Estética de Kant Descomplicada: Juízo Estético, Belo e Sublime

Estética de Kant Descomplicada: Juízo Estético, Belo e Sublime

Olá, marujos! Hoje, explicarei a Estética de Kant de uma forma descomplicada. Após breve introdução ao filósofo, explicarei o que ele entende por juízo estético e como ele conceitua o belo e o sublime. Também explicarei seu conceito de obra de arte. Usarei uma linguagem simples e exemplos. Vamos lá!

Estética de Kant Descomplicada: Sobre Kant

Immanuel Kant nasceu em 22 de abril de 1724 na cidade de Königsberg, Prússia (hoje, a cidade se chama Kaliningrado e pertence à Rússia). Filho de família humilde, estudou, viveu e morreu em sua cidade natal. Seu ofício foi de professor na Universidade de Königsberg. Não casou nem teve filhos. Morreu em 12 de fevereiro de 1804, aos 79 anos.

A obra kantiana dedicada ao estudo da estética é a Crítica da Faculdade de Julgar ou Crítica da Faculdade do Juízo.

       

Estética de Kant Descomplicada: O Juízo Estético

Definição

Os juízos estéticos são julgamentos que o ser humano faz de um objeto com uma finalidade subjetiva, baseada no sentimento de prazer ou desprazer.

Exemplificando: ao escutar um funk, eu posso julgar o que é aquilo (no caso, uma música no estilo funk) e esse seria um julgamento de conhecimento; eu posso julgar se a letra da música é ou não moralmente apropriada para o ambiente e esse seria um julgamento ético; e, por fim, eu posso julgar se essa música me causa prazer ou desprazer e esse seria um juízo estético.

Contudo, é importante destacar que o juízo estético é desinteressado. Isso significa que, seguindo o exemplo da música, sentimos prazer ao escutar uma música porque a achamos bela ou sentimos desprazer por acharmos essa música feia. Um juízo interessado seria dizer que a música é bela porque sentimos prazer e feia porque sentimos desprazer. Resumindo: no juízo estético, primeiro vem a compreensão da beleza/feiura e só depois vem a sensação de prazer/desprazer.

Universalidade e Necessidade

A grande pergunta de Kant é se o conceito da beleza possibilita que, quando se determina que algo seja belo ou sublime, outras pessoas possam ratificar essas conclusões. O filósofo concluirá que sim.

Os juízos estéticos possuem validez universal e necessária. Isso quer dizer que ele é verdadeiro e comunicável (outras pessoas podem perceber). Porém, ele não é demonstrável (não dá para fazer um experimento para explicar porque algo é belo ou não).

Vale destacar que essa universalidade e necessidade da beleza não são características do objeto e sim características da mente humana que aprecia aquele objeto (fato que Kant chama de “senso comum”). Ou seja, por nós acharmos um objeto belo, nós achamos que todos conseguirão olhar para ele e também achá-lo belo.

Sem Propósito

Por último, ao fazermos um julgamento estético, parece-nos que o objeto belo nos afeta como se tivesse um propósito mesmo ele não tendo um propósito quando foi criado. Por exemplo, um filhotinho de cachorro ou gato nos suscita beleza, mas a mamãe cadela ou gata não fizeram aqueles filhotes com essa intenção de nos causar esse sentimento.

Estética de Kant Descomplicada: O Belo

Definição

O filósofo define a beleza como “o que agrada universalmente, sem relação com qualquer conceito”. Dessa forma, Kant será contra a compreensão da beleza tanto como algo subjetivo (porque não dependente do gosto pessoal do espectador) quanto como algo objetivo (porque não dá para determinar uma característica específica no objeto que o defina como belo).

A beleza é um sentimento sentido pelo espectador após apreciar algo específico que lhe suscita esse sentimento.

Distinção da Agradabilidade e de Utilidade

Além disso, o sentimento do belo se distingue do sentimento de agradabilidade e de utilidade.

Agradável é um sentimento particular, enquanto a e beleza seria um sentimento universal. Logo, eu posso gostar de ver filmes de comédia (me agrada) e não gostar de ver filmes de terror (me desagrada). Mas isso não é motivo para julgar a beleza estética de um filme. Se um filme é julgado como belo, ele é belo para todos (quer essa pessoa goste ou não de um determinado gênero de filme).

Já o sentimento de utilidade está relacionado a um uso racional daquele objeto. Logo, um livro não pode ser julgado como belo porque ele encaixa perfeitamente na estante ou feio porque não serve de apoio para uma decoração sua. A beleza de um livro está no seu conteúdo.

Jogo Harmonioso

A beleza, segundo Kant, está no jogo harmonioso entre pensamento e sentimento. Por isso, a beleza não está só no sentimento e nem só na racionalidade utilitarista.

Quando dizemos que algo é belo, estamos dizendo que ele está de acordo com a natureza, em uma certa ordem ou organização natural com o todo. Nós não conseguimos explicar isso, mas sentimos isso.

Todos os seres humanos conseguem perceber a beleza com um pouco de cultivo social porque o objeto belo suscita naturalmente prazer no ser humano. Por exemplo, qualquer pessoa consegue olhar para o quadro Mona Lisa ou para um botão de rosa e achá-los belo.

Estética de Kant Descomplicada: O Sublime

Observação Inicial

Quando Kant analisa a beleza, ele analisa primeiramente a chamada beleza natural. Essa seria a beleza das flores ou dos animais, por exemplo. Só depois ele dirá que a análise da beleza das obras de arte é a mesma da análise da beleza natural. Esse esclarecimento é importante para que a análise do sublime feita pelo filósofo faça sentido.

Definição

O sublime, para Kant, é um estado subjetivo de temor e admiração do ser humano diante de uma manifestação grandiosa e/ou poderosas da natureza, como uma enorme montanha, um mar tempestuoso ou um furacão. É a contemplação do infinito ou da infinitude.

Segundo o filósofo, diante dessas manifestações naturais, o ser humano vive um misto de humilhação e maravilhamento. Humilhação porque ele se sente pequeno diante daquilo e maravilhamento porque ele compreende que aquilo está para além do controle de seus sentidos. Você compreende a grandeza daquilo, mas não sabe como quantificar aquilo.

Esse misto de sensações lhe causa uma sensação prazerosa assim como ocorre na compreensão da beleza natural.

Diferentemente da beleza, em que o objeto é classificado como belo, no sublime, a manifestação natural serve como médium, como veículo. Isso quer dizer que o que admiramos não é a montanha, o mar tempestuoso ou o furacão, mas algo que não sabemos exatamente o que é, uma espécie de atmosfera, que provoca em nós a sensação do sublime.

Tipos de Sublime

Existem dois tipos de sublime para Kant: o matemático e o dinâmico.

O sublime matemático se refere àquilo que eu não consigo dimensionar devido a sua extensão, quantidade ou grandeza. Um exemplo é um céu estrelado.

O sublime dinâmico se refere àquilo que eu não consigo dimensionar devido a sua potência ou força. Um exemplo é a erupção de um vulcão.

Também existem casos em que o sublime matemático e dinâmico aparecem juntos, como no caso de um furacão (ele é grandioso e potente ao mesmo tempo).

Compreendendo a nossa Infinitude

Diante do sublime, nós sentimos a humilhação das nossas sensações porque sabemos que nosso corpo frágil não suporta aquele tamanho ou força; é algo muito maior do que nós. Porém, ao mesmo tempo, associamos a infinitude da manifestação natural com a infinitude de nossa razão. O ser humano é um ser terrestre, com limitações físicas, mas com uma racionalidade infinita. É nessa hora que ocorre de fato a sublimação.

Outra comparação que Kant faz é com a infinitude da liberdade humana, que ele chama de liberdade absoluta. Por mais poderoso e magnânimo que seja um evento natural descomunal, sabemos dentro de nós que ele não se compara com a grandeza da nossa liberdade. Dessa forma, “viramos o jogo” e a sensação prazerosa que sentimos é o sublime.

O julgamento estético do sublime não é tão simples quando o julgamento estético da beleza. Para apreciar o sublime, o ser humano precisa de uma cultura um pouco mais refinada para, diante da manifestação natural, não ficar apenas na humilhação, na derrota para aquela atmosfera. Como dito anteriormente, a sublimação exige que “vençamos” a infinitude da manifestação natural com o reconhecimento da infinitude da nossa racionalidade e/ou liberdade.

Como exemplo do que foi dito acima, podemos pensar como algumas pessoas temem e se apavoram com tempestades, enquanto outros admiram aquela cena caótica.

Um bom filme que mostra esse “jogo” do sublime é Twister (1996).

Estética de Kant Descomplicada: A Obra de Arte

Segundo Kant, as obras de arte são criações conscientes, porque são feitas pelos seres humanos e não surgem de forma espontânea na natureza. Porém, mesmo sendo obras artificiais e conscientes, elas precisam passar a sensação de terem sido feitas inconscientemente, como se surgissem naturalmente das mãos do artista.

Gênio

É por isso, inclusive, que Kant dirá que os verdadeiros artistas possuem a faculdade do gênio, devido a sua originalidade de criação dessas obras artísticas. Essa faculdade seria uma predisposição mental inata de algumas pessoas. Ou seja, somente algumas pessoas nasceriam já com esse gênio para a criação original dessas belas artes que parecem ter sido feitas naturalmente, quase que “sem querer”.

Originalidade

A parte da originalidade é muito importante para Kant. Uma obra que imita ou copia outra não seria verdadeiramente uma obra artística. O máximo que pode ocorrer é uma influência ou inspiração durante a criação. Por exemplo, os filmes do Quentin Tarantino são obras de arte porque são originais, mesmo ele fazendo várias referências e se inspirando em diversos filmes da cultura pop que ele apreciava quando mais novo.

Ideias Estéticas

Outro conceito importante na criação artística é o de “ideias estéticas”. Uma ideia estética é um exibição bem-sucedida de uma ideia através de um conjunto de apresentações sensíveis. A ideia estética seria o contraponto da “ideia racional” (que seria uma exibição bem-sucedida de uma ideia através de um conceito).

Por exemplo, Thomas Hobbes explica racionalmente, no seu livro Leviatã, como seria uma sociedade sem as leis do Estado. Da mesma forma, os filmes da franquia Uma noite de crime mostram através de imagens e diálogos como age uma sociedade que fica praticamente sem lei durante um dia no ano.

Arte Desinteressada

Outro fator importante para Kant é que a arte precisa estar livre de qualquer interesse durante a criação do produto. Isso significa que o artista precisa trabalhar de forma desinteressada, fazendo a chamada “arte pela arte”, transpondo suas ideias estéticas naquele objeto artístico sem nenhum interesse específico.

Isso, porém, não quer dizer que a arte não possa ser comercializada. Por exemplo, eu posso pintar um quadro de forma livre e depois vendê-lo. Ou posso receber a encomenda de um tema a ser pintado e fazê-lo da forma como eu bem quiser. O problema seria eu criar a arte com um certo interesse em agradar meu cliente sendo que eu não faria aquilo se não fosse uma exigência dele. Nesse caso, aquilo que era arte se torna um trabalho.

Estética de Kant Descomplicada: Conclusão

A estética de Kant não é algo simples de compreender em um primeiro momento. Talvez, a maior dificuldade se encontra no fato de suas explicações iniciais se basearem na chamada beleza natural (uma flor, uma paisagem, um animal) e não na beleza das obras de arte. Porém, depois de algumas releituras de suas ideias, somadas a uma aproximação com exemplos mais contemporâneos, seu pensamento fica um pouco mais fácil.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Estética de Kant Descomplicada: Referências

BURNHAM, Douglas. Immanuel Kant: Aesthetics. The Internet Encyclopedia of Philosophy. Disponível em https://iep.utm.edu/kantaest/. Acessado em 18 fev. 2023.

Kant (I). Coleção Os pensadores. Traduções de Carlos Lopes de Mattos et al. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

WIKIPÉDIA. Verbete Immanuel Kant.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.