Olá, marujos! Hoje, explicaremos a dialética de Hegel de uma forma descomplicada. Após breve apresentação do filósofo, daremos a etimologia do termo dialética e a novidade hegeliana. Depois, desenvolveremos o conceito apresentando suas partes, objetivos e importância. Exemplos serão dados para ilustrar o pensamento do filósofo. Vamos lá!
Sobre Hegel
Hegel, cujo nome completo é Georg Wilhelm Friedrich Hegel, nasceu na Alemanha (cidade de Stuttgart) em 27 de agosto de 1770.
Sempre afeito dos estudos, cursou a universidade e se estabilizou como professor, lecionando em universidades e institutos ao longo de sua vida.
Ele é conhecido como um autor de difícil compreensão, mas importantíssimo para a filosofia subsequente.
Morreu em Berlim (Alemanha) em 14 de novembro de 1831.
Para conhecer mais sobre o filósofo, leia: Hegel Descomplicado: Biografia e Filosofia.
Dialética de Hegel Descomplicada: Etimologia
A palavra dialética é de origem grega e formada pelo prefixo dia e o substantivo alétheia.
O prefixo dia tem o sentido de duplicidade. Já a palavra alétheia significa o não-oculto, o desvelado, que pode ser compreendido como verdade ou realidade.
Porém o termo “dialética” não tem o sentido de duplicidade da verdade. A intenção do termo é mostrar o confronto de verdades. Ou seja, uma dialética proporciona que duas ideias consideradas verdadeiras se confrontem para se descobrir qual está correta.
Dialética de Hegel Descomplicada: Novidade Hegeliana
A novidade trazida por Hegel foi a compreensão de que, da disputa de ideias que se propõem verdadeiras, surge uma terceira ideia que não nega as outras duas ideias. Ao contrário, as aceita e as absorve produzindo uma terceira via que supera as duas ideias anteriores.
Além disso, Hegel defenderá que o processo dialético não ocorre apenas no embate filosófico-científico (limitando-o ao campo do conhecimento), mas em toda a realidade.
Para Hegel, toda a realidade pode ser compreendida como uma permanente dialética, que vai ocorrendo até o fim dos tempos. Para ele, a dialética é o “motor de todas as coisas”.
Para compreender melhor essa segunda novidade, recomendo a leitura do texto Idealismo Absoluto Descomplicado: Idealismo de Hegel.
Dialética de Hegel Descomplicada: A Estrutura da Dialética
Tese, Antítese e Síntese
A dialética hegeliana é constituída de três momentos: a tese, a antítese e a síntese.
Tese: é o momento inicial, em que uma ideia se apresenta como a verdade;
Antítese: é o segundo momento, em que uma outra ideia se apresenta como oposição à primeira ideia;
Síntese: é o terceiro momento, em que uma terceira ideia surge como superação das duas ideias anteriores que estavam em conflito.
Vale destacar que, muitas vezes, tese a antítese se apresentam juntas. Isso significa que nem sempre dá para saber qual ideia surgiu cronologicamente primeiro ou não existe evidências que uma das ideias foi criada conscientemente em oposição a outra. Às vezes, foram formas duais de se pensar que se apresentaram como opostas quando surgiu a oportunidade de colocá-las lado a lado.
Espiral Dialética
Para Hegel, no momento em que surge a síntese, ela se torna automaticamente uma tese, dando espaço para que surja uma antítese e, assim, o processo recomeça.
Dessa forma, a construção da realidade nunca acaba; ou melhor, acabará só quando o Espírito Absoluto atingir seu ápice.
Dialética de Hegel Descomplicada: Exemplos
Para ficar claro como funciona o processo dialético da realidade segundo Hegel, apresentarei alguns exemplos em vários âmbitos da realidade.
Filosofia 01
O pré-socrático Parmênides defendia o imobilismo do ser (as coisas são e não podem deixar de ser). Já o pré-socrático Heráclito defendia a mobilidade do ser, chamado de devir (as coisas estão em constante movimento e transformação).
Do embate dessas duas ideias, surgiu a proposta platônica de aceitar as duas anteriores como manifestações reais, mas de dois mundos diferentes que se sobrepunham. Deu-se origem ao conceito de mundo sensível e mundo inteligível e tivemos uma síntese.
Com a teoria platônica se tornando a nova tese, pouco tempo depois surgiu a metafísica aristotélica como antítese da metafísica de Platão…
Filosofia 02
A teoria do conhecimento de Kant é considerada pelos historiadores da filosofia como síntese das teorias racionalistas e empiristas que vigoravam e se opunham nos séculos anteriores.
Economia / Trabalho / Sociedade
O capitalismo pode ser considerado uma síntese do embate entre os defensores do trabalho escravo e aqueles que eram contra. Os defensores queriam mão-de-obra para o serviço. Quem era contra, queria a liberdade de trabalhar como bem entendesse. Na teoria capitalista, o empregador paga pelo serviço da mão-de-obra, que pode aceitar ou não o emprego.
Estado
Segundo o próprio Hegel, o conceito político de Estado surge como síntese que tenta conciliar as oposições entre as diferentes famílias. O Estado, dessa forma, é algo novo que supera as disputas individuais familiares, criando uma nova forma de organização social.
Psicologia
Podemos pensar o conceito psicanalítico freudiano de Ego (como eu me porto socialmente) como a síntese do Id (quem eu sou interiormente) com o Superego (os valores externos aos quais fui submetido pela sociedade).
Pedagogia
O conhecimento de um aluno é a síntese entre aquilo que ele entendia do assunto e do contexto do assunto antes da aula e aquilo que o professor transmitiu na aula. Esse processo é uma síntese porque o aluno não recebe o conteúdo da aula de forma passiva e irrefletida. Ao contrário, ele absorve o conteúdo fazendo uma relação entre o que ele já tinha e o que ele adquiriu.
Tanto é assim que, mesmo o professor falando a mesma coisa para toda a turma, cada aluno entenderá o assunto e o reexplicará (se lhe for pedido) de forma única.
Dialética de Hegel Descomplicada: Considerações Gerais
A dialética, para Hegel, é a “própria natureza do pensamento”. Isso significa que todo o pensamento humano se dá de forma dialética. Sempre iremos identificar uma oposição entre tese e antítese e buscaremos fazer uma síntese. Para toda ideia que tivermos, somos capazes de fazer sua negação.
A dialética é uma relação. Ou seja, sempre existe uma troca. Conduto, essa troca gera sempre algo novo. Podemos pensar, como exemplo, a combinação genética de dois genitores, que gera um ser totalmente novo.
A dialética reflete a própria vida, que está em constate mudança e transformação. Essa mudança e transformação se mostra quando nos abrimos a identificar as contradições inerentes na própria vida e buscamos superá-las.
Dialética de Hegel Descomplicada: Obras e Comentários
Seguem alguns livros que podem te ajudar a conhecer melhor e aprofundar o conhecimento desse tema:
Dialética de Hegel Descomplicada: Conclusão
Se olharmos para a nossa realidade de forma atenta, conseguiremos ver claramente a dialética hegeliana perpassando todas as instâncias da realidade. Talvez, a única dificuldade em identificá-la ocorra se formos pessoas que acham que sempre estamos certos e tenhamos problema em aceitar a verdade do outro e buscar construir algo novo que possa ser bom para ambos os lados. A humildade de todos é essencial para saber entender e utilizar a dialética de Hegel.
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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Dialética de Hegel Descomplicada: Referências
SPINIELI, André Luiz Pereira. O conceito de dialética na filosofia hegeliana: a síntese dos opostos e a busca pela liberdade. In: Ciência, Tecnologia e Educação: o papel da universidade no desenvolvimento socioeconômico. 4º Congresso Interdisciplinar de Pesquisa, Iniciação Científica e Extensão Universitária – Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Belo Horizonte, 22 a 25 de abril de 2019, p. 317-332.
