Reflexão sobre Amor, Morte e Robôs: Parte V (3ª Temporada)

Reflexão sobre Amor, Morte e Robôs: Parte V (3ª Temporada)

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série animada Amor, Morte e Robôs (mais conhecida como Love, Death and Robots). Essa é uma série de curtas-metragens de animação que falam sobre amor, morte, robôs ou uma combinação desses três temas. Essa é uma continuação das reflexões sobre a 3ª temporada da série. Se quiserem, podem ler primeiro a reflexão sobre a 1ª temporada (Parte IParte II e Parte III) e o começo da reflexão sobre a 3ª temporada (Parte IV). Teremos spoilers de todos os episódios! Vamos lá!

Sobre Amor, Morte e Robôs

A série Amor, Morte e Robôs (mais conhecida como Love, Death e Robots) é da Netflix e estreou em 2019. Em 2022, foi lança a terceira temporada (base desse artigo).

Essa série muitas vezes é chamada de Antologia porque reúne episódios independentes uns dos outros, feitos inclusive por estúdios diferentes. A única relação é o fato de todos serem animações e trazerem no contexto do episódio algo relacionado a amor, morte e/ou robôs.

Link para a série na Netflix: Amor, Morte e Robôs.

Reflexão sobre Amor, Morte e Robôs (COM Spoilers)

Noite dos Minimortos (Night of the Mini Dead): A Vida é um Pum!

Um casal resolve transar em um cemitério ligado a uma igreja e profana o local. Por isso, mortos vivos surgem e começam a atacar a todos, que também se tornam mortos-vivos. A coisa vai ganhando proporções maiores e catastróficas até que, em uma medida desesperada, mísseis nucleares são lançados contra a própria Terra, aparentemente explodindo tudo.

Esse episódio é uma grande sátira à vida humana e social. Destaco alguns fatos:

a) O estilo de animação representa tudo como miniatura, e culmina mostrando a Terra em uma perspectiva de galáxia, em que uma explosão nuclear parece um “pumzinho”. Isso serve de reflexão para entendermos que em uma perspectiva macroscópica, nós não somos nada. Somos um grãozinho de carne em uma pedrinha flutuante. Temos mania de exaltar a raça humana como se fosse a maior evolução do universo, só que isso não é necessariamente verdade. O universo é gigantesco e não sabemos o que está muito longe de nós. Não estou dizendo que não temos valor, mas temos essa visão megalomaníaca de “nos acharmos demais” e isso não é bom. Falta-nos humildade.

b) Em sua maior parte, o episódio parece ter um ritmo acelerado. Tudo ocorre muito rápido. Até mesmo os mortos-vivos, que na maioria das representações são seres que se arrastam de tão lentos, agem de forma rápida. No ritmo do episódio, é como se o mundo acabasse em poucos dias. Interpreto isso também na visão macroscópica de que aquilo que para nós é um processo demorada, na visão maior é algo rápido. Nós podemos achar que 100 anos é muita coisa porque nós vivemos uma média de 70-80 anos, mas se olharmos para a história humana, 100 anos não é nada. E se olharmos para a história geológica, muito menos ainda. Por isso, novamente existe um “choque de humildade”, para não acharmos que a nossa era é a melhor de todas, como se o mundo bom fosse agora, porque tudo isso aqui não é nada quando olhamos de longe.

c) Tudo começou com duas pessoas transando. Aqui, temos duas interpretações: uma de que o sexo, assim como trouxe a procriação da espécie, também trouxe a sua destruição; e a outra, de que duas pessoas aleatórias, fazendo algo aleatório, foram responsáveis por criar o evento que culminou no fim da Terra, mostrando que todas as relações humanas estão interconectadas.

d) Quem derrubou o muro que separava os EUA do México foram os mortos-vivos. É interessante pensar nessa crítica porque os seres irracionais tiveram uma atitude muito mais “humana” do que nós tivemos até o momento. Pensem que os mortos-vivos só querem se alimentar e criar mais dos seus. Eles não têm preconceitos já que atacaram toda a Terra. Eles não criam divisões entre si, todos estão unidos no momento propósito. Dessa forma, os mortos-vivos não enxergam barreiras como nós enxergamos. Eles não veem sentido em separar seres humanos. Daí fica a reflexão: porque nós precisamos fazer isso?

Matança em Grupo (Kill Team Kill): Loucuras Trágicas da Guerra

Um grupo de combatentes americanos em solo afegão estão em uma missão. Ao chegarem no local, veem que o batalhão anterior foi dizimado. Logo descobrem que a causa é um urso pardo geneticamente modificado e superequipado, criado para matar, que está fora de controle. Detalhe: quem o criou foi o próprio exército dos EUA. Eles vão até uma base-secreta americana junto com um sobrevivente e tentam armar uma emboscada para o urso, mas tudo dá errado e, no final, todos morrem!

Acredito que o ponto mais interessante desse episódio é a quebra de expectativa pelo fato de TUDO dar errado no começo, no meio e no final!

Um pouco antes do primeiro combate, o sargento Nielsen (líder do grupo) diz que tudo dará certo se ficarem juntos, e um subordinado diz que isso era fala de filme fofinho. E é a verdade nua e crua. Em uma guerra, nada é bonito, feliz ou bom. Toda ela é uma merda. Não existe final feliz em uma guerra. No máximo, um final menos triste.

É essa a proposta apresentada pelo episódio, mostrar que no final tudo dará errado. Que não existe isso de sobreviventes que conseguiram sair ilesos. De heróis de guerra que deram seu sangue pela nação. Esse tipo de panegírico (discurso público de louvor a algo) só faz mais pessoas apoiarem causas idiotas de guerra ou combate. Guerra nunca trará benefícios para as pessoas diretamente envolvidas.

A morte final de todos os combatentes nos mostra que é esse o desfecho padrão de uma guerra. Não é o grupo sobrevivente levantando a bandeira do país ou sendo resgatado pelos seus. A realidade cruel da guerra é a derrota.

Outro ponto interessante do episódio é mostrar a grande maioria dos soldados como pessoas com diferentes graus de loucura ou esquisitices. Vejo isso por dois lados: de um lado, podemos interpretar como as consequências psicológicas de se viver a pressão das forças armadas, ou seja, que essa vida deixa qualquer um maluco em diferentes graus (e isso é fato comprovado, com vários casos de transtornos pós-guerra de ex-combatentes); do outro lado, podemos considerar que muitos soldados já são de certo modo loucos e até imorais e, por isso, escolhem essa vida (nesse caso, temos uma crítica ao tratá-los como heróis porque, no fundo, não passam de lunáticos que encontraram uma forma de extravasar suas loucuras).

Como último ponto, destaco o fato do inimigo ser uma arma criada pelo próprio governo americano que saiu do controle. Aqui, podemos fazer uma crítica à indústria bélica, que gasta bilhões em pesquisas para criar novas formas de matar, dinheiro esse que falta para programas de assistência social (que serviriam para salvar vidas em vez de tirá-las). Além disso, é muito provável que toda essa história nunca virá a público, sendo transformada em um cruel ataque do inimigo, o que incitaria ainda mais as pessoas a continuarem com a guerra para vingar seus soldados mortos. Sendo que, como vimos, o inimigo foi o próprio governo!

Resumindo tudo: não existe glamour na guerra. Pode ser lindo consumir diversos produtos culturais sobre esse tema ou que envolvam esse tema, mas a realidade nunca será dessa forma. Se você quer ser militar porque sente a necessidade de proteger sua nação, OK; mas se você quer ser militar para matar os inimigos da sua nação, você está errado! O melhor cenário é aquele em que não precisaríamos de forças militares.

Enxame (Swarm): Inteligência para quê?

O Doutor Afriel chega até um organismo vivo chamado enxame. Lá, ele encontra outra pesquisadora chamada Galina, que lhe explica como aquele ecossistema funciona. Afriel revela sua intenção de recriar o enxame na Terra, para que eles sirvam de mão de obra para os humanos. Galina concorda e eles começam os preparativos. Porém, o enxame descobre e aprisiona os dois. É revelado que, agora, o enxame também irá reproduzir humanos a partir do casal aprisionado para se preparar contra futuras invasões humanas.

Somos seres inteligentes ou seres guiados por instintos provocados por reações químicas? Esse é um grande debate que ocorre desde a muitos séculos. Aristóteles já definia o ser humano como um animal racional, destacando a presença conjunta e necessária desses dois elementos. Apesar disso, ainda muitas pessoas consideram a raça humana como superiora a tudo porque ela é dotada da chamada inteligência, que a distinguiria de todo o resto.

Hoje, algumas pessoas já defendem a existência da chamada senciência em alguns animais (como cães e gatos). Essa seria a capacidade de sentir emoções e sensações de forma consciente, e estaria em um grau intermediário entre viver apenas instintivamente e ser inteligente tal qual os seres humanos. Como vemos, até mesmo nesse caso, o parâmetro de inteligência ainda pertence à raça humana, como se fossemos o ápice do grau evolutivo racional.

O mais interessante desse episódio foi ver, em seu final, que o enxame possui sim a faculdade da inteligência. Porém, a casta inteligente só é acionada quando necessária, o que não era a muitos anos (até os humanos aparecerem lá para criar problemas). Isso significa, pela experiência genética do enxame, que a inteligência não é uma faculdade importante para a sobrevivência da espécie. E, se seguirmos o pensamento do enxame, nossa inteligência irá nos destruir em breve.

Em outras palavras, a capacidade de sobreviver não depende da existência da inteligência. E o fato de não ter inteligência manifestada não significa que um organismo não saiba o que está acontecendo com ele.

Nós gostamos de nos sentir superiores porque somos inteligentes, mas ignoramos que, talvez, alguma outra espécie teve essa oportunidade e a abandonou porque viu que não era interessante a sua existência. Logo, ser inteligente pode muito bem não ser uma vantagem, mas sim uma desvantagem!

Além disso, no episódio, é mostrado que aqueles seres, por não “pensarem”, não se importariam em servir aos humanos porque estariam “apenas” seguindo seus protocolos genéticos, independentemente se a serviço da rainha ou dos humanos. Será mesmo? Porque, novamente, utilizamos critérios humanos para considerarmos se algum ser possui a experiência de apreciar a vida tal como nós fazemos. Dessa forma, não é estranho pensar que estamos ignorando o fato de que todos os seres vivos sabem apreciar a vida que eles têm, mas o fazem do jeito deles; e, nós, egocêntricos, ignoramos suas particularidades e descartamos suas razões de serem como eles são.

Curiosamente, durante a relação sexual entre o casal, é falado que, no fundo, somos dominados por um monte de impulsos bioquímicos. Alguns experimentos neurocientíficos também já identificaram uma série de comportamentos antes atribuídos à vontade humana como nada mais do que respostas à estímulos bioquímicos, mascarados como ações da nossa vontade livre. Nesse contexto, podemos considerar que a nossa racionalidade nada mais é do que a forma encontrada por nossa espécie para sobreviver.

Talvez, diante de tudo aquilo que nossos ancestrais estavam vivendo, a seleção natural achou por bem investir tempo e energia no cérebro em vez de nas pernas, dentes ou criação de asas! Naquele momento, o que poderia nos ajudar seria sermos inteligentes. Porém, nesse contexto, ser inteligente é apenas uma forma de viver no mundo, e não a mais importante ou valiosa.

É isso que o episódio quer nos mostrar: não podemos “nos achar” porque somos inteligentes. Ser inteligente não significa que somos melhores. No máximo, somos diferentes. Logo, a melhor atitude continua sendo a clássica: integração com a natureza. O caminho tem que ser a convivência harmoniosa com todo o ecossistema. Temos que parar de querer explorar e devastar tudo só porque podemos e queremos. Isso NÃO vai acabar bem para nós mesmos.

Deve ser por isso que, no exame, a casta inteligente só nasce em casos específicos e morre logo. Porque sua existência por muito tempo é um risco para todo o enxame. Um ser que pensa demais não é algo bom para a sobrevivência da vida global. Pensar demais corrompe a unidade natural da vida. Quem pensa demais, se acha demais.

Reflexão sobre Amor, Morte e Robôs: Conclusão

Chegamos ao fim da quinta parte dessa reflexão sobre Amor, Morte e Robôs. Analisamos, agora, mais três episódios da terceira temporada. Continuaremos as reflexões dos demais episódios na Parte VI. Espero que estejam apreciando essas reflexões sobre a série.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.