Certezas de Descartes Descomplicadas

Certezas de Descartes Descomplicadas

Certezas de Descartes Descomplicadas

Olá, marujos! Hoje vamos entender as certezas cartesianas de forma que fiquem descomplicadas. Ou seja, se antes ele pôs tudo em dúvida através do seu método de só aceitar aquilo que fosse 100% garantido, aquilo que fosse à prova de qualquer questionamento (conhecido como Dúvida Metódica), hoje veremos quais as certezas que ele conseguiu encontrar. Essa é a segunda parte de um artigo que explica todo o encadeamento lógico do pensamento de Descartes. Se você não leu a primeira parte, que foca nas dúvidas, pode lê-lo aqui.

Sobre Descartes

Você pode encontrar um breve resumo sobre a vida de Descartes na primeira parte desse artigo.

As Dúvidas de Descartes (resumo)

Se você já leu o primeiro artigo, vou apenas revisar brevemente o que vimos lá para você retomar o raciocínio que estávamos tendo:

  1. Descartes começou duvidando dos sentidos e provou que eles falham (não podemos confiar nos sentidos);
  2. Depois, ele questionou a existência do mundo sensível, já que podemos ser capazes de confundir os momentos em que estamos acordados e os momentos que estamos dormindo (não podemos confiar na existência do mundo sensível);
  3. Por fim, ele questiona até mesmo a matemática e o raciocínio lógico, pois essa dedução poderia ter sido manipulada por um gênio maligno poderosíssimo que confundiriam nossa mente (não podemos confiar na matemática e nas operações intelectuais).

As Certezas de Descartes Descomplicadas

Primeira Certeza

Após por tudo o que se poderia imaginar em dúvida, Descartes percebe algo fantástico: eu posso duvidar de tudo, menos de que estou duvidando! Ou seja, a Dúvida em si é uma certeza!

Para deixar mais claro: pelo método da dúvida, eu fui capaz de duvidar de tudo. Entretanto, eu não posso duvidar de que eu esteja duvidando. No momento em que eu duvido da minha dúvida, eu acabo afirmando a sua existência. E se eu aceito que não dá para duvidar de que estou duvidando, eu encontro uma certeza inquestionável.

Ainda nessa descoberta, Descartes admite que não existe uma “entidade” dúvida, na verdade a dúvida é uma operação do pensamento. Ou seja, uma das coisas que o pensamento faz é duvidar. Dessa forma, se existe a dúvida, tem que existir o pensamento. E se o ato de duvidar é certeza, o ato de pensar também é: “Se duvido, penso”.

Aprofundando um pouco mais, o filósofo tem outra constatação: também não existe uma “entidade” pensamento. O ato de pensar precisa necessariamente de algo que pense, um ser pensante, alguém que exerce o ato de pensar, elaborar o pensamento. Logo, se existe pensamento, existe um ser pensante.

“Se duvido, penso. Se penso, existo”. Ou, dito de forma mais simples: “Penso, logo existo” (Cogito ergo sum). Essa é a primeira certeza cartesiana. A nossa existência! Mas é preciso fazer um parêntese aqui: Ele tem a certeza da existência dele, enquanto que nós, seguindo o método dele, temos a certeza de nossa existência. Pensa comigo: foi você quem duvidou, logo foi você quem pensou. Sendo, por fim, certo de que você existe. Em nenhum momento esse raciocínio garantiu outra coisa além do fato de que você existe como “coisa pensante” (e apenas você). Mas calma que melhora.

Primeira Certeza: Eu existo!

Segunda Certeza

Agora, sabendo que eu existo, eu tento interpretar quem eu sou. E uma das coisas mais básicas sobre a minha existência é de que ela é finita, limitada e imperfeita. Ou seja, quando tentando entender quem somos, essas três características nos vêm forte: somos seres finitos, limitados e imperfeitos.

Oras, como seria possível pensarmos a noção de finito, limitado e imperfeito se não existisse necessariamente o seu contraponto, no caso o infinito, o ilimitado e o perfeito. Para que fique mais claro para você: quando você diz que algo está caro, é porque você comparou isso com algo barato e vice-versa. Quando você diz que algo é feio, é porque você tem uma noção do que seja algo bonito e aquilo que você comparou não tinha as características necessárias. Quando você diz que uma atitude foi injusta, é porque você tem noção do que seja justiça.

Se em nosso pensamento, pensamos que somos finitos, é porque existe uma noção de finitude; e se nós somos aquilo que dá significado ao finito, tem algo que dá o significado de infinito. A mesma coisa acontece com as noções de limite e imperfeição: se somos o que dá o significado dos adjetivos limitado e imperfeito, teve existir algo que dê significado ao termo ilimitado e perfeito. Em outras palavras, deve existir algo que seja ao mesmo tempo infinito, ilimitado e perfeito. O nome que damos para esse ser é Deus. Ou seja, Deus existe.

Pode parecer loucura, mas foi assim que Descartes provou a existência de Deus. Ele mostrou que Deus e o contraponto do ser humano. Que ele é real porque é Ele que dá para o ser humano as noções características que se opõem ao que nós somos. Como curiosidade, podemos ver que Deus é a segunda certeza cartesiano, sendo a primeira a existência o eu do ser humano. Essa nova perspectiva inaugura o antropocentrismo, o homem no centro do universo; em detrimento do antigo teocentrismo, Deus no centro do universo. Não é mais a certeza de Deus que garante a existência do ser humano, mas sim a existência do ser humano que garante a existência de Deus.

Segunda Certeza: Deus existe!

Terceira Certeza

Agora sabemos certamente que Eu existo e que Deus existe, mas ainda não temos certeza se o mundo existe. É nesse momento que entra o poder de Deus em ação.

Se Deus é perfeito, ele não engana; porque enganar seria uma atitude errada, injusta, e Deus não pode agir dessa forma. Logo, se Deus não engana, ele não nos poderia fazer sentir uma realidade que não existisse. Ou seja, se sentimos a existência de uma realidade, ela é real, porque se não fosse, estaríamos sendo enganados por Deus. A verdade de Deus garante a verdade do mundo que sentimos. Ele é real sim, porque Deus é real. Descartes diz que Deus age em sua infinita bondade ao dar realidade ao mundo que sentimos.

Vamos tentar de uma outra forma para não restar dúvidas: é inquestionável o fato que sentimos a existência das coisas, a dúvida sempre foi se essas coisas são exatamente iguais ao que sentimos ou estaríamos nos equivocando. Vou pegar o exemplo do filme Matrix: quando você come um frango, você sente gosto de frango, mas que garantia você tem que aquele é exatamente o gosto do frango? Para Descartes, a bondade de Deus não deixaria que nós sentíssemos um gosto que não correspondesse à realidade. Ou seja, se sentimos gosto de frango Deus garante que aquele é o gosto de frango, e mais, que aquele frango é real e que estamos comendo-o de verdade (e não um sonho).

Terceira Certeza: a Realidade existe!

Certezas de Descartes Descomplicadas: Resumo

Descartes encontrou as certezas que buscava. Ele conseguiu encontrar um fundamento sólido, um conhecimento inquestionável. Na verdade, ele encontrou três certezas. Por mais que elas sejam um encadeamento de ideias, elas acontecem meio que ao mesmo tempo: Eu existo, Deus existe, a Realidade existe.

Para ele, todas essas certezas estão na nossa razão, ou seja, são fundamentos inatos de nossa mente (ou seja, fundamentos que estão desde sempre lá). Nós já nascemos sabendo disso. Nós não precisamos de nada exterior a nós mesmos para ter essas certezas (Eu, Deus e a Realidade existem).

É por isso que Descartes vai dizer que a origem de todo o conhecimento está em nossa razão, em nosso raciocínio, porque é lá que estão as certezas fundamentais sobre todo o resto que vamos um dia conhecer.

Todo o conhecimento, para Descartes, se fundamenta na Razão humana. Assim surge o Racionalismo moderno, a corrente filosófica que defende que a origem do conhecimento está na Razão, única fonte confiável e válida para se obter um conhecimento verdadeiro.

Certezas de Descartes Descomplicadas: Conclusão

Com esse artigo, em que vimos as certezas de Descartes de uma forma que ficaram descomplicadas, terminamos o raciocínio empreendido por René Descartes para achar o fundamento do conhecimento: a Razão humana. Nesse artigo, conseguimos ver como as dúvidas mais profundas também podem nos levar às certezas mais profundas. Descartes sabia que ele existia, Deus existia e a realidade existia, mas ele não queria apenas afirmar isso, ele queria fundamentar isso, para se tornar algo inquestionável, certo. Assim também devemos ser, nunca afirmando algo por afirma, mas sim fundamento nossas ideias, trazendo bons argumentos para defender nossas opiniões.

E aí? Acha que esse método de Descartes para chegar às certezas é o melhor? Deixa aí nos comentários! Quer fazer a cabeça de algum amigo seu “explodir” novamente? Compartilha com ele esse artigo! Ainda não conseguiu entender as Certezas de Descartes? Entra em contato comigo que eu te ajudo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.