Reflexão sobre Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes

Reflexão sobre Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes

Olá, marujos! Hoje, farei uma reflexão sobre o filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes. Nesse filme, um grupo de ladrões é traído por um dos seus membros e, agora, tenta encontrá-lo e recuperar os espólios perdidos. Ao mesmo tempo, eles se encontrarão combatendo uma grande força maligna, que ameaça a vida de uma cidade. Na reflexão, abordarei os temas luto, autoconfiança e honra. Teremos spoilers do filme! Vamos lá!

Sobre o Filme (COM Spoilers)

Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes é um filme inspirado nos jogos de RPG Dungeons & Dragons. O filme foi lançado em 2023 e obteve boas críticas, especialmente por parte dos fãs.

Para quem não sabe, o RPG é um jogo de interpretação de personagens. Você até usa miniaturas, tabuleiros e dados, mas o principal é inventar um personagens e viver uma aventura com ele através de narrações dos jogadores e do mestre (que é quem comanda a história e dá as opções a serem tomadas). É um jogo de imaginação e ilimitado porque tudo depende da criatividade do grupo.

Já o específico Dungeons & Dragons foi o primeiro desse gênero. Seu universo se baseia em um período medieval fantástico, muito no estilo do (e inspirado por) O Senhor dos Anéis. Logo, os personagens geralmente são guerreiros, magos, ladrões (dentre outros); humanos, elfos, anãos (dentre outros) que vivem aventuras nessas terras místicas, invadindo locais – como cavernas e enfrentando criaturas – como dragões.

O filme narra a história de um desses grupos de aventureiros. No caso, todos eles eram ladrões que foram assaltar um cofre de tesouros importantes e foi parcialmente capturado.

O líder do grupo, Edgin Darvis (Chris Pine) queria um item chamado “tábua do despertar”. Esse item mágico permite uma única vez ressuscitar uma pessoa morta por escolha do usuário. Edgin queria ressuscitar sua esposa assassinada pelos magos vermelhos. Os demais membros estavam no assalto para ajudar Edgin ou por interesses próprios, como veremos mais para o fim do filme.

Edgin e Holga (Michelle Rodriguez) – sua amiga de bando – fogem da cadeia e vão até Forge Fitzwilliam (Hugh Grant). Nisso, descobrem que Forge traiu o grupo junto com a maga Sofina (Daisy Head) e ficou com a tábua e com a guarda da filha de Edgin – Kira (Chloe Coleman). Kira caiu na lábia que Forge e acredita que seu pai a abandonou por pura ganância.

Para invadir a fortaleza de Forge, Edgin e Holga reencontram o mago Simon Aumar (Justice Smith) e fazem amizade com a druida Doric (Sophia Lillis). Enquanto bolam a executam seus planos, eles recebem temporariamente a ajuda do paladino Xenk Yendar (Regé-Jean Page).

Nesse interim, o grupo de ladrões descobrem que Sofina é uma maga vermelha e que pretende lançar uma magia que vai transformar toda a cidade em um exército de mortos-vivos. Dessa forma, eles decidem não só executar o plano inicial como também deter Sofina.

Quer saber quais eram e como foram executados todos esses planos? Veja o filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes.

                    

                     

          

Reflexão sobre o filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes: Devemos Deixar as Pessoas Irem

Toda a história gira em torno de Edgin. Ele se sente culpado pelo assassinato de sua esposa Zia (Georgia Landers). Edgin roubou uma peça de ouro que continha uma magia de rastreamento. Por isso, os roubados conseguiram achar a casa de Edgin e mataram sua esposa por vingança, quando Kira ainda era um bebê.

Edgin passou anos buscando uma forma de redimir seu erro até encontrar a solução na tábua do despertar. Com ela, Edgin poderia trazer seu amor de volta à vida.

Passada toda a aventura, Edgin precisou fazer uma escolha: ressuscitar sua esposa Zia ou sua amiga Holga, que foi morta no combate final contra Sofina. Edgin escolhe ressuscitar Holga porque percebeu que ela acabou sendo de fato a mãe de Kira. Edgin percebeu que ressuscitar Zia só traria benefícios para ele, já que Kira não tinha Zia como mãe. Já Holga, além de ter sido uma ótima “mãe postiça” também era sua melhor amiga.

Em uma cena de flashback envolvendo uma borboleta (ou libélula), vemos Zia dizendo a Edgin que muitas vezes simplesmente precisamos deixar ir embora. Edgin, no momento da escolha, revê o mesmo inseto e entende o que sua esposa havia dito: naquele caso, ele tinha que deixar sua esposa ir…

Percebam que o filme não está criticando a ressureição porque ela acaba ocorrendo de qualquer jeito quando Edgin traz Holga de volta. A reflexão é querermos trazer de volta pessoas que já foram a muito tempo.

O filósofo Heráclito é famoso por uma frase que diz “ninguém cruza o mesmo rio duas vezes”. Me apropriando dessa frase, penso que, se Zia fosse ressuscitada, ela teria a cabeça de mais de 10 anos atrás e Edgin teria a cabeça de mais de 10 anos para frete, assim como a filha Kira. Será que esse casal ainda se reconheceria? Será que seria possível criar uma relação verdadeira entre mãe e filha?

Muitas vezes, a nostalgia nos faz querer viver sentimentos e sensações boas do passado como se o passado fosse sempre bom e o presente ruim. Mas isso é uma válvula de escape de nossa mente, que esquece as coisas ruins do passado e as coisas boas do presente. Aí, parece que tudo lá atrás era bom e tudo agora é ruim. Mas não é assim…

Bom, voltando à questão da ressureição, muitas vezes, é melhor deixar pessoas que saíram de nossas vidas a muito tempo irem embora de vez. Se ela não morreu, talvez não valha a pena procurá-la porque agora vocês são pessoas diferentes e a incompatibilidade pode ter se mantido ou até agravado. Se ela infelizmente morreu, é aceitar que ela saiu da sua vida e que agora você precisa seguir adiante criando outros laços.

Reforço que essa decisão não é fácil e não é necessariamente a correta. O que trago aqui é uma reflexão possível baseada nas escolhas dos personagens do filme.

Reflexão sobre o filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes: Em Busca da Autoconfiança

Para conseguir invadir o cofre do castelo de Forge, o qual era protegido por encantos poderosos, o grupo de ladrões decidiu usar um item mágico chamado “elmo da disjunção”, um artefato que permite desabilitar todas as magias em um raio de ação em volta do usuário do elmo. Porém, para usá-lo, é preciso que a pessoa tenha poderes mágicos e muita autoconfiança para controlar esse poder.

O escolhido para usar o elmo é o mago Simon, mas ele não tem – inicialmente – a autoconfiança necessária para controlar o poder do elmo. Parece que Simon sempre sofreu com esse problema, tendo dificuldades em realizar magias e isso o angustiava muito. No final do filme, deixa-se entender que Simon se culpa por não ter conseguido, à época, segurar o feitiço de congelamento do tempo de Sofina – o que acabou permitindo a captura de Edgin e Holga.

Tudo indica que Simon entrou em um círculo vicioso porque a magia precisa de confiança para ser lançada e, por não ter essa confiança, ele falhava. Ao falhar, sua confiança diminuía ainda mais, dificultando-o de lançar melhores magias ou fazê-las sem erro.

Se o excesso de autoconfiança é um problema, a falta também o é. Se você não confia em você mesmo, você terá dificuldades de ter sucesso porque sempre irá se autossabotar. A falta de confiança em si mesmo te impede de acreditar que você é capaz de realizar algo e, pensando dessa forma, você já desiste ou entra derrotado para resolver um problema. Tudo será motivo para que nada dê certo.

Mas não dá para viver dessa forma. Por mais que vivamos em sociedade, cada um tem que buscar seu lugar ao sol e lutar para conquistar suas coisas. Para isso, precisamos acreditar que somos capazes, mesmo entendendo que, em algumas situações ou em alguns assuntos, a coisa não será fácil.

Eu, por exemplo, não sei dançar. Sou muito “duro”. Porém, isso não me impede de arriscar uns passinhos para me divertir em uma festa e não me impede de querer, em um futuro, me matricular em uma escola de dança para aprender a “mexer o esqueleto”. Isso é ter confiança que aquilo que estou fazendo vai dar certo se eu tentar.

Eu também tenho jogado Pokémon Estampas Ilustradas e vou para torneios com pessoas muito melhores que eu. Mas mesmo sabendo disso, eu dou o meu melhor na disputa porque sei que sou capaz de ganhar se fizer tudo certinho nas minhas jogadas.

Porém, nem sempre isso é suficiente e é necessário um estímulo externo para as coisas se mexerem. No caso do filme, precisou que os amigos de Simon ficassem em perigo para ele atingir a confiança necessária para ativar o elmo e ajudar seu grupo. Foi a compreensão de que só ele poderia resolver o problema, de que tudo dependia dele naquele momento, de que os outros contavam com ele que lhe despertou a atitude.

Que isso sirva de exemplo para nós. Se estivermos em uma situação que nos falta confiança, pensem que é sua missão resolver aquilo, que outros dependem do seu desempenho positivo, que só você pode dar conta daquilo. Isso não pode nos intimidar. Ao contrário, deve nos estimular.

Reflexão sobre o filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes: Existe Honra entre Ladrões?

Por algum motivo esquisito, o título brasileiro do filme modificou a palavra “ladrões” por “rebeldes”. No caso do grupo, eles eram de fato ladrões e não rebeldes. Talvez, quiseram desassociar o nome a alguma piada ou jogo político…. De qualquer forma, é interessante observar e analisar a postura de Forge, Simon e Holga para com Edgin.

Forge foi o companheiro de grupo que traiu Edgin. Ele só estava lá por interesse e, na primeira oportunidade, “deu uma volta” no grupo para benefício próprio.

Simon não traiu Edgin, mas de uma certa forma o abandonou. Ou, pelo menos, podemos dizer que o superou. Mas quando Edgin voltou, mesmo resistindo no começo, aceitou ajudá-lo.

Holga nunca abandonou Edgin. Ela sempre esteve ao seu lado, mesmo quando ele não merecia. Ela chegou a morrer por ele.

São três ladrões e três características diferentes. Logo, o problema não está necessariamente na classe, mas na pessoa ou na relação que essa pessoa tem com seu grupo.

Isso é importante de ser dito porque, muitas vezes, cometemos a falácia da generalização apressada e classificamos todos os membros de um grupo com uma certa característica (seja positiva ou negativa). Pertencer a um grupo raramente significa possuir todas as características que normalmente são atribuídas a ele porque cada indivíduo é único.

Além disso, não podemos esquecer que pessoas mudam e quem é bom pode virar mau, e quem é mau pode virar bom. Ou a pessoa pode ser boa em alguns aspectos e má em outros. O que é muito normal porque todos nós temos tons de cinza.

Forge, por exemplo, continuou não tendo honra mesmo agora fazendo a função de prefeito. Simon voltou atrás de sua atitude. Holga, mesmo continuando ladra, manteve sua honra para com Edgin.

Devemos lembrar sempre disso e evitar classificar alguém só porque ele pertence a um certo grupo e/ou classificar alguém pelo que ele já foi ou fez – desacreditando que ele pode mudar.

Conclusão

O filme Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes é bem divertido. Para quem gosta desse universo, ele é cheio de referências (inclusive da animação Caverna do Dragão). Quem não conhece nada, ainda assim se divertirá com uma história leve, cheia de humor e aventura. Como material de reflexão, vemos que mesmo filmes “simples” e “despretensiosos” podem nos trazer ótimos temas para pensar nossos comportamentos e atitudes.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.