam olhar e dizer “Nossa! Eu vi Deus agindo em você!” da mesma forma que podemos dizer “Nossa! Eu vi um machucado na sua pele!” ou “Nossa! Eu vi você muito feliz!”.

Dialética Transcendental de Kant Descomplicada: Outras Mídias

Um bom filme para entender essa limitação que temos de compreender a natureza é o filme A Chegada. Nesse filme, seres extraterrestres chegam à Terra e começa uma mobilização para se tentar uma comunicação entre os humanos e eles. Durante o filme, a cientista protagonista descobre que a forma como eles interpretam o mundo afeta a forma como se interpreta e vive a noção de tempo. Ou seja, seres diferentes interpretam a mesma natureza de forma diferente.

Dialética Transcendental de Kant Descomplicada: Conclusão

Só para deixar claro, Kant não está negando nenhuma das questões metafísicas (inclusive Deus). Ele só está dizendo que para a preocupação da razão pura, do conhecimento racional, científico, os problemas metafísicos nunca teriam uma resposta que pudesse ser definitiva e aceita por todos, como normalmente acontece na ciência e suas leis.

E aí? Conseguiu entender porque Kant diz que as questões da metafísica transcendem a razão humana? Deixa aí nos comentários se ficou alguma dúvida! Achou interesse a “inversão copernicana” de Kant? Compartilha esse artigo nas suas redes sociais! Quer que eu trabalhe outras teorias filosóficas de Kant? Entra em contato comigo para fazer o pedido.

Até a próxima e tenha uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.