Reflexão sobre Gen V: Juventude e seus Superproblemas

Reflexão sobre Gen V: Juventude e seus Superproblemas

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série Gen V. Nesse spin-off de The Boys, conhecemos a Universidade Godolkin, que preparada jovens com poderes para serem super-heróis ou atores. Tudo seria “normal”, se não fossem experimentos bizarros que acontecem nos porões dessa instituição de ensino. Na reflexão, abordarei alguns personagens principais e secundários para mostrar como seus superpoderes estão relacionados com problemas vividos pelos jovens da atualidade. Não teremos spoilers da trama. Vamos lá!

Sobre a Série

Gen V é uma série de super-heróis derivada da famosa série The Boys. Por mais que ela não desenvolva a trama principal nem explore os personagens clássicos, ela traz elementos que aprofundam o universo da série-mãe e também apresenta uma situação que, provavelmente, será importantíssima na quarta temporada de The Boys. Gen V estreou em 2023 e está disponível na Amazon Prime Video.

A Universidade de Godolkin é mais um dos empreendimentos da Vought. Lá, jovens com superpoderes são preparados para se tornarem os novos super-heróis ou para trilhar caminho como atores. Dessa universidade, já saíram membros d’Os Sete e todos que lá estão sonham em ser o próximo a estar entre os grandes.

Somos apresentados a sete principais alunos:  Marie Monreau – que controla o sangue (seu e de outras pessoas); Luke Riordan / Golden Boy – manipula fogo; Emma Meyer – que consegue encolher; Andre Anderson – que controla metal; Cate Dunlap – que consegue manipular pessoas que toca; Jordan Li – que consegue ser invulnerável e soltar raios de energia; e Sam Riordan – que é superforte e invulnerável.

A universidade parece um ambiente normal mas, na verdade, esconde em seu subsolo um laboratório secreto, onde faz experimentos com os jovens super-heróis.

Tudo ia bem, até que ocorre um crime na universidade e esses jovens tomam conhecimento do laboratório secreto. Agora, eles precisam lutar para se proteger e proteger seus colegas.

Quer saber como esses jovens universitários lidam com seus poderes e com suas responsabilidades super-heroicas? Assista Gen V na Amazon Prime Video.

Reflexão sobre Gen V: Analisando os Jovens e seus Problemas

Vou fazer uma análise de alguns jovens da série e mostrar como seus poderes e atitudes refletem problemas reais pelos quais passam essa geração.

Marie Monreau e a Menstruação

Marie descobre seu superpoder da pior forma possível. Ela menstrua pela primeira vez e descobre, nesse ato, que é capaz de controlar sangue. Porém, sua descoberta veio com a morte de seus pais, em um acidente provocado por ela. Isso a fez ir para um abrigo infanto-juvenil.

Na universidade, Marie sofre muito preconceito porque seu poder é considerado “nojento”, já que ela se corta para retirar o sangue do seu corpo e usar como arma. Porém, quando ela usa seu poder para controlar um sangramento em outra pessoa, ela é ovacionada.

Pode não parecer, mas a menstruação ainda é um assunto tabu da humanidade, especialmente para os homens. Ainda existem muitos homens que acham isso nojento ou não gostam de lembrar que isso existe ou até falar sobre.

Menstruação é algo natural, mas que ainda assim não é visto com bons olhos. É engraçado pensar que ninguém faz cara feia quando uma pessoa machucada precisa trocar seu curativo, mas faz essa cara quando a mulher troca seu absorvente.

Não existe vergonha em falar que precisa ir no banheiro “fazer xixi”, mas existe vergonha em falar que precisa troca o absorvente.

É óbvio que as mulheres, por necessidade, costume e naturalidade, sabem lidar tranquilamente com a menstruação, mas falar dela ou lidar com ela em público ainda é um assunto tabu.

Isso ocorre porque vivemos em uma sociedade patriarcal e tudo o que é exclusivo da mulher acaba sendo um “problema” para a sociedade. Se homem menstruasse, dificilmente seria esquisito falar desse assunto no cotidiano.

Emma Meyer e a Anorexia

Emma é famosa por conseguir ficar pequena. Porém, o que todos não sabiam é que ela faz isso vomitando. Seu corpo diminui quando ela perde peso.

Claramente, Emma representa as mulheres que se sentem obrigadas a serem magríssimas para estar no suposto “corpo perfeito” e fazem isso contrariadas, se sentido mal por aceitarem essa humilhação.

Como veremos, a culpada principal disso tudo é exatamente a mãe de Emma, que a incentivou a criar esse seu personagem diminuto.

Depois que descobrimos que se Emma comer demais ela fica gigante, também descobrimos que ela quase não usa esse poder porque sua mãe a considerava um monstro quando ficava enorme.

Isso nada mais é do que uma metáfora para expor como mães prejudicam suas filhas ao imporem a elas modelos de corpos.

Também vemos que uma colega de escola de Emma expõe seu segredo simplesmente para ganhar destaque online. Mais uma vez, vemos como mulheres acabam se prejudicando como classe quando acabam brigando umas contra as outras em vez de se unirem.

Andre Anderson e o Legado

O problema de Andre não é o seu poder em si, mas o fato do seu poder ser o mesmo do seu pai: controlar metal.

O pai de André foi o grande Polaridade e, agora aposentado, faz de tudo para transformar seu filho no novo Polaridade, para passar-lhe o manto. E Andre odeia essa pressão…

Até onde se viu, não é que Andre odeia ser super-herói ou não tenha orgulho do nome Polaridade, o problema é a pressão que ele sofre para isso. A todo momento ele é lembrado por seu pai ou por outras pessoas que ele será o substituto do pai, que ele é o orgulho do pai, que ele dará orgulho a mãe e coisas do tipo.

Esse é o caso em que o filho não é o filho, o filho é o produto do pai, mesmo o pai não percebendo isso.

O adulto deveria ficar orgulhoso pelo jovem estar feliz como este escolheu. Mas o adulto acaba querendo guiar os passos do jovem, trilhando seu caminho em vez de deixar o jovem decidir.

Muitos jovens sofrem porque se sentem obrigados a retribuir aos seus pais/responsáveis aquilo que foi feito a eles, mas essa retribuição não é da forma como o jovem quer, mas da forma como o adulto quer. Esse é o problema.

Cate Dunlap e “Mimadismo”

Cate possui o poder de controlar a ação das pessoas que toca. Seu poder é enorme e, por isso, sua família acabou se afastando dela.

É óbvio que todos querem ter suas vontades atendidas, mas é preciso maturidade para saber ouvir um não e viver com isso.

Cate até demonstra, na maior parte do tempo, que tem medo de tocar as pessoas ou toma cuidado para não fazer isso, mas isso não quer dizer que ela não possa se beneficiar quando a necessidade surgir.

Uma criança precisa ser muito bem-educada pelos pais para aprender que não pode tudo, que o mundo não gira em torno dela e que as pessoas não são obrigadas a fazer o que elas querem. Se ela não aprende isso desde cedo, será um jovem/adulto mimado, o que o tornará uma pessoa insuportável e, talvez, excluída.

É importante destacar que, dependendo do caso, um jovem mimado não percebe ou não consegue agir diferente porque ele se acostumou a ter todas as suas vontades atendidas e não consegue agir de uma forma diferente.

Nesses casos, aqueles que querem o bem dele precisam de muita paciência e compaixão para reeducar esse jovem, mostrando-lhe que na vida é preciso aprender a ouvir não.

Se você é um jovem/adulto mimado, está na hora de mudar de atitude e começar a entender que nem sempre as coisas sairão do seu jeito e que ninguém é obrigado a te obedecer ou fazer as coisas como você quer.

Jordan Li e as Questões de Gênero

Jordan Li possui poder de resistência e raio, mas também o poder (ou consequência do poder) de alternar entre a forma masculina e a feminina.

Durante a luta, ele faz as alternações conforme a necessidade, mas nas situações cotidianas, ele também fica alternando entre os gêneros.

Em um episódio, parece que sua forma “original” era a masculina, mas que ele gosta de ficar mais na forma feminina ou que ele não se prende a nenhuma das formas. E isso incomoda muito seu pai.

O que vemos aqui é o famoso caso dos pais que não aceitam mudanças naquilo que alguns chamam de “natureza biológica” da pessoa. Antigamente, o inaceitável era o filho ser homossexual. Agora, o inaceitável é ser transgênero. No futuro, se o preconceito não acabar, será outra coisa inaceitável…

As mudanças geracionais sempre são um problema nas famílias, e mudanças “aparentes”, que mexem com a imagem física ou social da pessoa acaba sendo sempre um problema mais delicado.

Não importa o que Jordan é ou como ele se sente, ele deveria ser respeitado por seus pais, e não ser motivo de vergonha.

E mesmo que o argumento seja a preocupação com o mundo que não o aceitará, essa preocupação não pode fazer dos pais os primeiros carrascos do filho. Ao contrário, deveriam ser os primeiros apoiadores, anjos da guarda.

Rufus e a Cultura do Estupro

Rufus possui uma série de poderes psíquicos e um deles é a capacidade de dar “apagões” nas pessoas. Ele frequentemente usa esse poder para neutralizar alunas e as estuprar.

Quando uma das alunas resolve expor o que aconteceu, descobrimos que várias outras já tinham passado por aquilo e escondiam. Para piorar, fica parecendo que essa situação já faz parte da “normalidade” da instituição e que a única atitude é “ficar longe dele”.

É muito triste saber que esse episódio da série é algo que realmente acontece na vida real. São inúmeros os casos de jovens mulheres estupradas em ambientes que deveriam ser seguros, como família, escolas/universidades, trabalhos.

Para piorar, a vergonha é tão grande que essas meninas acabam escondendo isso, o que dificulta ainda mais a punição para o agressor e favorece ainda mais a continuidade da ação.

É por isso que precisamos levar a série qualquer manifestação desse tipo das mulheres. O discurso de que “elas inventam” pode até ser verdade em alguns casos, mas isso é a minoria porque praticamente ninguém vai se expor a isso para aparecer ou querer alguma coisa (fora, obviamente, toda a investigação que será feita sobre o caso).

Essa é uma situação que precisa acabar para ontem e já deveria ser levada mais a sério!

Reflexão sobre Gen V: Conclusão

Gen V é uma série mais jovem e também que aborda problema dos mais jovens. O jovem não é um ser indefeso, mas ele também possui uma série de problemas ligados a sua realidade como jovem. Muitos adultos costumam pensar na sua juventude como se tivesse sido a sua melhor fase da vida porque a nostalgia nos faz esquecer as coisas ruins e ficar somente com as memórias boas. Por isso, muitos adultos ignoram que os jovens também possuem uma série de problemas em suas vidas. Que possamos ser mais compreensivos com essas moças e rapazes que já estão passando por muita coisa ainda tão novos.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.