Pré-socráticos Descomplicado: Os Primeiros Filósofos

Pré-socráticos Descomplicado: Os Primeiros Filósofos

Olá, marujos! Hoje, apresentaremos quem são os principais filósofos pré-socráticos e suas teorias filosóficas de um jeito descomplicado. Vou fazer uma breve revisão desse grupo de filósofos e destacar os principais nomes, dividindo-os entre os dois principais grupos: monistas e pluralistas. Vamos lá!

Pré-socráticos Descomplicado: Origem

Os pré-socráticos são considerados os primeiros filósofos. A principal preocupação filosófica deles era entender a Natureza, entendida como a totalidade do universo. As questões giravam em todo da origem e do funcionamento do cosmos. Por isso, alguns costumam chamar esses filósofos de naturalistas ou físicos (natureza em grego é physis).

O movimento filosófico dos pré-socráticos começou nas regiões da Jônia (mais oriental) e da Magna Grécia (mais ocidental). Isso é interessante porque são as regiões mais limítrofes do povo helênico, mostrando que o contato que essas regiões tiveram com povos de outras culturas, que interagiam com os gregos através do comércio, foi importante para um abandono das explicações mitológicas e a busca de uma explicação racional para as origens do universo.

Informação importante: não sobrou nenhum texto escrito diretamente pelos pré-socráticos. Tudo o que temos são comentários e citações posteriores. O famoso “fulano dizia que…”. Dessa forma, temos que “preencher” algumas lacunas para entender e interpretar o que esses filósofos queriam dizer realmente.

Pré-socráticos Descomplicado: Arché

O principal conceito desenvolvido e debatido pelos pré-socráticos é a arché. Basicamente, o conceito arché se refere ao princípio constituinte do universo. Seria um elemento natural eterno que estaria na origem do universo, deu origem a todas as demais coisas que conhecemos hoje, e que permaneceria presente no universo enquanto ele existisse para dar-lhe estabilidade (como se fosse um “fio condutor” que não deixaria o universo se desfazer).

Para aprofundar esse conceito, recomendo a leitura de um artigo dedicado a ele: Arché Descomplicada: Um Conceito dos Pré-socráticos.

Pré-socráticos Descomplicado: Monistas

São chamados de monistas os pré-socráticos os quais acreditavam que o elemento primordial era apenas um. Esse elemento passou por uma transformação para dar origem aos demais elementos que conhecemos hoje.

Tales de Mileto (624-548 a.C.): Água

Tales é considerado o primeiro filósofo. Ele dirá que o elemento primordial era a água.

Por que a água? Tales precisava de um elemento que deu origem a tudo o que existe, tanto vivo quanto não vivo. Além disso, esse elemento tinha que ser abundante (ou seja, estar “sobrando”) e precisava ser capaz de se transformar em outras coisas.

E a água faz tudo isso! Um dos elementos essenciais para a vida é a água; como Tales morava no litoral, era capaz de perceber a abundância da água em comparação à terra e demais elementos; além disso, a água é capaz de mudar de estado físico, transitando entre o gasoso, o líquido e o sólido.

Com essas características da água, Tales pensou que esse era o elemento perfeito para ter dado origem a tudo e que, com era necessário, permanece ainda existindo.

Anaximandro de Mileto (611-547 a.C.): Ápeiron

Anaximandro foi discípulo de Tales. Discordando de seu mestre, defendeu que o elemento primordial era algo ainda anterior à água, que ele chamou de ápeiron (em grego, indeterminado).

Por que o ápeiron? Porque Anaximandro via a água já como algo determinado, uma substância completa. O elemento primordial, para ele, tinha que ser ainda indeterminado porque, dessa forma, conseguiria se determinar nos elementos existentes que conhecemos.

É importante destacar que o ápeiron não pode ser sentido pelos nossos sentidos porque é indeterminado, está para além deles. Porém, ainda é um elemento natural. Ou seja, é concreto e não abstrato.

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.): Ar (Pneuma)

Anaxímenes vai “combinar” as ideias de Tales com Anaximandro e propor um elemento mais “palpável” e que, ainda assim, é fugidio aos sentidos: o ar.

Por que o ar? Após Anaximandro, ficava claro que o elemento primordial tinha que ser algo mais intangível, mais “simples” que a água. Porém, o ápeiron era demasiadamente abstrato porque não tinha nenhuma forma de sensibilidade. Por isso, Anaxímenes pensa o ar como um elemento que possui a invisibilidade do ápeiron ao mesmo tempo em que possui a sensibilidade da água.

Para o filósofo, tudo começou com o ar. Se ele fica rarefeito, surge o fogo. Se ele se condensa, surge a água e, depois, a terra. Como negar, naquela época, que o ar poderia estar dentro de todas as coisas existentes?

Além disso, ar em grego é pneuma, que pode ser traduzido por respiração ou sopro de vida. Dessa forma, Anaxímenes também resolve o “problema” da origem da vida.

Xenófanes de Cólofon (570-475 a.C.): Terra

Xenófanes defenderá a terra como elemento primordial.

Por que a terra? Porque ela é a base para tudo! Por mais que a água seja abundante, ela está sustentada pela terra, já que no fundo dos mares existe um solo.

Além disso, toda a vida nasce e repousa na terra. As plantas dependem do solo para nascerem e viverem. Todos os animais vivem na terra ou repousam nela (já que nenhum pássaro ou inseto conseguiria ficar voando infinitamente).

Parmênides de Eleia (530-460 a.C.): Ser Absoluto

Para Parmênides, todas as coisas são algo. Logo, a propriedade fundamental de tudo é “ser”.

Só que “ser” não é necessariamente um elemento. Por isso, Parmênides defenderá que todo o universo já é. Em outras palavras, tudo o que existe é o mesmo elemento, que podemos chamar de Ser Absoluto.

Para o filósofo, “o ser é e o não ser não é”. Isso quer dizer que as coisas não mudam, não se transformam. Se algo mudasse, esse algo deixaria de ser. Dessa forma, nada muda.

Mas e as mudanças e transformações que percebemos? Seriam ilusões dos nossos sentidos. Nossos sentidos veem mudanças acontecendo, mas nada muda de fato. Tudo permanece sendo o que já é.

Essa teoria acaba sendo demasiadamente racional. Dessa forma, como uma tentativa de exemplo, recomendo o filme Guardiões da Galáxia – Volume II. Nesse filme, existe um personagem chamado Ego, que é uma espécie de planeta vivo. Ele é uma entidade pensante que surgiu “do nada” e que foi se materializando em forma de planeta. Disso, tudo o que existe no planeta é o próprio planeta: as construções, as plantas, os animais são uma espécie de manifestação do ser, que é Ego. Tudo é Ego e Ego é tudo.

Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.): Devir / Fogo

Para Heráclito, tudo está em constante transformação, mudança. Dessa forma, se é para escolher algo que deu origem a tudo, esse algo é a própria força de transformação / mudança. Ele chamará isso de Devir.

Nenhum elemento seria permanente, sendo impossível saber se existiu algum originário. As coisas ainda complicam se tivermos que pensar que esse elemento seria também permanente, para manter a estabilidade de tudo. Por isso, em vez do filósofo escolher um elemento físico, ele escolherá uma força natural.

O Devir é o responsável por fazer tudo surgir. Ele é a própria força de transformação e mudança que deu origem a tudo o que conhecemos.

Mas e o fogo? Em algumas momentos, Heráclito também dirá que, se é para eleger um elemento físico, o melhor elemento seria o fogo. O fogo é um elemento que sempre está em movimento (observe que uma chama nunca para de crepitar, ela está sempre “balançando”) e tudo o que ele toca se transforma (tudo que é queimado muda de aparência quase que imediatamente).

Pitágoras de Samos (570-497 a.C.): Número

Pitágoras vai dizer que o elemento primordial é o número.

Por que o número? O número, para Pitágoras, representaria a harmonia e proporcionalidade do universo.

O número seria uma estrutura racional que sustentaria toda a ordem do cosmos.

Trabalhando os Pré-socráticos Monistas em Sala de Aula

Caso precise ensinar esse conteúdo em sala de aula e queira fazer alguma coisa diferente, recomendo a leitura do artigo: Pré-socráticos Monistas através de Dinâmica.

Pré-socráticos Descomplicado: Pluralistas

São chamados de pluralistas os pré-socráticos os quais acreditavam que o elemento primordial era plural (vários). Esse elemento não passou por uma transformação, apenas se organizando através de combinações para dar origem aos demais elementos que conhecemos hoje.

Empédocles de Agrigento (490-430 a.C.): Os Quatro Elementos

Se observarmos os pré-socráticos monistas, veremos que, dos elementos físicos que conhecemos, houve uma disputa entre água, ar, terra e fogo. Todoss possuem bons argumentos a favor, mas também contra.

Empédocles deduziu que, em vez de se discutir quais dos quatro estariam certos, seria mais óbvio pensar que os quatro elementos deram origem a tudo o que conhecemos.

Dessa forma, o nosso universo é feito da combinação dos chamados quatro elementos primordiais, ou quatro raízes: água, ar, terra e fogo. A esses elementos, Empédocles também atribuiu os diferentes estados da matéria: água (líquido), ar (gasoso), terra (sólido) e fogo (plasma).

Anaxágoras de Clazômenas (499-428 a.C.): Homeomerias

Segundo Anaxágoras, o universo é composto do que ele chamava de homeomerias. As homeomerias seriam partículas ínfimas, indivisíveis as quais teriam diferentes qualidades. Decorreria daí que todos os elementos visíveis seriam formados por uma combinação de diferentes homeomerias.

Para ilustrar, imaginem uma infinidade de bolinhas de gude do tipo “olho de gato”. Essas bolinhas são idênticas em tamanho e forma, mas seu conteúdo é diferente. Os elementos que conhecemos seriam resultados da combinação de algumas dessas “bolinhas”.

Pode parecer estranho isso, mas se pensarmos na química moderna, nós sabemos que o universo é feito da combinação de diversos elementos químicos da tabela periódica. A água é a combinação de hidrogênio com oxigênio, por exemplo. A grande diferença para Anaxágoras era que, para o filósofos, todos os elementos teriam o mesmo tamanho e formato. Mas a ideia em si é válida.

Leucipo de Abdera (V a.C.) e Demócrito de Abdera (460-370 a.C.): Átomos

Ambos filósofos aparecem juntos aqui porque não se tem como dizer exatamente a quem pertence cada trecho da tese atomista. Sabemos que Leucipo era o mestre e Demócrito o discípulo. Para ambos, o universo era formado por átomos.

Átomos, que literalmente significa “indivisível”, seriam partículas ínfimas. Todos os átomos teriam a mesma qualidade, ou seja, seriam uma espécie de “mesma coisa”. A grande questão é que cada átomo teria um tamanho e formato diferente. Dessa forma, a diversidade do universo estaria nas diferentes combinações desses tipos de átomos. Dependendo dos tipos usados e das posições assumidas nas combinações, teríamos elementos diferentes.

Para ilustrar bem isso, pense em uma infinidade de pecinhas de LEGO de mesma cor. Todas elas são feitas da mesma coisa, mas possuem tamanhos e formatos diferentes. Dependendo de como essas pecinhas se combinassem, elas formariam diferentes elementos.

Pré-socráticos Descomplicado: Conclusão

Se você observou nas teorias dos pré-socráticos similaridades com aquilo que estudam biólogos, físicos ou químicos, não é mera coincidência. De fato, podemos considerar os pré-socráticos como os primeiros cientistas ou os pais da ciência porque eles foram os primeiros a analisarem a natureza e quererem entender seus elementos constituintes. Pode ser que algumas das teorias pareçam bobas ou doidas para nós hoje, mas aquilo foi uma revolução sem precedentes na época e influenciou o nosso mundo atual.

E aí? Qual teoria você achou mais interessante? Comenta! Conhece algum entusiasta da ciência moderna? Compartilha esse artigo com ele! Quer sugerir algum tema para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Pré-socráticos Descomplicado: Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2016.

Wikipédia. Verbete Pré-socráticos.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.