Teoria dos Ídolos Descomplicada: Epistemologia de Francis Bacon

Teoria dos Ídolos Descomplicada: Epistemologia de Francis Bacon

Olá, marujos! Hoje, explicaremos a Teoria dos Ídolos de Francis Bacon de uma forma descomplicada. Apresentarei brevemente o filósofo, sua posição sobre a origem do conhecimento e sua proposta para o correto método científico, e desenvolverei com uma linguagem simples e exemplos sua teoria dos ídolos, em que o filósofo nos mostra os perigos na busca pela verdade científica. Vamos lá!

Sobre Francis Bacon

Francis Bacon nasceu em 22 de janeiro de 1561 em Londres, Inglaterra. Era de uma família nobre. Quando criança, foi educado em casa pois tinha a saúde frágil. Ele era um prodígio e, com apenas 12 anos, já ingressara na universidade.

Em 1576, com 15 anos, viajou com o embaixador inglês para a França, aprendendo muito sobre política e diplomacia. Porém, teve que voltar à Inglaterra quando seu pai morreu em 1579, aos 18 anos, trabalhando como advogado.

Em 1581, aos 20 anos, ingressou na carreira parlamentar como deputado, galgando vários postos internos e vencendo algumas eleições. Ele foi um dos defensores da unificação da Inglaterra com Escócia e Irlanda, para a criação do Reino Unido. Bacon conciliava sua vida política com sua vida acadêmica, produzindo vários estudos científicos, filosóficos e políticos.

Sua carreira política e seus cargos administrativos tiveram altos e baixos ao longo dos diferentes reinados. Contudo, sua vida pública terminou em desgraça em 1621, quando ele tinha 60 anos. Ele foi acusado de corrupção e acabou assinando uma confissão.

Tudo indica que ele realmente aceitava presentes (uma prática comum), mas nunca teria favorecido ninguém por isso. Sua confissão seria a forma mais simples de se livrar das acusações sem perder seus títulos.

Ele morreu em 9 de abril de 1626 em Highgate, Inglaterra de pneumonia. Seus biógrafos dizem que contraiu a doença por ter saído enquanto nevava para fazer experimentos científicos com a neve.

Teoria dos Ídolos Descomplicada: Metodologia Científica

Interpretação x Antecipação

Segundo Bacon, a ciência feita em sua época era feita por antecipação e não por interpretação.

Antecipação era como ele se referia ao fato de muitos cientistas já conduzirem seus experimentos tendo algum pressuposto definido, como, por exemplo, um dogma religioso. Esse tipo de cientista, segundo Bacon, fazia experimentos para comprovar seu dogma e não buscar a verdade.

Em oposição a essa postura, Francis Bacon defendia a interpretação da natureza, ou seja, observá-la sem pressupostos para entender como ela de fato funciona, sem nenhuma previsibilidade.

Indutivismo

Francis Bacon defendia o indutivismo como forma correta de se fazer ciência.

O indutivismo consiste em tirar conclusões gerais a partir de juízos particulares.

Em outras palavras, a indução é uma conclusão obtida após se verificar uma repetição de resultados em uma certa análise.

Por exemplo, uma pessoa sem estudos pode induzir que nuvens escuras no céu indicam grande probabilidade de chuva porque ele observou ao longo de sua vida várias vezes em que choveu quando o céu estava cheio de nuvens escuras e que raramente chovia quando as nuvens estavam brancas.

Empirismo

Francis Bacon é considerado o pai do empirismo, corrente filosófica a qual defende que o conhecimento se inicia na experiência sensível.

Com isso, observamos que o filósofo dá bastante destaque à experimentação como forma de se obter um conhecimento verdadeiro.

Método Científico

Bacon defendia o chamado Método Empírico para a análise científica da natureza.

Seu método tinha três etapas:

1ª. Observação detalhada da natureza;

2ª. Percepção das regularidades, das diferenças e do funcionamento da natureza;

3ª. Elaboração de uma lei geral, que abarcasse aquilo que foi observado individualmente;

4ª. Verificação dessa lei geral através de experimentos replicáveis.

Vale destacar que Bacon era crítico daqueles que buscavam fazer experimentos apenas para validar suas conclusões. Ao contrário, era defensor da busca por experimentos que contestassem suas observações iniciais para, assim, descobrir os limites de suas teorias.

Teoria dos Ídolos Descomplicada: O Erro dos Cientistas

Objetivo

O filósofo queria ensinar aos cientistas como retirar da mente todo conhecimento que não fosse verdadeiro, ou seja, todo conceito ou preconceito criado a partir das antecipações da natureza.

Para isso, ele propôs uma análise crítica da forma como os cientistas conduzem suas pesquisas. Nessa análise, Bacon percebeu que os cientistas podem cometer erros ao se apegarem a alguns pressupostos em vez de observar a natureza de forma pura.

Os Ídolos

Ídolos, aqui, significa os problemas que o cientista vai encontrar e precisa superar para conseguir analisar a natureza de uma forma objetiva e extrair um conhecimento verdadeiro.

São quatro ídolos: Ídolo da Tribo, Ídolo da Caverna, Ídolo do Foro (ou Ídolo do Mercado) e Ídolo do Teatro.

a) Ídolo da Tribo

Tem seu fundamento na Associação. Ou seja, a avaliação do cientista leva em considerações pressupostos que ele aprendeu durante sua convivência social.

São dois os principais problemas cometidos: atribuir à natureza características e limitações humanas; ou generalizar algo com poucas amostras.

Exemplos:

Justificar um terremoto, tsunami ou erupção vulcânica dizendo que a terra está com raiva dos seres humanos (a natureza não tem sentimentos nem moralidade para agir contra ninguém).

Afirmar que uma região tem um clima muito quente, sendo que você só mediu a temperatura do local por um mês (como existe um ciclo de estações, em que alteram as temperaturas de um local dependendo da época, a análise deveria ser feita no mínimo por um ano ininterruptamente).

b) Ídolo da Caverna

Tem seu fundamento no Individualismo. Ou seja, a avaliação do cientista leva em considerações pressupostos que ele criou para si mesmo.

São dois os principais problemas cometidos: interpretar a natureza com conceitos e ideias pessoais; ou concluir algo sem refletir direito.

Exemplos:

Dizer que a Terra é plana porque não se consegue ver a curva dela e que todas as evidências dela ser redonda foram forjadas (nesse caso, o cientista se limita a um único argumento – o qual possui falhas – e ignora todos os demais porque está convencido que a natureza é tal como ele acha que é).

Diagnosticar uma pessoa apenas pelos sintomas, sem fazer nenhum exame clínico (como várias doenças apresentam os mesmos sintomas, é leviano propor um diagnóstico sem fazer nenhum exame que possa limitar as opções ou confirmar a suspeita original).

c) Ídolo do Foro (ou Fórum, ou Mercado)

Tem seu fundamento no erro do Discurso. Ou seja, a avaliação do cientista se utiliza de termos técnicos ou conceitos científicos que não estão bem empregados ou definidos.

São dois os principais problemas cometidos: utilizar termos e palavras sem saber exatamente o que significam, causando confusão; ou distorcer a realidade através de falácias.

Exemplos:

Utilizar o termo “fascismo” para qualquer pensamento de direita conservador (o fascismo foi um movimento político de direita conservador RADICAL que ocorreu na Europa no século XX e que possui características específicas – não sendo certo, dessa forma, chamar qualquer atitude da direita conservadora de fascista).

Dizer que o ser humano veio do macaco (essa é uma interpretação incorreta da teoria darwinista, a qual diz que, provavelmente, seres humanos e macacos tiveram um ancestral em comum – logo, quem afirma isso, está cometendo um erro lógico, consciente ou inconscientemente).

d) Ídolo do Teatro

Tem seu fundamento na Crença. Ou seja, a avaliação do cientista leva em consideração pressupostos que ele acredita.

Seguir doutrinas filosóficas ou científicas que não são verdadeiras; ou impor sua opinião sobre algo como se fosse inequívoca.

Exemplos:

Defender que a cultura europeia é superior à cultura africana e indígena, baseando-se na teoria do darwinismo social (por muito tempo, inspirado na teoria de Darwin, acreditou-se que os europeus eram mais desenvolvidos socialmente, enquanto que as culturas africanas e indígenas eram mais primitivas – porém, essa teoria científica não é mais aceita).

Defender o criacionismo porque essa é a explicação da sua crença religiosa (não faz sentido ficar “forçando a barra” para encontrar supostos indícios científicos que sustentariam o criacionismo sendo que já existem teorias científicas bem aceitas que explicam a origem do universo de outras formas).

Teoria dos Ídolos Descomplicada: Obras

Teoria dos Ídolos Descomplicada: Conclusão

Ao final dessa explicação descomplicada sobre a Teoria dos Ídolos de Francis Bacon, espero que vocês tenham compreendido quais erros um cientista não pode cometer quando inicia sua investigação científica. É importante destacar que, atualmente, pode parecer muito óbvio tudo isso; porém, na época de Bacon, não era bem assim. Foi por isso que ele precisou deixar tudo muito bem esclarecido e, até hoje, a comunidade científica concorda com ele!

E aí? Gostou desse artigo descomplicado sobre a Teoria dos Ídolos? Compartilha! Quer um artigo descomplicado sobre outra teoria filosófica de Bacon? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Alguma parte ficou confusa ou gostaria de complementar a explicação? Comenta!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Teoria dos Ídolos Descomplicada: Referências

ALVES, Leonardo Marcondes. Francis Bacon: os quatro ídolos da mente. Ensaios e Notas. Acessado em 27 de julho de 2022.

WIKIPÉDIA. Verbete Francis Bacon (inglês e alemão).

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.