Paradigma para Kuhn Descomplicado

Paradigma para Kuhn Descomplicado

Olá, marujos! Hoje explicaremos o conceito de Paradigma para Thomas Kuhn de um jeito descomplicado. Esse é um conceito complexo, sem uma definição precisa, que tenta explicar como ocorre a evolução da ciência. Como podem observar, esse tema está dentro da linha de Epistemologia e Filosofia da Ciência. Vamos explicar essa teoria de uma forma descomplicada, com vários exemplos para ficar claro. Também teremos uma breve biografia do filósofo. Vamos lá!

Sobre Kuhn

Thomas S. Kuhn nasceu em 18 de julho de 1922 em Cincinnati, nos Estados Unidos. Desde criança, estudou em escolas cujas pedagogias incentivavam o pensamento autônomo e reflexivo em vez de aprender conteúdos decorados. Nessa época ele adquiriu o gosto pela matemática.

Kuhn fez graduação (1943), mestrado (1946) e doutorado (1949) em Física pela Harvard. Graças a uma bolsa de estudos que recebeu da universidade, pode se dedicar ao estudo da história e da filosofia da ciência, algo crucial para sua carreira como professor e filósofo.

Ele lecionou disciplinas ligados a esses temas (história e filosofia da ciência) em Harvard, Universidade da Califórnia, Princeton e MIT. Seus principais livros de filosofia foram todos publicados ao longo da sua carreira acadêmica.

Em 1991 ele se aposentou. Em 1994 descobriu que tinha câncer de pulmão. Kuhn faleceu em 17 de junho de 1996 nos Estados Unidos.

Paradigma para Kuhn Descomplicado: Crítica à Linearidade da Ciência

Kuhn vai questionar o pensamento da época que considerava a ciência como um acúmulo de informações, que todo o avanço científico se dava através de novos estudos que preservavam as verdades anteriormente encontradas.

O filósofo, ao contrário, vai mostrar, através da história da ciência, que os avanços científicos ocorrem através do que ele chama de revoluções científicas, momentos singulares em que os cientistas rompem com uma linha de pensamento e adotam outra que resolve melhor os problemas.

Dessa forma, não existe linearidade na ciência, mas sim constantes rupturas, em que antigas verdades são abandonadas e novas verdades aparecem.

Como exemplo, podemos pensar que por muitos séculos a astronomia admitia o modelo geocêntrico (a Terra é o centro do universo) e muitas pesquisas e teorias científicas foram criadas a partir disso. Contudo, ela não resolvia todas as questões dos astrônomos e eles só conseguiram encontrar as respostas quando abandonaram o modelo geocêntrico  e adotaram o modelo heliocêntrico (o Sol é o centro do universo). Hoje inclusive, já até sabemos que o Sol é apenas o centro do sistema solar em que vivemos e o universo está longe de ter um centro definido…

Como vimos no exemplo anterior, a ciência não manteve uma linearidade. Se fosse linear, ainda estaríamos aprendendo que a Terra é o centro do universo e todas as pesquisas científicas manteriam essa ideia como regra. Ao contrário, houve uma ruptura e uma revolução científica quando todos mudaram o foco e enxergaram o funcionamento do universo de uma outra forma.

Kuhn chamada esses momentos de mudança de “mudança de paradigma”. Por isso, vamos explicar o que é um paradigma.

Paradigma para Kuhn Descomplicado: O que é um Paradigma

O conceito de paradigma para Kuhn não é sistemático. Ou seja, ele não chega e explica de forma detalhada o que ele quer dizer. Ele usa o termo com leves diferenças, para significar algumas coisas que ele explora ao longo dos seus estudos. Dito isso, aqui vou tentar dar uma visão geral do que seria paradigma, tentando pega as principais ideias por trás desse conceito.

Paradigma seria uma visão de mundo. Dessa forma, o paradigma não está somente restrito à ciência, mas também ao todo social, político e histórico. Se pensarmos no paradigma do geocentrismo citado anteriormente, essa pensamento não só influenciou a ciência, mas também a filosofia (com a noção das ideias imutáveis habitarem um lugar no céu que também é fixo), a mitologia (Apolo puxando o sol na sua carruagem de fogo), a religião (Deus parou o sol para os hebreus vencerem a guerra), a política (condenação daqueles que pensavam diferente).

Essa noção “histopolissocial” (histórica, política, social) é importante porque o cientista é um ser humano inserido em uma certa cultura e uma sociedade. Logo, ele tanto influencia quanto é influenciado pelo seu meio.

O paradigma também compreende o método científico aceito e os instrumentos científicos utilizados. Dessa forma, percebemos que o uso de um determinado instrumento pode mudar completamente a forma como compreendemos um determinado fenômeno na natureza. A compreensão de que a lua não é uma esfera perfeita só foi possível com o telescópio que, dentre outras coisas, comprovou que a lua possuía crateras. Da mesma forma, o caminho que o cientista deve percorrer para fazer ciência também é determinante: por muitos séculos, não se podia abrir e explorar cadáveres humanos; isso dificultava os estudos e até mesmo induzia a certos erros na hora de compreender a constituição e o funcionamento do corpo humano (porque o cientista tinha que imaginar ou adaptar sua teoria naquilo que ele podia ver em um cadáver animal).

Sendo assim, podemos “resumir” paradigma como um conjunto de critérios e verdades científicas que são aceitos pela comunidade cientifica (e, normalmente, pela sociedade em geral) que responde satisfatoriamente a uma grande maioria de problemas científicos durante uma determinada época em uma terminada área.

Paradigma para Kuhn Descomplicado: As Etapas da (R)Evolução Científica

Kuhn evita usar o termo “evolução” porque passa a ideia de acréscimo, somatório. Ele prefere revolução porque traz a sua visão de ruptura com o antigo. De qualquer forma, o importante é entender que a ciência muda: antigos paradigmas são abandonados e novos surgem constantemente. Para entender essas mudanças, Kuhn elaborou um “passo a passo” que contém as etapas que um determinada área científica percorre desde o surgimento de um paradigma até a criação e aceitação de outro:

Período Pré-paradigmático (ou Imaturo)

Período em que existem muitos problemas científicos a serem resolvidos e não existe um consenso na comunidade científico sobre como lidar com eles. Nesse momento, cada cientista vai tentando, dentro das suas possibilidades, encontrar uma resposta científica para o problema que normalmente é aceita por uns e rejeitada por outros. Muitos testes e experiências são feitos para se tentar achar uma resposta que seja satisfatória para todos (ou seja, resolva o problema e a maioria concorda que é a melhor opção).

Como exemplo, podemos pensar o começo da pandemia do coronavírus. A todo o momento, de diversos lugares do mundo, saíam publicações e orientações sobre o que fazer e o que não fazer para evitar a contaminação. Também eram difusas e às vezes controversas as características do vírus e da doença. O tratamento para os infectados também foi outro problema, com uma série de medidas usadas hora como paliativas ora como eficazes para curar a pessoa infectada.

Ciência Normal

Período em que surge uma teoria ou conjunto de teorias que resolve satisfatoriamente os problemas científicos existentes. A partir desse momento, toda a comunidade científica toma isso como verdade e novos estudos científicos são feitos a partir desse pressuposto estabelecido. Ele fica lá inquestionável. A isso, Kuhn chama de paradigma.

No exemplo do coronavírus, podemos pensar que já existe um certo protocolo a ser seguido para evitar a contaminação. Além disso, também já existe um tratamento mais ou menos estabelecido que sempre é receitado quando alguém se mostra contaminado. Percebam que agora os estudos estão mais preocupados com a vacina (prevenção) e não tanto com o descobrimento de um remédio que cura o infectado.

Só para ficar claro, não dá para comparar esse exemplo do coronavírus com o heliocentrismo / teoria da relatividade. Eu seria ingênuo de dizer que já estamos no período da “ciência normal” no que tange o coronavírus. Eu só use isso porque é um exemplo mais recente e que ajuda vocês a entenderem as etapas muito mais do que falar de coisas que aconteceram a séculos atrás e que vocês só veem hoje o resultado (mas não o processo, como vocês estão vendo hoje no caso do coronavírus).

Crise

Período em que surgem novos problemas na mesma área na qual já existe um paradigma e esse paradigma não dá mais conta de resolver esses problemas. Nesse momento, começa-se a desconfiar da verdade daquele paradigma e alguns cientistas começam a explorar novas possibilidades, mudando o olhar sobre aquilo que acreditavam e buscando novas soluções para os problemas. Começa uma crise no atual paradigma e surgem novas pesquisas que não seguem mais os pressupostos daquele paradigma.

Como exemplo, imaginem que as vacinas parassem de funcionar. Fazem-se estudos e não tem nada errado com as doses e nem com a forma da aplicação. Os casos de doenças que antes eram evitadas por causa das vacinas começam a aumentar e agravar. Nesse caso, algo mudou e o que era antes tomado como certo (a vacina) já não serve mais. Começam-se estudos para entender o que pode ter mudado para explicar o porquê da vacina já não funciona como antigamente.

Revolução Científica / Mudança de Paradigma

Período em que surge uma nova teoria ou conjunto de teorias ou novo método científico que consegue dar conta não só dos problemas antigos, mas também dos novos. Essa novidade se torna o novo paradigma e toda a comunidade científica o toma como a nova verdade e as pesquisas científicas se baseiam nele.

Tomando como base o exemplo anterior, da ineficácia das vacinas, podemos imaginar que muitos cientistas vão pelo caminho mais lógico e simples que é querer defender o paradigma e apenas estuda as doenças, acreditando que elas ficaram mais fortes e a imunidade que o corpo produzia antes já não é suficiente. Contudo, um grupo de cientistas vislumbra a possibilidade de mutação do corpo humano, mutação essa que impede o efeito da vacina. Se isso estiver certo, o corpo ignora todas as aplicações e nunca gera o anticorpo no organismo. Ao descobrir que isso é de fato o que ocorreu, e que essa mutação é agora o novo padrão de ser humano (todos nascem assim), precisa-se descobrir uma nova forma do corpo humano ganhar a imunidade necessária.

Agora, todos os estudos tomam como base que o corpo humano mudou e não o vírus. Logo, toda a ciência médica vai focar em técnicas para contornar a mutação humana e não mais gastar tempo, esforços e recursos para estudar mudanças nas doenças. Nesse momento, temos um novo paradigma e esse período se torna a nova “ciência normal”. Ela vai perdurar até que surja alguma necessidade de mudar o foco e enxergar o problema por um outro olhar.

Paradigma para Kuhn Descomplicado: Conclusão

Como puderam ver, a definição do termo paradigma não é fácil. Contudo, não é tão difícil entender o que ele quis dizer. A ideia por trás da palavra se torna clara quanto bem explicada e exemplificada. Espero que vocês tenham conseguido entender o que o filósofo Thomas Kuhn quis dizer quando defende que a ciência avança através de “mudanças de paradigma”.

Lista de Leitura (Aprofundamento em Thomas Kuhn e Paradigmas)

Caso queiram aprofundar seus estudos em Thomas Kuhn e Paradigmas, segue uma sugestão de lista de leitura:

A Estrutura das revoluções científicas (Thomas S. Kuhn)

O caminho desde A estrutura: Ensaios Filosóficos, 1970-1993, com uma Entrevista Autobiográfica (Thomas S. Kuhn)

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Paradigma para Kuhn Descomplicado: Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2016.

Coleção Ensino Fundamental 9° ano: Volume 2 – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2020. 70 p.: il.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.