Olá, marujos! Hoje, mostrarei como você pode estar ensinando a Lei dos Três Estados de Comte através de um jogo. Nesse jogo, os alunos terão que ler e colocar na ordem uma série de explicações que já foram dadas para a origem e funcionamento da natureza. O objetivo da atividade é mostrar aos alunos a diversidade de explicações que já surgiram e foram aceitas sobre a origem e funcionamento da natureza ao mesmo tempo em que eles são introduzidos ao tema da aula, que será desenvolvido pelo professor. Vamos lá!
Ensinando Lei dos Três Estados através de Jogo: Relembrando o Conceito
Auguste Comte foi um filósofo francês do final do século XVIII o qual ficou conhecido como fundador do positivismo e da sociologia.
Sua teoria positivista começa com outra teoria filosófica denominada lei dos três estados.
Segundo a lei dos três estados, a humanidade passou por três etapas na interpretação dos fenômenos naturais:
1°. Estado teológico: onde as explicações sobre a natureza eram justificadas pela existência de seres sobrenaturais;
2°. Estado metafísico: onde as explicações sobre a natureza eram justificadas com o uso de conceitos puramente abstratos;
3°. Estado positivo: onde as explicações sobre a natureza eram dadas através de conceitos científicos e elaboração de leis naturais.
Para o filósofo, o estado positivo era a última etapa da evolução humana na compreensão da natureza e a verdadeira. Nesse estado, os seres humanos seriam capazes de explicar como a natureza funciona de forma lógica e acertada.
Para uma explicação mais aprofundada e descomplicada sobre esse tema, recomendo a leitura do artigo: Positivismo de Comte Descomplicado: Lei dos Três Estados.
Ensinando Lei dos Três Estados através de Jogo: Jogo Timeline dos Estados Comtianos
Apresentação
O jogo que elaborei consiste em entregar aos grupos de alunos 12 fichas contendo diferentes explicações sobre a origem do universo ou de algum fenômeno natural.
Os alunos precisam ler com calma e tentarem descobrir qual é a ordem histórica correta da criação dessas explicações. Ou seja, organizar as fichas de tal forma que as primeiras sejam as explicações mais antigas e as últimas sejam as explicações mais atuais.
Segue abaixo uma imagem com a folha contendo as 12 explicações (nessa imagem, temos dois jogos das 12 explicações):
Gabarito
A ordem cronológica das explicações, com os criadores de cada teoria e a época em que foram criadas, é a seguinte:
1. Foi o grito da ave Bennu na criação do mundo, que marcou o início do tempo (Mitologia egípcia – c. 2500 a.C.);
2. A terra foi criada por Deus a partir do nada, durante seis dias de trabalho (Mitologia judaica – c. 1800 a.C.);
3. As erupções vulcânicas ocorrem quando o dragão Fucanglong sai da terra (mitologia chinesa – c. 1100 a.C.);
4. O Raio é um dardo de Zeus lançado sobre a terra (mitologia grega – c. 700 a.C.);
5. Arché seria o princípio constituinte de tudo, um elemento primordial que seria eterno, que está presente em tudo o que existe e está sempre em movimento (pré-socráticos – c. 600 a.C.);
6. Existem Ideias Perfeitas que são as essências incorruptíveis das coisas (Platão – c. 428 a.C.);
7. Existe um “motor imóvel” que explica a origem do movimento / transformação das coisas (Aristóteles – c. 384 a.C.);
8. Todo o universo é uma mesma substância, a qual possui duas classes: a passiva – chamada de matéria – e a ativa – chamada de destino ou razão universal (Estoicismo – c. 301 a.C.);
9. A Terra e os demais planetas se movem ao redor de um ponto vizinho ao Sol, sendo este, o verdadeiro centro do Sistema Solar (Copérnico – c. 1500 d.C.);
10. Um corpo muda seu movimento de acordo com a força imprimida nele (Newton – c. 1687 d.C.);
11. Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma (Lavoisier – c. 1775 d.C.);
12. A atmosfera primitiva da Terra apresentava compostos que sofreram a ação de raios e da radiação ultravioleta, dando origem a moléculas orgânicas simples (Oparin e Haldane – c. 1930 d.C.).
Preparação do Jogo em Casa
Você deve imprimir uma folha para cada dois grupos de trabalho e cortar as 24 fichas, tomando o cuidado de não misturar os jogos de fichas. Eu sugiro trabalhar com uma média de cinco alunos por grupo.
Recomendo colar a folha (antes de cortar as fichas) ou as fichas já cortadas em um papelão fino ou papel cartão para evitar que voem e se percam. Fora, é claro, que garante mais maneabilidade e durabilidade ao material.
Links para download do arquivo: Timeline dos Estados Comtianos (PDF).
Preparação no Começo da Aula
- Divida a turma em grupos;
- Entregue um kit com as fichas das explicações já embaralhadas para cada grupo.
Jogando
- Explique aos alunos que as fichas contêm 12 explicações sobre a origem da natureza ou fenômenos naturais que foram dados ao longo da história da humanidade;
- Explique que os alunos precisam colocar essas fichas em ordem cronológica, ou seja, da explicação mais antiga para a explicação mais recente;
- Diga que o grupo que acertar mais ganhará;
- Dê um tempo para a execução dessa tarefa. Acredito que 15-20 minutos sejam suficientes;
- Inicie o jogo e vá acompanhando a execução, tirando dúvidas dos grupos sem dar as respostas;
- No final do tempo ou se todos os grupos acabarem antes, faça a verificação dos erros e acertos e declare o vencedor.
Premiação
Eu costumo dar 1,0 ponto para o grupo que acertar mais.
Para não decepcionar os demais grupos, você pode dar 0,5 ponto para os grupos que acertaram mais da metade, mas não ganharam; e 0,25 pontos para os grupos que acertaram menos da metade e não ganharam.
Parte Teórica
Após concluir o jogo, o professor deve explicar o conteúdo. Normalmente, nessas aulas, eu explico:
- Quem foi Comte;
- Sua teoria dos três estados;
- Origem do Positivismo;
- Origem do Cientificismo.
Variação
Para a criação desse jogo, eu me inspirei no jogo Timeline. Nesse jogo de cartas, os jogadores precisam alinhar eventos históricos com base nas cartas que já estão na mesa, tentando adivinhar se a carta que ele tem na mão ocorreu antes ou depois dos eventos que já foram revelados no tabuleiro.
Para entender melhor a dinâmica de uma partida, veja esse vídeo: Timeline – Como Jogar.
Meu jogo até pode ser jogado assim, mas para ele ficar legal e dinâmico, seria necessário criar novas fichas, o que demandaria um pouco mais de pesquisa.
Para se ter uma noção, o jogo timeline contém 55 cartas. Logo, o indicado é que se tenha pelo menos 50 fichas de explicações diferentes.
Caso alguém faça e queira compartilhar conosco, será muito legal!
Observação Importante
Na minha pesquisa para montar as fichas que usei, percebi que algumas explicações teológicas ocorreram depois de algumas explicações metafísicas, e isso é normal porque estamos falando de diferentes povos que não se conheciam e não trocavam conhecimento entre si.
O próprio Comte compreende isso e deixa claro que essa divisão histórica que ele vez não é 100% rigorosa, servindo mais como um norte para compreender o pensamento geral da humanidade, mesmo tendo algumas exceções.
Para não confundir meus alunos, optei por colocar no jogo apenas eventos que seguem rigorosamente a ordem dos três estados. Porém, nada impede que você coloque outras explicações que possam embaralhar mais essa linha do tempo, e eu acredito que isso até será necessário caso se precise produzir 50 fichas de explicações para jogar a versão “original” do jogo.
Ensinando Lei dos Três Estados através de Jogo: Interdisciplinaridade
Esse jogo permite uma interdisciplinaridade com artes, história, ciências e sociologia.
a) Artes
Se você observar o jogo original, as cartas são ilustradas e deixam tudo mais bonito e até mais fácil de compreender. Por isso, pode haver uma parceria entre os professores de filosofia e artes para que os alunos produzam as ilustrações que serão impressas nas fichas a serem utilizadas no jogo.
b) História
Como o jogo mostra uma linha do tempo, apresentando diferentes povos em diferentes épocas, mostrando diferentes formas de compreensão da natureza, o professor de história pode aproveitar isso para mostrar um pouco da história por trás dos povos antigos e/ou explicar as mudanças históricas que possibilitaram ou foram possibilitadas com as novas interpretações da natureza.
c) Ciências
Como o jogo fala da evolução humana na compreensão da natureza, o professor de ciências pode aproveitar para explicar melhor como foram as mudanças históricas para se chegar até o modo de se fazer ciência na atualidade.
d) Sociologia
O estado positivo é o último estado comtiano e, com isso, o filósofo achava que tudo poderia ser respondido com a ciência – inclusive a sociedade. Esse é o gancho que o professor de sociologia pode utilizar para explicar a origem da sua disciplina.
Ensinando Lei dos Três Estados através de Jogo: Conclusão
Esse é mais um jogo simples e barato que o professor pode fazer para dinamizar sua sala de aula e ajudar os alunos a compreenderem de forma lúdica a disciplina de filosofia. Além disso, como mostrado, ele é cheio de interdisciplinaridades e pode até servir para ser aplicado em projetos escolares – como feira de ciências.
E aí? Alguma parte ficou confusa? Deixa sua dúvida nos comentários! Conhece algum professor de filosofia? Compartilha esse artigo com ele! Quer sugerir outros conteúdos para receberem uma aula diferenciada? Entra em contato comigo!
Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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