Reflexão sobre Vikings: Em Busca do Bem Comum

Reflexão sobre Vikings: Em Busca do Bem Comum

Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre a série Vikings. Como o nome já sugere, ela é uma série histórica que conta os feitos do lendário viking Ragnar Lothbrok e seus filhos, os quais foram responsáveis por fazerem os povos nórdicos famosos e temidos por toda a Europa. Nessa reflexão, focada na primeira temporada, vou abordar uma característica interessante de Ragnar Lothbrok: a forma como ele sem querer chegou ao poder. Teremos alguns spoilers da primeira temporada, mas nada que estrague as surpresas da série. Vamos lá!

Sobre Vikings (COM ALGUNS Spoilers)

Vikings é uma série canadense que estreou em 2013 no canal fechado History. Ela ficou famosa mundialmente quando começou a ser transmitida pela Netflix. Atualmente, ela está na metade da sexta e última temporada. Ela conta a história da ascensão viking na Europa, acompanhando os feitos de Ragnar Lothbrok e seus filhos. A série foi inspirada em sagas nórdicas do século XIII e em alguns relatos históricos do século XII.

Ragnar (Travis Fimmel) é só mais um camponês de Kattegat, um reino fictício que fica na região escandinava. Como todo camponês daquela época, ele também era guerreiro e cumpria missões de ataque aos reinos bálticos, à leste de Kattegat.

Ragnar acreditava na possibilidade de navegar para oeste e atacar novos reinos, podendo trazer novas conquistas para o seu povo. Contudo, o senhor de Kattegat Earl Haraldson (Gabriel Byrne) recusava a investida no incerto, preferindo manter seus planos de novos ataques aos bálticos.

Ragnar decide contrariar seu Earl e parte para o oeste em um missão não oficial. Ele chega até Lindisfarne, uma ilha da Inglaterra. A principal construção da ilha é um mosteiro cristão. Os vikings facilmente dominam a ilha, pilhando a região, matando um parte dos monges e escravizando outra. É nessa situação que Ragnar conhece o monge Athelstan (George Blagden).

De volta a kattegat, Earl Haraldson confisca o espólio do grupo de Ragnar, permitindo que cada um dos aventureiros ficassem com apenas uma peça de espólio. Ragnar decide ficar com Athelstan para conhecer mais da sua cultura e região (já pensando em novos ataques).

Earl Haraldson percebe em Ragnar uma ameaça ao seu poder e trama sua morte. Ragnar consegue escapar por pouco. Nesse momento, ele percebe que sua única alternativa é duelar com o Earl. Eles duelam e Ragnar vence, tornando-se o novo senhor de Kattegat.

Agora, Ragnar poderá liderar seu povo a novas conquistas. Obviamente, isso não será tão simples. Ele precisará enfrentar inimigos externos (os reinos atacados do oeste, que agora irão se preparar) e internos (outros líderes vikings que veem a figura de Ragnar como ameaçadora).

Reflexão sobre Vikings: Um Bom Rei é Aquele que não quer Ser Rei

Ragnar nunca quis o poder. Podemos dizer que ele chegou ao poder por acaso, sem querer. Curiosamente, sua figura se tornou lendária e conduziu os vikings para grandes conquistas nunca antes imaginadas.

Essa situação é bem interessante porque mostra como a preocupação com o bem comum, quando vem antes da preocupação com o bem individual, permite muito mais realizações.

Haraldson se vangloriava do seu poder. Ele estava satisfeito com aquilo que tinha. Ele não estava preocupado com o crescimento e progresso do seu povo porque ele já levava uma vida confortável. Sendo assim, ele não sentia necessidade em inovar, em arriscar. Para ele, do jeito que estava, estava bom. Ele não era um conquistador, não era ousado.

Ragnar, por outro lado, não tinha nada. Ele era um simples fazendeiro. Sua vida simples o fez pensar em novas possibilidades, modos diferentes de alcançar riquezas e progressos para si e para o seu povo. Ele era um homem do povo e sabia a importância de ajudá-lo. Ao querer mais, ele ousou. Ao ter sucesso, ele se tornou alguém de destaque e um inimigo do poder estabelecido.

Se olharmos a história, veremos que grande mudanças geralmente vêm de pessoas, povos ou empresas que estavam por baixo em suas respectivas hierarquias. Como queriam crescer, precisaram inovar.

A grande diferença de Ragnar para outros casos é que ele não fez isso pelo poder em si. Ele não queria ser rei. Ele, inclusive, deu as dicas para o então rei. Só que foi ignorado. Além disso, mesmo quando ele teve sucesso na sua empreitada, ele não reivindicou poder para si, não usou do seu feito para instigar uma revolta interna. Quem provocou a confusão foi o próprio Earl Haraldson que se sentiu ameaçado.

Haraldson se sentiu ameaçado porque sabia que era um péssimo líder, que suas decisões não eram feitas em prol do povo, mas para benefício próprio. Ele enxergou Ragnar como um inimigo porque Ragnar era o oposto dele: Ragnar agia em prol do povo. Suas ideias e propostas eram dadas para o sucesso do povo.

Devido a medo de perder o poder, Haraldson acabou causando sua ruína. Se ele tivesse acolhido Ragnar como um conselheiro, como um líder de expedições, nada teria ocorrido porque Ragnar não queria o poder. Mas a inveja e o medo provocaram uma luta e Ragnar ganhou. Ragnar não lutou pelo poder, mas por sua vida.

Ao assumir o poder, Ragnar mostrou o que um governante deve fazer: governar para o povo e não para si mesmo. Foi nessa atitude que Kattegat prosperou.

Reflexão sobre Vikings: O que Podemos Aprender com Ragnar

É impossível não olhar para esse caso e não pensar em quantos governantes que já tivemos (seja a nível municipal, estadual ou federal) fracassaram em seus governos porque estavam muito mais preocupados em se manterem no poder, viverem uma vida de conforto, do que atender as demandas do seu povo.

Infelizmente, não existe em nossa atual situação uma forma de alguém se tornar governante sem querer, por acaso. Para realizar esse feito, é preciso se candidatar. Entretanto, conhecemos uma infinidade de pessoas as quais poderíamos dizer “esse seria um excelente político”. Mas essas pessoas são as primeiras a dizerem que não querem se envolver com política. Não porque não possuem capacidade, mas porque não possuem estômago para jogarem esse jogo podre.

Aí em pergunto: como corrigir esse erro? Como fazer com que pessoas que aparentemente são perfeitas para cargos de liderança aceitem concorrer a esses cargos? Um reforma política? Uma forma de eleição mais simples? Uma jeito de tirar políticos despreocupados com o bem público mais rapidamente (em vez de esperar 4 anos ou uma cassação)?

Todas essas são possibilidades que são dificílimas de serem implementadas porque quem está no poder não quer correr o risco de sair. Fora a complexidade de opiniões divergentes sobre o que mudar e como mudar.

Por isso, acredito que a melhor solução ainda é a educação: educação política para sabermos votar e educação política para formarmos candidatos honestos. Esse pensamento pode até parecer utópico, mas é realizável se nos esforçarmos. Não só nas escolas, mas também em casa devemos ser educados sobre certo e errado, o que é privado e o que é público, o uso do poder para o bem comum e não benefício próprio.

Eu nunca canso de falar que os políticos desonestos emergem da nossa sociedade desonesta. A pessoa não se torna corrupta quando assume o poder. Ela já o assume corrupta. Por isso, a verdadeira reforma está na base, na estrutura da nossa sociedade.

Aja de forma honesta, ensine as pessoas a serem honestas, recrimine atitudes desonestas. Pode parecer que é uma luta vã, mas se todos pensarem assim nada muda. Precisamos acreditar e agir antes que seja tarde demais.

Reflexão sobre Vikings: Conclusão

Ao final dessa reflexão sobre Vikings, espero que você possa ter percebido, com o exemplo de Ragnar, que os melhores líderes são aqueles que não querem ser líderes. O motivo é simples: quem almeja esse posto geralmente está mais interessado em usufruir do poder do que servir ao seu povo. Além disso, espero que tenham percebido que a mudança pode ocorrer, mesmo que a longo prazo, através das pequenas atitudes e do bom exemplo. Existe salvação porque o ser humano é racional, e a razão tende para o bem. Mesmo que as coisas estejam ruins, não podemos desistir.

Aprofundando o Assunto

Caso não tenha visto essa série ainda ou queira rever, ele está disponível na Netflix. Se você quiser ter uma cópia física, segue um link para comprar as temporadas em DVD ou Blu-ray.

Caso queira aprender um pouco sobre a mitologia nórdica, recomendo: Mitologia Nórdica (Neil Gaiman).

Caso queira se aprofundar na cultura viking, recomendo: Dicionário de História e Cultura da era Viking (Johnni Langer).

Caso queira vivenciar uma aventura viking, recomendo o jogo de tabuleiro: WAR Vikings (Grow).

Para se aprofundar nas questões políticas do cotidiano, recomendo: Política: Para Não ser Idiota (Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro).

E aí? Quais outras questões reflexivas você identificou na série Vikings? Diz aí nos comentários! Gostou dessa reflexão sobre Vikings? Compartilha! Quer sugerir temas para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.