Reflexão sobre O Mandaloriano: O Dilema Moral dos Anti-heróis

Reflexão sobre O Mandaloriano: O Dilema Moral dos Anti-heróis

Reflexão sobre O Mandaloriano: O Dilema Moral dos Anti-heróis

Olá, marujos! hoje faremos uma reflexão sobre a série O Mandaloriano, que se passa no universo de Star Wars e foi lançada exclusivamente no Disney+, novo serviço de Streaming da Disney. Vamos falar um pouquinho sobre do que se trata a série, quem é esse mandaloriano, sobre sua missão, sua relação com o “baby Yoda” e como sua aventura nos revela questões interessantes sobre a ética, sobre como devemos agir, mostrando que esse elemento está presente em todos os “seres inteligentes”. Para fins de desenvolvimento do artigo, teremos que dar alguns spoilers do primeiro e segundo episódios da trama, então fiquem avisados desde já (apesar de que considero legal ler o artigo mesmo sem ter visto a série antes). Vamos lá!

O Mandaloriano

O Mandaloriano se passa cinco anos depois dos acontecimentos do Episódio VI – O Retorno de Jedi (quando a rebelião derrota o Império) e antes do Episódio VII – O Despertar da Força (quando sabemos que existe a Primeira Ordem). Ou seja, essa série está ambientada em uma galáxia governada pela Nova República, mas ainda com resquícios de membros do Império tentando retomar o poder. Outra questão importante é que a série é ambientada em um pedaço distante da galáxia, que não está próxima do comando central do atual governo, o que facilita atividades ilegais e ações dos imperialistas.

A história da série é sobre Din Djarin (Pedro Pascal), um mandaloriano (espécie de seita existente no planeta Mandalore) que trabalha como caçador de recompensas. Ou seja, ele ganha a vida capturando pessoas, normalmente criminosos procurados, e recebe um prêmio pela captura. Entretanto, como os prêmios estavam muito baixos, ele resolve fazer um serviço não oficial para um imperialista. Ele tinha que recuperar um prisioneiro e entregar para o contratante.

Mando (forma genérica, frequentemente usada para se referir ao personagem principal) aceita e atinge seu objetivo. Ele descobre que o ser que ele deveria pegar e entregar ao cliente era uma criança (mesmo tendo 50 anos!) de uma espécie desconhecida, mas muito “fofinha” (nós expectadores sabemos que é a mesma espécie do mestre Yoda, mas não é revelado o nome dessa espécie). O mandaloriano entrega a criança para o cliente, mas se arrepende. Ele volta e sequestra a criança, fugindo com ela. 

Ao fazer isso, Din Djarin rompe com o código de ética dos caçadores de recompensa, se tornando um renegado. Agora, ele está sozinho, tendo que fugir dos imperialistas que querem o “baby Yoda” e dos outros caçadores de recompensa, que querem o prêmio pela captura da criança.

Reflexão sobre O Mandaloriano: O Anti-herói

Normalmente chamamos de anti-herói um personagem que está agindo por um objetivo teoricamente justo (pelo menos, para ele), mas se utiliza de meios considerados inadequados pela sociedade. Esse tipo de atitude pode ser resumida na famosa frase “os fins justificam os meios”, uma interpretação da obra de Maquiavel.

Nessa série, Din Djarin é um profissional que aceitou uma missão. O problema é que a missão não é legalizada. Seu cliente é um inimigo do governo, que tem como objetivo provável algo proibido. Entretanto, o mandaloriano não se preocupou com isso, dizendo que o trabalho dele não é fazer perguntas e nem se preocupar com o futuro da “carga”, que o papel dele é apenas fazer o serviço. Entra aqui aquela famosa desculpa: “se eu não fizer, alguém vai fazer. Então, que pelo menos seja eu”. 

Quantas vezes nós já não agimos dessa forma? Quantas vezes já não fizemos algo errado e justificamos o ato dizendo “todos fazem” ou “se não quisessem que fizéssemos isso, não deixassem a coisa como está” (ou algo do tipo)? O peso da moralidade é algo muito forte no ser humano. Somos socialmente seres morais porque vivemos em uma sociedade que possui regras, regras que aprendemos desde criança. Por outro lado, também somos seres dotados de livre-arbítrio, permitindo, assim, que ajamos contra essas normas estabelecidas. Só que isso nos cria um dilema moral e a saída que temos é “jogar a responsabilidade para o outro”. Quando dizemos que “todos fazem” ou “a culpa é de quem fez desse jeito”, estamos tirando a responsabilidade dos nossos atos, fazendo com que nos sintamos menos culpados pelas nossas ações.

Essa atitude vai totalmente contra a ética do dever de Immanuel Kant, conhecida como Imperativo Categórico. Para esse filósofo, devemos agir de forma reta e certa sempre, independentemente das consequências que podem acarretar para mim ou para outras pessoas. E o que é reto e certo já está estabelecido para todos os seres humanos através da razão, sendo algo inquestionável. Não pode haver exceções, senão tudo se torna questionável e o alicerce das leis cai por terra.

Reflexão sobre O Mandaloriano: O Dilema Moral

Apesar de Din Djarin ter seu código de caçador muito bem entendido e estabelecido, ele “fraquejou”. Primeiro, ele se afeiçoou ao “baby Yoda” e, depois, ele questionou os objetivos do cliente. Tudo aquilo que ele não deveria fazer, ele fez. Porquê? Essa é uma pergunta que o próprio mandaloriano vai tentando responder ao longo da série.

É interessante pensar que existe um código moral em todas as pessoas e em todos os grupos sociais, mesmo que elas não queiram aceitar isso. Esse tipo de situação é muito bem visto na máfia italiana ou até mesmo nas regras das facções criminosas do Brasil. Existe um código legal interno, em que algumas coisas são aceitas e outras não. Às vezes, a lei interna corresponde à lei externa, às vezes não. E, normalmente, o que seguem é a lei interna.

Mais forte que as leis da galáxia, eram as leis do código dos caçadores de recompensa. E mais forte que o código dos caçadores, era o código dos mandalorianos. E mais forte que o código dos mandalorianos, estava a própria consciência de Din Djarin. É nessa perspectiva que ele irá fugir com a criança e irá se meter em diversas situações complicadas. Muitas vezes ele irá se questionar se tomou ou não a decisão correta e isso é perfeitamente compreensível porque somos seres que estão em constante adaptação e mutabilidade.

Reflexão sobre O Mandaloriano: Conclusão

Assim como Din Djarin, nós também enfrentamos situações que colocam nossos valores éticos em questionamento. As decisões nunca são fáceis porque geralmente existe uma ruptura com algo que era importante para nós, podendo ser uma lei do Estado, um preceito religioso, uma educação dada pela família. É engraçado que, no fim, parece que a melhor resposta para o nosso dilema é “se no final tudo acabará bem, ok”. Só assim ficaríamos com a consciência tranquila. Dessa forma, acabamos voltando à máxima “Os fins justificam os meios”. Será, então, que somos todos anti-heróis?

E aí? Já viram a série O Mandaloriano? Deixa aí nos comentários outras reflexões possíveis sobre ela! Gostou dessa artigo? Compartilha nas suas mídias sociais! Quer sugerir outros temas para uma reflexão? Entra em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.