Nietzsche Descomplicado: Biografia e Filosofia

Nietzsche Descomplicado: Biografia e Filosofia

Olá, marujos! Hoje falaremos sobre Nietzsche de um jeito descomplicado. Vamos falar um pouco da sua vida pessoal e acadêmica, para que você conheça a história desse filósofo. E também vamos falar de forma breve das suas principais teorias filosóficas. Esse artigo serve como uma introdução ao filósofo, para você conhecer sua história e o seu pensamento. Vamos lá!

Nietzsche Descomplicado: Biografia

Infância e Juventude

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 em Röcken (no antigo Reino da Prússia, atual Alemanha). Era filho de uma família luterana, tendo seus dois avós como pastores. Nietzsche chegou a cogitar seguir a profissão de pastor, mas abandonou a ideia quando começou a questionar a religião cristã.

Aos vinte anos ingressou na universidade de Bonn para estudar teologia evangélica e filologia clássica. Filologia é o estudo da linguagem em textos literários e históricos. O filólogo busca dar autenticidade aos textos, encontrar sua forma original e determinar o significado pretendido pelo autor. Nietzsche focou no estudo clássico, que compreende os textos em grego antigo e latim clássico.

Ele se transferiu para a Universidade de Leipzig para seguir seu professor Friedrich Wilhelm Ritschl (uma figura paterna para Nietzsche). Em Leipzig, Nietzsche teve contato com o livro O Mundo como Vontade e Representação de Schopenhauer e começa a despertar interesse e vocação pela filosofia.

Em 1868, com apenas vinte e quatro anos, Nietzsche é nomeado professor de filologia clássica na Universidade da Basileia, na Suíça. Ele aceita o cargo e assume a nacionalidade suíça.

Durante esse período, fez amizade com o historiado Jacob Burckhardt e o compositor Richard Wagner. Em 1872 publica seu primeiro livro, O Nascimento da Tragédia.

Doença e Morte

Em 1879, Nietzsche se afasta da universidade devido sua saúde debilitada. Os estudos atuais apontam que ele teve paralisia geral progressiva causada por sífilis. A sífilis é uma doença que avança em estágios, piorando com o tempo. E será isso que ocorrerá com Nietzsche. Contudo, ainda existem muitas polêmicas sobre a real doença de Nietzsche, sendo uma das possibilidades um câncer cerebral. O grande problema é que Sífilis é uma IST (infecção sexualmente transmissível) e ele provavelmente contraiu de uma prostituta. Isso é usado como forma de crítica ao estilo de vida defendido por Nietzsche (o filósofo era um crítico severo dos costumes e da moral tradicional e sua doença é usada como prova da consequência negativa de quem não segue os costumes e a moral tradicional).

Em busca de lugares melhores para aliviar os sintomas de sua doença, Nietzsche viajou por muitas cidades (Veneza, Gênova, Turim, Nice, Sils-Maria) à procura de um clima mais agradável. Durante esse período, se dedicou a ler e escrever. Ele teve uma grande produção até ter uma “crise de loucura” em 1889.

Durante esse período, fez amizade com o médico Paul Rée e a escritora Lou Andreas-Salomé. Os três viveram uma espécie de triângulo amoroso. Nietzsche chegou a pedir Lou em casamento, mas ela recusou.

Depois de seu colapso mental, Nietzsche ficou aos cuidados da mãe e depois da irmã.

Durante esse período, foram feitas algumas publicações utilizando-se seus manuscritos. A mais famosa é Vontade de Poder. Existe uma polêmica sobre possível manipulação dos seus textos para que eles parecessem defender os ideais nazistas (porque o seu cunhado era nacionalista alemão e antissemita).

Nietzsche morreu em 25 de agosto de 1900 em Weimar (no antigo Império Alemão, atual Alemanha).

Nietzsche Descomplicado: Filosofia

Nietzsche tinha uma escrita muito peculiar. Seus livros variavam entre uma escrita teórica, poesia, literatura e aforismos. Aforismo é um estilo de linguagem em que o autor diz pequenos textos, um conjunto de frases ou uma frase só para passar uma ideia, uma máxima. A palavra vem do grego aphorismós, que significa “definição”. Podemos dizer, então, que Nietzsche dá pequenas explicações de suas ideias filosóficas (ou dá suas ideias filosóficas em pequenas explicações) quando trabalha com aforismos.

 O Espírito Dionisíaco e o Espírito Apolíneo

Nietzsche dizia que o ser humana é formado por duas forças antagônicas: o espírito dionisíaco e o apolíneo. O espírito dionisíaco (inspirado no deus do vinho, Dionísio) representaria o impulso à vida, ao prazer e à satisfação das necessidades; já o espirito apolíneo (inspirado no deus do sol, Apolo) representaria a racionalidade, o equilíbrio e o controle.

Segundo o filósofo, a humanidade ocidental sabia viver essas duas dimensões de forma equilibrada até o surgimento da filosofia de Sócrates, que priorizou o racional como a forma correta de viver e o abandono dos prazeres materiais.

Esse desequilíbrio ainda piorou com o surgimento do cristianismo, que não só continuou valorizando a busca pela racionalidade quanto condenou os prazeres materiais como pecado.

Para o filósofo, essa forma de pensamento que perdura (ou perdurava) na sociedade ocidental nega a essência do ser humano e tira dele a “afirmação da vida”, sua humanidade.

A Moral dos Escravos / Moral de Rebanho

Nietzsche considera que a moral cristã valoriza como virtude aquilo que é negativo no ser humano, como vida de serviço, abnegação, aceitação do sofrimento e auto sacrifício. Por outro lado, características naturais como coragem, ousadia, força, auto afirmação foram condenadas.

O filósofo observa que essas características negativas são próprias de um povo fraco, que era escravo (lembrando que a moral cristã começou com o povo judeu, que foi escravo no Egito). Como esse povo não tinha forças para lutar contra a opressão dos seus senhores, precisou inverter os valores da sociedade para dizerem que os oprimidos é que eram os bem-aventurados, e não os opressores.

O termo moral dos escravos se refere tanto às origens desse pensamento, quando a sua própria característica, que segundo Nietzsche é de subserviência, tal como age um escravo. O filósofo também usará o termo “moral de rebanho” para se referir à moral cristã porque ela adestra todos os seus adeptos a controlarem seus impulsos e obedecerem a mandamentos criados pelos fracos.

Niilismo

Niilismo é a constatação de que os valores tradicionais não são nada (do latim, nihil). Esses valores não possuem fundamento na natureza humana (porque não valorizam a vontade de viver) e não possuem fundamento metafísico (porque Deus não existe).

Para Nietzsche, devemos abandonar os valores tradicionais, que são inspirados na moral cristã, e buscar valores que valorizem a vida, a vontade de viver, a natureza humana.

Para o filósofo, o papel da sua filosofia é libertar o ser humano dos valores tradicionais, levando-o ao niilismo; e, depois, ajudando-o a fundamentar novos valores, valores verdadeiros, que estariam para além do bem e o do mal.

Übermensch (Além-Homem ou Super-Homem ou Além-do-Humano) e As Três Metamorfoses do Ser Humano

Para Nietzsche, o ser humano atual precisa evoluir para um além-do-humano. Isso está relacionado ao abandono dos valores tradicionais (que guiaram a sua vida) e a criação de seus próprios valores, frutos da sua vontade de poder.

Esse novo ser humano precisa amar a terra, a realidade, a saúde, a vontade forte, o prazer dionisíaco e o orgulho. Ou seja, o novo ser humano tem que possuir uma autonomia de decisão e querer sentir os prazeres da vida e do corpo.

Para representar a mudança do ser humano antigo para o ser humano além-do-humano, Nietzsche se utiliza de uma metáfora para ilustrar as etapas pelas quais todos nós estamos, passamos, ou podemos vir a passar.

Ele dirá que, em um primeiro momento, todos nós somos “camelos”, porque carregamos em nossos ombros o peso da moral tradicional. Depois, alguns evoluem para “leão”, que representa o rompimento com a moral tradicional, e se torna senhor de si mesmo mesmo. Por último, chegaremos a ser “criança”, porque ela representa alguém que vive uma vida natural, sem a pressão de valores morais, que se encanta com a vida e se preocupa apenas em aproveitá-la de forma leve e tranquila.

Para aprofundar mais esses conceitos, recomento o artigo Uma Reflexão sobre Coringa: A Metamorfose do Palhaço Nietzschiano.

Eterno Retorno

Nietzsche acreditava que só existe a nossa realidade. Não existe nada após a morte (como prega a religião cristã) ou uma realidade suprassensível (como defendia a filosofia platônica). Dessa forma, Nietzsche nos diz que devemos aceitar nossa vida tal como ela é e nos orgulharmos disso.

O Eterno Retorno seria um teste para saber se você está vivendo uma vida autêntica ou inautêntica: se tivéssemos que viver eternamente a mesma vida que vivemos, sem mudar nada, nós gostaríamos disso?

Se a resposta for não, é porque a vida que você está levando não é autêntica, você não está se afirmando, aceitando quem você é; você está subjugado e levando uma vida sob as regras de outros.

Agora, se você considera que poderia viver eternamente a vida que você viveu até agora, é porque está no caminho certo para se tornar um além-do-humano.

A Morte de Deus

Nietzsche não se preocupou em provar que Deus não existe. Sua preocupação é com a moral criada em seu nome. 

Segundo o filósofo, a sociedade aos poucos está abandonando a moral cristã, que fundamentou os valores tradicionais do ocidente. Isso representaria a morte de Deus.

Deus não teria mais serventia para a humanidade já que sua herança moral não serve mais para guiar as ações humanas. 

Como o novo ser humano precisa criar novos valores baseando-se apenas naquilo que é humano, Deus não serve mais para nada.

A Vontade de Poder (ou Vontade de Potência)

Conceito polêmico de Nietzsche, o qual ele nunca se preocupou em (ou não teve tempo de) explicar com clareza. Sendo assim, podemos dizer que tudo é uma interpretação de suas palavras.

Vontade de Poder é a força originária que move o universo. É a força elementar que faz tudo acontecer. Ela está tanto no universo quanto no ser humano.

No ser humano, vontade poder é a vontade de ser melhor, de se aperfeiçoar, de ser mais do que se é. É a afirmação da vida ao mesmo tempo que é a vontade de superação de si mesmo.

Nietzsche Descomplicado: Conclusão

Podemos dizer que todo o esforço filosófico de Nietzsche foi em “acordar” o ser humano. Fazer com que ele se libertasse das amarras do espírito apolíneo e da moral cristã / tradicional e voltasse a valorizar a vida, os prazeres humanos, dando liberdade ao espírito dionisíaco. Sua filosofia, como não é sistemática, mas metafórica, está envolta em muitas polêmicas de interpretação. Adorado por uns e odiado por outros, Nietzsche mudou a forma como se faz e se pensa filosofia e a própria vida.

E aí? O que você acha do pensamento de Nietzsche? Deixa nos comentários desse artigo sobre Nietzsche Descomplicado! Conseguiu aprender um pouco sobre Nietzsche de um jeito descomplicado? Compartilha esse artigo e ajuda outras pessoas a conhecerem esse filósofo! Quer sugerir algum filósofo para receber um artigo nesse estilo? Entra em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Nietzsche Descomplicado: Referências

Coleção Ensino Médio 2° ano. Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 54 p.: il. (Volume III)

Wikipédia (os artigos utilizados estão na forma de hiperlink dentro do texto).

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.