Utopistas através da Música

Utopistas através da Música

Utopistas através da Música

Olá, marujos! Hoje vamos trabalhar as ideias políticas dos filósofos utopistas através da música. Esse é mais um artigo sobre ensinando filosofia de uma forma diferente, mas também serve para você aprender e contextualizar esse assunto (se você não o conhecia ainda). Vamos falar um pouco sobre o pensamento político-filosófico dos utopistas, sobre a música que iremos usar, e como utilizá-la em sala de aula para trabalhar esse conceito. Vamos lá!

Utopistas

Os filósofos Utopistas viveram no período do Renascimento (aproximadamente, entre meados do século XIV e o fim do século XVI). Eles nutriam uma visão política segundo os moldes antigos, elaborando concepções idealizadas dos seres humanos e de uma sociedade perfeita e livre dos males do mundo. Ou seja, eles ainda tinham a pretensão de criar uma cidade ideal, tal qual queria Platão, Aristóteles e Santo Agostinho, por exemplo.

O termo utopia é usado para se referir a um sonho, um ideal, um desejo que temos para algo, geralmente associado a perfeição. Isto é, os filósofos utopistas propuseram a cidade ideal, perfeita em seus livros. Enquanto descreve a cidade e seus moradores, eles estão dizendo o que poderia ser feito em nossa sociedade para também podermos viver em uma sociedade perfeita, ideal.

Normalmente o termo utopia é usado de forma irônica porque acredita-se que o ideal pretendido é inalcançável, irrealizável. Entretanto, na sua concepção original, utopia seria algo que não temos agora, mas que poderia vir a ser no futuro. Dessa forma, vemos que os filósofos utopistas não eram loucos e despretensiosos, mas realmente acreditavam que suas ideais de sociedade perfeita poderiam ser implementadas ao poucos, para um dia alcançarmos a sociedade ideal.

Principais Utopistas

  1. Thomas More – Obra “Utopia”: acreditava que sua cidade perfeita poderia ser concretizada se as pessoas se deixassem guiar pela razão natural e pelas leis da natureza;
  2. Francis Bacon – Obra “Nova Atlântida”: seria uma instituição científica, formada por pensadores e cientistas, que governaria a cidade ideal. Acreditava no poder da ciência para alcançar a justiça social;
  3. Tommaso Campanella – Obra “A cidade do sol”: a cidade ideal estaria livre dos males pelo uso de magia e astrologia. A cidade seguiria uma ordem cósmica, com um líder ao mesmo tempo espiritual e temporal, buscando a virtude e combatendo os vícios.

Música Coração Civil de Milton Nascimento

Coração Civil foi composta por Milton Nascimento e Fernando Brant no início nos anos 80, logo após o fim da ditadura militar no Brasil. Seu primeiro verso já fala “Quero a utopia, quero tudo e mais”, mostrando que a letra se trata da vontade de formar um Brasil ideal, perfeito, sem mais problemas. O nome coração civil se refere ao país São José da Costa Rica, que aboliu as forças militares.

Dessa forma, entendemos que a música é uma crítica ao período do regime militar no Brasil. O autor acreditava que a solução para os problemas brasileiros seria uma sociedade plenamente civil, onde o povo tivesse pleno poder, sem a presença das forças militares. A letra completa e o áudio separados podem ser encontrados aqui. Já nesse vídeo, você encontra um letra e música juntas, se quiser exibir a letra para os alunos enquanto a música vai tocando.

Utopistas através da Música

A proposta aqui se aproxima ao que foi feito no trabalho com poesia. Se não conhece esse trabalho, segue o link.

Etapa 1: Questionar sobre Utopia

A palavra utopia não é tão familiar aos alunos quanto pode parecer. E mesmo que eles a conheçam, pode ser que muitos não pararam para analisá-la. Por isso, seria interessante o professor começar a aula escrevendo a palavra UTOPIA no quadro e fazendo um breve debate com os alunos sobre o que significa aquela palavra.

Etapa 2: Ouvir a Música Coração Civil

Depois que os alunos fizerem suas colocações (ou algum engraçadinho jogar a palavra no Google e dar a definição), o professor vai colocar a música Coração Civil para tocar e pedir para eles perceberem o uso da palavra utopia e tentarem entender o contexto de uso dela. Dependendo das possibilidades da escola, o ideal seria exibir o vídeo karaokê para os alunos acompanharem letra e canção juntos.

Dica: antes de começar propriamente a letra, existe um coro de crianças por bastante tempo, que se deixado pode dispersar os alunos. Por isso, vale a pena começar o vídeo já com os segundos adiantados (0:35 se usarem o vídeo que sugerir). Se for extrair o áudio e souber editar, vale a pena cortar esse pedaço do início.

Após a execução da música, é interessante fazer uma explicação do contexto da música e da citação à Costa Rica. Depois, fazer um debate sobre a utopia do autor em desejar e sonhar por um país melhor.

A música pode ser repedida (com os alunos cantando ou não).

Etapa 3: Explicação da Filosofia dos Utopistas

Após o trabalho com a música, o professor vai fazer a relação com a utopia de Coração Civil com a utopia dos filósofos. Explicar a origem do termo (que foi o livro Utopia de Thomas More). Explicar a proposta filosófica dos utopistas e, se der tempo, explicar um pouco sobre cada um dos três principais utopistas.

Etapa 4: Criação de uma Música (opcional)

Após todo o trabalho e debate filosófico, pode ser proposto aos alunos que criem uma música de cunho utópico. O tema utópico não precisa ser necessariamente o Brasil, mas pode ser a cidade, a escola, a educação, o planeta etc. O importante é que eles criem uma letra que tenha a proposta utópica nela.

Também não existe regra se será ou não uma criação original de melodia ou se será uma paródia (aproveitando a melodia e métrica da música Coração Civil ou outra que eles prefiram). Um desafio a ser proposto, se tiverem acesso às obras dos utopistas, é fazer a letra da música inspirada nas cidades retratadas nos livros.

Uma pontuação sempre serve de estímulo aos alunos e quanto mais exigente for o trabalho, melhor deve ser.

Utopistas através da Música: Interdisciplinaridade

Essa aula pode ter como apoio os professores de História e Artes / Música.

História: Explicar o contexto histórico, tanto do Renascimento (que inspirou os utopistas) quanto da Ditadura Militar (que inspirou a música Coração Civil).

Artes / Música: Explicar as regras de como se cria uma letra e uma canção para uma música e ajudar os alunos no trabalho de fazerem as suas próprias músicas.

Utopistas através da Música: Conclusão

O trabalho com música é uma forma de atrair a atenção dos alunos porque envolve sentimentos ao raciocínio. Pode ser que o estilo de música de Coração Civil não seja o preferido deles, mas além de ser um bom contato com a MPB também existe a possibilidade deles criarem uma música próxima ao estilo que eles preferem. Como a filosofia utopista envolve sonho e idealização, a música é uma ótima forma de unir isso. E, ao usar uma música que fala do pós-ditadura, aproximamos o aluno da realidade e da compreensão do porquê os filósofos quererem algo melhor para o futuro e idealizarem isso.

E aí? Gostou dessa prática com música? Deixa nos comentários outras músicas que se encaixariam nesse contexto. Quer ver essa aula sendo praticada? Compartilha para que mais pessoas tenham acesso a ela. Quer sugerir outras relações de música e filosofia? Entra em contato comigo!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.