Argumento da Aposta Descomplicado

Argumento da Aposta Descomplicado

Olá, Marujos! Hoje vamos entender o argumento da aposta de Blaise Pascal de modo descomplicado. Vamos relembrar brevemente quem era Pascal, o que é o argumento da aposta e como entendê-lo de forma simples.

Blaise Pascal

Pascal pode ser considerado um jovem prodígio. Nascido em 1623 na França, publica Essay pour les coniques em 1640 (então com 17 anos), onde formula o Teorema de Pascal. Seus estudos foram dedicados inicialmente às matemáticas e ciências naturais e aplicadas. Depois, já com 31 anos, após de uma experiência mística, começa a se dedicar também à filosofia e teologia. É dele a famosa frase “O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece”. Ele, que tinha uma saúde frágil, morreu jovem, com 39 anos.

Argumento da Aposta

Sobre o texto

O Argumento da Aposta aparece no seu livro póstumo Pensées (Pensamentos). Esse livro contém diversos fragmentos que versam sobre a defesa do cristianismo. Pascal era cristão católico e nesse argumento tenta provar para um ateu que é melhor acreditar em Deus do que não acreditar Nele. Quando falamos em ateu, devemos levar em consideração que argumentos de fé não são válidos para ele. Logo, os argumentos devem ser racionais. 

Pascal teve consciência que provar a existência de Deus de forma racional não possível porque o Deus cristão é revelado (Deus que se mostra ao homem). Dessa forma, valendo-se de seus conhecimentos matemáticos, desenvolve um argumento que é considerado pioneiro na área da argumentação probabilística, porque sua teoria vai tentar convencer o adversário (ateu) que as probabilidades jogam à favor da crença em Deus, e não ao contrário. Ou seja, o argumento não prova que Deus existe. Ele prova que vale mais a pena crer em Deus do que não crer.

O argumento

Pascal nos diz que em termos de Deus, devemos apostar. Nós apostamos se cremos ou não que Ele exite. E, quando morrermos, saberemos se Ele existe ou não. Se apostarmos que Ele existe e estivermos certos, ganharemos infinitamente. Se apostarmos que Ele existe e estivermos errados, perderemos finitamente. Se apostarmos que Ele não existe e estivermos certos, ganharemos finitamente. Se apostarmos que Ele não existe e estivermos errados, perderemos infinitamente.

Porquê apostar é obrigatório? Porque Deus (se existir) é uma força incontrolável para nós e Ele irá nos julgar no fim de nossas vidas, nós querendo ou não. Simplesmente ignorá-lo ainda será uma atitude nossa, passível de ser julgada. Além disso, têm-se que entender que para um cristão católico, crer verdadeiramente pressupõe seguir os mandamentos e doutrinas da Igreja. Logo, para fazer sentido o argumento, seria necessária uma verdadeira conversão e não só uma declaração “da boca para fora”.

Críticas ao argumento

Ao logo do tempo, muitas foram as críticas ao Argumento da Aposta de Pascal. As principais versam que o argumento é uma falácia, ou seja, um argumento não válido que tenta se passar por válido. Criticam-o dizendo que ele apela para o medo do apostador e não para a sua razão. Também tem críticos que contestam o argumento porque Pascal ignora a possibilidade de existirem outros deuses além do Deus cristão.

Argumento da Aposta Descomplicado

Bom, vamos deixar esse argumento da aposta, que pode parecer confuso em uma primeira leitura, descomplicado. A ideia aqui é que você se coloque na figura do apostador e consiga visualizar as opções que Pascal está te dando.

A primeira opção é crer em Deus e, quando você morrer, confirmar que Ele existe. Se você creu em Deus, seguiu seus mandamentos e buscou uma vida justa, você conseguirá a salvação da sua alma (que é a parte eterna da sua existência). Você irá para o Céu junto de Deus, dos santos e demais pessoas salvas. Viverá uma eternidade feliz, num ambiente de puro amor. Sem nenhuma tristeza ou sofrimento, só coisas boas. Assim, por mais que você tenha deixado de ter algum prazer ou feito algo considerado errado para o cristianismo (por exemplo, sexo antes do casamento), você terá o prazer da felicidade eterna e viverá a sua eternidade despreocupado.

A segunda opção é crer em Deus e, quando você morrer, descobrir que Ele não existe. Nessa caso, você vai simplesmente desaparecer. Não existe vida após a morte. Fim. O máximo que poderá acontecer é você ter  a chance de se lamentar das diversas coisas que você deixou de “curtir” com medo do castigo divino. A sua perda será em coisas materiais ou prazeres não vividos. O máximo que acontecerá será um arrependimento do tipo “Ah! Se eu tivesse aproveitado mais a minha vida…”.

A terceira opção é não crer em Deus e, quando você morrer, confirmar que Ele não existe. Nessa situação, seu fim continuará sendo o nada. Um vazio. Mas, pelo menos, você pôde aproveitar a sua vida como você bem quis. Sem precisar temer uma condenação eterna, sem ser julgado por um Deus restritivo, você pôde fazer o que bem entendesse da sua vida e não precisou por limites aos seus atos e prazeres mundanos. Mesmo não tendo um prêmio póstumo, você não precisou se sacrificar em nada.

A quarta opção é não crer em Deus e, quando você morrer, descobrir que Ele existe. Esse seria o seu maior erro e um problema eterno para a sua alma… Relembrando que aqui estamos considerando que você escolheu não crer em Deus. Logo, você foi apresentado a Ele (alguém tentou te converter) e você recusou. Ou também, você era um crente e abandonou a fé. Aqui também incluiria o caso em que você diz que crê, mas não demonstra isso na sua vida. Se esse for o seu caso, sua alma será julgada e condenada ao inferno. E lá, você sofrerá eternamente. Algumas teologias defendem um sofrimento tipo físico, como se sua alma sentisse dor de um castigo corporal. Outras teologias defendem um sofrimento espiritual, uma ausência completa de amor, sobrando somente um vazio na sua alma, pois você escolheu se isolar plenamente de Deus. Como o julgamento de Deus é um só, você seria condenado eternamente a esse sofrimento, sem chances de arrependimento póstumo.

Exemplo prático: se preparando para um concurso

Vamos lá, vamos tirar Deus da jogada e vamos tentar um exemplo mais leve, que não crie um conflito entre crentes e não crentes. Digamos que agora a aposta é se você deve se dedicar ou não para um concurso público de apenas uma vaga de cadastro de reserva para o emprego dos seus sonhos. Ou seja, você dedicará tempo e dinheiro para fazer uma prova dificílima, tendo que passar em primeiro lugar e sem a certeza se te chamarão ou não.

Você poderá se dedicar para a prova, passar em primeiro e ser chamada. Aí, tudo terá valido a pena! Você pode também se dedicar, passar e não ser chamada. Aí, você vai ficar reclamando que perdeu tempo e dinheiro à toa, que era melhor ter dedicar tudo isso para outra coisa. Você pode não ter feito a prova e ter descoberto que não chamaram ninguém. Aí, você ficará aliviado porque não perdeu tempo e dinheiro com esse concurso e não se estressou desnecessariamente. Ou, você pode não ter feito a prova, visto que ela estava fácil (e você teria condições de passar em primeiro) e chamaram a pessoa. Aí, você vai se lamentar amarguradamente de não ter feito a prova, olhar para trás e pensar “não custava nada eu ter tentado”, e se lamentar o resto da vida a chance perdida.

Argumento da aposta em outras mídias

Infelizmente, não me recordo de nenhuma mídia que tentou aplicar esse argumento da aposta, seja de modo descomplicado ou complicado, seja para trabalhar a questão de Deus ou outra coisa. Deixarei esse tópico aqui em aberto, para ser preenchido no futuro, caso eu descubra algo ou algum leitor me dê a dica. 🙂

Conclusão

E aí? Agora conseguiu entender o Argumento da Aposta? Compartilha esse post para ajudar outras pessoas a entenderem também! Já tinha entendido? Deixa um comentário com outras sugestões de exemplos ou me indica alguma mídia que trabalha o Argumento da Aposta de Pascal! Continuou não entendo e está com vergonha de admitir isso publicamente, me manda uma mensagem pelo formulário de contato que irei te ajudar a entender falando diretamente com você.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.