Falácia Descomplicada: Como não Ser Enganado!

Falácia Descomplicada: Como não Ser Enganado!

Olá, marujos! Hoje explicaremos o conceito de Falácia de uma forma descomplicada. Além de explicar o conceito, também vamos explicar os tipos de falácias existentes mais famosos. Além das explicações também traremos exemplos para ilustrar as situações falaciosas. Vamos lá!

Falácia Descomplicada: Etimologia e Definição

O conceito de falácia é usado para representar os argumentos não válidos, ou seja, aqueles argumentos que, por algum motivo não respeitam as regras da lógica (a conclusão não se segue necessariamente às premissas).

O termo falácia vem do latim fallacia, que pode ser traduzido por: “engano”, “trapaça”, “ardil”, “estratagema”.

Alguns autores fazem uma distinção entre as falácias acidentais e as propositais. Eles chamam de paralogismo as falácias acidentais (ou seja, aquelas que são cometidas sem querer, por descuido na argumentação). Já as falácias propositais (ou seja, aquelas que são cometidas intencionalmente, com propósito de enganar) são chamadas de sofisma.

Curiosidade: o termo sofisma faz referência aos sofistas, grupo de pensadores da Grécia Antiga que receberam a fama de ensinar como enganar pessoas em um debate ou apresentação através de estratégias de oratória e retórica.

Falácia Descomplicada: Tipos de Falácias

Podemos dizer que existem dois tipos de falácias: as formais e as informais (ou não formais).

Falácias Formais

As falácias formais são os argumentos não válidos devido a um erro formal na construção de um argumento. Ou seja, a pessoa que comete essa falácia cometeu algum erro na estrutura, na forma do argumento. Basicamente, podemos dizer que esse erro ocorre quando se fere uma das oito regras do silogismo.

As regras são:

  1. Cada silogismo só pode possuir três termos, e eles devem respeitar o seu sentido em cada proposição;
  2. O termo médio não pode estar na conclusão;
  3. O termo médio deve ser universal pelo menos uma vez;
  4. Os termos da conclusão não podem ser mais abrangentes do que os termos das premissas;
  5. A partir de duas premissas afirmativas, apenas se pode obter uma conclusão afirmativa;
  6. Não se pode concluir nada necessário de duas premissas negativas;
  7. Não se pode concluir nada necessário de duas premissas particulares;
  8. A conclusão sempre segue a premissa mais fraca.

Exemplos: vocês podem ver um exemplo para cada uma dessas regras no artigo Silogismo Descomplicado.

Outro jeito de cometermos falácias formais é vacilarmos com a gramática na hora de construir um argumento. Nesses casos, o erro gramatical atrapalhada a lógica da conclusão.

Exemplo: João namora Júlio. Pedro namora Marcos. Todos eles se conheceram e começaram a ficar na festa de aniversário dele. Logo, podemos dizer que tivemos pelo menos dois casais juntos na festa de Pedro.

Esse argumento acima é uma falácia formal porque o termo “dele” não especifica de qual garoto era a festa. Sendo assim, não existe um argumento lógico para aceitar a conclusão de que a festa era de Pedro.

Falácias Informais (ou Não Formais)

As falácias informais são os argumentos não válidos devido a um erro no conteúdo do argumento. Ou seja, a estrutura do argumento está correta, mas o conteúdo usado para argumentar é inadequado.

Essas costumam ser as falácias mais perigosas e difíceis de identificar porque elas nos soam bem aos ouvidos, já que a construção gramatical está correta. Por isso, precisamos ficar mais atentos ao que está sendo dito, e não ao modo como está sendo dito.

Seguem as falácias informais mais famosas:

a) Argumento de Autoridade (argumentum ad verecundiam): usar a autoridade que uma pessoa possui em um assunto para justificar o que ela está dizendo a respeito de outro assunto. Muito usado no marketing.

Exemplo:

Eu vou comprar esse carro porque o jogador famoso de futebol disse na propaganda que esse é um bom carro.

(repare que o jogador é autoridade no futebol e não em marcas de carro, mas a pessoa acredita que o carro é bom só porque o jogador é famoso)

Eu tenho doutorado em Filosofia. Por isso, posso lhe dizer com toda a certeza, que essa sua conta matemática está errada.

(repare que minha área de domínio é a filosofia. Não posso usar isso como argumento para falar da matemática, que é uma outra área)

b) Argumento pela Força (argumentum ad baculum): usar da força, do poder ou da superioridade para sustentar seu argumento. Muito usado pelos pais.

Exemplo:

Você não deve mexer no celular depois das 22h porque eu sou seu pai e eu não quero.

(repare que não existe uma justificativa técnica para não se usar o celular, é apenas uma regra imposta)

Como seu chefe, eu quero que você mude a ordem das suas tarefas aqui no escritório.

(repare que não existe um motivo claro para a mudança da ordem nas tarefas, é apenas uma imposição injustificada)

c) Argumento contra o Homem (argumentum ad hominem): atacar (ou levar em consideração) características de uma pessoa para justificar algo que não possui relação direta com essas características.

Exemplo:

Eu não confio em você porque você não torce para o mesmo time que eu torço!

(repare que o fato de torcer ou não torcer para o mesmo time não tem relação direta com a honestidade de uma pessoa)

Não podemos aceitar o testemunho dessa pessoa porque ela é negra.

(repare que a cor da pele de alguém não é justificativa para validar ou invalidar o testemunho de alguém)

d) Generalização Apressada: concluir algo baseando-se em um ou poucos exemplos. Muito comum em atitudes preconceituosas.

Exemplo:

Eu já fui traído uma vez, por isso tenho certeza que ninguém é confiável.

(repare que o fato de ter acontecido algo apenas uma vez não justifica a certeza de que aquilo sempre irá ocorrer)

Um muçulmano foi responsável pelo atentado mês passado. Logo, todo árabe é terrorista.

(repare que nem todo árabe é muçulmano e nem todo muçulmano é árabe. E mesmo que fosse assim, o fato de um representante desse grupo ter agido dessa forma não garante que todos os membros do mesmo grupo agirão da mesma forma)

e) Falácia de Acidente: aplicar uma regra geral a um caso particular, ignorando a peculiaridade da situação.

Exemplo:

A loja não pode promover um desfile da sua nova coleção de biquínis no shopping porque existe uma regra que proíbe a permanecia de pessoas usando trajes de banho.

(repare que a regra de proibição é para os frequentadores do shopping, em uma situação normal do dia a dia, enquanto que o desfile é uma situação atípica e que ocorrerá por um breve momento em um lugar específico com uma finalidade específica).

f) Conclusão Irrelevante (ou Ignorância da Questão): desviar-se dos fatos ao argumentar, apontando outros fatores que não estão diretamente ligados ao problema em questão.

Exemplo:

Fulano nunca poderia ter assassinado sua namorada porque ele era uma pessoa temente a Deus.

(repare que, em um julgamento, o que prova se alguém cometeu ou não um crime são provas concretas, como arma do crime, presença ou não no local do crime, motivação, testemunhas etc. A religião de alguém não prova nada)

Essa empresa é muito boa para seus funcionários porque ela recicla todo o lixo que ela produz.

(repare que o ato de reciclar o lixo é um fator importante para o meio ambiente, mas não tem ligação direta com o tratamento dado por ela aos funcionários)

g) Petição de princípio (petitio principii) (ou Raciocínio Circular; ou Círculo Vicioso): utiliza-se como premissa do argumento a sua própria conclusão, transformando todo o raciocínio em uma espécie de ciclo sem começo nem fim.

Exemplo:

Eu gosto de sushi porque leva arroz. E eu gosto de arroz porque é um dos ingredientes principais do sushi.

(repare que o motivo de gostar de sushi está no arroz, e o motivo de gostar de arroz é o sushi. No final das contas, eu não concluí a origem do gosto nem de uma coisa nem da outra).

h) Falácia de Ambiguidade (ou Semântica; ou Equívoco): os termos empregados durante a argumentação mudam de sentido, confundido o sentido da conclusão.

Exemplo:

Minha namorada disse que eu sou um gato. Gatos vão ao veterinário. Logo, se eu ficar doente, preciso procurar um veterinário.

(repare que a palavra “gato” muda de sentido durante a argumentação, passando do sentido figurado – sinônimo de bonito – para o sentido literal – animal)

i) Falsa Causa (post hoc): concluir que algo é a causa de um efeito sem a devida verificação ou comprovação, apenas porque ocorreu uma coincidência. Muito comum em superstições.

Fiquei doente um dia após ver um filme da Disney. Logo, filmes da Disney me deixam doente.

(repare que ver um filme não é motivo para se ficar doente, tendo sido apenas uma coincidência. Ignora-se o motivo real)

Passei no meu primeiro concurso público usando uma camisa azul. A partir de agora, sempre usarei camisas azuis quando for prestar novos concursos públicos.

(temos aqui um caso de superstição, em que o sucesso na prova foi atribuído à camisa e não ao desempenho intelectual do candidato)

Outras falácias

Até aqui eu apresentei apenas algumas falácias, sendo essas as mais famosas e mais trabalhadas. Mas existem muitas outras.

Para uma lista mais completa, sugiro a leitura do verbete Falácia na Wikipédia.

Falácia Descomplicada: Conclusão

Espero que esse artigo Falácia Descomplicada tenha te ajudado a identificar as principais falácias que existem, e que isso sirva para você evitar cometê-las e também consiga desarmar alguém que esteja tentando te enganar, usando um falso argumento. No dia a dia, faz-se necessário atenção e prática porque as falácias normalmente são muitos sutis e usam da nossa emoção e distração para passarem despercebidas.

E aí? Gostou desse artigo Falácia Descomplicada? Diz aí nos comentários qual é a sua falácia favorita e porquê! Quer ajudar seus amigos a não serem enganados? Compartilha esse artigo Falácia Descomplicada com eles! Quer sugerir algum tema para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2016.

COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

Wikipédia. Verbete Falácia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Falácia)

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.