Super-homem de Nietzsche Descomplicado: O Übermensch na Ética Nietzschiana

Super-homem de Nietzsche Descomplicado: O Übermensch na Ética Nietzschiana

Olá, marujos! Hoje explicaremos a ideia de super-homem de Nietzsche de um jeito descomplicado. Lembraremos brevemente quem é Friedrich Nietzsche e falaremos detalhadamente do seu übermensch, relacionando o surgimento desse além-do-humano com as outras ideias nietzschianas. Vamos lá!

Sobre Nietzsche

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 e morreu em 25 de agosto de 1900, no que hoje é a Alemanha. Ele é considerado um dos grandes filósofos alemães e um dos grandes filósofos modernos. Seu pensamento é considerado muito além do seu tempo, e sempre está permeado de debates interpretativos. O motivo é simples: Nietzsche se recusava a conceituar suas ideias, preferindo metáforas e aforismos, fato que permite diversas interpretações das suas teorias.

Amado por uns e odiado por outros, começou sua carreira acadêmica como filólogo (estudioso da língua), mas se afastou do magistério superior devido a uma doença degenerativa. Enquanto viajava em busca de um clima mais agradável para sua saúde, produziu seus livros mais emblemáticos. Ele era um forte crítico da religião cristã e da moral tradicional, alegando que ambas atrofiaram a capacidade do ser humano de se superar.

Para mais detalhes sobre a vida de Nietzsche e uma visão geral de sua filosofia, recomendo a leitura do artigo Nietzsche Descomplicado: Biografia e Filosofia.

Super-homem de Nietzsche Descomplicado: “Conceito” e Traduções

O termo original empregado por Nietzsche é übermensch (lê-se mais ou menos “úbermêinchi”) . Esse termo pode receber diversos sentidos. Por isso, as traduções são variadas. A mais famosa e literal é super-homem. Contudo, para fins mais didáticos, baseando-se na interpretação do termo dentro da obra do filósofo, alguns tradutores preferem além-homem, além-do-homem ou além-do-humano.

Além disso, o próprio Nietzsche utiliza alguns sinônimos para se referir a essa mesma ideia: homem redentor, espírito livre, filósofo do futuro e homem superior (esse último, homem superior, às vezes aparece como sinônimo, às vezes aparece como um etapa anterior ao super-homem).

Independentemente do termo usado, a ideia sempre gira em torno da mesma coisa: o super-homem é um estado evoluído do homem atual (entendido sempre como humanidade). Essa evolução é de caráter ético, ou seja, o super-homem é um ser humano que possui uma moral própria, nova, que supera as morais existentes. Para chegar a esse novo estágio moral, o ser humano precisa possuir algumas qualidades e aceitar algumas condições, todas explicadas a seguir.

Outra coisa importante de nota é que Nietzsche frequentemente contrapõe sua ideia de super-homem da sua ideia de último homem, que seria o oposto, a antítese do super-homem. O último homem, então, seria o ser que se recusa a evoluir, é apegado aos valores morais que possui e critica e atrapalha aqueles que querem mudar.

Super-homem de Nietzsche Descomplicado: As Qualidades

Nietzsche dirá que são três as qualidades que o super-homem deve possuir. Você irá reparar que essas três qualidades se relacionam uma com as outras. Ela não possuem necessariamente uma ordem para surgirem.

Em outras palavras, essas três qualidades são independentes e ao mesmo tempo codependentes, porque uma pode surgir sem a outra, mas uma ajuda a outra a se estabilizar. Além disso, praticamente todas culminam na mesma coisa, que é a afirmação da vida.

Faculdade de Esquecer

Um dos problemas da humanidade, segundo Nietzsche, seria o seu apego ao passado. Para o filósofo, nossas vidas são marcadas pelas lembranças que temos daquilo que vivemos e dos valores que recebemos, lembranças essas que nos sufocam e nos obrigam a viver um estilo de vida que nos incomoda.

Dessa forma, o super-homem deve adquirir a faculdade de esquecer, ou seja, ser capaz de esquecer seu passado, seus atos cometidos e seus valores aprendidos. Dessa forma, ele não fica preso à nada e se torna capaz de viver apenas o presente, o agora.

Como exemplo, podemos pensar nas vezes em que guardamos mágoa de alguém e ficamos permanentemente com aquilo em nós, nos incomodando. Vivemos presos a essa mágoa, e deixamos de evoluir. Uma mulher que foi traída, pode perder a confiança nos homens. Um filho que foi maltratado pelos pais pode não querer ter filhos por medo de fazer com os filhos aquilo que sofreu. Se conseguíssemos esquecer nosso passado, como propôs Nietzsche, conseguiríamos viver nosso presente de forma mais despreocupada.

Outro campo que também deveríamos conseguir esquecer são os valores que nos ensinaram como certos, como absolutos. Para o filósofo, também devemos esquecer que esses valores são absolutos (niilismo) para podermos criar nossos próprios valores. Como exemplo, imagine um jovem homossexual que vive sua sexualidade reprimida porque desde criança aprendeu dos pais que gostar de alguém do mesmo sexo é algo errado, um pecado, algo antinatural. Somente ignorando o passado esse jovem conseguirá viver seu presente livre, com a sexualidade que ele mesmo desejar (e não a que lhe foi imposta pela família).

Afirmação da Lei do Eterno Retorno

Uma das metáforas nietzschianas é o Eterno Retorno. Basicamente, podemos dizer que é uma referência à possibilidade de viver a mesma vida (sem tirar nem pôr) novamente eternamente.

No caso, o super-homem deve não só aceitar, mas defender o eterno retorno. Ou seja, diante da possibilidade de ter que viver uma mesma vida eternamente, o super-homem deve abraçar isso, concordar com isso, querer isso.

Ao afirmar o eterno retorno, você está dizendo que aceita passar novamente por tudo o que passou, por toda a sua transformação e evolução. Ao mesmo tempo que aqueles que buscam ser espíritos livres devem esquecer o seu passado, eles não podem ter medo de repetir a vida que levaram.

Para Nietzsche, o além-homem deve valorizar a sua vida a tal ponto que aceite viver tudo novamente.

Amor Fati

Uma tradução para amor fati seria “amar o destino”. Ou seja, amar a vida que você levou e a vida que você tem. Para Nietzsche, o super-homem não se arrepende de nada, nem daquilo que a vida fez com ele e nem daquilo que ele fez com a vida.

Como o foco do filósofo é na ética, em vez de ficarmos amargurados, arrependidos de termos feito algo que consideramos errado, devemos aceitar que isso já foi. Pior ainda é se esse arrependimento vier devido a uma pressão moral externa. Retomando o exemplo: um jovem que se considera homossexual e se arrepende de ter beijado alguém do mesmo sexo, não porque não gostou, mas porque ele lembrou que seus pais disseram que aquilo era errado.

Para Nietzsche, se fizemos algo é porque naquela hora aquilo pareci ser o certo. Se não, não fazíamos. Logo, porque nos arrepender de algo que foi feito de forma consciente?

Sendo assim, Nietzsche defende que não podemos nos arrepender das decisões que tomamos. Devemos aceitá-las como nossas, como constituintes de quem somos.

Super-homem de Nietzsche Descomplicado: As Condições

Superar a Moral de Rebanho e a Moral Aristocrática

A moral do super-homem nietzschiano é uma nova moral. Ela supera a moral de rebanho e a moral aristocrática ao mesmo tempo em que absorve características de uma e de outra. Para Nietzsche, o super-homem deve possuir coragem, honra, beleza, força e crueldade (atributos próprios da moral aristocrática) e inteligência, astúcia e uma certa espiritualidade (atributos próprios da moral de rebanho).

Além disso, a moral do super-homem não é a moral certa, porque isso iria contradizer toda a filosofia nietzschiana. Logo, para o filósofo, coexistirão todas as morais porque no mundo existem pessoas que precisarão da moral dos escravos para se sentirem bem e existem pessoas que precisam da moral aristocrática para se sentirem bem. Agora, se a pessoa se incomoda ao viver uma dessas morais, é porque ela precisa se libertar delas e fundar a sua própria moral, uma moral que afirme a vida, a sua própria vida.

Transvalorar os Valores: Indo além do Bem e do Mal

Outro ponto importante é entender que o super-homem está para além do bem e do mal. Logo, ao afirmar a vida e sua condição, não cabe julgamento de valor, de certo e errado. A vida deve ser vivida tal como ela se propõe a ser vivida. Aqui, podemos fazer uma leve referência aos instintos e aos animais, que agem segundo a sua natureza e não são julgados se aquilo que fazem está certo ou errado.

No caso, devemos agir sem querer polarizar tudo como certo ou errado, bem e mal, justo e injusto. Para Nietzsche, o único valor absoluto que existiria seria a vida, e apenas isso já seria suficiente para entendermos como devemos agir no mundo.

Assumir a Morte de Deus

O super-homem precisa aceitar a morte de Deus. No caso, essa é uma metáfora para entender que Deus não existe e toda a moral tradicional, inspirada na religião cristã e na filosofia platônica deve ser superada. O übermensch deve parar de temer o juízo final ou preparar sua alma para o céu porque essas coisas não existem. Só existe esse vida e ela deve ser vivida plenamente.

Super-homem de Nietzsche Descomplicado: Conclusão

O próprio Nietzsche admitia que ao longo da história foram poucos os espíritos livres e que isso continuará sendo dessa forma. As condições necessárias são difíceis de serem conquistadas e as qualidades difíceis de serem vividas. Deve ser por isso que a metáfora do übermensch está contida no livro de Nietzsche Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém.

Lista de Leitura: Aprofundamento em Nietzsche e Super-homem

Caso queiram aprofundar seus estudos em Nietzsche e na sua proposta do Super-homem, segue uma sugestão de lista de leitura que selecionei a partir das sugestões do site Contra os Acadêmicos.

Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém (Nietzsche)

Friedrich Nietzsche – Uma Biografia Filosófica (Julian Young)

Friedrich Nietzsche: Uma Biografia – Caixa com 3 Volumes (Curt Paul Janz)

Nietzsche (Bernd Magnus [Autor], Kathleen M. Higgins [Compilador])

Dicionário Nietzsche (GEN – Grupo de Estudos Nietzsche)

Compreender Nietzsche (Jean Lefranc)

Nietzsche – A Transvaloração Dos Valores (Marton Scarlett)

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

Nietzsche e Assim Falou Zaratustra: O último homem e o super-homem (Pensar Contemporâneo)

Nietzsche e a ética do esquecimento (Abraão Lincoln Costa)

Verbete Além-homem [filosofia] (Wikipédia)

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.