Conceito de Substância Descomplicado

Conceito de Substância Descomplicado: Metafísica de Aristóteles

Conceito de Substância Descomplicado: Metafísica de Aristóteles

Olá, marujos! Hoje iremos explicar o conceito de substância em Aristóteles de um jeito descomplicado. Assim, daremos continuidade a nossa série sobre a metafísica de Aristóteles. Hoje, vamos explicar os conceitos de Matéria e Forma, Substância, Essência e Acidente. Vamos lá!

Conceito de Substância Descomplicado: Revisão

No primeiro artigo dessa série, explicamos que a proposta de Aristóteles é explicar o que uma coisa é, o que faz uma coisa ser algo. Isso, sem recorrer a algo exterior à realidade.

Os primeiros conceitos que vimos foi o de Ato e Potência, que são as duas formas de ser. Ou seja, tudo o que existe está em Ato e/ou em Potência. Como exemplo, falei do caroço de manga, que é em ato uma semente e em potência uma mangueira.

Vamos agora às coisas de fato!

Conceito de Substância Descomplicado

Matéria e Forma

Matéria e Forma são os dois “representantes” materiais dos conceitos de Potência e Ato, respectivamente. A Matéria seria Potência Pura, e a Forma seria Ato Puro. O que isso quer dizer? Quer dizer que toda a nossa realidade é formada de Matéria e Forma.

A Matéria (em grego hilé) é o substrato (a matéria-prima) de tudo o que existe. Todas as coisas possuem essa Matéria, ela é a base de tudo o que existe. Só que ela em si não é nada, ela é apenas potência. A Matéria pode ser tudo, qualquer coisa, mas sozinha ela não assume a forma de nada.

Mas, se ela é a base de tudo, porque as coisas são diferentes? Como que a Matéria se torna algo? Isso acontece pela ação da Forma.

A Forma (do grego morphé) é aquilo que enforma, que dá a forma para a Matéria, transformando aquilo que era só potência em ato, em alguma coisa. A Forma sozinha também não é nada, ela é a capacidade de formar algo, mas para formar ela precisa de uma Matéria.

É por isso que a filosofia metafísica de Aristóteles também é chamada de hilemorfismo. Porque o filósofo defende que tudo o que existe é formado da combinação de Matéria (hilé) e Forma (morphé).

Vamos dar um exemplo atual para facilitar: consideremos que os quarks são os elementos primordiais na física, ou seja, a menor partícula que está em tudo (de fato, os átomos são formandos por prótons e nêutrons, e esses são formados por quarks) [estou desconsiderando aqui novos avanços científicos, é só para dar um exemplo]. Se tudo é feito de quarks, eles corresponderiam à Matéria.

Mas, como bem observamos, toda a nossa natureza física possui diferentes elementos, uma multiplicidade deles (cada ser, como mineral, planta, animal, objeto, etc. seria um desses múltiplos). O que faz com que um conjunto de quarks se combine para formar um conjunto de prótons e nêutrons, que se combinam para formar átomos, que se combinam para formar moléculas, e que se combinam para formar as coisas existentes? Esse seria o papel da Forma. A Forma não seria algo “palpável”, seria essa força que dá a combinação dos quarks, e os “transforma” em algo tangível (sensível).

Substância

Da combinação de Matéria e Forma, surge a Substância (em grego ousia). Cada coisa, cada algo, cada individualidade seria uma Substância. Logo, tudo o que existe é único, mesmo tendo semelhanças com outras coisas.

Dessa forma, Aristóteles vai dar uma dignidade para cada coisa existente. Diferente de Platão, que disse que tudo o que nos é sensível é uma cópia, Aristóteles vai defender que tudo o que é sensível é o original.

Pensemos em uma fruta: coloque diante de você um cacho de bananas. Olhe detalhadamente cada uma delas e perceba que elas são muito parecidas, mas não são iguais. Pode variar um pouquinho na cor, no tamanho, nas pintas…, mas nenhuma é idêntica à outra. Para Aristóteles isso é que torna cada coisa única, e a faz ser uma Substância.

Mas aí, você pode perguntar: mas como explicar a capacidade de olharmos para todas elas e entendermos que são bananas e não maçãs? Como que conseguimos agrupar bananas com bananas e maçãs com maçãs e ainda assim respeitar essa individualidade? É para responder isso que Aristóteles cria os conceitos de Essência e Acidente.

Essência e Acidente

Para Aristóteles, todas as Substâncias são formadas por uma Essência e uma quantidade de Acidentes.

Essência seria a característica principal de uma coisa, sem a qual ela se descaracterizaria completamente, ficaria irreconhecível como sendo aquilo que ela é. Seria a característica essencial, aquela que você identifica como aquilo que não pode faltar.

Já o Acidente são todas as características passíveis de mudança ou até mesmo de existência, que não interferem na característica principal. O termo consagrado é Acidente porque essas características são acidentais, no sentido de que não precisavam existir ou ser desse jeito, aconteceram “por acaso”.

Vamos aos exemplos:

Pense em um carro. Qual seria a característica essencial dele? O que ele possui que não pode ser mudado ou excluído de tal forma que ele deixe de ser um carro? Se a sua primeira resposta foi rodas ou motor, você está errado… pensa comigo: um carro sem motor deixou de ser carro? Um carro sem rodas deixou de ser carro? Se você trocar o motor ou as rodas, muda o carro? Não. Mesmo ele não podendo funcionar e cumprir sua função, ele ainda é um carro. O que seria então?

Seria o chassi ou monobloco (dependendo do modelo do carro)! Essa é a parte estruturante do carro, onde todo o resto de encaixa. Se essa parte muda ou se deforma, muda a identidade do carro. Já o resto, pode ser trocado à vontade. Tipo, quando você diz que um carro deu “perda total” é porque a estrutura básica dele estragou a tal ponto que não tem conserto. Mas se forem os pneus que estouraram ou o motor que “fundiu”, isso você conserta!

Nesse exemplo, o chassi ou monobloco seria a Essência do carro e todo o resto seria Acidente.

Outro exemplo, mais complexo, seria o ser humano. Qual seria nossa Essência? De certo, não é algo que é possível mudar. Logo, cor da pele, dos olhos e do cabelo são acidentais. Inclusive, os próprios membros e órgãos são acidentais, se pensarmos que podemos viver sem eles ou substituí-los. Então, o que seria a essência do ser humano. Hoje, podemos dizer que é o DNA, que é a parte do corpo que guarda nossa carga genética e que nos torna únicos. Mas Aristóteles defenderá que a existência de uma alma racional, algo único para cada ser humano e somente existente nele.

Conceito de Substância Descomplicado: Conclusão

Com o artigo de hoje, fechamos a parte mais complicada da Metafísica de Aristóteles. Se no primeiro artigo, entendemos o que é a proposta metafísica dele e o que são os conceitos de Ato e Potência; hoje vimos o que é uma substância, como ela é formada (matéria e forma) e como ela se apresenta (possuindo essência e acidentes).

No último artigo dessa série, irei explicar a teoria das quatro causas de Aristóteles, que é um outro modo de dizer o que uma coisa é, um jeito até mais simples, na minha opinião.

E aí? Quais outros exemplos você conseguiria me dar de essência e acidentes de uma substância? Deixa nos comentários! Achou interessante esse conhecimento? Compartilha esse artigo! Quer tirar alguma dúvida ou dar alguma sugestão? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.