Reflexão sobre SEXLIFE: Monogamia e Terceira Via

Reflexão sobre SEXLIFE: Monogamia e Terceira Via

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série SEXLIFE. Nesse drama sexual, vemos uma mulher dividida entre a estabilidade monótona de seu casamento e as aventuras emocionantes de sua vida de solteira. Na reflexão, trabalharei o conceito de monogamia e a existência de uma terceira via que não castre as vontades do casal. Teremos spoilers de alguns acontecimentos da série na parte da reflexão, mas não revelaremos o final. Vamos lá!

Sobre SEX/LIFE (SEM Spoilers)

SEX/LIFE é uma série de drama sexual de 2021. Ela está disponível na Netflix e é baseada no livro 4 homens em 44 capítulos de BB Easton.

Eu chamei de drama sexual pois considero que surgiu um subgênero de filmes e séries desde 50 tons de cinza os quais possuem esse apelo na apresentação de experiências sexuais pelo olhar da mulher. E para deixar claro, não estou criticando. Ao contrário, acho muito válido!

A história é narrada pela protagonista Billie Connelly (Sarah Shahi), que acaba de dar à luz seu segundo filho. Ela vive uma vida pacata de dona de casa no subúrbio de Connecticut, enquanto seu marido Cooper Connelly (Mike Vogel) trabalha diariamente como banqueiro de investimentos em Nova York.

Billie estava cansada da rotina enfadonha que vivia e ainda estava com dificuldades em “apimentar” sua vida sexual com seu marido, que pode ser considerado uma pessoa “burocrática” na cama.

Tudo vai piorar quando ela reencontra seu ex-namorado Brad Simon (Adam Demos), o qual tenta reconquistá-la. Billie lembra da sua vida de solteira, quando ela morava em Nova York, era livre e vivia grandes aventuras sexuais.

Agora, Billie se encontra dividida entre sua vida feliz, mas enfadonha com seu marido; e uma vida turbulenta, mas emocionante com seu ex-namorado.

Para saber quem ela escolherá, assista: SEX/LIFE na Netflix.

Reflexão sobre SEXLIFE: O Tabu da Monogamia

Atualmente, o termo tabu é utilizado para designar aquilo que é proibido. Porém, originalmente, tabu era aquilo que as instituições religiosas separavam do povo por ser sagrado.

Popularmente, tabu costuma ser um assunto o qual as pessoas não gostam de discutir por ser polêmico. E a monogamia é um desses assuntos.

Monogamia é uma forma de relacionamento em que os parceiros sexuais e/ou românticos são únicos e exclusivos. Ou seja, você fica com apenas uma pessoa e essa pessoa fica apenas com você enquanto durar o relacionamento.

No ocidente, a monogamia entre os seres humanos é o padrão de relacionamento. Sua origem é muito antiga e acredita-se que tem motivações biológicas, econômicas e culturais.

As motivações biológicas estão nas necessidades prolongadas de cuidado e criação da prole. O bebê ser humano demora muito para ficar independente. Por isso, a mãe precisa do apoio do pai para cuidar daquela criança ou dela, enquanto ela cuida do filho. Obviamente, o pai aceita essa responsabilidade porque também tem o interesse biológico de sobrevivência do seu filho. Logo, ele se sente obrigado a dar essa contribuição porque sabe que se não o fizer, seus filhos têm muitas chances de morrer ou não se desenvolver adequadamente.

As motivações econômicas são duas. A primeira foi a economia de tempo e energia: como, nas nossas origens, éramos nômades caçadores e coletores, gastávamos muito tempo e energia nas tarefas de sobrevivência; por isso, era mais cômodo nos fixarmos com apenas um parceiro para procriar. A segunda necessidade econômica foi a herança: o homem queria ter certeza que seus bens seriam deixados para seus filhos legítimos e a monogamia da esposa era a única forma de se garantir isso.

As motivações culturais podem ser resumidas à religião cristã e ao amor romântico. A religião cristã instituiu o padrão do casamento monogâmico até que a morte separasse o casal; e como a cultura cristã foi (e ainda é) muito forte na formação das sociedades ocidentais, esse padrão foi transmitido para as constituições nacionais e para a cultura de modo geral. A ideia do amor romântico, que surgiu no século XII, difundiu a ideia de que precisamos encontrar o nosso par, a nossa alma gêmea, pela qual nos apaixonaríamos e nos complementaríamos eternamente, nos bastando um ao outro e nada mais importando; e, quando encontrássemos essa pessoa, nada mais nos faltaria e não teria sentido buscar nada fora dessa relação.

Toda essa história, fez com que, nos dias atuais, ainda vejamos a monogamia como o padrão de relacionamento e o ideal a ser buscado a qualquer custo, não sendo aceito nada fora disso.

Por esse motivo, a traição é vista como uma das maiores atitudes desonestas de uma pessoa e o conceito de traição costuma ser muito restritivo: qualquer atitude que demonstre o mínimo interesse por alguém que não seja o seu parceiro fixo já é condenável.

Outra atitude também condenável pela sociedade é a solteirice. Muitos olham com maus olhos pessoas que decidem permanecer solteiras porque acredita-se que precisamos “encontrar alguém” para viver juntos.

Curiosamente, ao longo da história, mesmo a monogamia sendo o padrão de relacionamento social, várias “válvulas de escape” surgiram: bordéis e casas de prostituição, concubinas, pornografia e divórcio. Todas essas são formas de romper com a monogamia de forma mais ou menos aceita pela sociedade. Inclusive, atualmente existe um conceito chamado de “monogamia intermitente” para justificar o fato de que nos mantemos fiel a uma pessoa por um tempo e, caso “o amor acabe”, nos sentimos livres para terminar com ela e buscar outro para amar.

Ou seja, parece que vivemos em uma sociedade monogâmica, mas não queremos ser monogâmicos. Porém, mantemos as aparências o máximo que conseguimos, dando várias “escapulidas” quando dá e como dá.

Esse é o dilema pela qual passa nossa protagonista Billie Connelly: ela não quer viver esse relacionamento monogâmico, mas todos a sua volta insistem que ela está errada em pensar assim. Todos tentam lhe dizer que ela tem a vida perfeita, a vida que qualquer mulher gostaria de ter e não querem compreender que ela não está satisfeita com essa vida.

A monogamia deveria ser uma opção e não uma obrigação. Só que não é isso que ocorre. Quem tenta criticar a monogamia ou propor algo fora disso acaba sendo massacrado pelos “conservadores”.

Billie demonstra algo que muitos sentem, mas não tem coragem de assumir. Isso ainda é mais sério quando se pensa na mulher, que vive em uma sociedade machista, que repudia a infidelidade feminina, mas “passa pano” para a infidelidade masculina.

Reflexão sobre SEXLIFE: “quem dá segurança, não dá emoção”?

A frase acima foi dita como uma afirmação para Billie, indicando que ela nunca conseguiria um mundo perfeito: ou ela teria o seu casamento estável e monótono, ou ela teria uma aventura amorosa cheia de altos e baixos. Um relacionamento estável, feliz e sexualmente prazeroso seria impossível.

Porém, a série cita a chamada “terceira via”, proposta pela personagem Sasha (Margaret Oette), amiga de Billie. A “terceira via” seria uma metáfora que indicaria a possibilidade de viver tudo aquilo que se quer e espera de um relacionamento: segurança e emoção ao mesmo tempo.

Mas como conseguir isso? Essa é a grande dificuldade porque essa conquista não depende só de um dos parceiros, mas de todos os envolvidos. O sucesso de um relacionamento precisa que todos os envolvidos estejam felizes, mas nem sempre é fácil conseguir que os outros concordem com seus anseios.

É por isso que a maioria dos especialistas dizem que, por mais incômodo que possa parecer em um primeiro momento, as regras de um relacionamento devem se discutidas o mais rápido possível. Ou seja, se você saiu com alguém e quer continuar, precisa dizer o que você espera da relação de vocês, o que você quer e o que você aceita ou não aceita. Assim, desde o começo, já se sabe o que pode e o que não pode e já se sabe se tem ou não futuro.

Agora, os casos em que o relacionamento era estabilizado, mas começou a ficar insustentável são mais delicados. Existem aqueles que não têm dificuldade de se separar e partir para outro relacionamento e esse seria o melhor caminho. Agora, aqueles que não querem a separação, terão um longo e difícil caminho pela frente: terão que convencer o outro ou se convencer a mudar de mentalidade para atender às necessidades do outro.

E quais seriam essas necessidades? Aí temos uma miríade de variações que não se enquadrariam na tradicional monogamia:

Relacionamento aberto: possibilidade de sair e/ou transar com outras pessoas com ou sem o conhecimento / anuência do parceiro (tudo negociado previamente, óbvio);

Poliamor: relacionamento fechado, mas que envolve mais de duas pessoas, podendo todas ficarem entre si ou não;

Swing, Ménage e outras variações sexuais: eventos sexuais como sexo à três, troca de casais, sexo grupal ou orgias também são formas de “sair da rotina” que rompem com a tradicional monogamia, mas mantem o vínculo afetivo exclusivo com uma pessoa.

Todos esses citados acima podem ser considerados relações não-monogâmicas e não são as únicas, talvez apenas as mais famosas ou mais atuais. Isso quer dizer que não é necessariamente isso que uma pessoa precise. Ela vai saber dizer o que precisa em um relacionamos e os outros envolvidos precisam saber se estão dispostos a permitir ou não.

Reflexão sobre SEXLIFE: Xô, hipocrisia!

Agora, mais do que o acordo interno, é preciso que a sociedade também amadureça e deixe de hipocrisia. Temos que parar de querer impor um modelo de relacionamento como se fosse o único certo ou viável. Como seres humanos, somos capazes de mudar e criar novos significados para as coisas, incluindo os conceitos de família, sexo e relacionamento.

Se a sociedade fosse mais tolerante e menos julgadora, mais pessoas teriam coragem de assumir suas insatisfações e mais pessoas teriam coragem de experimentar variações que, no final das contas, poderiam trazer mais benefícios para elas do que o atual modelo de monogamia fechada.

Reflexão sobre SEXLIFE: Conclusão

Como tido desde o começo, o tema central de SEX/LIFE é um assunto tabu na sociedade, especialmente para as mulheres. Que essa reflexão possa ter lhe ajudado a abri um pouco mais a mente, vislumbrar possibilidades e diminuir seus preconceitos com aquilo que é diferente, com aquilo que, inclusive, você nunca experimentou para saber se é bom ou não.

E aí? Curtiu essa reflexão sobre SEXLIFE? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre SEXLIFE? Comenta! Quer uma reflexão sobre outro drama sexual? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

BARDELLA, Ana. A monogamia vai acabar? Universa. Acessado em 01 de outubro de 2022.

LERRER, Débora. Por que somos monogâmicos? Super Interessante. Acessado em 01 de outubro de 2022.

ROLO, Bruno. Monogamia intermitente. Rio maior jornal. Acessado em 01 de outubro de 2022.

Sexo era mais importante que o amor no início da humanidade. Fantástico. Acessado em 01 de outubro de 2022.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.