Uma reflexão sobre GATTACA: eugenia e superação

Uma reflexão sobre GATTACA: eugenia e superação

Uma reflexão sobre GATTACA: eugenia e superação

Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre GATTACA – A Experiência Genética, um filme ao estilo romance policial noir futurístico que tem como principal elemento dramático a manipulação genética. Com esse filme, discutiremos temas de bioética e falaremos sobre superação e preconceito.

Sobre o filme

GATTACA é um filme de 1997. O nome do filme faz referência à Guanina, Adenina, Timina e Citosina, que são as bases do DNA. Entretanto, no filme, GATTACA é o nome da empresa que lança os foguetes ao espaço.

A história acompanha a vida de Vincent Freeman (Ethan Hawke), uma pessoa que foi concebida de forma natural, ou seja, através do sexo. Como o filme se passa em um “futuro não tão distante”, essa forma de concepção natural não é mais tão praticada, sendo inclusive vista com maus olhos pela sociedade.

A forma habitual de concepção no filme é a fertilização in vitro. Mas com um diferencial fundamental: nesse futuro, a ciência genética avançou tanto que é possível manipular geneticamente o embrião de tal forma que se pode escolher praticamente tudo (desde a cor dos olhos e da pele à ausência de doenças físicas e tendências ao vício).

Como Vincent foi feito sem essa manipulação, desde o nascimento ele já foi diagnosticado com uma série de doenças e propensões a problemas. Tornando-se, assim, um pária da sociedade. Por outro lado, Anton (Loren Dean), seu irmão mais novo, foi concebido através da ciência. Ele saiu “perfeito” e é o orgulho do pai. Enquanto isso, Vincent era o problema da família.

Quando jovem, Vincent decidiu fugir de casa e tentar a vida sozinho. Mesmo sendo inteligente e esforçado, não conseguia um bom emprego devido a sua genética “defeituosa”. Por isso, ele decide burlar o sistema e entra em um esquema de “falsidade ideológica genética”. Ele, através de um intermediário, se alia a um jovem geneticamente perfeito, mas paraplégico (devido a um acidente) chamado Jerome Morrow (Jude Law).

Se valendo de uma série de estratégias, tais como bolsa de urina, gotas de sangue em uma digital falsa, pintura de cabelo e outras mais, ele consegue o emprego de astronauta que tanto sonhava. Tudo estava indo bem, mas, próximo ao lançamento do foguete que o levaria ao espaço, ocorre um assassinato no prédio. Com isso, a polícia é chamada e começam a investigar até descobrir que Vincent está no prédio e ele se torna o principal suspeito.

Como a princípio, para todos, ele era Jerome, ele consegue se safar. Mas com o passar dos dias o cerco vai aumentando e quando estava prestes a ser descoberta a sua fraude, descobrem quem é o verdadeiro assassino. Assim, ele consegue realizar seu sonho de ir para o espaço.

Uma reflexão sobre GATTACA: eugenia e manipulação genética

Toda a história do filme gira em torno da genética do ser humano. O futuro conseguiu a garantia na produção de seres perfeitos. Dessa forma, a sociedade se acostumou à perfeição e começou a excluir aqueles que eram imperfeitos geneticamente.

O debate aqui é bioética, ou seja, as aplicações éticas em questões biológicas. Quem tem alguma doença ou alguém próximo que possui uma doença sabe o quanto isso é ruim. É uma limitação que atrapalha a vida em vários aspectos. Pode ser uma asma que atrapalha a prática do esporte, uma deficiência que te impeça de seguir a profissão que gostaria, ou um câncer que pode te matar ou, na melhor das hipóteses, te obrigar a fazer um longo e exaustivo tratamento.

Imagina quanto se economizaria em remédios e tratamentos se não houvesse tantas pessoas doentes. Imagina poder ter um filho sem doenças, que não corresse riscos de ter um problema de saúde sério e que viveria bastante. A princípio parece uma sociedade próspera. Mas talvez as coisas não sejam tão perfeitas assim…

Existe um grande erro ao se tentar separar as ciências exatas das ciências humanas, como se elas fossem independentes no dia a dia de uma pessoa. A maioria dos avanços da biologia, química, física tem implicações filosóficas, sociológicas, políticas e econômicas. Inclusive, até mesmo para essas pesquisas acontecerem, é preciso um consenso de parte da sociedade. Não existe ciência externa à sociedade. Todo o cientista é um cidadão e seus fundos e recursos de pesquisa vêm da sociedade.

Por isso, todos os avanços tecnológicos têm implicações nas questões humanas. No caso da manipulação genética, a intenção pode ser a melhor, no caso, criar um ser que dificilmente sofrerá fisicamente algum mal. Entretanto, a forma como isso implicará na sociedade é muito séria.

Como o filme mostra, a sociedade se apropria dessa tecnologia e se adapta a ela. Se agora é possível criar geneticamente pessoas melhores, eu quero essas para trabalhar para mim. Se agora tem pessoas geneticamente perfeitas, devem ser elas o exemplo social a ser seguido. Se agora é possível gerar seres humanos livres de doenças, eu condenarei aqueles que insistem em gerar filhos naturalmente que, invariavelmente, custarão mais caros à sociedade porque além de produzirem menos, precisarão de remédios e tratamentos.

Veja que a culpa da ciência não é direta, mas indireta. Mas isso não a torna inocente. Ele tem responsabilidades porque ele sabia (ou pelo menos desconfiava) das possíveis consequências de seus avanços tecnológicos. Os avanços das ciências naturais têm que ocorrer junto com avanços nas ciências sociais. Se persistirmos em um desequilíbrio, continuaremos a ter problemas. Seremos uma sociedade avançada tecnologicamente, mas atrasada em questões de cidadania.

Uma reflexão sobre GATTACA: superação e preconceito

Outra reflexão sobre GATTACA é a defesa da superação do ser humano. Vincent se passou por alguém perfeito, mas era sempre ele que executava os testes intelectuais e físicos. Ele, que tinha uma lista de defeitos que o impediram de entrar sendo ele mesmo em GATTACA, mostrou que era capaz. Quando pararam de ser preconceituosos com ele, ele pôde provar que era tão bom quanto qualquer outro.

É claro que ele tinha algumas limitações, com, por exemplo, aquentar o tempo de esteira. Mas isso se mostrou pequeno diante de todo o resto que ele tinha a oferecer à empresa e à sociedade. Quando ele era ele mesmo, o máximo que conseguiu foi ser faxineiro! A discussão aqui não é se as empresas devem ou não aceitar qualquer um para trabalhar, mas se a decisão foi tomada com base em um julgamento técnico ou um julgamento preconceituoso. O filme mostra que a lei proibia fazer distinção genética, mas as empresas faziam de um jeito ou de outro. É que nem rejeitar alguém só porque é negra ou mulher e não dar qualquer justificativa para não assumir o preconceito, dando um simples “não”.

Do outro lado, também vemos a pressão sofrida pelo Jerome. Como ele foi gerado para ser perfeito, ele não podia falhar. Como ele acabou falhando, sofreu todo o peso da decepção, consigo e com sua família. Ele era para ser o atleta perfeito, mas perdeu para outro atleta perfeito. Quando se pode escolher tudo sobre você, você se considera culpado por tudo o que acontece de errado. Quando todos dizem que você não pode fracassar ou que não tem como as circunstâncias atrapalhar, o único problema se torna você mesmo.

Conclusão

GATTACA é um filme que te prende na ação estilo “gato e rato” entre a polícia e Vincent, enquanto vai te fazendo refletir sobre várias questões bioéticas. Sem perceber, você começa a questionar se vale ou não a pena alguns avanços na área da genética. Ao mesmo tempo, você se torna um fã de Vincent e embarca desafio dele, se sentindo parte de cada superação e conquista que ele vai tendo ao longo do filme. No filme, você vive o sonho dele como um sonho seu, e o coloca como um exemplo de superação a ser seguido.

E aí? O que existem limites para o avanço científico no campo da eugenia? Deixe seu comentário! Conhece alguém que gosta desses temas polêmicos da bioética? Compartilha esse post com ele! Quer sugerir algum filme ou algum assunto para ser debatido? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.