Racionalismo de Descartes Descomplicado

Racionalismo de Descartes Descomplicado

Olá, marujos! Hoje vamos explicar o racionalismo de Descartes de um jeito descomplicado. Vamos lembrar quem é esse filósofo, falar da sua dúvida metódica e das suas certezas, e concluir com os tipos de ideias que o ser humano produz.

René Descartes

René Descartes é um filósofo francês do século XVI. Muitos consideram que ele é o fundador do período moderno, pois desenvolveu o método científico para investigação da natureza. Suas contribuições à matemática e a ciência como um todo foram muito importantes para a humanidade. Descartes foi fundamental para a valorização da razão humana como forma de obtenção das verdades do mundo.

Racionalismo de Descartes Descomplicado

O termo racionalismo serve para identificar uma corrente de pensamento filosófico que coloca a razão como única fonte confiável de verdade. O esponte dessa concepção filosófica é Descartes porque seu principal trabalho foi fundamentar a ciência, e a conclusão que ele chegou foi que o fundamento da ciência, a fonte da verdade é a razão humana.

Dúvida Metódica

Para um artigo dedicado à Dúvida Metódica, acesse: Dúvida Metódica Descomplicada.

O processo filosófico de Descartes começou com a dúvida metódica. Ele se propôs a colocar tudo em dúvida e descobrir se existiria alguma coisa da qual não se pudesse duvidar. Para o filósofo, o fundamento da verdade deve ser algo inquestionável, à prova de dúvidas. Segundo sua lógica, se eu posso duvidar de algo, questionando-o, então aquilo não possui 100% de certeza. Consequentemente, não é o fundamento da verdade.

As dúvidas de Descartes ocorreram em três etapas, que consistiram em três argumentos:

  1. Duvidar dos sentidos / Argumento do erro dos sentidos: Descartes demonstra, com uma série de exemplos, que os sentidos não são confiáveis. Ele mostra que mesmo funcionando na maioria das vezes, têm momentos em que eles nos enganam, nos iludem. E se isso ocorre um vez só, já seria motivo para não depositar nos sentidos a fundamentação da verdade. Ou seja, não é porque o meu sentido me mostra alguma coisa que aquilo que ele mostra é verdade.
  2. Duvidar da realidade sensível / Argumento do sonho: Descartes explica que apenas a sensação de realidade do mundo sensível não é suficiente para garantir a certeza e a verdade do mundo. Ele usa como argumento os nossos sonhos, porque os sonhos muitas vezes parecem reais e a gente só percebe que estava sonhando quando acorda. Dessa forma, nada nos garante se o momento que estamos vivendo é o momento do sono (dormindo) ou da vigília (acordado). Logo, não tem como dar certeza a algo que estou vivendo se não sei se essa experiência é real ou um sonho muito verossímil.
  3. Duvidar da matemática e das nossas operações intelectuais / Argumento do gênio maligno: Por fim, Descartes vai argumentar que nem a matemática nem as operações intelectuais podem ser fontes de certeza porque, segundo Descartes, o nosso intelecto poderia ter sido manipulado por uma força externa, que ele chama de gênio maligno. Dessa forma, o modo como pensamos poderia ser uma manipulação e, por isso, não seria garantia de verdade (já que essa verdade estaria manipulada).

Por mais absurdas que possam parecer esses argumentos, não podemos negar que eles fazem algum sentido. E essa “pulga atrás da orelha” deixada por Descartes nos mostra a dificuldade em fundamentar o conhecimento.

Certezas

Para um artigo dedicado às Certezas, acesse: Certezas de Descartes Descomplicadas.

Após por tudo o que era possível em dúvida, Descartes inicia o processo de construção de certezas. Ou seja, ele verá se algo resistiu às dúvidas e, com isso, encontrar uma verdade sólida e começar a fundamentar o conhecimento científico.

Serão três as principais certezas encontradas por Descartes:

  1. Penso, logo existo (Cogito ergo sum): Para Descartes, podemos duvidar de tudo, menos de que duvidamos. Ou seja, a primeira certeza que temos é o fato de que duvidamos. Como a dúvida é uma operação do pensamento, então pensamos. E como não existe pensamento sem alguém que pense, necessariamente precisamos existir. Ou seja, o ser pensante.
  2. Deus existe: Sabendo agora que existimos, Descartes verifica que nós nos entendemos como seres finitos, limitados e imperfeitos. Ao mesmo tempo em que nos entendemos como finitos, limitados e imperfeitos, temos também a compreensão das noções de infinito, ilimitado e perfeito. O que seria infinito, ilimitado e perfeito se não somos nós? Descartes dirá que é Deus, um ser que possui todos os atributos completos. Basicamente, Descartes diz: Se existe o finito, precisa existir o infinito; se existe o limitado, precisa existir o ilimitado; se existe o imperfeito, precisa existir o perfeito.
  3. O mundo existe: Se Deus existe e ele possui todos os atributos, um desses atributos é a bondade. Se Deus é bom, ele não mente. Se ele não mente, então a noção de realidade que temos é verdadeira. Esse seria o oposto do gênio maligno. Ou seja, o nosso mundo é real porque Deus, segundo a concepção de Descartes, não nos enganaria.

Para Descartes, essas seriam as três principais certezas que me dariam confiança para poder conhecer a realidade.

Racionalismo de Descartes Descomplicado: Os Tipos de Ideias

Agora que Descartes possui algumas certezas inquestionáveis, ele quer entender se as ideias que a nossa razão produz correspondem ou não com a realidade. Através do seu método de análise, ele distinguiu três tipos de ideias que o ser humano pode produzir.

Para ele, quando mais clara e distinta é uma ideia, mais verdadeira ela seria. O que isso quer dizer: as ideias formadas em nossa razão possuem diferente objetos e, quanto mais certeza eu tenho da existência desse objeto, mais verdadeira a ideia é.

Aqui, a gente precisa lembrar uma definição de conhecimento como adequação da mente à realidade. Ou seja, o conhecimento ocorre quando a minha mente capta de forma plena aquilo que está na realidade. Descartes percebe que a nossa razão é capaz de produzir alguns tipos de ideias, mas que alguns deles têm correspondência com a realidade e outros não.

Os tipos de ideias segundo Descartes são:

  • Ideias Inatas: são as ideias que nascem com a gente, sendo que nós a compreendemos de forma autoevidente pelo simples fato de sermos humanos, sem precisar de nenhuma experiência sensível com o mundo. Seriam elas: o próprio res cogitans [coisa pensante], a res extensa [coisa extensa], Deus e conceitos matemáticos.

As ideias inatas são as mais claras e distintas que existem porque estão em nossa razão desde sempre. Só o fato de pensarmos já traria a noção de que eu sou uma coisa pensante, que existe um mundo que é extenso (exterior a mim), que existe Deus e os conceitos matemáticos são válidos. Isso tudo, lembrando, só foi possível por causa das certezas que o filósofo encontrou.

  • Ideias Adventícias: são as ideias das coisas no mundo que vêm a nossa mente através dos sentidos e da experiência. Seriam todos os objetos da realidade exterior, tais como: sol, maçã, outras pessoas etc.

As ideias adventícias teriam um grau intermediário de certeza porque elas correspondem à realidade, mas podem ser mal interpretadas pelos nossos sentidos. Elas não seriam inquestionáveis, mas seriam objeto de conhecimento porque são reais. Eu sei que sol, maçã e outras pessoas existem, mas posso me enganar no seu tamanho, aparência, cheiro etc porque preciso dos meus sentidos para interpretar essa realidade.

  • Ideias Factícias: são as ideias criadas pela imaginação. Seriam exemplos todas as ficções que criamos, desde seres fantásticos a obras artísticas, tais como duendes, unicórnios, Harry Potter, O Senhor dos Anéis, Game of Thrones.

As ideias factícias vêm a minha mente como se fossem realidade, mas não possuem nenhum grau de confiabilidade. São ilusões criadas pela minha imaginação que chegam a minha mente. Essas ideias não merecem nenhuma credibilidade e nem podem ser objeto de estudo porque não correspondem a nada real.

Racionalismo de Descartes Descomplicado: Conclusão

Para Descartes, o fundamento da ciência é a razão, porque somente ela possui um conhecimento certo, inquestionável e autoevidente. Qualquer outra coisa possui algum tipo de falha e poderia colocar em risco a análise científica. As ideias inatas são sempre certas; as ideia adventícias podem ter algum grau de falha; e as ideias factícias estão sempre erradas. Com essa conclusão Descartes coloca a razão humana como a maior fonte de certeza para se obter as verdades do mundo.

E aí? O que achou da teoria de Descartes? Deixa nos comentários! Gostou dessa explicação de um jeito descomplicado sobre o racionalismo de Descartes? Compartilha com outras pessoas! Ficou ainda alguma dúvida? Entra em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.