Reflexão sobre Tudo Bem no Natal que Vem: E se Todos os Dias fossem Natal?

Reflexão sobre Tudo Bem no Natal que Vem: E se Todos os Dias fossem Natal?

Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre Tudo Bem no Natal que Vem, novo filme natalino da Netflix. Na trama, o personagem principal fica preso no dia 24 de dezembro. O problema é que ele não gosta do Natal… Na reflexão, iremos falar sobre a possibilidade de viver um dia várias vezes e da necessidade de aproveitar todos os momentos da vida (mesmo aqueles que parecem triviais). Não teremos spoilers dos acontecimentos principais do filme, então podem ler essa reflexão despreocupadamente. Vamos lá!

Sobre Tudo Bem no Natal que Vem (SEM Spoilers)

Tudo Bem no Natal que Vem é um filme brasileiro da Netflix estrelado por Leandro Hassum do gênero comédia dramática de natal. Ele foi lançado dia 03 de dezembro de 2020.

Na história, o chefe de família Jorge (Leandro Hassum) não gosta do natal. O motivo principal é que ele nasceu no dia 25 de dezembro. Por isso, nunca conseguiu fazer festas com seus amiguinhos e ainda tinha que comemorar seu aniversário durante a ceia de natal.

Enquanto solteiro e jovem, Jorge aproveitava o natal para viajar e curtir o dia com os amigos. Depois de adulto e casado, acabou tendo que voltar a festejar a data em família.

Jorge odiava a rotina de véspera de natal, com idas ao shopping para comprar presentes, supermercado para comprar os itens da ceia, trabalhadores do condomínio pedindo caixinha… A ceia também não ajudava: muitas crianças correndo e gritando, parentes que se reuniam mais para reclamar e brigar do que agradecer e festejar. Resumidamente: um típico natal brasileiro!

Tudo o que Jorge mais queria no dia 24 era que ele acabasse logo.

Tudo muda no natal de 2010, quando ele sofre um acidente. Depois de cair do telhado, ele começou a acordar apenas no dia 24 de dezembro de cada ano. Agora, cada dia que ele vive é véspera de natal!

No filme, descobriremos como ele vai encarar esse desafio.

Reflexão sobre Tudo Bem no Natal que Vem: Vale a Pena Viver sempre a Mesma Coisa?

No caso do filme, Jorge odiava a véspera de natal. Ser obrigado a viver esse dia todos os dias foi horrível para ele.

Imagino que todos nós temos um dia no ano ou na semana que preferiríamos que não existisse (por exemplo, o dia que alguém querido morreu ou as segundas-feiras). Se todos os dias fossem esses dias, surtaríamos.

Agora, já pararam para pensar se vivêssemos todos os dias como sendo o melhor dia do ano ou da semana? Será que isso nos fazia a pessoa mais feliz da face da Terra? Esse filme me fez refletir que não…

Desde Aristóteles, existe a noção de graus de perfeição. Ou seja, uma coisa é melhor ou pior dependendo de um referencial. Sendo assim, só podemos pensar em nosso melhor dia ou pior dia do ano ou da semana porque existem os outros como forma de comparação. A partir do momento que você só vive a mesma realidade cotidianamente, acaba o parâmetro e aquela experiência deixa de ser boa ou ruim.

Muitas pessoas sempre reclamaram que eram obrigadas a sair de casa para trabalhar todos os dias. Sonhavam em poder trabalhar de casa. A pandemia obrigou muitas empresas a colocarem seus funcionários em home office e o que ocorreu? Todos estão felizes e contentes? Não! Muitos não aguentam mais ficar em casa e querem desesperadamente voltar para os seus lugares de trabalho (eu, como professor, sinto muita falta da sala de aula e a maioria dos meus colegas dizem que preferem voltar para a correria de deslocamento entre escolas do que passar o dia dando aula de casa).

Fato semelhante também ocorre com as férias. Muitos alunos e trabalhadores gostam de brincar dizendo, no primeiro dia de volta às aulas ou ao trabalho, que dia começa as próximas férias. Conduto, a maioria das pessoas enjoa das férias longo na segunda semana se essas férias significarem ficar em casa à toa. Só quem não reclama de um mês de férias é quem passou esse período ocupado, por exemplo, viajando.

Até mesmo quem viaja, chega uma hora que cansa e quer voltar para a própria casa… Ou seja, somos seres que precisamos estar constantemente mudando algo em nossas vidas. Talvez, esse até seja um reflexo da nossa origem, como indivíduos nômades, caçadores e coletores, que viajavam por territórios e viviam cada dia diferente do outro.

Geralmente, valorizamos um dia ou um momento breve como sendo a melhor coisa de nossas vidas porque ele difere muito dos demais dias e momentos. Mas se ele se torna uma rotina, ele acaba cansando.

Da mesma forma, viver um dia ou situação ruim pode ser desesperador; mas se isso se tornar rotina, se torna banal. Por exemplo, se alguém ver uma pessoa morrendo na sua frente, você pode entrar em choque. Mas se você for um médico, que convive diariamente com óbitos, vai encarar a morte humana com naturalidade.

Assim, a conclusão que cheguei foi de que só existe o dia bom porque existe o dia ruim. E só existe o dia ruim porque existe o dia bom. Dessa forma, não adianta querermos ou não viver sempre um mesmo dia ou experiência, porque o excesso vai acabar descaracterizando aquele dia/momento e ele se tornará só mais um dia/momento qualquer.

Reflexão sobre Tudo Bem no Natal que Vem: O Tempo de Cada Coisa

Outra reflexão que o filme nos permite fazer é a valorização de cada momento de nossas vidas. Esse é outro problema que normalmente cometemos quando “ligamos o nosso automático”.

Por exemplo, deixamos de valorizar nosso momento trabalhando/estudando porque só estamos pensando nas próximas férias. Deixamos de aproveitar nosso momento em família porque estamos preocupados com o trabalho acumulado no escritório.

Ao ignorar esses momentos de nossas vidas, podemos estar ignorando oportunidades de crescimento humano ou até mesmo deixando de aproveitar nossas vidas.

Tenho muitos alunos que só querem terminar o ensino médio, aprendendo ou não algum conteúdo, porque o importante para eles é o diploma para trabalhar. Conduto, mais para frente, aquele conhecimento que ele não adquiriu poderá fazer falta.

Cansamos de ver filmes ou relatos de pais que trabalharam tanto para dar uma vida confortável para a família que esqueceram de dar atenção para os filhos e/ou o cônjuge. Aí, a família tem tudo que é material, mas não teve momentos para aproveitar tudo isso. Eu nem digo que não teve amor, porque o sacrifício do trabalho é feito por amor. O problema é que esse amor deveria ser demonstrado em diversas frentes: um pouco para o trabalho e um pouco para o convívio familiar.

Existe uma passagem bíblica famosa, do livro Eclesiastes, que diz:

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?

Eclesiastes 3:1-9

Essa reflexão também pode se estender para outros fatores da vida. Por exemplo, quando éramos crianças queríamos ser adultos; e agora que somos adultos, queremos voltar a ser crianças. Ou, quando éramos solteiros queríamos casar; e, depois de casados, queremos voltar a ser solteiros. Esses são exemplos dos nossos constantes descontentamentos com aquilo que temos e somos.

Dessa forma, cabe aqui a reflexão de aproveitar todos os momentos que a vida nos proporciona, sejam eles bons ou maus, divertidos ou tristes, empolgantes ou chatos, únicos ou triviais. Todos esses momentos juntos formam aquilo que chamamos de vida. Se formos retirar momentos porque foram “desnecessários”, estamos tirando parte de nossas vidas.

Conclusão

Em vez de reclamar, vamos agradecer. Essa é a conclusão à qual precisamos chegar no final dessa reflexão sobre Tudo Bem no Natal que Vem. O natal é conhecido como uma data em que lembramos de coisas boas, de valores positivos, e agradecemos aquilo que temos (mesmo não sendo o ideal que queríamos). Que possamos fazer isso agora e todos os dias. Não só em um dia no ano, mas em todos os 365 dias. Isso não é sinal de resignação (submissão à vontade de alguém ou ao destino), mas ressignificação (dar um novo significado para nossas vidas).

Aprofundando o Assunto

Se você não viu ou quer rever o filme Tudo Bem no Natal que Vem, ele está disponível na Netflix: Tudo Bem no Natal que Vem.

E aí? Você também chorou no final do filme? Diz aí nos comentários! Conhece alguém que é fã desse filme ou que precisa valorizar mais o momento? Compartilha com ela essa reflexão sobre Tudo Bem no Natal que Vem! Quer sugerir reflexões de outros filmes natalinos? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.