Estoicismo Descomplicado: Filosofia da Natureza e Ética

Estoicismo Descomplicado: Filosofia da Natureza e Ética

Olá, marujos! Hoje explicaremos o estoicismo de um jeito descomplicado. Vamos falar da origem dessa corrente filosófica e sua subdivisão, citar seus principais representantes e explicar suas principais teorias físicas e éticas. Vamos lá!

Estoicismo Descomplicado: Origem

Estoicismo é uma das escolas que se desenvolveram no período filosófico conhecido como helenismo. Nessa época, a Grécia era colônia da Macedônia (que, depois, viria a sucumbir ao Império Romano). Por isso, essa escola tem grandes representantes gregos e romanos.

O estoicismo começou com Zenão de Cítio por volta de 301 a.C. Os assuntos propostos por Zenão eram das áreas de lógica, física, metafísica e ética. Por um período de tempo, essa proposta filosófica ficou conhecida como zenomismo. Posteriormente, a corrente recebeu o nome de estoicismo para que os ensinamentos não ficassem apegados à figura de Zenão.

Estoicismo vem do local grego Stoa Poikile (Pórtico Pintado). Esse pórtico era uma colunata (longa fileira de colunas) que ficava no lado norte da ágora (praça central de Atenas) e tinha decorações de várias batalhas importantes.

Zenão ensinava nesse lugar porque ele não podia ter uma casa em Atenas, já que era estrangeiro.

O estoicismo só ficou famoso em Atenas com o Crísipo de Solos, maior discípulo de Zenão. Foi ele que deu o formato do que conhecemos hoje por estoicismo. 

Os estudiosos dividem a escola estoica em três momentos:

Estoicismo Antigo – Da sua fundação (com Zenão) até Antípatro de Tarso (de 301 a.C. até meados do século II a.C.). Era a doutrina estoica “pura” (lógica, física, metafísica e ética). Os praticantes eram apenas gregos

Estoicismo Médio – Representado por Panécio de Rodes e Possidônio (entre meados do século II a.C. e meados do século I a.C.). A escola estoica agora está na cidade de Rodes e ela recebe estudantes tanto gregos como romanos. Com esse contato, a escola começa a receber influência da cultura romana nas suas doutrinas.

Estoicismo Tardio – Praticado em Roma, também é conhecido como estoicismo imperial ou novo estoicismo (de meados do século I a.C. até 529 d.C., quando foi proibida pelo imperador Justiniano). A doutrina estoica original recebeu um contorno prático e religioso. Os principais representantes são Epiteto, Sêneca e Marco Aurélio.

Estoicismo Descomplicado: Física (Filosofia da Natureza)

Microcosmo x Macrocosmo

A visão física dos estoicos defendia que todo o universo é uma mesma substância, que poderia ser chamada de Deus ou Natureza. Essa substância possuía duas classes: a passiva – chamada de matéria – e a ativa – chamada de destino ou razão universal.

O ser humano seria uma espécie de microcosmo se comparado com o universo (que seria o macrocosmo). O ser humano e os demais animais seriam uma combinação dessa matéria passiva com um emanação da matéria ativa. Essa emanação recebeu o nome de alma.

Dessa forma, todo o universo (incluindo os seres humanos) participam dessa substância única e estão sujeitos às transformações propostas pelo destino.

Todos nós devemos entender que, ao morrermos, iremos nos reintegrar com a Natureza e nossa matéria servirá para gerar outras coisas.

Estoicismo Descomplicado: Ética

Felicidade

A ética estoica também busca a felicidade (eudaimonia). 

O caminho estoico para a felicidade é a aceitação que somos um com o universo e que tudo o que ocorre nele (inclusive conosco) faz parte da razão universal.

Logo, a forma correta a se viver é seguindo a lei da natureza. Esse é o objetivo estoico.

Essa felicidade só é alcançada em nosso interior através de uma vida virtuosa. Os estoicos defendiam a justiça, a honestidade, a moderação, a simplicidade, a autodisciplina e a fortaleza (entendida como coragem para suportar as mudanças). 

Todos os bens materiais (como riqueza) e externos (como fama e beleza) são indiferentes para se alcançar a felicidade. 

Para atingir esse objetivo, precisamos desenvolver a apatheia.

Apatheia

Apatheia significa literalmente “sem paixão”, mas uma melhor tradução seria “ausência de perturbação das emoções” porque o sentido de “paixão” no grego antigo era de “reação passiva aos acontecimentos externos”.

Essa ausência de perturbações trazida pelos estoicos significa o não sofrimento com as coisas que a vida nos proporciona. Se tudo está determinado pela razão superior, e se eu faço parte desse todo, é meu dever aceitar tudo o que acontece em minha vida. Logo, não posso ficar sofrendo e me lamento por aquilo que deixei de ter/fazer ou aquilo que aconteceu comigo.

Os estoicos vão dizer que a infelicidade está na recusa de aceitar os desígnios da Natureza.  É como se tudo fizesse parte do plano e é nosso dever seguir esse plano.

Ao nos recusarmos a seguir o plano, sofremos. Agora, quando aceitamos o plano, somos felizes porque nos sentimos participantes ativos da razão universal.

Se pensarmos na pandemia que estamos vivendo (esse artigo foi escrito em abril/2021), os estoicos diriam que devemos aceitar tudo o que está acontecendo e lidar com calma. Se nossas vidas mudaram por causa dela, devemos calmamente nos adaptarmos às mudanças sem reclamar, sem querer voltar a fazer o que se fazia. É jogar a nova regra do jogo sem se preocupar se as coisas voltarão a ser como eram antes. É viver tranquilamente o “novo normal”.

Está feliz quem aceitou as mudanças e se adaptou a elas. Está infeliz e sofrendo quem só faz reclamar e dizer que a vida era boa como era antes, não aceita a mudança e se recusa a se adaptar.

Apatheia é não se deixar abalar com aquilo que acontece com você, e isso deve ser entendido também para fatores considerados positivos:

Se você fica rico do nada (ganha na Mega-Sena), você não deve mudar seu comportamento ou seu jeito de ser. Você precisa sim se adaptar a essa nova realidade, mas não precisa mudar quem você é e como você trata as outras pessoas, por exemplo.

Mal como Ignorância

Seguindo o pensamento de Sócrates, os estoicos também entendiam que os atos maus se davam por ignorância das pessoas, ignorância do fato de que todos nós pertencemos à Natureza e precisamos seguir os seus desígnios. As pessoas que não entendem isso são ignorantes e acabam sendo infelizes e praticando ações más na tentativa de lutar contra a força do destino.

Pensem, por exemplo, em alguém que assalte porque quer dinheiro (e não aceita a condição financeira que tem) ou estupre alguém porque quer satisfazer o seu prazer (e não aceita o fato de que aquela pessoa não o/a queria como parceiro/parceira sexual).

Estoicismo Descomplicado: Ensinando esse Conteúdo

Caso precise ensinar esse conteúdo em sala de aula e queira fazer alguma coisa diferente, recomendo a leitura do artigo: Estoicismo Através de Dinâmica.

Estoicismo Descomplicado: Conclusão

O estoicismo é uma corrente filosófica que “voltou à moda” recentemente como um caminho que direciona as pessoas à felicidade, nessa aceitação tranquila das mudanças que a vida nos proporciona e que são incontroláveis por nós. Em tempos difíceis, é bom saber que a felicidade só depende de nós e que podemos, com nossa aceitação, contribuir para o adequado decurso da natureza. Que possamos, estoicos ou não, agir com tranquilidade diante das mudanças que a vida nos proporciona. 

E aí? O que você achou da filosofia estoica? Deixa sua opinião nos comentários! Conhece alguém que precisa praticar a filosofia estoica o mais rápido possível? Compartilha esse artigo com ela! Quer sugerir algum tema para o blog? Entra em contato comigo

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

WIKIPÉDIA. Verbetes Eudaimonia, Stoa Poikile e Stoicism

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.