Voltaire Descomplicado: Biografia e Filosofia

Voltaire Descomplicado: Biografia e Filosofia

Olá, marujos! Hoje, falaremos sobre a vida e filosofia de Voltaire de um jeito descomplicado. Mostraremos os principais pontos da vida desse filósofo iluminista francês e trabalharemos de forma resumida suas principais contribuições para a filosofia, com links para artigos mais completos. Vamos lá!

Voltaire Descomplicado: Biografia

Infância, Adolescência e Juventude

Para começar esse artigo descomplicado sobre Voltaire é importante dizer que esse é um pseudônimo de François-Marie Arouet.

François-Marie Arouet nasceu em Paris, França, no dia 21 de novembro de 1694. Seu pai era François Arouet, um tabelião, e sua mãe Marie-Marguerite Daumart.

É interessante mencionar que Voltaire afirmava que ele era um filho ilegítimo de sua mãe com um tal Roquebrune e que, na verdade, nasceu em 20 de fevereiro de 1694. Não se tem evidências da versão de Voltaire, mas ele a preferia já que considerava seu suposto pai biológico (um nobre cavalheiresco), uma pessoa mais interessante que seu suposto pai de criação (um nobre administrativo).

Em 1704, com 10 anos, Voltaire foi estudar no colégio jesuíta Louis-le-Grand (local que oferecia formação básica e superior). Lá, teve aulas de línguas clássicas, retórica, oratória e teatro. Os alunos eram estimulados a escrever e ele, aos 15 anos, publicou sua primeira obra, uma ode (poema lírico).

Esses anos de estudos no colégio jesuíta também foram importante devido às amizades que Voltaire fez com filhos de outros nobres, que viriam a se tornar pessoas importantes no reinado francês.

Esse período terminou em 1711, quando Voltaire abandonou sua formação, aos 17 anos.

Voltaire decidiu que queria ser um homem das letras e começou a frequentar uma sociedade de nobres e poetas epicuristas, os quais eram famosos pelo humor, libertinagem e ceticismo. Será nesse meio que ele desenvolverá seu estilo de escrita poético: leve, rápido e ácido, cheio de críticas à religião e à monarquia.

Seu pai tentou afastá-lo dessa vida, mandando-o para Caen (ao oeste da França, longe de Paris) e, depois, para Holanda. Porém, Voltaire voltou para Paris em 1713, aos 19 anos, expulso da Holanda. Quase que ele foi mandando para a América, mas acabou ficando mesmo na França.

Em 1715, Philippe d’Orléans assumiu como príncipe regente da França enquanto o rei Luís XV fosse menor de idade. Para conseguir esse posto, ele tirou o poder do duque de Maine, que seria o verdadeiro escolhido do falecido rei Luís XIV. Nessa briga política, Voltaire, então com 21 anos, ficou do lado dos inimigos do Regente, tecendo diversas críticas ao atual governante.

Em 1716, um ano depois, Voltaire foi exilado em Tulle, bem longe de Paris. O pai de Voltaire intercedeu pelo filho e conseguiu trazê-lo mais para perto. Porém, Voltaire voltou a criticar o governo e acabou falando demais para um informante da polícia. Com isso, ele foi condenado à prisão na Bastilha em 1717, aos 23 anos.

Sucesso, Desavença, Exílio e Retorno do Exílio

Após 11 meses, Voltaire sai da prisão e decide usar seu talento para produzir grandes obras e ser famoso.

Para se reintroduzir na sociedade francesa como um novo homem, o até então François-Marie Arouet adorou o pseudônimo de Voltaire. Ninguém sabe exatamente a inspiração para esse nome, sendo as hipóteses mais famosas um anagrama com seu sobrenome ou com a cidade Airvault (perto de onde surgiu sua família).

Voltaire consegue sucesso já na sua primeira tragédia chamada Édipo em 1718. Depois, em 1723, ele novamente conquistará o público com seu poema épico La Henriade, sobre Paris e o rei Henrique IV.

Entretanto, em 1726, aos 32 anos, ele tem uma desavença com Guy-Auguste de Rohan-Chabot, um jovem cavaleiro arrogante. Após uma disputa verbal, Voltaire é espancado publicamente pelos capangas do cavaleiro. Voltaire fica revoltado e tenta de diversas formas conseguir uma reparação pela sua honra. Porém, nenhum dos seus amigos o apoia nessa empreitada.

Para piorar, Rohan ainda consegue levar Voltaire para a prisão (provavelmente, por estar fazendo uma “falsa acusação”). Voltaire é solto duas semanas depois após aceitar ir para um exílio.

Voltaire, então, vai para Londres, na Inglaterra. Lá, fica espantado com o avanço inglês na política, no direito, na economia e nos estudos científicos. Ele faz amizade com escritores, filósofos e cientistas daquela época e começa a aprender sobre todas essas áreas. É nesse momento que Voltaire deixa de ser um homem das letras e se torna um filósofo.

Durante seu tempo na Inglaterra, ele reedita La Henriade e também produz alguns escritos políticos que obtém sucesso.

Voltaire foi autorizado a volta para França em 1728, contanto que não fosse para Paris. Ele, então com 34 anos, acaba conseguindo certa fortuna após aplicar bem seu dinheiro em bons negócios e, depois, trabalhando com empréstimos.

Ele fez algumas montagens teatrais sem grande sucesso até produzir Zaire em 1732, que obteve sucesso semelhante a Édipo (a peça de sucesso anterior).

Émilie du Châtelet, Enfrentamento do Sistema e Viagem para Prússia

Em 1733, com 39 anos, Voltaire inicia um caso com Émilie du Châtelet. Émilie é uma jovem diferente das outras: era uma mulher da ciência, com grande conhecimento matemático, que saia para eventos sociais, jogava e tinha vários amantes. Ela e Voltaire, apesar de diversas brigas, términos e reconciliações, eram duas pessoas que se apoiavam mutuamente e incentivavam uma a outra.

Em 1734, Voltaire publica anonimamente seu ensaio Cartas Filosóficas, em que ele exalta a modernidade inglesa e tece várias críticas ao sistema político francês e sua intolerância religiosa. O livro foi condenado pelo parlamento francês e Voltaire teve que fugir de Paris para não ser preso, ficando na cidade de Champagne.

Durante 10 anos ele ficará “pisando em ovos” e “brincando de gato e rato” com o governo francês, às vezes quieto, às vezes publicando algumas coisas anonimamente, às vezes deixando “escapar” críticas que eram particulares para o público. Conduto, em 1744, com 50 anos, ele decide controlar suas críticas públicas e se envolver diretamente com o governo para ver se consegue de fato pôr em prática algumas das suas ideias políticas.

Nessa empreitada, ele obtém o cargo de historiógrafo da França, o título de “cavalheiro ordinário da câmara do rei” e acesso à corte do rei, mas não consegue cair nas graças de Luís XV. Com isso, ele parte para entrar na Academia Francesa (o equivalente francês a nossa Academia Brasileira de Letras). Após alguns fracassos e estratagemas, ele consegue ser eleito em 1746, então com 52 anos.

No mesmo ano, um livrinho chamado Zadig surge na Holanda com diversas críticas à religião cristã. Voltaire jura que não foi ele quem escreveu…

As coisas ficam tristes para Voltaire quando sua amante Émilie du Châtelet morre em 1749. Voltaire sente muito essa perda e entrará em depressão.

Em 1750, com 56 anos, Voltaire vai para Prússia, para a corte de Frederico II, com quem trocava cartas a um bom tempo e tinha amizade.

A relação dos dois foi muito profícua durante dois anos e meio; porém, surgiram desavenças entre os dois. Voltaire fez algumas críticas públicas à academia prussiana que desagradou o rei. Para não ser preso, decidiu ir embora. Porém, não foi embora de imediato e acabou sendo preso por alguns meses, até ser solto após pagamento de um resgate!

Também proibido de voltar para Paris, Voltaire vai para Genebra, na Suíça em 1754. Lá, precisa se controlar para não criticar a religião já que o país é formado por uma maioria calvinista. É nesse período que participa como um dos autores da famosa Enciclopédia, organizada por Diderot e d’Alembert, contribuindo com cerca de 30 artigos.

Vida em Ferney, Retorno à Paris e Morte

Voltaire se instalou em um casarão na cidade de Ferney (que hoje se chama Ferney-Voltaire), no limite entre a França e Suíça em 1759, aos 65 anos. Lá, passou quase vinte anos e, graças as suas posses, fez a cidade crescer.

Durante esse tempo, Voltaire se envolveu em alguns casos famosos de julgamentos injustos por intolerância religiosa. Ele lutou bravamente, tanto no campo jurídico como no campo social, contra a injustiça, obtendo resultados positivos.

Voltaire também produziu muitas obras pequenas e diretas ao ponto, que eram acessíveis para todos (tanto intelectual quanto economicamente falando), onde ele expressava o seu pensamento filosófico. Seu livro mais famoso Cândido e o Dicionário Filosófico (considerado um Manifesto Iluminista) venderam aos milhares e eram severamente condenados pelo governo e pelos conservadores.

Em 1773, aos 79 anos, Voltaire começa a sofrer de dores, febre e dificuldade de urinar. Hoje, se sabe que ele teve câncer de próstata.

Em 1774, morre o rei Luís XV. Com isso, Voltaire reacende seu desejo de voltar à Paris.

O retorno ocorre em fevereiro de 1778, aos 84 anos, quando ele regressa à cidade luz para acompanhar os ensaios da sua mais nova montagem teatral.

Mesmo ainda existindo aqueles que são contrários ao seu pensamento, ele é muito bem recebido na cidade. As pessoas fazem tumulto para visitar sua moradia, ele é recebido com honras na Academia Francesa, sua peça é interrompida diversas vezes por um público que vibra a presença do autor. Voltaire sente que triunfou!

Contudo, ainda em 1778, sua doença piora muito. Ele precisou viver a base de ópio para suportar as dores.

Voltaire morre em 30 de maio de 1778 em Paris, França.

Enterro e Legado

Como durante toda a vida de Voltaire, até para sua morte ele teve problemas com a Igreja. Isso porque ele só poderia ser enterrado em solo cristão se confessasse seus pecados e arrependimentos, o que seria uma vitória para a Igreja e uma contradição para o filósofo e seu legado.

Para tentar contornar isso, ele preparou previamente uma falsa declaração de confissão de um padre amigo seu para ser usada como prova e, assim, conseguir um sepultamento digno. A estratégia funcionou e ele foi enterrado no dia 31 de maio na abadia de Sellières.

Praticamente um ano depois, em 14 de julho de 1789, ocorre a queda da Bastilha (local em que Voltaire esteve preso duas vezes), marco histórico da Revolução Francesa (revolução essa inspirada nos ideais iluministas defendidos por Voltaire).

Em 1791, a Assembleia Constituinte decidiu transformar o santuário de Santa Genoveva em um mausoléu, o renomeando de Panteão de Paris, para abrigar os restos mortais de grandes homens. Em 11 de julho, ocorre a transferência dos restos mortais de Voltaire para o Panteão.

Em seu sarcófago consta a frase “Poeta, filósofo, historiador, deu um grande impulso ao espírito humano e nos preparou para sermos livres”.

Voltaire Descomplicado: Filosofia

Liberalismo

Inspirado no liberalismo inglês, Voltaire também defendia um tipo de liberalismo. Compreendendo que todos os seres humanos são racionais, acreditava na capacidade humana de conduzir a sua vida e tomar boas decisões por conta própria.

O filósofo acreditava que cada ser humano é responsável por seu destino e por conquistar as coisas para si. A justiça seria algo universal, apesar de cada país poder possuir leis próprias.

Deísmo Natural

Voltaire era crítico das religiões, mas não era ateu. Ao contrário, ele considerava uma conclusão extremamente racional a existência de um “geômetra eterno” que criou esse universo tão complexo. Seu raciocínio parte da ideia de causalidade e Deus seria a causa última e absoluta que ordena tudo.

Conduto, a definição desse Deus lhe parece impossível: ele sabe que existe algo, mas não sabe dizer o que é. Em alguns momentos, ele conceberá um Deus imanente e ser necessário (ou seja, Deus não é um ser separado do universo, fazendo parte dele como seu substrato).

Além disso, Voltaire também considera que a crença em Deus é útil para a moral e o convívio social. É dele a famosa frase: “Se Deus não existisse, ele teria que ser inventado”.

Luta contra a Intolerância e o Fanatismo

Como já foi escrito acima, em sua biografia, Voltaire lutou incansavelmente contra a intolerância e o fanatismo religiosos.

Além disso, ele se envolveu em vários casos judiciais quando acreditava que uma injustiça estava sendo cometida, especialmente quando motivada por um preconceito religioso.

Voltaire também defendia que as religiões não deveriam influenciar nas decisões políticas e nem práticas religiosas deveriam ser objeto de autorização/proibição por parte do Estado.

Liberdade de expressão

É atribuída a Voltaire a célebre frase “Não concordo com o que você está dizendo, mas lutarei até a morte para que você tenha o direito de dizê-lo”; contudo, essa frase não é dele, sendo uma interpretação de seu pensamento feita pela comentadora de sua obra Evelyn Beatrice Hall.

O que se tem, de fato, é alguns comentários de Voltaire dizendo que não concordava com alguns pensamentos contrários aos seus, mas os respeitava.

Se analisarmos a perseguição que Voltaire sofreu ao longo de sua vida, é de se concordar que ele teve problemas em se expressar e que defenderia esse direito para todas as pessoas. Conduto, algumas vezes, Voltaire não foi muito tolerante ao direito de expressão de alguns autores que ele descordava demais, como Rousseau.

Voltaire Descomplicado: Conclusão

No final desse artigo descomplicado sobre Voltaire, percebemos que esse iluminista foi um militante de suma importância para o pensamento moderno. Através de sua arte, cartas e textos filosóficos conseguiu algumas pequenas mudanças em vida e grandes mudanças post mortem, deixando um grande legado para a humanidade ocidental.

E aí? Gostou desse artigo descomplicado sobre Voltaire? Compartilha! Quer uma reflexão sobre outros filósofos iluministas? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Qual foi a parte mais interessante sobre Voltaire que você aprendeu nesse artigo descomplicado? Comenta!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

———————————————————————————————

Voltaire Descomplicado: Referências

WIKIPÉDIA. Verbete Voltaire (francês).

Posted in Filosofia Descomplicada, Filósofos and tagged , , , , , , , , .

Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.