Reflexão sobre Loki: Somos Todos Variantes de Loki!?

Reflexão sobre Loki: Somos Todos Variantes de Loki!?

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série Loki. Abordaremos aspectos do personagem desenvolvidos na série e não necessariamente os acontecimentos de grande porte (entenda-se multiverso) que a série trouxe para o MCU. Após a conclusão da série, pudemos conhecer mais sobre esse personagem e a pergunta que me ficou é: todos nós somos uma variante de Loki, no sentido de que sofremos pelo menos algum dos problemas sofridos por esse vilão, que se tornou anti-herói e que agora se encaminha para herói da Marvel? Será isso que refletirei aqui. Atenção que teremos spoilers da série. Vamos lá!

Sobre Loki (COM Spoilers)

Loki é uma minissérie que estreou em 2021 na Disney+, pertencendo ao MCU (Universo Cinematográfico da Marvel, em inglês). A primeira temporada conta com 6 episódio e já está confirmado pelo menos mais uma temporada no futuro.

A série começa em 2012, com Loki (Tom Hiddleston) roubando o Tesseract logo após ser preso pelos Vingadores se aproveitando de uma confusão causada pelos próprios Vingadores que vieram do futuro atrás daquele Tesseract (toda essa confusão é explicada no filme Vingadores: Ultimato). Essa versão de 2012 do Loki, então, viaja no espaço e cai em um deserto. Só que logo depois de sua chegada, chegam também soldados que o prendem o levam para a AVT (Autoridade de Variância Temporal).

Na AVT, Loki descobre que existe uma equipe secreta que mantém a unidade da linha temporal (a linha do tempo sagrada). A função deles é corrigir qualquer distorção que possa existir, a qual acabaria criando ramificações no tempo. Essa variante (termo técnico que a AVT usa para as versões do original da linha do tempo sagrada) de Loki que acompanhamos foi presa porque não estava no “roteiro” original a sua fuga de Nova Iorque e isso criou uma instabilidade que precisava ser corrigida para se evitar uma catástrofe temporal.

“Nosso” Loki seria podado (destruído), mas Mobius (Owen Wilson), um agente da AVT, pede autorização para usar Loki em uma missão: caçar uma variante que estava causando muito problema para a AVT já a algum tempo (uma outra variante de Loki)!

Durante essa familiarização com tudo o que está acontecendo, percebemos que o nosso Loki da série vai aos poucos se transformando naquele Loki de Vingadores: Guerra Infinita, que morreu tentando matar Thanos. Para ajudar a criar as memória futuras desse Loki, Mobius passa o filme da vida de Loki, mostrando os acontecimentos que ele deveria ter vivido após ser preso em Nova Iorque (sua ida para a prisão em Asgard, a morte de sua mãe, o retorno da amizade com Thor, o entendimento com seu pai até culminar no que poderíamos chamar de sacrifício dele). No final da série, podemos dizer que esse Loki é ainda “melhor” do que o Loki que morreu na mão de Thanos.

Enfim, ao longo da série, veremos Loki se confrontando não só com uma, mas com várias variantes suas e, a cada momento, vamos entendendo mais sobre esse personagem complicado.

Obviamente, também veremos como sua busca irá levar à compreensão sobre o que é a AVT, o que é o conceito de multiverso e como suas ações irão deixar as coisas mais complicadas do que estabilizadas.

Reflexão sobre Loki: Entre nossas Variantes Boas e Más

Uma das frases da série que mais repercutiu na Internet foi uma fala de Loki no episódio 02 que dizia “ninguém mal é totalmente mal e ninguém bom é totalmente bom”.

Essa fala me lembrou na hora o símbolo do yin-yang:

Reflexão sobre Loki: yin-yang

No taoísmo, uma tradição filosófica e religiosa oriental, o yin-yang mostra que o todo é um equilíbrio e que existe uma participação do oposto em cada uma das partes.

Nesse caso, como estamos falando de bem e mal, a interpretação que fica é que não existe um ser totalmente bom e um ser totalmente mal. Todos os seres possuem em maior ou menor grau bem e mal nas suas essências.

Santo Agostinho definirá o mal como ausência de bem. Também dirá que Deus não pode evitar que o ser humano cometa atos maus porque existe uma “corrupção” natural da essência humana porque o ser humano é criatura e toda criatura é imperfeita na sua essência.

Logo, se a perfeição é o bem supremo, máximo, todos os seres criados possuem naturalmente uma brecha para cometer atos considerados maus (ou não bons).

Seguindo a mesma lógica, também não existe um ser totalmente mal (o mal máximo) porque o fato de algo existir já é minimamente um bem em si mesmo. Se Deus criou esse ser, parte do bem de Deus passou para esse ser.

E, antes que argumentem isso, mesmo Loki não sendo ser humano, ele ainda seria, na lógica agostiniana, uma criatura racional criada por Deus e, muito provavelmente, sua essência se equipararia à essência humana.

Vemos, com isso, que Loki está de acordo com o taoísmo e com a filosofia cristã, mostrando que não podemos julgar ninguém como totalmente bons ou maus. Mais que isso, Loki também está dizendo para nós mesmos que não somos seres totalmente bons ou totalmente maus.

Isso é muito importante porque vemos Loki por duas vezes (no filme dos Vingadores e na série dele) passar por uma redenção. O vilão se tornando herói.

Loki é um exemplo para todas as pessoas que acham que “não têm mais jeito”, que são “estragadas”, “quebradas”. Loki nos mostra que todos temos dentro de nós a força necessária para mudar, para melhorar.

Conduto, devemos lembrar sempre do contrário. Logo, também não podemos ser pessoas orgulhosas, que se acham as melhores; porque todos temos chance de errar e de deixar “escapulir” uma maldade se não nos policiarmos.

Reflexão sobre Loki: Controlamos para não Sermos Controlados

O grande plot (enredo) da série gira em torno do controle que a AVT possui sobre o universo. Entenda: se a AVT sabe tudo o que está “destinado” a acontecer e todos que, consciente ou inconscientemente, fogem do padrão pré-determinado são podados, a lógica que nos chega é a de que nossas vidas não são nossas, que nossas decisões não são nossas, que tudo já está determinado por algo ou alguém.

Esse tema seria perfeito para uma discussão sobre livre-arbítrio e determinismo, mas eu já fiz isso no artigo sobre a série DARK. Então, se quiserem explicações sobre essas concepções filosóficas e possíveis soluções para esse problema, leiam: Reflexão sobre Dark: Entre o Determinismo e o Livre-Arbítrio.

Dito isso, nessa reflexão sobre Loki, vou focar em uma análise de menor alcance, que é a questão do controle do indivíduo para com outros indivíduos. A série apresenta o problema da seguinte forma: a pessoa controladora é aquela que não quer ser controlada.

Aqui, lembramos daquela máxima usada na guerra e nos esportes: a melhor defesa é o ataque. Contextualizando com o problema do controle, a percepção que tenho é de que as pessoas chamadas de controladoras o fazem porque não querem estar do outro lado da equação, ou seja, ser controladas.

Na série, entendemos que o personagem Loki queria ser o rei de todos os reinos porque ele não aceitava que alguém mandasse nele, que alguém dissesse como ele deveria ou não ser e agir.

Infelizmente (ou felizmente), não dá para termos controle sobre todos os aspectos de nossas vidas porque nossas vidas estão em constante relação com as vidas de outras pessoas e com a natureza em si. Dessa forma, em algum grau acabaremos ficando à mercê de outrem.

As pessoas controladoras tentam minimizar ao máximo essas variáveis ao assumir para si a responsabilidade de gerenciar aquilo que os outros ao seu redor fazem para garantir que as coisas aconteçam do seu jeito. Mas porque elas fazem isso? Porque elas têm medo de terem que fazer do jeito das outras pessoas! E porque elas têm esse medo? Porque o resultado é incerto!

No fim, tudo é medo do desconhecido. Quem controla não quer ser controlado porque não quer enfrentar o desconhecido e acha que, se controlar tudo, conseguirá prever o que irá acontecer. Só que, na vida, as coisas não são assim. Sempre haverá momentos em que as coisas sairão de controle.

Dessa forma, podemos concluir que alguém que quer controlar, o faz para tentar garantir a certeza de resultado, porque tem medo do desconhecido.

Reflexão sobre Loki: Controle como Autossacrifício

Em algum momento da série, Loki justificará suas ações até aquele momento na linha do tempo sagrada dizendo que as pessoas se arrependem constantemente das decisões que tomam e ele iria tirar o peso desse “problema” decidindo as coisas por elas.

Vemos, nisso, o próprio personagem confessando secretamente que ele, no fundo, se arrepende das decisões que tomou. Só que ele não pode admitir isso porque ele criou para si a máscara de senhor de si mesmo perfeito, que sabe de tudo o que faz. Obviamente, isso é uma falácia porque, se fosse verdade, ele teria conseguido conquistar alguma coisa verdadeiramente durante a sua vida até aquele momento.

Com isso, uma outra compreensão que podemos ter de pessoas controladoras (ou que controlam algumas situações) é a de que, provavelmente, elas se arrependeram de decisões que tomaram e acreditam que, fazendo o que fazem, conseguirão evitar que outros cometam os mesmos erros que elas cometeram.

Sendo assim, o controle seria uma espécie de autossacrifício, do tipo “eu assumo essa decisão para você não ter que sofrer com as consequências dela”.

O mais interessante é que, no final da série, ele conhecerá Aquele que Permanece (Jonathan Majors). Aquele que Permanece acaba fazendo aquilo que Loki disse que queria fazer: ele assumiu para si toda a responsabilidade de manter a linha do tempo organizada, para que as pessoas vivessem vidas tranquilas, mesmo que isso custasse a liberdade plena delas e a liberdade total dele mesmo (que ficou escravo do seu próprio trabalho).

Provavelmente, é por isso que Loki se compadeceu dele e entendeu seu propósito, aceitando, de uma certa forma, assumir aquele posto.

Conclusão

No final dessa reflexão, percebemos que a série Loki conseguiu nos mostrar que as coisas não são tão simples quanto parecem. Ao contrário, viver é algo muito complicado, cheio de nuances. Conduto, se as coisas fossem simples demais, não teria tanta graça viver, né? Loki nos deixa, assim, com essas reflexões sobre bem x mal, livre-arbítrio x determinismo, controlar x ser controlado. Qual variante de nós mesmo decidiremos ser a partir de agora? Só depende de nossas escolhas (ou não)!

E aí? O que achou da série? Comenta! Conhece alguém que precisa entender que não é tão bom ou tão mal quanto pensa? Compartilha essa reflexão sobre Loki com ela! Quer sugerir algum tema para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.