As Cinco Vias da Existência de Deus Descomplicada

As Cinco Vias da Existência de Deus Descomplicada

As Cinco Vias da Existência de Deus Descomplicada

Olá, marujos! Hoje teremos mais um artigo de filosofia descomplicada, dessa vez sobre as cinco vias da existência de Deus de Tomás de Aquino de forma descomplicada. Vamos ver quem foi esse importante filósofo do período da Escolástica e sua teoria, que “provou” a existência de Deus de uma forma racional, explorando as ideias de Aristóteles. Vamos lá!

Sobre o Filósofo

Tomás de Aquino, ou Santo Tomás de Aquino para os católicos, foi um monge que viveu entre 1225 e 1274, em um período medieval conhecido como escolástica. O destaque do seu trabalho está em buscar explicações racionais, filosóficas para problemas de cunho religioso, como nesse artigo, sobre a existência de Deus. Ele também foi importantíssimo por retornar os estudos de Aristóteles na Europa, que haviam sido abandonados e quase perdidos.

Ele era sobrinho de um abade do mosteiro beneditino de Montecassino e acabou sendo educado naquele mesmo lugar. Quando prosseguiu seus estudos na Universidade de Nápoles conheceu a ordem dominicana e se juntou a eles. Tomás foi professor de diversas universidades e também um grande escritor. Sua obra mais famosa é a Suma Teológica, onde ele expõem diversas questões sobre a fé cristã. Uma curiosidade de seu método é o fato de ele sempre expor os comentários a favor e contra sua questão, antes de ele mesmo dar a sua resposta.

As Cinco Vias da Existência de Deus Descomplicada

Introdução

A preocupação desse texto, como o nome já deixa a entender, é ser uma tentativa de provar de forma racional e necessária que Deus existe. Sua proposta é partir da criação divina para compreender o criador, ou seja, faz a ordem inversa: reconhecemos a causa pelos efeitos. Esse tipo de argumento se chama a posteriori, porque vem depois.

Outra coisa importante é ficar claro que as cinco provas da existência de Deus não precisam funcionar juntas para você crer que Deus existe. Segundo o filósofo, basta você aceitar uma delas para entender e aceitar a existência de Deus.

Primeira Via: A Via do Movimento

Tomás de Aquino afirma que tudo o que se move é movido por outra coisa. Aqui, a ideia de movimento não é o de andar, mas o de mudar, se transformar. Exemplo: um bloco de pedra é movido por um artesão que o transforma em estátua; a estátua é movida (transformada) em pó pela ação do vento e da chuva. Outro exemplo é pensar em algum objeto que é movido pelas mãos humanas, como levantar uma xícara de café.

Se pararmos para pensar, os movimentos internos do nosso corpo dependem da ação de movimento de outras coisas. Podemos citar o funcionamento de um órgão que depende do movimento do coração; ou a função da digestão de comida, que depende da ação de enzimas e ácidos para transformar o alimento que comemos. Outro caso clássico e polêmico seria o surgimento do universo: se tudo começou com o Big Bang, podemos nos perguntar quem iniciou a explosão, porque a explosão foi um movimento inicial de surgimento do cosmos.

O que deve ficar claro é que tudo que se move, segundo o filósofo, não tem em si mesmo o motor do movimento, mas depende de uma ação externa. E isso gera uma busca pelas origens do movimento, até se achar ao primeiro motor, aquilo que deu origem a todo o movimento. Isso que deu origem a todo o movimento (lembrando que estamos falando de mudança e transformação) seria Deus, pois ele é um motor imóvel, um ser que movimenta tudo sem precisar se mover.

Segunda Via: A Via da Causa Eficiente

Se na primeira prova o argumento foi o movimento (no sentido de mudança / transformação), agora o argumento é na produção. Tudo o que existe é um efeito produzido por uma causa. Em termos técnicos, tirados de Aristóteles, causa eficiente é o nome que damos para o que produziu alguma coisa. Exemplo: Nós fomos produzidos pelos nossos pais, eles foram produzidos por nossos avós, que foram produzidos por nossos bisavós e por aí vai… Sempre existe uma causa que gera um efeito.

O filósofo vem mostrar que podemos entender esse princípio, mas que também não podemos voltar ao infinito. Ou seja, deve existir uma causa eficiente primeira, que foi o princípio de toda a produção de coisas. Obviamente, esse causa primeira não pode ter sido causada, senão não seria primeira. Essa causa primeira é eterna e chamamos ela de Deus.

Terceira Via: A Via da Contingência

Aqui, devemos fazer uma distinção entre o que é contingente e o que é necessário. Contingente é tudo aquilo que pode existir ou não existir e não faria diferença; necessário é aquilo que é essencial existir. Podemos pensar contingência e necessidade em níveis menores ou maiores. Exemplo: Para os seres humanos, um olho é contingente porque vivemos sem ele, mas um cérebro é necessário, porque sem ele morremos. Os meus vizinhos são seres humanos contingentes para mim, mas para o filho deles, é necessário. Minha vida seria normal se meus vizinhos não existissem, mas sem eles, o filho deles nunca existiria.

A questão é que, se pensarmos friamente, tudo o que existe no universo é contingente, ou seja, não precisaria existir. São diversas complexidades que moldam o todo, mas não existe nada neles que você possa olhar e falar: “nossa, isso tinha que acontecer de qualquer jeito!”. Talvez possamos falar isso para aquilo que nos interessa, como seres humanos, mas se pensarmos em níveis macroscópicos, tudo é contingente.

Mas aí surge um problema: se tudo é contingente, ou seja, não necessário, significa que tudo o que existe poderia não existir. Mas se nada existisse, nada existiria. Por isso, para que a realidade não fosse o nada, precisamos crer que algo da realidade sempre existiu, um ser necessário que deu a garantia que as demais coisas possam existir de forma contingente. Esse ser necessário é Deus.

Quarta Via: A Via dos Graus de Perfeição

Aqui, a palavra chave é qualidade. Qualidade não entendida como elogio, mas como característica definidora. Exemplo: bondade, beleza, justiça, verdade etc. Quando julgamos algo bonito ou feio, estamos fazendo uma comparação, e, por isso, existe algum modelo de beleza em nossa consciência. A mesma coisa acontece quando dizemos que uma ação é justa ou injusta, pois nós temos um modelo de justiça.

Segundo o filósofo, todas as coisas possuem graus de perfeição, no sentido que estão mais próximas ou mais distantes desse ideal. Quanto mais distante desse ideal, mais imperfeito. Quanto mais próximo, mais perfeito. Mas que ideal seria esse? Onde está esse parâmetro que usamos para dizer se algo é mais ou menos alguma coisa? Tomás de Aquino dirá que Deus é o ser totalmente perfeito, que possui todas as qualidades a nível máximo, e, por isso, nos serve de parâmetro.

Para ficar claro, a prova da existência de Deus é o fato de que nós fazemos naturalmente esse julgamento de mais ou menos perfeito das coisas, o que não sabíamos é que para termos essa capacidade de comparar, precisava existir um ser perfeito para servir de modelo ideal, e esse ser é Deus.

Quinta Via: A Via do Finalismo

Na sua última prova, o Aquinate (outra forma de se referir ao filósofo Santo Tomás) invoca a ordem da natureza e sua busca incessante pela finalidade.

Para ficar claro: existem serem inteligente, que somos nós os seres humanos. Tudo o que fazemos, tem uma finalidade. Nós temos objetivos, planos e agimos no dia a dia para atingir esses objetivos. Temos uma finalidade em nossas vidas, buscamos realizar algo. Mas e as coisas não inteligentes? Por que elas agem como agem? O que justifica o fato da natureza ser “tão perfeita” no seu equilíbrio, cada coisa fazendo uma função específica, que no final dá um equilíbrio para tudo?

O filósofo usa o argumento da flecha para exemplificar. Uma fecha não tem consciência, mas consegue seguir seu rumo e chegar em um objetivo se disparada por um arqueiro, esse sim, um ser consciente. Da mesma forma, a natureza é governada por uma inteligência superior, por trás dela, que lhe dá o direcionamento e a ordem do que fazer e para onde ir.

A natureza não é um caos nem um acaso, ela é ordenada. E quem dá essa ordem é um ser supremo, que está para além de todo o universo, regendo-o. Esse ser é Deus.

As Cinco Vias da Existência de Deus Descomplicada: Conclusão

O Doutor Angélico (outro “apelido” do filósofo) conseguiu, através de cinco argumentos, provar racionalmente que Deus existe. Seu feito é extraordinário, especialmente pela sua época. Se bem observarmos, ele partiu de fundamentos físicos, do mundo cotidiano, para provar Deus, que é algo sobrenatural e transcendente.

Além disso, como eu já disse, bastaria acreditar em uma dessas provas para já aceitar a existência de Deus, mesmo que de forma apenas racional. Mesmo que você não dê o nome Deus, isso não mudaria o fato de que é d’Ele que você está falando.

E aí? Concorda com Tomás de Aquino? Acha que é possível provar a existência de Deus de forma racional? Deixa aí nos comentários a sua opinião! Esse artigo te levou a pensar a questão de Deus com outros olhos? Compartilha nas suas redes sociais para que mais pessoas também possam experimentar isso! Quer esclarecer alguma dúvida ou sugerir outros temas? Entra em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.