Reflexão sobre Shrek: O Problema de Julgar antes de Conhecer

Reflexão sobre Shrek: O Problema de Julgar antes de Conhecer

Olá, marujos! Hoje vamos fazer uma reflexão sobre o filme Shrek. Esse filme já pode ser considerado um clássico da animação devido a sua proposta ousada de desconstruir os contos de fada. Além disso, ele traz uma excelente reflexão sobre um problema muito sério dos seres humanos: julgar os outros antes de conhecê-los. Será sobre isso que irei falar enquanto exploro a personalidade de alguns personagens. Vai ter alguns spoilers do filme, mas acho que todos já devem ter visto, né? kkk. Vamos lá!

Sobre Shrek

Shrek é uma animação da DreamWorks de 2001. Sua proposta é bem ousada: desconstruir os clássicos contos de fada.

O personagem principal é um ogro chamado Shrek. Todos têm medo e evitam chegar perto dele e do seu lar, o pântano. As coisas mudam de figura quando suas terras são invadidas por diversos personagens de conto de fadas, tudo porque o lorde Farquaad expulsou essas criaturas dos seus lares.

Shrek resolve ir tirar satisfações com lorde Farquaad, para retomar suas terras. Como ele não sabe o caminho, acaba sendo obrigado a ser guiado pelo Burro, um burro falante.

Chegando ao reino de Duloc, Shrek aceita a missão de resgatar a princesa Fiona da torre de um castelo protegido por um dragão. Essa é a condição para lorde Farquaad lhe devolver as terras. O lorde quer ser rei, mas para isso ele precisa de uma princesa.

Shrek e Burro têm sucesso no resgate. A princesa acha que Shrek é o seu príncipe encantado, mas o ogro demonstra que não está “nem aí” para ela, tratando tudo aquilo apenas como um serviço que ele precisava fazer para conseguir seu pântano de volta.

Contudo, no caminho, Fiona e Shrek se apaixonam. Ambos descobrem que têm mais em comum do que pensavam. Porém, devido a um mal-entendido, eles acabam brigando e se separam: Fiona vai para o castelo se casar e Shrek vai para o seu pântano.

Não passa muito tempo e ambos percebem que foram feitos um para o outro. Shrek volta para Duloc e luta para resgatar a princesa e se casa com ela.

E todos viveram felizes para sempre… menos lorde Farquaad!

Reflexão sobre Shrek: O Ogro e a Cebola

Shrek é um ogro e ogros são monstros terríveis, devoradores de humanos. Eles são maus e perversos. Fujam deles… E foi esse pensamento que fez com que Shrek se isolasse no pântano.

Shrek, em uma conversa com Burro, diz que ele é como uma cebola: cheio de camadas. Ele reclama que as pessoas só veem o lado mal dele, ou o estereótipo do ser ogro. Ninguém se aproxima dele para o conhecer de verdade, julgando-o antes e evitando-o.

Realmente, no primeiro terço do filme, vemos um ogro extremamente rabugento, “reclamão” e antipático. Nós não temos raiva dele, mas também não temos motivos para gostar dele. Contudo, com o desenrolar do filme, ele vai se revelando um cara legal.

Em uma outra conversa com o Burro, Shrek deixa entender que sua atitude é uma forma de defesa. Ele se isola porque acaba assumindo essa personalidade ogra que lhe deram. Ele não tem amigos porque ninguém se aproximava dele, e ele acabou entendendo que essa é a melhor forma de viver. Isso ficou tão arraigado nele que ele mesmo começou a afastar aqueles que tentaram se aproximar dele (como o Burro e a princesa Fiona).

Quantas vezes nós já não julgamos alguém pelos seus hábitos, sua forma de falar, de se vestir? Quantas vezes já não rotulamos alguém? Quantas vezes já não dissemos “nosso santo não bateu” sem mesmo termos tido uma conversa decente com alguém? Em nossas vidas corridas e globalizadas, conhecemos tanta gente e temos tão pouco tempo livre que acabamos ligando um processador de pessoas automático, não dando tempo para conhecer alguém de verdade. Isso é muito ruim porque podemos estar perdendo boas oportunidades de amizades verdadeiras.

Outra coisa importante também é lembrar que as pessoas mudam. Às vezes, realmente, em um primeiro momento, devido a várias circunstâncias, você e a outra pessoa não se identificaram. Mas isso não quer dizer que é para sempre. No meu ensino médio, eu tinha um pequeno grupo de amigos, a maioria fora da minha turma. Hoje, com a tecnologia e o amadurecimento de todos, sou amigo de muitas pessoas com quem quase nem falava. Se já é errado julgar antes de conhecer, também é errado não dar segundas chances para as pessoas.

Reflexão sobre Shrek: A Princesa e a Ogra

Para mim, a melhor desconstrução do filme é exatamente a princesa Fiona. No começo, ela parece ser a clássica princesa dos contos de fada, mas depois ela se mostra uma pessoa “normal” e até mesmo fora dos padrões. E isso só me referindo aos hábitos e atitudes dela, sem nem tocar ainda no seu segredo.

A melhor cena que revela o estereótipo da princesa certinha é quando ela dá um arroto tão grande quanto o do Shrek. Isso quebrou a atitude preconceituosa do Burro, que havia criticado os modos de Shrek, como também encantou o ogro, porque ele viu alguém como ele.

Shrek não era perfeito e também julgava Fiona e sua aura de princesa. Mas ela o desarmou e lhe fez perceber que estava cometendo o mesmo erro que ele havia apontado nos outros.

A atitude descontraída de Fiona traz traços considerados em nossa cultura como hábitos masculinos (lutar e derrotar Robin Hood e seu grupo, e o arroto já citado). Simone de Beauvoir no seu livro O Segundo Sexo diz a famosa frase mal interpretada “ninguém nasce mulher, se torna mulher”. O que ela está querendo nos dizer é que o conceito de feminilidade e masculinidade é construído pela sociedade. Até a alguns séculos atrás, era inadmissível uma mulher usar calças, mas hoje isso é normal.

Fiona mostra que os valores de uma sociedade podem e devem mudar para algo mais tolerante e inclusivo. Você não deixa de ser mulher porque arrota alto e luta / briga, porque essas são coisas naturais do ser humano, não podendo ser aceitos apenas nos homens e discriminado nas mulheres. Da mesma forma, um homem pode chorar e ser emotivo porque isso é algo natural do ser humano e não uma coisa de mulher.

Por fim, Fiona também nos chama à reflexão sobre o ideal de beleza. Ela sofria de uma maldição em que ela era uma coisa de dia e a noite outra, mas com o beijo de amor verdadeiro ela revelaria sua verdadeira forma. Surpreendentemente, a forma verdadeira de Fiona é a ogra. O que isso quer dizer? Quer dizer que ela intimamente estava satisfeita com aquele estilo de vida e uma aparência mais despojada. Ela bancava a preocupação com a beleza, com o “jeitinho de princesa” porque foi ensinada assim, mas não era o que ela queria.

Seu contato com Shrek fez ela aceitar quem ela era e isso foi libertador. Hoje, cada vez mais, as mulheres estão conseguindo se libertar dos estereótipos de beleza impostos a elas. A noção de beleza também é uma construção histórica como nos diz o filósofo Hegel. Dessa forma, não adianta querer encontrar um ideal a ser seguido, um corpo ou aparência perfeitos porque isso não existe. Você deve se sentir bonito como você desejar e deve se aproximar de pessoas que aceitem isso.

Não estou dizendo que você não precisa se cuidar ou se esforçar para ter boa aparência ou um bom corpo. Estou dizendo que cabe a você decidir o que é o seu ideal de beleza e, assim, segui-lo. Se, para você, o ideal é ser magro, então se esforce para ser magro. Se você acha que o ideal é ser “malhado”, então malhe. Se você acha que ser gordinho está ótimo, seja! Eu não estou relativizando a beleza como se ela não existisse, apenas aconselhando para você seguir o padrão que você quer e não o padrão que a cultura quer te impor.

Lembrando: não esqueça que o SEU ideal de beleza é SEU. Cuidado para não cair no erro de querer impor às pessoas a aparência ou o corpo que te agrada. Se você não quer que te imponham algum padrão estético, você também não pode fazer isso! 😉

Reflexão sobre Shrek: Conclusão

No final dessa reflexão sobre Shrek, podemos considerar esse filme um conto de fadas moderno. Ele critica alguns pressupostos ultrapassados e coloca novas questões a serem pensadas, mas sem perder a magia e o sonho do final feliz. Todos nós merecemos um final feliz e é muito triste quando não o conseguimos porque as pessoas nos maltratam ou zombam de nós, ou quando nós não conseguimos nos sentir bem conosco mesmos. Que esse filme e essa reflexão possam nos animar para voltar a lutar por uma sociedade que não nos julgue antes de nos conhecer e que também aprendamos a não nos julgarmos.

E aí? Já passou por uma situação ruim em que foi julgado antes de te conhecerem? Deixa seu relato nos comentários! Acredita que mais pessoas precisam ler essa reflexão sobre Shrek e mudarem de atitude? Compartilha esse artigo! Quer sugerir outros filmes ou temas para reflexão? Entra em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.