Positivismo de Comte Descomplicado

Positivismo de Comte Descomplicado

Olá, marujos! Hoje explicaremos o positivismo de Auguste Comte de um jeito descomplicado. Irei fazer uma breve biografia do filósofo e depois explicar sua teoria filosófica e seus conceitos, que fundaram uma corrente filosófica, uma nova forma de pensar a ciência e até mesmo uma religião. Vamos lá!

Sobre Comte

Auguste Comte nasceu em 19 de janeiro de 1798 na cidade de Montpellier, França. Desde jovem, já se interessava pelas ciências naturais e, por isso, foi estudar na Escola Politécnica de Paris em 1814, aos dezesseis anos.

Aos 19 anos, ele se tornou secretário de Saint-Simon, um dos maiores representantes do chamado socialismo utópico. Nesse período, Comte teve a oportunidade de estar próximo da sociedade intelectual francesa e desenvolveu muitos princípios que norteariam suas ideias filosóficas. Em 1824, Comte deixa a sua função por discordâncias intelectuais com Saint-Simon.

Comte foi casado por 17 anos com Caroline Massin. Nesse período, ele teve altos e baixos. Foi a época em que escreveu suas obras mais famosas, em que desenvolveu a sua teoria positivista; mas também sofreu de um colapso nervoso e chegou a tentar suicídio.

Comte também foi amigo de John Stuart Mill. Junto com ele, desenvolveu a religião da humanidade, que ficou conhecida como religião positivista.

Comte estava trabalhando em um série de livros quando morreu aos 59 anos devido a um câncer no estômago em 5 de setembro de 1857, em Paris.

Positivismo de Comte Descomplicado: Método Positivista e Cientificismo

O termo positivismo deriva do latim positum, que significa “aquilo que está posto, situado”. Com isso, percebemos que Comte valoriza o método empírico de análise da realidade, valorizando aquilo que é observável, experimentável e comparável.

O método positivista nada mais é do que a defesa da aplicação da Ciência (e do método científico) em todas as formas de investigação humana. Segundo o filósofo, apenas a análise científica consegue obter as informações precisas sobre a realidade, compreendendo suas leis, suas relações de causa e efeito. Assim, a ciência se torna capaz de explicar a realidade, possibilitando planejamento e projeção.

Comte vai propor o abandono de todas as teorias teológicas e metafísicas, que se baseiam puramente na imaginação. E aceitará apenas teorias que podem ser comprovadas cientificamente, ou seja, que se baseiam em elementos observáveis, experimentáveis e comparáveis.

Essa crença irrestrita na Ciência resultará no que conhecemos como Cientificismo, termo cunhado para designar o pensamento de que a Ciência é a única forma de conhecimento capaz de encontrar a verdade sobre as coisas. Podemos dizer que Comte era um cientificista.

Positivismo de Comte Descomplicado: Lei dos Três Estados

O positivismo de Comte parte da sua teoria conhecida como lei dos três estados. Para o filósofo, a humanidade passou por uma evolução ao longo das eras, em que ela foi aprimorando a sua forma de compreender a realidade. Essa evolução se deu em três estágios, sendo que já nos encontramos no último deles.

É preciso lembrar que não existe uma concepção fixa de linha do tempo, sendo esses estados mais vinculados ao pensamento de uma determinada sociedade do que um período histórico específico. Entretanto, irei citar uma linha temporal cronológica aproximada para facilitar a compreensão dessa evolução.

1° Estado: Teológico (ou Fictício)

Nesse estágio, o ser humano busca explicar a realidade através da ação arbitrária de deuses e seres sobrenaturais. A raça humana estaria preocupada em explicar os “porquês” das coisas. Sendo assim, todos os fenômenos naturais eram justificados pela ação de um ser sobrenatural consciente, que deliberadamente escolhia fazer aquilo.

O Estado Teológico se subdividia em três fases:

1ª. Fetichismo: quando o poder sobrenatural era dado a um elemento da natureza.

Como exemplo, podemos pensar na mitologia grega e lembrar que cada aspecto da natureza era um titã (Gaia/Terra; Oceanus/Oceanos; Uranos/Céu; Chronos/Tempo).

2ª. Politeísmo: quando o poder sobrenatural era a concepção de uma série de deuses que agiam na natureza.

Como exemplo, podemos pensar na mitologia grega e lembrar nas funções que cada deus olimpiano tinha: os maremotos era o movimento das águas do mar enquanto Poseidon caminhava, os raios eram dardos lançados por Zeus na Terra, o sol se movimentava porque era puxado por uma carruagem comandada pelo deus Apolo e por aí vai.

3ª. Monoteísmo: quando o poder sobrenatural era a concepção de um único deus que agiam na natureza.

Como exemplo, podemos pensar na religião judaica, em que seu deus foi capaz de lançar dez pragas no povo egípcio e ainda foi capaz de abrir o Mar Vermelho para os hebreus fugirem.

Normalmente, associamos o período Teológico ao período entre o surgimento da humanidade e o surgimento da filosofia.

2° Estado: Metafísico (ou Abstrato)

Nesse estágio, o ser humano começa a buscar explicações para a realidade através da razão. Contudo, ele continua buscando os “porquês” das coisas. Para satisfazer sua busca, o ser humano acaba criando conceitos abstratos para justificar os motivos das coisas serem como são.

Como exemplo, temos os conceitos filosóficos como “Mundo das Ideias” de Platão para explicar a essência incorruptível das coisas; “Motor Imóvel” de Aristóteles para explicar a origem do movimento / transformação das coisas, entre outros.

Normalmente, associamos o período Metafísico ao período entre o surgimento da filosofia e a revolução científica.

3° Estado: Positivo (ou Científico)

Nesse estágio, o ser humano continua usando da razão para explicar a realidade. Contudo, ele não busca mais o “porquê” (motivos) das coisas serem como são, mas sim o “como” elas são. Abandona-se o uso da imaginação e prioriza-se o usa da observação. As explicações são dadas através de leis gerais, leis que regem o funcionamento da natureza e de toda a realidade.

Como exemplo, temos as leis da física de Newton (lei da Inércia, da Superposição de Forças e da Ação e Reação) e a lei da química de Lavoisier (na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma). Elas buscam explicar como funciona a natureza, mas abandonam a explicação do porquê é desse jeito e não de outra forma.

Normalmente, associamos esse período Positivo ao período da revolução científica até os dias atuais (para Comte, o Estado Positivo era o último).

Positivismo de Comte Descomplicado: Sociologia

Comte acreditava que era necessária uma ciência para explicar a sociedade, as relações sociais.  Para ele, apenas uma ciência conseguiria colocar ordem na sociedade, assim como as demais ciência colocaram “ordem” na natureza.

Da mesma forma como existem relações de causa e efeito na natureza, também existiriam essas relações na sociedade e deveria existir uma ciência social para compreendê-las para, com isso, podemos compreender o funcionamento das sociedades.

Comte chamará essa ciência social de Sociologia.

Positivismo de Comte Descomplicado: Religião da Humanidade

Com a superação do estado teológico, Comte viu a necessidade de se criar uma religião positiva, uma religião que substituísse o culto a Deus pelo culto à humanidade.

Inspirado na religião católica, Comte elaborou toda uma doutrina, com regras, dogmas, ritos e venerações. No lugar de Deus, a humanidade. No lugar dos santos, figuras de destaque da comunidade científica. No lugar das igrejas, institutos científicos.

Positivismo de Comte Descomplicado: Política Positivista e Positivismo no Brasil

O pensamento positivista também deveria estar presente na política. Sendo assim, o sucesso de uma sociedade estava diretamente ligado às decisões racionais do seu governo. Para tanto, os líderes de uma sociedade deveriam ser pessoas cultas e instruídas, intelectuais que saberiam valorizar e aplicar as ciências na condução da sociedade. Somente assim, segundo Comte, haveria sucesso político.

Seu pensamento influenciou os líderes do movimento republicano no Brasil. O lema de nossa bandeira “Ordem e Progresso” é inspirado na frase de Comte: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”. Podemos interpretar essa frase como o amor pela humanidade e a ordem trazida pela sociologia. Juntos, a sociedade alcançaria um progresso nas esferas sociais e econômicas.

Positivismo de Comte Descomplicado: Conclusão

Auguste Comte é considerado o primeiro filósofo da ciência, no sentido moderno do termo. Percebemos, assim, que sua teoria positivista é uma espécie de filosofia da ciência, mas focada não só na aplicação tradicional da ciência, como também na aplicação dela em todas as esferas da realidade humana. Por mais que ele tivesse boas intenções, seu pensamento estava muito permeado pelas revoluções tecnológicas de sua época, que lhe fizeram crer que a Ciência e a Tecnologia resolveriam todos os problemas da humanidade.

E aí? O que acharam do pensamento positivista de Comte? Deixa nos comentários! Gostou? Compartilha! Quer sugerir algum tema para o blog? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

———————————————————————————————

Referência

Coleção Ensino Médio 2ª série: Volume 3 – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 54 p.: il.

Infoescola (https://www.infoescola.com/sociologia/lei-dos-tres-estados/)

Wikipédia (verbetes Auguste Comte e Positivismo)

Posted in Epistemologia / Filosofia da Ciência, Filosofia Descomplicada and tagged , , , , , , , , , , , , , , .

Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.