Critério da Verificabilidade Descomplicado: Epistemologia & O Círculo de Viena

Critério da Verificabilidade Descomplicado: Epistemologia & O Círculo de Viena

Olá, marujos! Hoje vamos explicar o Critério da Verificabilidade de um jeito descomplicado. Essa é uma teoria filosófica desenvolvida pelo Círculo de Viena na área da Epistemologia. Para trazer mais esclarecimentos, vamos explicar também quem foi o Círculo de Viena, o que é a área da Epistemologia e sua relação com a Filosofia da Ciência. Vamos lá!

Epistemologia

A Epistemologia é a área da filosofia que busca analisar, validar e definir os critérios de validade dos métodos científicos. Em outras palavras, é a epistemologia que vai estudar o que a ciência deve considerar como ciência.

Enquanto um cientista aprende um método científico e o aplica para descobrir coisas novas nas mais diversas áreas (como biologia, química e física), é a filosofia, mais especificamente a epistemologia, que elabora e define quais métodos científicos são válidos, a partir de critérios que ela estabelece.

Quando dizemos que algo é um conhecimento científico, é porque aquilo que foi encontrado passou por um criterioso método de análise. Esse método só foi considerado científico porque ele foi validado pela epistemologia. Resumidamente, é ela que diz como se faz ciência.

A epistemologia está contida em uma área de estudo maior que é a Filosofia da Ciência. Na Filosofia da Ciência, estuda-se todas as implicações da Ciência, tanto as suas fundamentações quanto suas consequências e limites. A epistemologia é a parte que se preocupa em dizer o que é objeto de estudo da ciência e quais são os critérios que o cientista deve usar para validar uma descoberta como científica.

Círculo de Viena

O Círculo de Viena foi o nome como ficou conhecido um grupo de filósofos e cientistas que se reunia na Universidade de Viena entre os anos de 1922 e 1936.

A proposta filosófica do Círculo de Viena era fundamentar a ciência, dando uma nova base filosófica para ela. Seu método ficou conhecido como positivismo lógico, neopositivismo ou empirismo lógico.

Os principais nomes do Círculo de Viena são Rudolf Carnap, Moritz Schlick e Otto Neuranth. O Círculo compartilhava a ideia comum de aplicar à ciência as postulações que o filósofo Ludwig Wittgenstein havia feito no seu livro Tratado Lógico-Filosófico, que abordava questões referentes à Filosofia da Linguagem.

Critério da Verificabilidade Descomplicado

A base de pensamento do Círculo de Viena está na compreensão de que a Ciência deve propor enunciados que façam referência direta à Natureza. Dessa forma, não podem ser considerados científicos enunciados que não podem ser identificados na natureza por serem abstratos ou estarem para além dos seus limites de experimentação empírica.

Sendo assim, estariam de fora da Ciência a Metafísica (porque ela trata daquilo que está para além da Natureza), a Religião (porque ela trata daquilo que é sobrenatural), a Estética (porque ela trata da beleza que é algo abstrato).

Também estaria de fora da Ciência o Senso Comum porque esse se fundamenta no pensamento subjetivo (no “achismo”), enquanto que a proposta científica para o Circulo de Viena deveria encontrar verdades demostráveis e verificáveis.

Assim, introduzimos aquilo que será conhecido como critério da verificabilidade. Para os filósofos do Círculo de Viena, se só é científico aquilo que faz referência à natureza, esse conhecimento produzido precisa ser demonstrado e verificado na natureza. Para eles, só é científica uma teoria que pode ser testada, verificada, através de uma experiência.

A ciência, segundo os pensadores do Círculo de Viena, deve ser capaz de propor teorias universais, ou seja, que sirvam para tudo e todos. Para se fazer isso, é necessário a criação de Leis Universais, regras gerais que sempre funcionariam em qualquer situação (considerando, claro, as mesmas condições).

Para se criar essas regras gerais, deveríamos partir de experiências particulares, menores. Fazendo diversos testes da mesma hipótese, conseguiríamos provar, através da indução (linha de pensamento lógico que parte do particular para o geral), que a hipótese está certa, e ela se tornaria uma Lei Universal.

Às vezes, a teoria pode exigir um experimento científico muito complicado e ela fica lá “parada”, esperando alguém verificá-la. Isso não a anula como ciência porque ela ainda pode ser testada. O problema é uma teoria que é impossível de ser testada, como, por exemplo, a existência do Mundo das Ideias de Platão ou o Inferno cristão. Essas duas teorias não estão necessariamente erradas, apenas não pertencem ao campo da ciência porque não podem ser verificadas através de um experimento.

Critério da Verificabilidade Descomplicado: Exemplos

Na Mídia

Um bom exemplo para entender essa dinâmica de Demonstração e Verificação é a série Big Bang Theory.

Na série, o personagem Sheldon é um físico teórico. Ele se utiliza da matemática e da lógica simbólica para propor demonstrativamente teorias científicas. Bem resumidamente, o que ele faz é pegar uma ideia, um pensamento sobre um problema da física e depois organizar esse pensamento através da matemática e da lógica simbólica de tal forma que os “números batam / encaixem”. Ou seja, ele precisa demostrar no papel, através da matemática e da lógica aquilo que estava na cabeça dele. Por isso, a sala dele basicamente é um apanhado de livros e lousas, em que ele passa o dia teorizando e escrevendo fórmulas científicas.

Contudo, tudo o que ele fez só ganha real significado quando a sua teoria demostrada é verificada através de uma experiência científica. Quem representa isso na série é o personagem Leonard. Leonard tem um laboratório cheio de equipamentos em que ele passa o dia fazendo experimentos científicos. Bem resumidamente, o que ele faz é pegar a teoria desenvolvida previamente e tentar aplicá-la. Ele cria uma máquina ou um sistema em que ele aplica os números, variáveis e tudo o mais que existe na teoria e vê se funciona, se faz sentido na realidade sensível, ou seja, no mundo “palpável”.

Na Ciência Atual

O Bóson de Higgs e a Ondas Gravitacionais são bons exemplos de teorias científicas que foram demonstradas a muito tempo (porque a demonstração só exige o cálculo, é uma linguagem matemática e teórica), mas que só foram verificadas agora porque a tecnologia avançou o suficiente para que pudessem ser feitos os experimentos.

No primeiro caso, Peter Higgs propôs a existência do tal bóson na década de 1960, mas precisou-se esperar a criação do Grande Colisor de Hádrons (LHC na sigla em inglês) para poder fazer o experimento, que só ocorreu em 2013. Já no segundo caso, a teoria das ondas gravitacionais foi proposta por Albert Einstein em 1916! Contudo, apenas em 2017 (mais de cem anos depois) que os cientistas conseguiram detectar esse fenômeno, comprovando a teoria.

Critério da Verificabilidade Descomplicado: Conclusão

Pode parecer meio óbvio para a gente, hoje, que a ciência deve propor leis universais e que suas teorias devem ser verificadas através de experimentos. Contudo, antigamente não era. Esse é um dos exemplos que mostram o poder oculto da filosofia na história da humanidade. A ciência só começou a adotar o pensamento de que só é científico aquilo que pode ser verificado depois que a filosofia criou essa teoria. É importante dizer que o critério da verificabilidade já foi superado pelo princípio da falseabilidade de Popper, mas isso é assunto para outro artigo…

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.