Reflexão sobre October Faction: Entre Mentiras e Monstros

Reflexão sobre October Faction: Entre Mentiras e Monstros

Reflexão sobre October Faction: Entre Mentiras e Monstros

Olá, marujos! Hoje nossa reflexão nerd será sobre a série October Faction da Netflix. Além de apresentar um resumo da série para quem não viu ainda, vamos refletir um pouco sobre alguns pontos que se destacam na série, especialmente sobre mentiras familiares e o conceito de verdade. Vamos ter spoilers grandes da série, então fiquem avisados. Vamos lá!

Sobre October Faction

October Faction é uma série da Netflix inspirada em um quadrinho de mesmo nome dos autores Steve Niles e Damien Worm. A série é vendida como a Supernatural exclusiva da Netflix porque apresenta dramas familiares e luta contra monstros.

A história conta a vida do casal Fred Allen (J. C. MacKenzie) e sua esposa Deloris Allen (Tamara Taylor). Existe o tempo presente, em que boa parte da trama se desenvolve, mas também temos muitos flashbacks da vida do casal, acontecimentos importantes que sempre acontecem em outubro. Daí o nome da série. Ah! Também é dito que em outubro, devido à proximidade do dia das bruxas, os monstros ficam mais ousado, aparecendo mais.

Voltando ao enredo principal… O patriarca da família Allen, Samuel Allen (Stephen McHattie) morreu e Fred e sua família precisam voltar para sua cidade natal Barington-on-Hudson para tratar do enterro e da herança (especialmente a mansão). Como eles já estavam cansados de ficar viajando de país em país para caçar monstros, resolveram tirar um ano sabático (um ano de descanso) para poderem estreitar os laços familiares.

Fato importante: os filhos, um casal de gêmeos, Viv (Aurora Burghart) e Geoff (Gabriel Darku) não sabem que seus pais caçam monstros (eles acham que os pais trabalham para uma companhia de seguros multinacional). Outro fato importante é que existe uma organização secreta chamada Presidio que gerencia todos os caçadores, tendo como grande missão proteger a humanidade.

Tudo ia normal, entendendo normal como constantes brigas de pais com filhos e problemas de entrosamento de alunos novos em uma escola, até que aparece Alice Harlow (Maxim Roy), uma feiticeira que está atrás de vingança contra a família Allen.

Reflexão sobre October Faction: Uma Relação Familiar Feita de Mentiras

O relacionamento familiar dos Allen é baseado em dois pilares: amor e mentiras. Fred cresceu em uma família tradicional de caçadores de monstros. Ele não gostava disso e tentou fugir dessa obrigação, mas acabou entrando para essa vida depois que um monstro matou seu irmão mais velho. Deloris também caiu nessa vida depois que seu pai foi morto por um monstro.

No fim, os dois escolheram essa sina de vingança, mas não queriam que seus filhos passassem por isso. Logo, acharam que o melhor seria esconder isso deles, omitindo suas verdadeiras profissões e até mesmo a verdade sobre a existência de monstros.

Só que esse não foi o maior segredo. Eles também esconderam o fato de que seus filhos foram “adotados”, que eles eram órfãos de uma feiticeira e foram recolhidos após a Presidio ter exterminado a aldeia em que eles nasceram.

Do outro lado, temos os irmãos, então com dezessete anos, e que começaram a manifestar poderes sobrenaturais. Como eles não sabiam do seu passado e nem que isso era possível, também resolveram esconder isso dos pais!

Com a mais boa das intenções, todos mentiram. É óbvio que as revelações irão acontecer e da pior forma possível. Não adianta tentar fingir que uma coisa não existe, que um fato não ocorreu porque ele sempre virá à tona. A omissão só faz atrasar o dia da revelação e criar uma situação ruim dentro de uma relação.

Muitas famílias passam por brigas e separações porque decidem esconder coisas importantes. Pode até ser com boa intenção, com a ideia de preservar, mas se é algo que o outro precisa saber, aquilo tem que ser contado.

Existem diversas frases de efeito que começa com “A verdade dói, mas…” e geralmente a complementação é algo ligado a liberdade ou fortalecimento. Ou seja, dizer a verdade em algumas situações é difícil porque sabemos que a reação do outro não será boa por algum motivo, mas sustentar uma mentira acaba exigindo um esforço e um sofrimento muito maior para a pessoa que guarda e que, no final, não vai ter valido de nada porque, quando a verdade for revelada, a pessoa que descobriu tudo só vai pensar no tempo em que ela foi “enganada” e não nos motivos que levaram o outro a mentir.

Só para deixar claro, não estou defendendo a obrigação de só falarmos a verdade em todas as situações. Até porque, eu acredito que no convívio social, em nome da gentileza, são necessárias algumas “mentirinhas” para que o convívio seja suportável. O que eu estou focando são em grandes mentiras que podem afetar de forma muito profunda uma família.

A solução, obviamente, também não precisar ser sair disparando “na lata” tudo de uma vez só. Falar a verdade também exige um trato social, uma delicadeza. Grandes questões exigem grandes preparações, um momento apropriado, uma situação tranquila para que tudo possa ser esclarecido da melhor forma possível. Se a verdade dói, o mínimo que precisamos fazer é minimizar essa dor.

Reflexão sobre October Faction: A Verdade como uma Mentira Aceita Socialmente

Outro ponto de destaque da série foi a revelação que a Presidio, a qual seria uma instituição dedicada a proteger os seres humanos dos monstros, se utilizava de meios inadequados para atingir seus objetivos. É revelado que a Presidio faz experimentos científicos com os monstros, tratando-os como cobaias.

Na série, a aldeia Harlow, que era formada por feiticeiros, era pacifista. Ela nunca teve a intenção de destruir ou subjugar a raça humana. Mesmo assim, a Presidio atacou e dizimou a aldeia, como medida preventiva e apropriação dos itens mágicos.

Outra descoberta foi que o irmão mais velho de Fred, Seth Allen (Donald MacLean Jr.) era um sádico. Seth não só caçava, mas judiava dos monstros, torturando-os desnecessariamente.

Em dado momento, a família Allen é questionada: quem são os verdadeiros monstros? E essa é a pergunta que nos chega quando pensamos em tudo o que fazemos com aquilo que nos é diferente e aquilo que nós, como raça humana, consideramos inferiores a nós.

O filósofo Nietzsche escreveu um texto chamado Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral no qual vai explicar que o conceito de verdade foi fabricado para tentar nos convencer de que um determinado ponto de vista deve se sobressair sobre outros. Sua frase marcante: “as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são”.

Para esse filósofo, se pensarmos para fora da moralidade, do certo e errado, o conceito de verdade não faz sentido. Na série, tudo aquilo que era feito pela Presidio era considerado como certo pelos humanos, mas errado para os monstros. Da mesma forma, a vida que os monstros levavam era tida como certa para eles, e o fato de serem caçados por isso estaria errado.

Podemos aqui pensar em termos de natureza: animais estão sempre caçando ou sendo caçados. Se o propósito é nobre, ou seja, alimentação, é válido. Assim como é válido se proteger. Isso é a proposta do ciclo da vida do filme Rei Leão. Seria a ordem natural das coisas.

Partindo desse ponto, os monstros caçarem para se alimentarem é válido, assim como os humanos revidarem para se protegerem. Entretanto, não faz sentido caçar monstros que não estão dispostos a incomodarem os humanos. Também não faz sentido as experiências científicas feitas com os monstros para tentarem entender suas biologias (a não ser, talvez, se existisse uma necessidade de estudo para criar uma arma funcional, mas não era esse o caso).

É possível perceber uma tentativa de aproximar aquilo que era feito nos laboratórios de ciência da Presidio com aquilo que era feito pelos nazistas durante a segunda guerra mundial. Ou seja, após considerar que um determinado grupo não tinha dignidade, ele poderia ser objeto de estudo e experimentação sem nenhum tipo de compaixão.

Se por algum momento a Presidio foi a resistência humana para se proteger, agora ela estava agindo de forma covarde, desmedida e desnecessária. Seu discurso de proteção e preservação da vida humana já não fazia sentido. Logo, a verdade que eles pregavam era uma ilusão, ilusão essa aceita por todos que compartilhavam daquele ponto de vista. Foi necessário que alguns monstros “do bem” mostrassem o outro lado, para que a família Allen entendesse que, naquele momento, eles estavam do lado errado da situação.

Conclusão

No fim dessa reflexão sobre October Faction, vimos que se lidar com dilemas familiares não é fácil, imagina ter que conciliar isso com o fato de que existem monstros que de fato caçam humanos e que existem outros que estão sendo exterminados sem nenhum motivo. Isso tudo nos faz questionar os conceitos de certo, errado, bem, mal, e, especialmente, verdade. Espero que essa reflexão possa ter lhe ajudado a pensar em como você lida com segredos na sua família e como você deve encarar discursos mentirosos que se mascaram de verdadeiros.

E aí? O que mais você poderia citar como pontos interessantes de reflexão da série? Comenta aí embaixo! Acha que mais pessoas deveriam rever seus segredos familiares ou se atentarem a discursos mentirosos travestidos de verdade? Compartilha esse artigo com essa pessoa! Quer conversar para descobrir a melhor forma de contar um segredo para sua família? Entra em contato comigo para eu tentar te ajudar.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.