Antropologia de Aristóteles através da Gamificação

Antropologia de Aristóteles através da Gamificação

Olá, marujos! Hoje vamos falar como ensinar a Antropologia de Aristóteles através da gamificação. Esse artigo tanto serve para ajudar um professor de filosofia a preparar sua aula desse tema, como para alguém que quer uma introdução a esse assunto. Vamos explicar resumidamente o conceito de antropologia de Aristóteles, explicar o jogo, e como usá-lo ao propósito da aula. Vamos lá!

Antropologia de Aristóteles

Aristóteles compreendeu que todos os seres vivos são constituídos da união de corpo e alma, sendo esse conceito “alma” entendido como “aquilo que anima, que dá movimento, vida ao objeto”. Sendo assim, o filósofo defende que a diferença entre seres inanimados e seres animados está na fato de possuir ou não alma. Também podemos dizer que a presença ou não de alma é o que distingue um ser inanimado de um ser animado.

Também podemos dizer que é a alma que dá vida às coisas, ou ela representaria a vida das coisas. Enquanto a alma está presente, existe vida. Ou existe vida enquanto ela está presente. E vice-versa.

Os seres vivos se destacam dos demais seres porque podem possuir as funções nutritiva (alimentação e excreção), sensitiva (locomoção e sentidos) e intelectual (raciocínio), as quais são dadas pela alma que eles possuem. Entretanto, nem todos os seres vivos possuem todas essas funções, e a distinção está exatamente no tipo de alma que cada um deles possuem.

As plantas possuem a alma vegetativa (essa alma só possui a função nutritiva). Os animais possuem a alma sensitiva (essa alma  possui as funções nutritiva e sensitiva). O ser humano possui a alma racional (essa alma possui as funções nutritiva, sensitiva e intelectual).

Como vemos, o ser humano tem tudo o que tem um animal e mais a capacidade de raciocinar. É por isso que Aristóteles definiu o ser humano como um animal racional. Ele não é só razão, porque guarda uma parte física (seu corpo e as funções próprias dele); mas também não é só físico, tendo algo transcendente ao (que vai além do) corpo, que é sua capacidade intelectual, de pensar e se relacionar com o mundo para além dos seus sentidos.

Jogo dos Seres e seus Tipos de Alma

Esse jogo fui eu que criei. Digamos que ainda está em fase de teste porque as regras e condições de vitória ainda precisam ser melhoradas para refletir melhor a estratégia do aluno e o conhecimento do conteúdo. Por outro lado, sua jogabilidade é simples e ele transmite de forma fácil a ideia dos três tipos de alma de Aristóteles e os tipos de seres que as possuem. Jogam quatro jogadores por vez.

Você vai precisar de:

  • 01 Tabuleiro de dama / xadrez (pode imprimir da Internet e colocar em um papelão).
  • 64 peças divididas em 16 grupos (eu peguei quatro pedaços de EVA de cores diferentes, tirei um molde com uma moeda, e cortei as peças) [funciona bem, mas voam fácil. Então, tem que observar problemas como ventiladores e alunos estabanados ou maldosos, que podem fazer voar as peças].

Regras:

  1. O jogo começa com uma peça em cada extremidade do tabuleiro;
  2. A cada turno, um por vez, o jogador colocará uma peça no tabuleiro. Ele pode escolher desenvolver seu ser (acrescentando uma peça em paralelo ou diagonal) ou iniciar um novo ser;
  3. O jogador pode, caso queira, atrapalhar o desenvolvimento do ser de outro jogador, iniciando ou dando continuidade a um desenvolvimento próprio (colocando sua peça no caminho dos seres dos adversários).
  4. Seres com uma ou duas peças possuem Alma Vegetativa; seres com três ou quatro peças possuem Alma Sensitiva; e seres com cinco ou mais peças possuem Alma Racional.
  5. Quando não houver mais espaços vazios no tabuleiro (ou seja, todos usaram suas 16 peças), ganha o jogador que tiver:
    1. Mais Almas Racionais em jogo;
    2. Mais Almas Sensitivas em Jogo;
    3. Mais Almas Vegetativas em jogo.

Antropologia de Aristóteles através da Gamificação

A ideia do jogo é mostrar que existe uma complexificação nos seres vivos. Os seres de maior complexidade, representados pelas fileiras de cinco ou mais peças, seriam os seres humanos, que possuem a alma racional e maior número de funções. Os seres de média complexidade, representados pelas fileiras de três ou quatro peças, seriam os animais, que possuem a alma sensitiva e algumas funções. Os seres de menor complexidade, representados pelas fileiras de uma ou duas peças, seriam as plantas, que possuem a alma vegetativa e poucas funções.

O jogo pode ser jogado antes ou depois da explicação da aula. Se for antes, seria interessante produzir uma quantidade maior de jogos, para não ficar apenas quatro jogando por vez e os demais olhando (o que dispersaria a turma muito rápido, depois da primeira ou segunda rodada). Se for depois, tendo mais jogos, melhor; mas se não tiver, pelo menos a turma já tem o conteúdo teórico apresentado. Pode ser oferecido um ponto extra para quem ganhar cada partida.

O problema das regras aparece quando dá empate (duas ou mais pessoas tem a mesma quantidade de cada ser) ou quando acontecem cruzamentos de seres da mesma cor (uma ou mais peças pertencem a seres diferentes). No caso do empate, não vi solução viável. No caso de cruzamento, uma estratégia é contabilizar apenas o maior ser, retirando as peças do tabuleiro após a contagem e criando um “buraco” que dividiria o ser que sobrou. Também é possível criar uma regra proibindo o aproveitamento de uma peça em duas linhas diferentes. De qualquer forma, as regras podem ser adaptadas para facilitar a jogabilidade e envolvimento dos alunos. O menos importante ao professor é decidir quem ganhou. Mais importante é fazer com que o aluno entenda a proposta.

Uma melhoria que pensei, mas que não testei, foi criar mais de 16 peças de cada cor e numerá-las de 01 a 05. Aí, nesse caso, seria colocado no quadro uma tabela mostrando que cada número representa uma função do ser vivo (alimentação, excreção, locomoção, sentidos e raciocínio) e o jogador deve criar o ser seguindo a ordem numérica, conseguindo visualizar melhor a questão da complexidade através do aumento das funções.

Uma adaptação que também pode ser testada é colocar como regra de vitória quem primeiro formar um ser humano (ou seja, um ser complexo, com as cinco funções / cinco peças). Nesse caso, no final, o professor mostraria que os seres intermediários representam os animais e plantas.

Interdisciplinariedades

Você pode aproveitar essa atividade não só para filosofia, mas também, como sugestão: biologia.

Biologia: aproveitando a questão da complexidade dos seres devido ao seu tipo de alma, o professor de biologia pode puxar para a explicação biológica dessa complexificação. Com o jogo, ele poderia explicar a evolução das espécies.

Antropologia de Aristóteles através da Gamificação: Conclusão

O jogo apresentado é uma criação minha para tentar sair da tradicional explicação oral apenas. O jogo é mais um complemento lúdico para o aluno, uma forma de ele lembrar o que aprendeu da teoria ou prepará-lo para a teoria que virá. Se o jogo vier depois, vai reforças os termos apresentados, tais como o nomes dos tipos de alma, as funções que elas dão ao corpo. Se vier antes, ele já vai estar familiarizado com os termos e a proposta da complexificação dos seres através do tipo de suas almas. Usando o jogo, também é mais fácil ajudar o aluno a lembrar da aula quando você precisar fazê-lo retomar esse conceito no futuro (é o famoso “Lembra daquela aula em que jogamos…?”).

E aí? O que achou do jogo? Alguma sugestão para melhorá-lo? Deixa aí nos comentário! Quer ajudar a divulgar a gamificação da filosofia? Compartilha esse artigo! Quer sugerir o uso de algum jogo ou quer dar alguma tema que você precisa gamificar? Me manda a situação pelo formulário de contato.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.