Aparelho Psíquico Descomplicado: Filosofia de Sigmund Freud

Aparelho Psíquico Descomplicado: Filosofia de Sigmund Freud

Olá, marujos! Hoje explicaremos o conceito de aparelho psíquico para Freud de um jeito descomplicado. Pode parecer estranho falarmos de Freud em um blog de filosofia, mas é fato que as suas contribuições sobre o entendimento da mente humana foram importantíssimas para a filosofia pensar o que é e como funciona a mente humana. Por isso, o artigo vai focar na teoria de Freud e não nas questões relacionadas ao tratamento psicológico. Vamos explicar como Freud dividiu e entendeu a mente humana com uma linguagem simples e vários exemplos. Também faremos uma breve biografia do autor. Vamos lá!

Sobre Freud

Sigmund Freud nasceu em 06 de maio de 1856 na cidade de Freiberg in Mähren, República Checa. Era de uma família humilde. Mudou-se para Viena (Áustria) quando tinha 4 anos devido a problemas financeiros e de saúde na família.

Ele ingressou na Universidade de Viena em 1873, quando tinha 17 anos. Primeiramente, ele desejava cursar direito, mas acabou mudando para medicina. Durante seu tempo na universidade, se interessou muito pela pesquisa científica, desenvolvendo uma série de estudos com vários professores. Isso o fez postergar sua formatura, que só ocorreu em 1881, quando ele tinha 25 anos.

Ele pretendia seguir carreira na pesquisa científica, mas devido ao baixo salário, decidiu trabalhar clinicando no Hospital Geral de Viena. Tudo porque precisava de dinheiro para se casar com Martha Bernays, o que ocorre em 1886.

Após uma época de estudo na França com o psiquiatra Charcot, Freud começa a aplicar seu novos conhecimentos para tratar pacientes mulheres com casos de problemas neurológicos no Hospital Geral. Seus casos clínicos e tratamentos foram publicados, dando início ao que seria conhecido como psicanálise. 

No início, seus estudos foram ignorados, mas depois começaram a ganhar certa fama (especialmente com a publicação do seu livro A Interpretação dos Sonhos). A questão mais interessante é que seus estudos saíram do campo da medicina e alcançaram outras áreas do conhecimento.

Em 1938, com 82 anos, Freud precisou sair de Viena porque a Áustria havia sido anexada pela Alemanha nazista, e ele era de descendência judaica. Ele e sua família foram para a Inglaterra, onde já tinham parentes morando.

Freud morreu um ano depois, em 23 de setembro de 1939, na cidade de Londres, devido a um câncer. Há especulações de que ele praticou eutanásia, ao pedir que seu médico lhe desse uma dose excessiva de morfina para cessar definitivamente a sua dor. As cinzas de Freud encontram-se no crematório Golders Green, em Londres.

Aparelho Psíquico Descomplicado: Definindo o Termo

Aparelho psíquico é o nome que Freud criou para tentar explicar a organização e o funcionamento da mente humana. Ao longo dos seus estudos, ele propôs algumas formas para tentar entender a complexidade da nossa mente. Uma delas foi uma divisão referente à quantidade de energia e movimento dela na atividade psíquica. Outra divisão mais famosa foi a topográfica, em que ele dividiu a mente humana em lugares virtuais, os quais ele chamou de consciente, pré-consciente e inconsciente. Conduto, a divisão estrutural, que consiste em atribuir funções específicas para instâncias funcionais da mente humana (Id, Ego e Superego), foi a última e que melhor serviu para a psicanálise avançar seus estudos.

Vale destacar que em nenhum momento Freud rejeitou as divisões anteriores, apesar de ficar claro que existe uma evolução de conceito em cada uma dessas propostas de divisões.

Aparelho Psíquico Descomplicado: Divisão Topográfica

Consciente – seria o conjunto de todos os fenômenos os quais percebemos quando os executamos.

Pré-consciente – seria o conjunto de fenômenos que em um primeiro momento não percebemos, mas que podem começar a ser percebidos caso nos esforcemos em percebê-los.

Inconsciente – seria o conjunto de fenômenos que não percebemos e que só em circunstâncias muito especiais poderiam ser percebidos.

Exemplo do Iceberg

O exemplo mais famoso para entender isso é do próprio Freud, que compara a mente humana a um grande iceberg (veja imagem da capa desse artigo).

Para ele, a pequena parte que fica acima da superfície seria o nosso consciente. É a parte claramente visível. Seriam todas as nossas ações, atitudes e pensamentos que temos consciência (ou seja, compreensão) de que estamos fazendo / tendo.

A parte do iceberg que fica logo abaixo da água, que não está à vista em um primeiro momento, mas pode ser observada se focarmos nossos olhos para dentro da água seria o nosso pré-consciente. Seriam todas as nossas ações, atitudes e pensamentos que, em um primeiro momento, não temos consciência de que estamos fazendo / tendo. Porém, se nos preocuparmos em prestar mais atenção, começaremos a perceber.

A parte do iceberg que fica totalmente submergida, que é impossível de ser vista a olho nu, seria o nosso inconsciente. Seriam todas as nossas ações, atitudes e pensamentos que não temos consciência de que estamos fazendo / tendo, porém estão lá, ocultos de nós mesmos. Assim como uma tecnologia de imersão poderia acessar a parte profunda do iceberg, alguns tratamentos psicológicos poderiam acessar a nossa parte inconsciente.

Exemplos do Cotidiano

Entender o nosso consciente é relativamente fácil. Basta perceber tudo o que você faz e pensa a partir de sua vontade. Se você se levantar agora para tomar água, é porque você quis. Se você pensar agora em um morango, é porque você quis. Se você estalar seus dedos agora, é porque você quis.

O pré-consciente seria o nosso reservatório de memória acessíveis, segundo o próprio Freud. Seria tudo aquilo que um dia aprendemos, não usamos no cotidiano, mas podem voltar à mente com um leve esforço. Para transformar o pré-consciente em consciente precisaríamos apenas de uma vontade ou estímulo. Por exemplo, quando você sente um cheiro que te recorda “do nada” uma pessoa ou uma situação vivida: você não escolheu ter essa lembrança, mas ela surgiu na sua cabeça. Outro exemplo é quando lembramos de alguma coisa que aprendemos na escola durante uma conversa ou resolução de um problema: nós não ficamos lembrando daquilo a todo momento, mas voltou a nossa mente quando precisou-se daquele conhecimento.

Por fim, o inconsciente é todo o conjunto de coisas vividas às quais não temos mais acesso, possivelmente porque bloqueamos ou reprimimos para nos proteger (sem nem perceber). Freud vai dizer que o inconsciente pode se manifestar no sonho, podendo ser interpretado (contudo, é preciso tomar cuidado com essa intepretação). Um exemplo prático de atitude inconsciente é quando você comete um ato falho, ou seja, diz alguma coisa querendo dizer outra. Por exemplo, alguém te pergunta se a roupa que ela está usando caiu bem e você acaba “sem querer” falando que não, sendo que você queria dizer sim para não magoá-la. Ou quando você troca o nome de alguém em uma situação inusitada, por exemplo, durante o sexo (provavelmente, você, no fundo, queria estar com essa pessoa com a qual você chamou a outra).

Aparelho Psíquico Descomplicado: Divisão Estrutural

Id – seria a estrutura psíquica responsável por todos os nossos desejos mais instintivos. Ele funciona através da busca pelo prazer e fuga da dor. Ele é totalmente irracional e inconsciente. Ele é a fonte de todas as nossas pulsões (forças inconscientes que nos fazem agir).

Ego – seria a estrutura psíquica responsável por intermediar o nosso Id com o mundo exterior. Ele é responsável por frear nosso impulsos e dar soluções criativas para eles, ou seja, formas de manifestar aquilo que sentimos dentro dos padrões aceitos pela sociedade. Ele tenta maximizar as vontades do Id ao mesmo tempo que minimiza os efeitos negativos sociais desse extravasamento. Resumidamente, ele busca o equilíbrio entre aquilo que quero e aquilo que deixam eu fazer. Ele é a fonte da razão e é totalmente consciente. 

Superego – seria a estrutura psíquica responsável por moralizar a mente humana. Ele é responsável por reunir todos os valores morais e regras de comportamento que aprendemos e nos obrigar a segui-los. Ele que nos faz sentir mal quando fazemos algo “errado” (errado para a sociedade, não para o nosso Id). O superego é tanto consciente quanto inconsciente, ou seja, existem vezes em que sabemos porque nos sentimos mal por fazermos algo e existem vezes que não sabemos porque nos arrependemos de uma ação.

Exemplos do Cotidiano

Imaginem uma pessoa que sente atração por alguém do mesmo sexo, mas sua religião / família condena isso. O Id quer um relacionamento homossexual. O Superego fica dizendo que é errado. O Ego tenta equilibrar essa disputa, podendo fazê-lo extravasar essa vontade com pornografia (em vez do ato em si), em um esporte (para ocupar a cabeça com outra coisa) ou até a criação de um avatar virtual, em que a pessoa se expressa na Internet em redes sociais com perfil falso onde ela pode dizer o que pensa ou jogar jogos em que ela se relacione com alguém do mesmo sexo.

Outro exemplo é um filho que quer seguir uma profissão a qual os pais não querem. O Id fala para ela ignorar os pais e fazer o que lhe dá prazer. O Superego vai ficar “martelando” na cabeça dele que isso seria uma traição aos pais, que os magoaria, que iria desperdiçar todo o “investimento” feito na educação. O Ego tentaria equilibrar isso sugerindo, por exemplo, que ele faça a faculdade escolhida pelos pais e depois de formado, quando ganhasse o próprio dinheiro, começasse a faculdade dos sonhos.

Preciso deixar claro que todos esses exemplos são hipotéticos. Não dá para usá-los como guia para analisar ninguém. Quem achar necessário, deve procurar um profissional para entender o seu caso. Se alguém faz algo citado aqui ou passa por um problema semelhante, não significa que vive a mesma situação e nem que imitar o que disse resolverá o problema.

Aparelho Psíquico Descomplicado: Conclusão

Como costumo dizer em artigos que se relacionam com outras áreas, nunca usem meu texto para tirarem diagnósticos clínicos. A proposta freudiana de entender a mente humana é muito interessante, mas está longe de ser a resposta certa e definitiva sobre o assunto. É apenas mais uma dentre várias. A psicanálise tem uma longa lista de adeptos e críticos. Se você achou interessante e considera que ela pode te ajudar a crescer como indivíduo, procure um profissional qualificado para fazer um acompanhamento. Se acha tudo isso sem sentido, é só não acreditar. Só não pode ignorar porque é um pensamento válido e que influenciou e ainda influencia muitas correntes de pensamento, sejam filosóficas ou não.

Aparelho Psíquico Descomplicado: Aprofundando o Assunto

Caso queiram aprender mais sobre Freud e o Aparelho Psíquico, recomendo a seguinte lista de leitura retirada das sugestões do Contra Acadêmicos:

Conferências introdutórias à psicanálise (Sigmund Freud)

Psicologia das massas e análise do Eu e outros textos (Sigmund Freud)

O eu e o id “autobiografia” e outros textos (Sigmund Freud)

Freud – Kit Obras fundamentais – Vol. 3 (Sigmund Freud)

Freud – Kit Obras fundamentais – Vol. 2 (Sigmund Freud)

Freud – Kit Obras fundamentais – Vol. 1 (Sigmund Freud)

Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia [“O caso Schreiber”] (Sigmund Freud)

A interpretação dos sonhos (Sigmund Freud)

Obras Completas de Sigmund Freud (Sigmund Freud)

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E aí? O que achou desse artigo? Comenta aí embaixo! Conhece alguém que precisa entender esses conceitos freudianos? Compartilha esse artigo com ele! Quer sugerir outros temas para o blog? Entra em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2016.

Coleção Ensino Médio 2ª série: Manual do Professor. – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 64 p.: il.

Wikipédia. Verbetes Sigmund Freud, Aparelho psíquico, Teoria psicanalítica e Pré-consciente.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.