Reflexão sobre Ozob Protocolo Molotov: Industria Cultural e Cultura de Massa

Reflexão sobre Ozob Protocolo Molotov: Industria Cultural e Cultura de Massa

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o livro Ozob: Volume 1 – Protocolo Molotov. Nesse livro, acompanhamos o replicante Ozob se envolvendo com um grupo de músicos de guerrilha, que estão sendo perseguidos por grande capitalistas aliados do sistema em um mundo futurístico cyberpunk. Na reflexão, mostrarei como acontecimentos desse livro nos revelam o quanto somos influenciados pelas grandes industrias através das artes. Atenção: teremos spoilers do final do livro! Vamos lá!

Sobre Ozob: Volume 1 – Protocolo Molotov (COM Spoilers)

O personagem Ozob surgiu para a grande mídia como um dos personagens do Nerdcast RPG Cyberpunk (uma partida de RPG em áudio dramatizada, sonorizada e editada) em 2013. Após o grande sucesso do personagem, um livro foi escrito sobre sua vida anteriormente aos acontecimentos da história do Nerdcast RPG. Esse livro foi escrito por Leonel Caldela (um famoso escritor de romances de RPG) e Deive Pazos (o criador e jogador do personagem) em 2015.

O universo onde o livro se passa é o cyberpunk. Cyberpunk é um subgênero da ficção científica em que a tecnologia é super avançada, mas a qualidade de vida das pessoas é péssima (normalmente, existindo um desigualdade social ainda mais intensa do que a atual).

Ozob é um replicante (um ser biológico artificial muito semelhante em aparência ao ser humano, mas dotado de atributos maximizados e/ou modificados e que possui uma vida curta – famosos pelo filme Blade Runner) com a aparência de palhaço (inspirado no personagem nacional Bozo). Além dessa já diferente aparência, ele ainda chama mais a atenção por ter uma granada no nariz (o que será explicado ao longo do livro).

Nesse mundo futurístico, grandes corporações detém o poder econômico e político do mundo, fazendo o que bem entendem. A cidade em que se passa a história, Delta City (antiga Nova York), é dividida em níveis, onde os mais pobres vivem nos inferiores e os ricos, nos superiores.

O livro fica alternando entre presente e passado. O passado, em forma de flashbacks, serve para conhecermos a história de vida do Ozob, do seu criador e de sua família. No presente, acompanhamos Ozob conhecendo e fazendo amizade com um grupo de músicos de guerrilha chamado War Roadies.

Os War Roadies se propõem a fazer os chamados shows de guerrilha, cantando músicas que criticam o sistema e atiçando as pessoas a terem um olhar crítico sobre o controle cultural imposto pelas corporações. Como já é de se imaginar, as corporações não querem ter seus interesses afetados e, por isso, enviam mercenários para matar os War Roadies.

Ozob não queria se envolver nesse problema pois tinha acabado de conhecer o grupo. Porém, descobriu que o grupo de mercenários contratado para matar os War Roadies era sua família, a qual ele tinha abandonado por divergências. Por isso, não viu outra alternativa a não ser ajudar os “guerrilheiros” a escaparem.

Ao mesmo tempo em que fugiam, o grupo também decidiu fazer um mega show, que seria transmitido globalmente, para enfrentar o sistema da maior e melhor forma possível.

Será que conseguirão sobreviver e realizar o show? Sé lendo o livro para saber (ou lendo a parte da reflexão)!

Recordando os Conceitos Filosóficos

Ambos os conceitos Indústria Cultural e Cultura de Massa foram propostos pela dupla de filósofos Adorno e Horkheimer da Escola de Frankfurt.

Basicamente, Indústria Cultural foi um termo cunhado para englobar todas as empresas capitalistas que transformaram a arte em mercadoria. Dessa forma, aquilo que deveria ser uma expressão única e sensível de um artista se torna apenas mais um produto para ser vendido, consumido. Com isso, a arte perderia o seu papel crítico e se tornaria entretenimento.

Já a Cultura de Massa representa toda essa cultura empobrecida criada pela Indústria Cultural. Como o objetivo é o lucro, os produtos da Indústria Cultural são feitos de forma padronizada e pasteurizada para que mais pessoas possam consumi-los. Dessa forma, evita-se originalidade (que é um risco) e aposta-se em “mais do mesmo”. Ao mesmo tempo, percebeu-se que o consumo massivo desses produtos permite que as empresas manipulem seu público acrítico através de sugestões ideológicas feitas de forma disfarçada, mas que geram impactos em comportamentos sociais desses indivíduos.

Para saber mais sobre esses temas, recomendo a leitura dos textos Indústria Cultural Descomplicada e Cultura de Massa Descomplicada.

Reflexão sobre Ozob Protocolo Molotov: Eles Querem Controlar a Gente!

Nesse futuro (que não está longe da nossa realidade), as músicas não são mais “impostas” pelas rádios ou programas de TV, mas “são descobertas ao acaso” em redes sociais ou canais de vídeos. Tudo um plano das grandes corporações para fazer parecer que o sucesso repentino de um hit foi vontade das próprias pessoas e não algo pensando estrategicamente pela equipe de marketing daqueles artistas.

Além disso, como os consumidores estavam crentes que eles tinham descoberto essas novidades, compartilhavam tranquilamente e incessantemente esses conteúdos, sem perceberem que estavam ajudando na divulgação daquela música / artista de graça, poupando gastos do marketing e propagando uma mensagem cuidadosamente preparada pela indústria e seus patrocinadores.

A ideia era controlar as massas através de músicas que disfarçavam a realidade e dessem foco em outras questões ou no futuro, como se tudo seria melhor depois. Dessa forma, as pessoas não iriam questionar os problemas atuais porque estariam preocupados com outras coisas ou acreditando que todo aquele sofrimento atual era momentâneo e iria passar.

A música também serviria para controlar comportamentos. Foi citado no livro que músicas foram usadas para exaltar o consumo nas camadas pobres da população incitando seus membros a cometerem crimes e serem presos (para gerar renda nas prisões privativas) ou foram usadas para incentivar a dissolução de casamentos para que as rendas do casal fossem fracionadas e outros tipos de consumo fossem priorizados (pois, normalmente, o consumo dos solteiros é diferente do consumo dos casados).

Em trecho do próprio livro “A cultura moldava a sociedade, e as corporações moldavam a cultura”.

A DataDyne queria lançar um novo hit viral. A corporação estava criando uma nova popstar que cantaria sobre o amor juvenil. As intenções da corporação eram incentivar os jovens da classe média a casarem cedo, deixando de cursar a universidade e trabalhassem em subempregos de nível médio. Ela incentivaria a construção civil (pois seria necessário a criação de moradias para essas novas famílias) e também a migração para colônias espaciais (porque não teria residência a preços acessíveis para todos na Terra). Essa seria a música tema de uma geração, a qual seria influenciada por uma melodia chiclete.

Além disso, o conglomerado do qual a DataDyne faz parte iria começar uma guerra injustificada para tomar o controle de um país asiático por causa de um minério importante. A data de início da invasão seria o mesmo do lançamento da música. Ou seja, a música serviria de cortina de fumaça para diminuir os comentários e notícias sobre a invasão.

Para atingir seu objetivo, todas as pessoas precisavam estar “disponíveis” na hora do “lançamento” da música, e show inesperados de guerrilha iriam atrapalhar esse foco exclusivo. Por isso, a DataDyne via na música de Johnny Molotov um risco. Qualquer um competindo por atenção seria uma probabilidade de fracasso em um plano meticulosamente planejado e de longa duração.

Como vemos, nada é ao acaso no universo cyberpunk de Ozob: Volume 1 – Protocolo Molotov. Todas as decisões sobre o futuro já foram influenciadas pela cultura da época (a qual é controlada por grandes indústrias culturais).

Se olharmos para o nosso mundo atual, as coisas não são muito diferentes. Temos duas grandes empresas de tecnologia que controlam as principais formas de usarmos a internet (Google e Meta) e dois grandes conglomerados de audiovisual (Disney e Comcast) que detêm diversas formas de comunicação audiovisual e licenças. Juntas, elas podem fazer o que quiserem e nós não saberíamos… ou, pior, saberíamos e deixaríamos porque não queremos ficar sem os seus produtos.

Como reflexão pessoal, pense em quantas coisas você já mudou por causa de algum produto cultural que consumiu (filme, série, música). Essas mudanças podem ser em formas de pensar ou de consumir. Tanto faz, pois todas são mudanças na forma como somos ou pensamos. E essas mudanças não vieram da religião ou da educação, mas vieram das mídias.

Mudar não é um problema, o problema é mudar para seguir um padrão cultural pensado para obtenção de lucro de algumas empresas. Essa é a crítica do livro Ozob: Volume 1 – Protocolo Molotov.

Podemos dizer que a arte pode ser usada para o bem ou para mal. Para o mal, é como vemos retratado aqui. Para o bem, é exatamente nas manifestações contraculturais, em que artistas expõem suas visões diferentes de mundo e abrem nossa mente para percebermos que existem outras possibilidades e escolhas na vida.

Reflexão sobre Ozob Protocolo Molotov: Eles Nos Pegaram!

Johnny Molotov nunca tinha dado muito valor para sua vida até descobrir que sua morte seria “inútil” já que ele seria morto apenas para evitar possibilidades de falha no plano. Isso fez com que ele tomasse uma decisão inesperada: ele se vendeu para o sistema!

Como vimos no final do livro, Johnny Molotov fez um acordo com a DataDyne. Em vez de ser morto para garantir o plano, ele preferiu se unir ao plano. Dessa forma, ele se moldaria ao gosto da Indústria Cultural e se tornaria mais uma das faces das corporações. Com isso, além de viver, ele também ganhou uma vida de celebridade, parando de fugir e sofrer e vivendo do bom e do melhor.

Johnny não é muito diferente de vários artistas ou produtores de conteúdos que ficam relativamente famosos por fazerem algo diferente do padrão e depois são contratados por empresas especializadas em produzir padrões culturais. Com algumas mudanças, eles se encaixam no modelo e começam a servir ao sistema.

Podemos culpá-los? Talvez! Se você ainda é jovem e sonhador, possui ideais revolucionários, com certeza será um crítico de Johnny Molotov. Agora, se você já cansou de lutar sem sucesso, viu que não tem como combater o sistema, então entenderá a decisão do músico.

Lutar contra o sistema é muito difícil. O poder deles é imenso e você geralmente está sozinho ou com poucos. Os seus poucos esforços geralmente não trazem muitos resultados e tudo o que você “conserta” é facilmente quebrado.

Falo isso como um professor de ensino médio, que tenta trazer luz para algumas questões “simples” e sérias, mas que é facilmente vencido por celulares, jogos de futebol e dancinhas no TikTok. Falo como Instagrammer que vê seus reels de leitura filosófica com 200 visualizações e seus vídeos fazendo graça com a música do momento com 4 mil visualizações!

Reflexão sobre Ozob Protocolo Molotov: Resistamos!

O livro quer nos mostrar o quanto podemos ser influenciados pelas produções culturais de grandes empresas e o quanto precisamos ficar atentos para não cairmos nas armadilhas feitas por elas. A grande questão é que tudo é feito de forma muito sutil e precisamos desenvolver um censo crítico para saber quando estamos sendo manipulados ou não.

Ninguém está imune a essa Indústria Cultural e ninguém é obrigado a dizer não para tudo e ser um recluso das “novidades”. O importante é ficarmos atentos e buscarmos perceber tudo aquilo que surge, usando da nossa razão para julgar os motivos que levaram algo ou alguém à fama e se precisamos de fato “entrar na onda”.

Conclusão

Ao final dessa reflexão sobre o livro Ozob: Volume 1 – Protocolo Molotov, percebemos o quão difícil é a luta cultural contra o sistema. Além de serem poucos os que participam dessa guerrilha, nós também não ajudamos muito com nossa preguiça em pensar. Precisamos acordar para a realidade e ver quão facilmente somos ou podemos ser manipulados culturalmente. Por isso, precisamos ficar alertas para buscar uma vida mais autêntica, mesmo que seja algo difícil nos dias atuais.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.