Olá, marujos! Hoje faremos uma reflexão sobre Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, o mais novo filme da Pixar / Disney. Esse é mais um lindo filme de animação para todas as idades que faz uma ótima reflexão sobre os desafios de ser um irmão mais novo órfão e as mudanças (e problemas) causados pelo estilo de vida contemporâneo no nosso modo de viver. Teremos alguns spoilers do filme, então fiquem avisados. Vamos lá!
Sobre Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica é um filme bem legal produzido pela Pixar e lançado pela Disney que acabou sendo afetado pela pandemia do coronavírus. Aqui no Brasil, com os cinemas fechados, ele chegou diretamente em streaming na Amazon Prime Video.
Em um universo fantástico, as criaturas foram se modernizando, desenvolvendo tecnologias e perdendo seus hábitos primitivos. Hoje, elas vivem uma realidade típica da nossa atualidade. Magias, aventuras, mistérios e fantasia agora só existem em um jogo de RPG inspirado no passado da cidade.
O filme começa no dia do décimo sexto aniversário de Ian Lightfoot, o irmão mais novo da família. Ele é um garoto extremamente tímido e desajeitado, podemos até mesmo dizer acovardado. Seu irmão mais velho é Barley Lightfoot, um entusiasta do passado da cidade, defensor da sua história e viciado em RPG.
Ambos são órfãos de pai, que morreu quando Barley era criança e Ian ainda estava na barriga da mãe, Laurel Lightfoot. Ian e Barley não se dão bem, mostrando-se muito diferentes um do outro.
O fato de nunca ter conhecido o pai afeta muito Ian, fazendo com que ele tente ser alguém mais extrovertido e corajoso como era o seu pai; mas não consegue. As coisas mudam quando ele recebe um presente guardado pelo pai para aquela data especial: um cajado mágico que possibilita fazer um feitiço que traria o pai de volta por 24 horas. Barley, que é o cara entendido do assunto, tenta o feitiço, mas não possui magia. Ian, distraidamente, diz as palavras mágicas e a magia começa, mas como ele não tinha se preparado para aquilo, a magia acontece pela metade e só é revivido metade do pai (dos pés até a cintura).
Confusos com tudo aquilo, mas esperançosos, os dois irmãos saem em uma aventura juntos para achar uma outra pedra fênix, necessária para completar a magia. Porém, eles só tem 24 horas para isso já que o feitiço já começou e só pode ser feito uma vez.
Reflexão sobre Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica pela Vida Familiar
O filme tem como grande reflexão a superação pessoal e familiar de Ian e Barley. É interessante pensar que o nome original do filme é Onward, que significa Avante, para frente. Ao longo do filme, a cada obstáculo superado, vemos a amizade dos irmãos aumentarem, assim como suas confianças em si mesmos, quando eles acreditam que são capazes.
Barley é um jovem considerado “inútil”. Aparentemente, não estuda nem trabalha. Passa a maior parte do tempo tentando defender pontos históricos da cidade e jogando RPG. Ele sabe tudo de magia e coisas fantásticas, informações obtidas em um jogo de RPG inspirado na realidade passada da cidade. Percebemos, com o desenrolador do filme, que ele recorreu a esse mundo para fugir do seu trauma de infância: ele não teve coragem de se despedir do seu pai no leito de morte. Isso o marcou e vemos que a coragem que ele impregna no jogo e nas suas fantasias é uma forma de compensação (ou, como Freud diria, sublimação) da covardia do seu ato no mundo real.
Ian, por outro lado, é o cara ignorado pela galera. Não fala com ninguém, não tem amigos, não sabe se impor. Não conheceu o pai e demonstra sofrimento por causa disso. De uma forma indireta, culpa seu jeito por não ter tido seu pai para “ensiná-lo a ser homem”. Quando ele vê a chance de ter um dia com seu pai, ele se desafia a lutar pelo seu sonho. Durante a jornada, vai aos poucos adquirindo confiança em si mesmo e começa a agir de forma corajosa e destemida.
Ian e Barley não se davam bem. Se Ian tinha 16 anos, Barley deveria ter uns 19-20 anos. Vemos que ainda está naquele momento em que ambos habitam “mundos” diferentes, pois não estão na mesma fase da vida. Eu tenho um irmão cinco anos mais novo que eu e a gente só conseguiu “falar a mesma língua” quando ele tinha seus 18 anos, porque os dois já estavam na mesma fase adulta da vida, com maturidade suficiente para nos entendermos e entendermos a vida do outro. Não que a gente se odiava, mas vivíamos brigando e nos implicando por coisas que hoje são “besteiras” para gente…
Além de Ian sentir falta do pai, percebemos que ele esperava em Barley a figura paterna que ele precisava. Só que Barley não atingia as expectativas de Ian. Por isso e outras coisas, Ian considerava Barley um inútil, fato que chateou em muito Barley. O irmão mais velho sabia que não era perfeito porque ele mesmo tinha seus traumas, mas acreditava que estava fazendo um bom trabalho com seu irmão mais novo, educando-o, protegendo-o, cuidando dele. A constatação de Ian o decepcionou.
As coisas entre eles só começam a mudar quando Ian, já desiludido porque não conseguiram a segunda pedra fênix, percebe que tudo aquilo que ele queria fazer com seu pai, ele fez com o seu irmão mais velho. Ou seja, tudo o que ele esperava do pai foi concretizado com Barley, mas Ian não percebeu porque não soube dar os créditos necessários ao esforço de Barley. Com isso, podemos pensar quantas vezes nós não damos valor para o esforço de nossos parentes. Nós criamos um ideal a ser atingido e ignoramos tudo o que é feito pelas pessoas somente porque, a princípio, não foi aquele ideal que tínhamos imaginado.
Ian queria que o pai lhe ensinasse tudo, e acabou ignorando que Barley havia feito isso. Um filho se decepciona com o pai que não lhe deu o celular que ele havia pedido, mas não reconhece o esforço feito pelo pai para dar um celular mais básico ao mesmo tempo em que tem que pagar todas as contas da casa. Um marido reclama de comer a mesma comida em dias seguidos, mas não reconhece que a casa está limpa e os filhos bem cuidados. A mãe reclama das notas baixas do filho, mas não reconhece o esforço dele em tentar aprender a matéria, que muitas vezes é dificultado por algum problema social, psicológico ou pedagógico ignorado pela mãe. Esses são só alguns exemplos que mostram nosso desapontamento com familiares que não fazem o que a gente quer, sendo que, na verdade, deveríamos valorizar o esforço deles em fazerem o melhor que podiam. Lembremos: ninguém é perfeito!
Reflexão sobre Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica pelo Modo de Viver
Outra reflexão interessante trazida pelo filme é um sutil crítica à forma como nós deixamos a tecnologia e as facilidades cotidianas acabarem com “a magia” da vida simples e natural.
O exemplo mais evidente é exatamente a existência da magia em si, que foi esquecida depois que a tecnologia surgiu. O exemplo mais explorado no filme foi o fogo sendo substituído pela lâmpada. Contudo, outros exemplos são trazidos como a tentativa de demolição de uma fonte histórica; as fadas que tinham esquecido que eram capazes de voar e andavam de moto; a manticora que tinha abandonado seus estilo de vida rústico e se tornado uma empreendedora de restaurante estilo casa de festas; e o centauro que não galopava mais, andando apenas de carro.
Essa crítica não é um pedido de retrocesso, mas de relembramento. Não é para voltarmos a viver como no passado, mas não deixar o presente estragar nosso futuro. É perfeitamente viável viver um vida com as tecnologias existentes sem esquecer nossas origens e preservá-las. Um exemplo nerd é o retorno dos jogos de tabuleiro depois de uma época em que as pessoas só jogavam videogame, normalmente sozinhas em casa. Um exemplo de atividade física foi a popularização de circuitos externos, com exercícios ao ar livre em substituição aos treinos em academias fechadas. Na mobilidade urbana, a valorização do uso da bicicleta em substituição ao uso de carro, ônibus e outros meios de transporte coletivo. Esses são pequenos exemplos de formas de viver uma vida mais social, mais saudável, mais natural sem ignorar as tecnologias que temos hoje.
Conclusão
Ao final dessa reflexão sobre Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, fica a mensagem de valorizarmos o esforço dos nossos familiares e de preservarmos hábitos naturais em nossas vidas. Quanto aos nossos familiares, fica o convite para primeiro agradecer o que eles fizeram por nós antes de cobrarmos o que eles não fizeram. Quanto aos nossos hábitos, fica o convite para você descobrir, dentro da sua rotina, o que você pode fazer para se conectar presencialmente com outras pessoas e com a natureza, fazendo da tecnologia uma aliada e não uma inimiga da vida simples.
E aí? O que achou do filme? Deixa nos comentários! Acredita que alguém precisa agradecer mais e/ou viver uma vida mais simples? Compartilha esse artigo com ele ou ela! Quer dar alguma sugestão para o blog ou tirar alguma dúvida? Entra em contato comigo.
Até a próxima e tenham uma boa viagem!