Idealismo Absoluto Descomplicado: Idealismo de Hegel

Idealismo Absoluto Descomplicado: Idealismo de Hegel

Olá, marujos! Hoje, explicaremos o idealismo absoluto de Hegel de um jeito descomplicado. Iniciaremos com uma breve biografia do filósofo e qual o seu objetivo ao desenvolver essa teoria filosófica. Depois, explicarei de forma descomplicada o que significa ser idealista e porque o idealismo de Hegel é considerado absoluto. Para atingir esses objetivos, também explicarei de forma descomplicada outros conceitos importantes de Hegel, tais como Espírito Absoluto, Consciência e Autoconsciência. Buscarei usar linguagem simples e exemplos para facilitar o entendimento dessa que é uma das teorias mais complexas da filosofia. Vamos lá!

Sobre Hegel

Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu na cidade de Stuttgart, Alemanha, em 27 de agosto de 1770. Era de uma família de classe alta e manifestou interesse pelos estudos desde criança.

Após a faculdade, trabalhou como tutor, professor não remunerado, diretor de colégio, editor de jornal até finalmente ser professor universitário remunerado.

Escreveu importantes obras e deu muitas aulas e conferências, as quais depois viraram livros baseados nas anotações dos seus alunos.

Morreu em 14 de novembro de 1831 em Berlim, Alemanha, aos 61 anos.

Para mais detalhes sobre a vida de Hegel, recomendo a leitura do texto: Hegel Descomplicado: Biografia e Filosofia.

Idealismo Absoluto Descomplicado: Superando o Dogmatismo Kantiano

Immanuel Kant foi muito importante para a filosofia e a ciência porque conseguiu, aparentemente, conciliar o racionalismo e o empirismo.

Kant chegou à conclusão que o conhecimento se dá pela compreensão empírica do mundo material através de estruturas racionais da mente humana. Ou seja, o conhecimento humano precisa tanto do contato sensível com o mundo material quanto da razão humana para acontecer.

Para justificar essa teoria, Kant postula os conceitos de faculdades da sensibilidade e do entendimento, que seriam as responsáveis por coletar e processar as informações do mundo exterior.

[Para entender a teoria do conhecimento de Kant com mais detalhes, recomendo: Criticismo de Kant Descomplicado].

Porém, a filosofia de Kant não dá conta de explicar as origens dessas faculdades nem o modo de ligação entre a sensibilidade e o entendimento. Da mesma forma, a filosofia de Kant admite a existência da coisa-em-si como algo da realidade que seria impossível de compreensão pela razão humana.

Para Hegel, esses problemas transformariam a filosofia crítica de Kant em um dogmatismo porque ela simplesmente admite que essas coisas são como não e não tem como explicar porque são dessa forma e não de outra, simplesmente aceitando que são dessa forma e ponto final.

É para resolver esse problema, que Hegel desenvolve sua filosofia do Idealismo Absoluto.

Idealismo Absoluto Descomplicado: O Idealismo de Hegel

Porque Hegel é um Idealista?

Hegel é um idealista porque, para ele, a realidade é constituída de ideias e conceitos criados pela mente humana.

Para deixar claro, Hegel não está dizendo que não existe um mundo material. Esse mundo existe, mas todo ele seria compreendido pelo ser humano. Dessa forma, aquilo que chamamos de realidade é a visão interpretativa que o ser humano faz através de ideias e conceitos daquilo que ele sente pelos seus sentidos.

Por exemplo: a realidade cachorro é o conjunto de ideias e conceitos que o ser humano produz do ser “cachorro” que ele observa no mundo material. Não existiria, para Hegel, nenhum aspecto do ser “cachorro” que escaparia à mente humana – sendo algo real, mas não compreendido. O cachorro é aquilo que pensamos dele e ponto final. Não existe mais nada do ser do cachorro que não podemos compreender.

Outro aspecto do idealismo de Hegel é sua concepção de história. Para ele, a história é constituída pelas ideias e conceitos dos seres humanos ao longo do tempo. Ou seja, as nossas noções de realidade moldam nossas decisões históricas. E a história evolui da mesma forma que evoluem nossas ideias e conceitos.

Por exemplo: A escravidão era justifica muitas vezes porque os escravizadores diziam que certas pessoas nasceram para fazer o trabalho pesado ou diziam que certas pessoas não eram seres humanos como eles, sendo uma raça parecida, mas inferior. Ambas as explicações foram ideias e conceitos que moldaram como as sociedades trataram os negros. Quando sociedades escravistas pararam de pensar assim, a escravidão acabou. Repare que nada mudou no aspecto natural dos negros – eles continuaram com a mesma aparência e porte físico – a única mudança foi na compreensão de quem eram aquelas pessoas.

Porque o Idealismo de Hegel é chamado de Absoluto?

Dois dos maiores problemas filosóficos é compreender a noção de realidade e a relação entre sujeito (aquele que conhece) e o objeto (aquilo que é conhecido).

A resposta de Kant para esse problema, como dito acima, foi dizer que só podemos conhecer as características do objeto que são sentidas pelos sentidos e interpretáveis pelo entendimento humanos. Essas informações constituiriam a nossa realidade. Porém, ainda existiria uma realidade não conhecida pelo ser humano, que constituiria a “coisa-em-si”.

É por ter esse entendimento do conhecimento, que a teoria de Kant é chamada de Idealismo Subjetivo. A realidade ainda é uma produção da mente humana, mas, ao mesmo tempo, é limitada pelo ser humano. Ou seja, não somos capazes de conhecer tudo.

Hegel vai discordar dessa opinião de Kant. Para Hegel, somos capazes de – pelo menos em algum momento – conhecer a totalidade de tudo. Pode não ser agora, mas um dia chegaríamos lá. Mas como isso seria possível se existiria, até então, uma barreira intransponível entre o sujeito e o objeto? Como conhecer a totalidade de tudo se sujeito e objeto são substâncias distintas? Como garantir a capacidade de “penetração total” da razão humana em toda a essência do objeto de tal forma que nada lhe escapasse?

A solução/explicação de Hegel é a noção de que toda a realidade é constituída pelo que ele chama de Espírito Absoluto. Tanto o sujeito (nós) quanto o objeto (o mundo material) são manifestações desse espírito absoluto. Por tudo ter a mesma origem metafísica, seria possível – em certo momento histórico – o conhecimento pleno e total.

Resumindo até aqui, Hegel é um idealista absoluto porque acredita que toda a realidade é constituída por ideias e conceitos e seríamos capazes se conhecer toda a realidade porque tanto sujeito e objeto são manifestações da mesma substância – a qual ele chama de Espírito Absoluto.

Idealismo Absoluto Descomplicado: O Espírito Absoluto

O Espírito Absoluto é um conceito metafísico de Hegel complexo. Seu livro e sua explicação não são simples de compreender e seus intérpretes ao longo do tempo também tiveram opiniões dicotômicas sobre o que Hegel queria dizer com tudo o que disse.

Dessa forma, quero deixar claro aqui que tentarei simplificar esse conceito o máximo possível para fazer algum sentido e você ter uma noção geral dele. Não pretendo fazer grandes aprofundamentos nem esclarecer todas as dúvidas. A ideia é ser algo bem introdutório para você se familiarizar com o conceito.

O que é o Espírito Absoluto?

O Espírito Absoluto seria um todo orgânico e dinâmico que constituiria toda a realidade. Em outras palavras, tudo seria esse Espírito Absoluto.

A grande questão é que o Espírito ainda não completou todo o seu desenvolvimento. Ou seja, o Espírito ainda está conhecendo (ou se autoconhecendo se tudo é ele). Por isso, ele é dinâmico e não estático. Porque ele não está “acabado”.

O ápice da história seria o momento em que o Espírito Absoluto completaria seu objetivo.

Os seres humanos são manifestações individuais do Espírito Absoluto?

Sim, somos. Cada um de nós somos uma manifestação única e histórica desse Espírito que está buscando a completude do seu conhecimento. Nós somos a manifestação mais complexa do Espírito porque temos uma racionalidade e capacidade de autoconsciência (sabemos que sabemos e sabemos sobre quem somos).

Dessa forma, temos um papel importantíssimo em “ajudar” o Espírito a conhecer e se autoconhecer. É especialmente através de nós que o Espírito consegue realizar o seu objetivo.

O restante do mundo material também é o Espírito Absoluto?

Sim, é. Todo o mundo material, entendido como aquilo que não é a própria consciência, a parte espiritual da realidade, também faz parte do Espírito Absoluto e ocupa papel importante na história do Espírito porque serve para dialogar e confrontar a parte espiritual da realidade.

O Espírito Absoluto é Deus?

Não para Hegel, apesar de alguns intérpretes dele quererem fazer essa aproximação.

O Espirito Absoluto também é um ente metafísico tal como o conceito de Deus é um ente metafísico em outras filosofias. Porém, Hegel nunca aproximou o conceito de Espírito Absoluto com o conceito de Deus. O Filósofo, inclusive, nunca propôs uma teologia ou religião vinculada ao Espírito Absoluto.

O Conceito de Espírito Absoluto não Acaba sendo uma Forma de Dogmatismo?

Para Hegel, não. Hegel entende o dogmatismo como uma ideia fixa e imutável. E, para ele, o Espírito Absoluto não possui essas características.

Ao contrário, a ideia do Espírito Absoluto está em constante mudança e evolução ao longo da história, podendo sempre mudar conforme muda a própria autoconsciência do Espírito.

Além disso, o conceito de Espírito Absoluto, para o filósofo, não teria surgido como uma imposição conceitual feita por ele – Hegel. Não seria Hegel que decretou a existência inquestionável do Espírito Absoluto. Na verdade, foi o próprio Espírito que, nesse momento histórico, tomou consciência da sua existência e se manifestou como ideia filosófica através de Hegel.

Fazendo aqui uma analogia BEM superficial, é como se Hegel tivesse “incorporado” o Espírito e escrito aquilo que o Espírito quis dizer sobre si mesmo (ou aquilo que ele entende ser ele até esse momento).

Idealismo Absoluto Descomplicado: Consciência e Autoconsciência

Como espero ter ficado claro até aqui, o Espírito Absoluto ainda não atingiu seu ápice. Se tivesse atingido, você não estaria aqui lendo esse artigo porque já saberia de tudo ou já teria se tornado junto com as demais coisas um ser só. Dessa forma, fica claro que existem etapas a serem percorridas pelo Espírito até atingir seu clímax.

A primeira etapa é chamada por Hegel de consciência. Consciência é o momento em que o indivíduo toma consciência, ou seja, compreende a existência e busca entender essa existência do mundo exterior e de si mesmo. É o momento em que buscamos saber o que são as coisas e quem somos nós. É o primeiro momento filosófico.

A segunda etapa é a autoconsciência. Esse é o momento em que o indivíduo entende que ele entende, ou seja, que ele toma consciência de que é um ser consciente, que está buscando conhece não só a realidade exterior, mas também busca entender quem ele é essencialmente (realidade interior).

Idealismo Absoluto Descomplicado: Dialética

A dialética é o modo como tudo ocorre na filosofia de Hegel. É o método empregado pelo Espírito para conhecer e se autoconhecer.

Durante tudo o que foi falado até aqui, é importante compreender que sempre houve uma dialética por trás de cada etapa. Por exemplo, os binômios sujeito-objeto, espírito-matéria, consciência-autoconsciência. Tudo ocorre através de uma dialética para Hegel.

Como esse é um assunto complexo, farei um artigo descomplicado dedicado à Dialética. Porém, achei necessário citar sua importância aqui para não parecer que a Dialética é dispensável ou separada do Idealismo Absoluto de Hegel.

Idealismo Absoluto Descomplicado: Obras e Comentários

Seguem alguns livros que podem te ajudar a conhecer melhor e aprofundar o conhecimento desse tema:

          

Idealismo Absoluto Descomplicado: Conclusão

Como tido várias vezes, o Idealismo Absoluto de Hegel é interessante, mas também muito complexo e complicado. Se quisermos fazer um resumo bem resumido, podemos dizer que esse foi o esforço do filósofo em explicar como o ser humano pode conhecer a totalidade da realidade sem cair em um dogmatismo. Para Hegel, toda a realidade é constituída de ideias e conceitos os quais podem abarcar de fato a totalidade de tudo porque tudo (incluindo nós e o mundo exterior a nós) faz parte de uma substância só, chamada de Espírito Absoluto, que está ainda em processo de desenvolvimento (mas que, um dia, chegará ao seu ápice – conhecerá tudo).

E aí? Gostou desse artigo descomplicado sobre o idealismo absoluto de Hegel? Compartilha! Quer um artigo descomplicado sobre outra teoria filosófica de Hegel? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Alguma parte ficou confusa ou gostaria de complementar a explicação? Comenta!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Idealismo Absoluto Descomplicado: Referências

AQUINO, John Karley de Sousa. Metafísica pós-crítica em Hegel: Deus e o Idealismo Absoluto. In: Existência e Arte – Revista Eletrônica do Grupo PET – Ciências Humanas, Estética da Universidade Federal de São João Del-Rei – ANO X – Número IX – Janeiro a Dezembro de 2014.

ARANTES, Paulo Eduardo. Hegel – Vida e Obra. In: Hegel (Coleção Os Pensadores). São Paulo: Abril, 1985.

BAVARESCO, Agemir. Idealismo Realista ou Realismo Idealista: Hegel & Marx. In: Veritas. Porto Alegre, v. 63, n. 1, jan-mar. 2018, p. 355-375.

CHAT GPT. Hegel’s “Phenomenology of Spirit” (Conversa que tive com o Chat GPT sobre o tema desse artigo).

DUQUETTE, David A. The Phenomenology of Spirit. In: Hegel: Social and Political Thought. Internet Encyclopedia of Philosophy.

LUFT, Eduardo. Notas sobre idealismo absoluto. In: VERITAS. Porto Alegre, v.42, Dezembro 1997, p. 891-912.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.