Utilitarismo Descomplicado: A Ética Utilitarista de Jeremy Bentham e John Stuart Mill

Utilitarismo Descomplicado: A Ética Utilitarista de Jeremy Bentham e John Stuart Mill

Olá, marujos! Hoje, vamos explicar o utilitarismo de um jeito descomplicado. A Ética utilitarista foi proposta por Jeremy Bentham e, depois, complementada por John Stuart Mill. Vamos fazer breves biografias dos dois filósofos e explicar os principais pontos dessa teoria ética, dando alguns exemplos para facilitar o entendimento. Vamos lá!

Sobre os Filósofos

Jeremy Bentham

Jeremy Bentham nasceu em 15 de fevereiro de 1748 em Londres, Inglaterra. Por pressão do pai, ele estudou direito em Oxford. Em seus estudos, evidenciou uma discrepância entre teoria e prática do direito inglês. Por isso, escreveu diversos livros com críticas às leis vigentes e sugestões de mudança ou melhoria. Ele alcançou relativa fama, mas suas propostas de compreensão das leis, especialmente as civis e penais, só foram aplicadas após sua morte. Ele morreu em 6 de junho de 1832 também em Londres.

Sobre John Stuart Mill

John Stuart Mill nasceu em 20 de maio de 1806 em Londres, Inglaterra. Stuart Mill foi completamente educado em casa por seu pai. Era uma educação rigorosa e específica para tornar Stuart Mill um grande intelectual. Ao longo de sua vida, publicou algumas obras e alguns artigos. Seu livro sobre o utilitarismo fez relativo sucesso e concedeu uma certa fama a Stuart Mill. Mais para o final de sua vida, ele se dedicou à política e ao direito feminino. Ele morreu em 8 de maio de 1873 em Avignon, França.

Utilitarismo Descomplicado: Teses Centrais

O utilitarismo possui três teses centrais. Compreendendo-as, podemos compreender a proposta utilitarista. São elas:

Consequencialismo

O utilitarismo se enquadra nas éticas chamadas de consequencialistas. Isso quer dizer que o valor moral de uma ação está na consequência que ela gera. Uma ação é moral se gera uma consequência positiva e imoral se gera uma consequência negativa.

Para o consequencialismo, só interessa o resultado da ação. Ele não julga o valor em si da ação (proposta das éticas deontológicas), nem o agente dessa ação (proposta das éticas da virtude).

Como exemplo, pensem no ato de mentir ou falar a verdade. O pensamento consequencialista não irá analisar a ação de mentir ou contar a verdade, mas sim o resultado desses atos. Se a mentira gerar um resultado bom, ela será moral. Se uma verdade gerar um resultado ruim, ela será imoral.

Dessa forma, percebemos que o contexto é muito importante para o consequencialismo.

Princípio da Utilidade (ou Princípio de Maior Felicidade)

Para o utilitarismo, as únicas consequências relevantes são aquelas relativas à felicidade e bem-estar das pessoas afetadas (ou que serão afetadas) pela ação.

Por bem-estar, podemos entender segurança, conforto e tranquilidade.

Agora, no contexto da ética utilitarista, felicidade é entendida como presença de prazer e/ou ausência de dor. Enquanto que infelicidade é entendida como ausência de prazer e/ou presença de dor.

Princípio da Imparcialidade

O utilitarismo não faz distinção entre as pessoas afetadas pelas ações. Cada indivíduo é igual em valor. Não existiria nenhum critério que tornaria alguém mais ou menos importante.

Da mesma forma, uma ação que afeta mais pessoas é mais importante que uma mesma ação que afeta menos pessoas. A felicidade de muitos é melhor que a felicidade de poucos e vice-versa, independentemente de quem sejam essas pessoas.

Utilitarismo Descomplicado: Particularidades de Bentham

Para Bentham, a natureza humana é comandada por duas sensações: prazer e dor. Por isso, naturalmente, buscamos o prazer e fugimos da dor.

Baseando-se nesse princípio, o filósofo vai desenvolver o “cálculo da felicidade” em que seriam melhores os prazeres mais intensos e duradouros, e piores as dores mais intensas e duradouras.

Podemos, dessa forma, criar uma espécie de termômetro vertical. No topo estaria a marcação “+ prazer / – dor” e na parte de baixo estaria a marcação “- prazer / + dor”.

Com esse parâmetro, bastaria alguém olhar para esse termômetro e pensar se a sua ação ou omissão estaria mais para cima ou mais para baixo e, com isso, decidir se age ou não age. Da mesma forma, se existem dois ou mais caminhos para se tomar, escolher o caminho que se posicionaria mais em cima do termômetro.

Utilitarismo Descomplicado: Particularidades de Stuart Mill

A proposta ética de Bentham sofreu severas críticas porque, para algumas pessoas, Bentham comparou os seres humanos a animais já que teríamos naturezas semelhantes (buscar o prazer e fugir da dor).

Para contornar esse problema, Stuart Mill disse que, no caso dos seres humanos, existe uma divisão entre prazeres superiores e prazeres inferiores. Os prazeres inferiores seriam os prazeres meramente corpóreos e físicos. E os prazeres superiores seriam os ligados à imaginação e ao intelecto. 

Com isso, Stuart Mill propõe uma avaliação qualitativa dos prazeres e não apenas quantitativa. É o famoso “qualidade é melhor que quantidade”. Os prazeres superiores deveriam ser buscados prioritariamente aos prazeres inferiores.

Utilitarismo Descomplicado: Exemplos

Vamos criar, aqui, alguns exemplos para ilustrar a proposta utilitarista:

Consequência Boa x Consequência Ruim

João viu que seu irmãozinho pequeno Pedro quebrou o vaso de plantas da mamãe sem querer. A mamãe, quando vê o vaso quebrado, grita “Quando eu descobrir quem fez isso vai levar uma surra”! A mãe então pergunta para João se foi ele e ele responde que não. Sendo assim, ela pergunta se foi o irmão.

Em nossa sociedade, consideramos que mentir é errado e falar a verdade é o certo. Contudo, nesse contexto, falar a verdade não vai trazer nenhum benefício (já que o vaso não vai se consertar sozinho). Por outro lado, falar a verdade vai fazer com que Pedro apanhe, e João sabe que Pedro não fez de propósito.

Baseando-se na ética utilitarista, João agiria de forma moral se mentisse para a mãe, dizendo que não sabe se foi o irmão. Da mesma forma, Pedro também poderia mentir dizendo que não foi ele.

Mais Pessoas x Menos Pessoas

Imagine que uma pessoa rica pretende doar mil reais para uma ação social. Ele recebe duas propostas de investimento: uma é usar esse dinheiro para comprar 100 quentinhas de 10 reais cada para dar a 100 adultos usuários de drogas que recusam tratamento e vivem nas ruas; a outra é usar esse dinheiro para levar 40 crianças órfãs carentes para comerem um lanche infantil pela primeira vez em uma rede de fast-food famosa.

Em um primeiro momento, poderíamos pensar que as crianças merecem essa ação porque elas não têm culpa da vida que possuem, enquanto que os adultos escolheram a vida que levam e ainda se recusam a consertá-la. Porém, segundo o pensamento utilitarista, não podemos discriminar as pessoas e a quantidade de pessoas atingidas é mais importante.

Sendo assim, a ação moral adequada ao pensamento utilitarista seria doar as 100 quentinhas.

Prazer Superior x Prazer Inferior

Digamos que você vai ao shopping com 50 reais para gastar. Após uma volta nas lojas, você tem que tomar uma decisão: comprar um livro de 30 reais e fazer um lanche simples de 20 reais ou não comprar o livro e fazer um lanche “gourmet” de 50 reais.

Segundo o pensamento utilitarista, o prazer da leitura é superior ao prazer da alimentação. O prazer da leitura estimula a imaginação e o intelecto, quanto que o prazer da comida estimula apenas o corpo.

Dessa forma, a ação correta é comprar o livro e fazer um lanche mais simples.

Utilitarismo Descomplicado: Como Calcular Situações Complexas?

Os exemplos que dei tentam ser óbvios nas suas escolhas segundo a visão utilitarista. Contudo, a vida não é tão simples assim e haverá momentos em que não será fácil escolher, especialmente quando se pensar no equilíbrio entre intensidade e durabilidade do prazer ou em uma escolha que envolve necessariamente um prazer e uma dor.

No primeiro caso, o que seria melhor: comprar um ingresso para ver um super lançamento do cinema em 3D ou pagar um mês de assinatura de uma plataforma de streaming de filmes?

No segundo caso, o que seria melhor: comer uma pizza e ter que malhar o dobro na semana seguinte para perder as calorias extras ou comer um sanduiche natural e só malhar o básico?

Nessas situações, a decisão não é fácil e vai acabar dependendo de cada um. Para algumas pessoas, a intensidade é mais importante que a durabilidade e vice-versa. Da mesma forma, para algumas pessoas, alguns prazeres valem a pena ser vividos mesmo que acompanhados de uma dor, enquanto que outras pessoas preferem abrir mão de alguns prazeres para não ter que lidar com uma dor posterior.

Por isso, a proposta do termômetro é bem interessante; porque ela serve para você tentar visualizar e mapear, mesmo que mentalmente, a posição do resultado das suas ações e ver qual estará melhor posicionado.

Utilitarismo Descomplicado: Para Ler e Aprofundar

Utilitarismo Descomplicado: Conclusão

O utilitarismo se propõe a ser uma ética prática, uma ética que te ajudaria a tomar decisões de forma mais simples e direta. Consequentemente, ela acaba não dando conta de resolver todas as situações complexas que existem em nossas vidas. Mesmo assim, ela dá conta de nos ajudar bastante a agir. É claro que essa não é a única proposta ética que existe e, por isso, precisa ser vista como uma possibilidade e não uma obrigação.

E aí? O que achou da ética utilitarista? Comenta! Conhece alguém que precisa aprender sobre esse tema? Compartilha! Quer sugerir temas para o blog? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

Sistema ETAPA. Ensino Médio 2021. Caderno II. Filosofia – Módulo 2 (2ª série)

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.