O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Metafísica

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Metafísica

Olá, marujos! Hoje, explicaremos o conceito de Ser em Tomás de Aquino de um jeito descomplicado. Faremos uma breve biografia do filósofo e, depois, apresentaremos seu conceito de ser. Também explicaremos os vários tipos de entes existentes e como o ser é fundamental para tudo que é. Daremos exemplo para ajudar a entender essa teoria. Vamos lá!

Sobre Tomás de Aquino

Tomás de Aquino nasceu em 1225 na Itália. Era de um família nobre e foi preparado para ser um abade de mosteiro beneditino. Porém, após conhecer a ordem dominicana, resolveu segui-la (mesmo com muita resistência da família).

Tomás sempre se destacou como filósofo e teólogo, trabalhando como professor e consultor papal.

Morreu em 1274, sendo canonizado em 1323.

Ele é considerado o maior nome da filosofia escolástica e um dos maiores teólogos da igreja.

Para conhecer mais a fundo a vida de Tomás de Aquino, acesse: Tomás de Aquino Descomplicado: Biografia e Filosofia.

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Pressupostos

É imprescindível, para entender o conceito de ser em Tomás de Aquino, entender os conceitos metafísicos aristotélicos: ato, potência, forma, matéria, substância, essência e acidente.

Caso você não conheça ou não compreenda direito esses conceitos, recomendo a leitura dos artigos: Metafísica de Aristóteles Descomplicada e Conceito de Substância Descomplicado.

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Definição de Ser

Para o filósofo, ser é um estado das coisas. Em termos aristotélicos, um ato.

Dessa forma, ser não é algo, mas um estado de algo.

No caso, seria o ato de algo, ou seja, o ato de ser algo. É a sua realização na realidade. Em outras palavras: seu surgimento no mundo real e concreto.

Logo, tudo o que é real possui ser. E tudo o que pretende ser real deve possuir ser. Por exemplo, o “cavalo” possui ser porque existe e existe porque possui ser. Por outro lado, o “unicórnio” não é real porque não possui ser.

O conceito de ser deve ser entendido tal seu significado como verbo. Ou seja, dizer que algo possui ser significa dizer que algo é.

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Aspectos do Ser

O ser ainda possui três aspectos: existência (existir de fato), subsistência (existir por si mesmo, sem depender de outra coisa) e ser-isso (poder ser identificado como algo).

Dessa forma, quando dizemos que algo possui ser, estamos dizendo que algo existe, subsiste e é alguma coisa.

Por exemplo, o cavalo possui ser porque ele existe na realidade (você pode encontrá-lo na realidade), subsiste na realidade (ele está existindo por si só, não dependendo de nada além de si mesmo) e pode ser identificado como cavalo (eu posso ver esse animal é dizer “isso é um cavalo”).

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Ser Substancial e Ser Acidental

Nem tudo aquilo que dizemos “é algo” possui existência e subsistência. Por isso, Tomás de Aquino faz uma distinção entre “ser substancial” e “ser acidental”.

Cavalo é um ser substancial, como tido anteriormente. Porém, “branco” e “grande” são seres acidentais, pois só existem enquanto atrelados a um ser substancial.

Ou seja, não existe na natureza “o branco” ou “o grande”, existe “o cavalo branco” e “o cavalo grande”.

Dessa forma, Tomás de Aquino dirá que todos os “seres acidentais” possuem um “ser parcial”. Enquanto isso, os “seres substanciais” possuem o “ser total”.

Uma forma de facilitar o entendimento é pensar na nossa estrutura gramatical de substantivo e adjetivo. Normalmente, os substantivos representam “seres substanciais” e os adjetivos representam “seres acidentais” (mas isso não é regra, apesar de funcionar na maioria dos casos).

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Origem e Limite do Ser nas Coisas

Para o filósofo, o ser das coisas é limitado e vêm da sua própria essência.

Isso significa que todas as coisas possuem uma essência e é dessa essência que vem o ser dela.

Até o momento, eu usei como exemplo o cavalo para facilitar o entendimento, mas de fato, não existe “o cavalo”. O que existe é o Pangaré, o Azalão, o Trovão… ou seja, um ente específico na natureza. De fato, todos esses entes específicos são chamados de cavalo porque possuem a “forma substancial” de cavalo. É isso que os distingue, por exemplo, de um cachorro.

Como tido anteriormente, o que faz algo existir é possuir o ser. Seguindo nosso exemplo atualizado, o “Pangaré” possui ser e seu ser é recebido e limitado por sua essência de cavalo. Dessa forma, “Pangaré” é alguma coisa, nesse caso, um cavalo.

“Ser cavalo” possui algumas limitações próprias da essência de cavalo. Dessa forma, “Pangaré” é quadrupede porque faz parte da essência de cavalo ser quadrupede, mas “Pangaré” não é voador porque não faz parte da essência de cavalo ser voador.

Dessa forma, todas as coisas reais só podem ser dentro das suas próprias limitações.

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Deus como “O Ser” ou “Puro Ato”

Se possuir ser é condição necessária para existir na realidade, Deus também possui ser.

Porém, diferentemente dos demais seres, que possuem um ser limitado, Deus não possui limites no seu ser porque é “O Ser” ou “Puro Ato”.

Deus também possui uma essência, mas sua essência é seu ser. A essência de Deus é ser. Ele simplesmente é.

Deus é a ato pleno, perfeição plena, atualização máxima de todos os atos, perfeição máxima de todas as perfeições. Deus é completo e não pode mudar.

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Participação no Ser

Deus, como “O Ser”, é o criador de todas as coisas. É por isso que normalmente se diz que tudo o que existe participa do ser de Deus.

Porém, essa participação não se dá de forma direta, como se tirasse um “pedacinho” de Deus e desse para as coisas, mas sim uma analogia.

Deus criou as coisas, e ao criá-las, lhes deu uma forma própria (no caso dos anjos) ou uma forma própria e matéria (no caso dos seres corpóreos). Essa forma própria ou combinação de forma própria e matéria formam a essência das coisas. E dessa essência das coisas, vêm o ser dessas coisas (como dito anteriormente).

Logo, a participação no ser das coisas com o Ser divino é algo indireto, servindo mais como um modo de compreender que todas as coisas de algum modo vieram de Deus. Porém, isso não quer dizer que tudo o que existe foi querido e pensado necessariamente por Deus, como se ele “jogasse um pozinho” para que algo venha a surgir na realidade.

Para ficar mais claro, quando um casal de equinos está copulando e a fêmea engravida, gerou-se um feto, que é um ser novo. Ela não engravidou por causa de Deus, que deu esse ser. Esse ser foi causado pelos seus pais.

Da mesma forma, quando um ser humano cria um martelo, não foi Deus que deu o ser ao martelo, permitindo que ele existisse. Deus não é a causa do martelo. A causa eficiente do martelo é o ser humano, que o moldou e o fabricou, criando a essência do martelo. Dessa essência, vem o ser do martelo.

Contudo, em última instância, tanto o feto quanto o martelo possuem um ser, que participa por analogia do ser de Deus. Isso porque ambos só existem porque foram causados por algo e, seguindo a lógica de que não se pode regredir ao infinito, tem que ter havido uma causa primeira, que é o próprio Deus, criador de tudo.

O Ser em Tomás de Aquino Descomplicado: Distinções entre Ser, Essência e Ente

Distinção entre Ser e Essência

Já foi dito anteriormente, mas para deixar destacado, relembro:

Deus (Criador) – Ser e Essência se confundem. Ou seja, a essência de Deus é o seu Ser. Deus é. A essência de Deus é ser.

Demais coisas (criaturas) – Ser é um coisa e essência é outra. Essência é a “natureza da coisa” (podemos dizer que seria o seu conceito ou definição) e dela vem o ser, que é o ato de ser (o qual, podemos dizer, é a sua realização na realidade).

Distinção entre Ser e Ente

Já foi dito anteriormente, mas para deixar destacado, relembro:

Deus (Criador) – Ente Criador. Ato puro, sua essência é o seu ser.

Criaturas Intelectuais (anjos) – Ente Criado Simples. Possui Potência e Ato, sendo sua potência a sua essência (que possui apenas forma, é imaterial) e seu ato sendo o ser.

Criaturas Corpóreas (demais coisas reais) – Ente Criado Composto. Possui Potência e Ato, sendo sua potência a sua essência (feita da combinação de matéria e forma) e seu ato sendo o ser.

Conclusão

Tomás de Aquino se destacará na filosofia ao propor que o ser é o conceito mais importante para entender tudo o que é. Como vimos, através do conceito de ser, compreendemos a existência de Deus, das demais coisas e também porque algumas coisas não existem de modo nenhum ou só existem de modo parcial. Também é através do conceito de ser que compreendemos a relação existente entre tudo o que é.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

HUGON, Padre Édouard, O. P. Os princípios da Filosofia de São Tomás de Aquino: as vinte e quatro teses fundamentais. Tradução de D. Odilão Moura O. S. B. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. 318p. (Coleção Filosofia; n. 77).

RÜPPEL, P. Ernesto. O ser em São Tomás de AquinoRevista Portuguesa de Filosofia, Braga, T. 27, Fasc. 2 (Abr. – Jun., 1971), pp. 125-146 (22 páginas).

SANTOS, Luiz Fernando dos. FERNANDEZ, Daniel Lipparelli. O Ser em São Tomas de Aquino. Linguagem Acadêmica, Batatais, v. 2, n. 2, p. 51-64, jul./dez. 2012.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.