Empirismo de David Hume Descomplicado

Empirismo de David Hume Descomplicado

Empirismo de David Hume Descomplicado

Olá, marujos! Hoje vamos explicar o Empirismo de David Hume de um jeito descomplicado. Buscarei, através de uma linguagem simples e com exemplos, explicar suas principais teorias: impressões e ideias; associações de ideias; crítica à causalidade; e o seu ceticismo. Também vou fazer uma breve bibliografia para apresentar o filósofo. Vamos lá!

David Hume

Hume nasceu em 1711 em Edimburgo, na Escócia. Desde novo mostrou aptidão para os estudos. Por isso, aos doze anos de idade, foi enviado à Universidade de Edimburgo. Apesar da família querer que ele estudasse direito, ele se interessou pela filosofia.

Depois de muitos estudos, fadiga mental e experiências com trabalho no comércio e estadia na França, lança seu primeiro livro Tratado da Natureza Humana em 1739, como parte de uma coleção denominada Tratado, de quatro volumes. Ele criou muitas expectativas pela obra, mas ela pouco foi percebida, sendo considerada abstrata e ininteligível.

Hume reescrever seu livro, relançando em 1748 com um texto mais acessível, rebatizando-o de Investigação sobre o entendimento Humano. Mesmo assim, não alcançou o público que pretendia.

O filósofo continuou escrevendo e realizando diversos trabalhos para se sustentar. Só conseguiu certa fama pela coleção de livros que lançou sobre a história da Inglaterra. Faleceu em 1776 na mesma cidade em que nasceu.

Empirismo de David Hume Descomplicado

Impressões e Ideias

Para David Hume, o conhecimento procede da experiência. O conhecimento se dá através de dois tipos: impressões e ideias.

As impressões são as sensações, paixões e emoções que experimentamos. Ou seja, tudo aquilo que experimentamos da forma mais imediata possível. Por exemplo, a cor de uma flor que estamos vendo é uma impressão, assim como a dor que sentimos quando chutamos uma pedra.

As impressões podem ser simples ou complexas. São simples as impressões ligadas exclusivamente a um dos sentidos. Por exemplo, a sensação de frio ou calor (tato) ou o gosto (paladar). Já as impressões complexas envolvem um conjunto de sentidos, quando apreendemos o objeto como um todo. Por exemplo, mesa (juntamos o sentido do tato para sentir a textura dela, assim como o sentido da visão para saber o formato e a cor dela).

Já as ideias são as imagens produzidas em nossas mentes vindas das impressões. É aquilo que fica em nossa memória após termos tido a impressão. Usando o mesmo exemplo dado acima, quando eu lembro da cor de um flor que vi ontem, estou tendo uma ideia daquela cor; a mesma coisa vale quando lembro de uma dor que senti semana passada quando machuquei o dedo do pé após uma topada em uma pedra.

Assim como as impressões, também temos ideias simples e complexas. As ideias simples são as lembranças de algo exclusivo de um sentido (exemplo: o frio ou calor que senti ontem a noite, ou o sabor de uma fruta que comi no café da manhã). As ideias complexas são a lembrança de um conjunto de impressões, de um objeto como um todo (exemplo: a ideia que tenho da mesa do restaurante que fui semana passada).

Como podemos perceber, as impressões passam uma informação muito mais precisa que uma ideia. As impressões possuem um grau de vivacidade maior que qualquer ideia. E quanto mais tempo se passa da experiência em si, menos viva é a ideia que tenho daquela experiência.

Associação de Ideias

A faculdade da mente humana responsável por guardar as impressões é a memória. A memória somente armazena as ideias. Já a imaginação é a faculdade da mente humana capaz de compor, combinar, separar e distinguir essas ideias. É a imaginação que junta as ideias, podendo tanto criar coisas fantasiosas quando fazer associações de ideias.

A criação fantasiosa ocorrente quando juntamos duas impressões distintas para criar uma ideia nova que não corresponde a nenhuma impressão antes experimentada. Como exemplos clássicos, temos a ideia de sereia (que seria a junção da ideia de peixe com a de mulher) e a de montanha de ouro (juntando as ideias de montanha e ouro). 

Já a associação de ideias pode ocorrer de três formas:

a) Contiguidade (no espaço e no tempo): contiguidade significa aproximação. Logo, a forma mais básica de se associar ideias é através da aproximação de ideias distintas devido ao tempo ou ao espaço (entendido como lugar).

Um exemplo de contiguidade espacial acontece quando lembramos de alguém quando sentimos o cheiro do perfume dela. Quando tivemos a impressão daquela pessoa (ou seja, quando estivemos com ela), o seu perfume também estava presente. Daí, quando sentimos o mesmo perfume em outra situação, associamos aquele cheiro àquela pessoa.

Um exemplo de contiguidade temporal acontece quando vai chegando o final de semana e você já começa a ficar mais feliz, alegre porque será um dia de descanso ou comemoração. Você faz isso porque associou impressões felizes e alegres de outros fins de semana e cria a expectativa dos mesmos sentimentos para esse fim de semana que está por vir. Podemos fazer a mesma relação ao dia do seu aniversário: se você teve boas experiências em aniversários anteriores, é provável que se sinta feliz quando o dia dele chega no ano seguinte; se você teve experiências ruins, é provável que você se sinta triste ou incomodado nesse dia; tudo isso sem saber ainda como o dia será.

b) Semelhança: esse tipo de associação de ideia surge quando você junta duas ideias de coisas que se assemelham, se parecem. 

O exemplo clássico é o da foto. Você olha para uma foto e lembra da pessoas retratada naquela foto. Também serve uma gravação de vídeo, em que você lembra o momento vivido.

c) Causa e efeito: quando frequentemente ocorre um fato seguido do outro, criamos a relação de causa e efeito, que é associar uma ideia que ocorreu em um momento X com outra coisa que ocorre logo após aquele momento X.

Um exemplo é quando você coloca uma comida para esquentar no micro-ondas. Você espera que depois de algum tempo lá dentro a comida saia quente. Outro exemplo: quando você paga um boleto, você espera que a empresa dê como quitado aquele débito.

Crítica à Causalidade

Dos três tipos de associações possíveis, Hume vai considera a causalidade como a mais problemática. O motivo está na crença e no hábito.

O ser humano, devido ao hábito, se acostuma a ver frequentemente coisas acontecendo em sequência aparentemente lógicas. Se o sol nasce, ele vai se por. Se o sol se põe, ele vai nascer no dia seguinte. Se eu trabalhei todo o mês, receberei um salário no final do mês. Se eu coloco um bolo para assar, ele sairá assado. Se eu pego um ônibus que está com a palavra CENTRO escrita como destino, ele irá para o Centro da cidade, e por aí vai.

O hábito de sempre acontecerem os mesmos resultados (efeitos) pelos mesmos motivos (causas) cria em nós uma confiança quase que cega de que existe um padrão inviolável. Ele chama essa atitude de crença. Nós cremos / acreditamos que sempre que ocorrer o evento A irá também ocorrer o evento B.

Acontece que, segundo Hume, nós só temos a confirmação de que o evento B vai ocorrer quando ele de fato ocorrer. Quando ele passar de uma ideia (lembrança de uma experiência passada) para uma impressão (experiência atual). Os fatos só se concretizam quando eles ocorrem. Enquanto eles não ocorrem, temos apenas uma expectativa.

Hume vai dizer que a associação de ideias do tipo causa e efeito fez com que o ser humano, devido ao hábito de sempre observar fatos ocorridos em uma aproximação espaço-temporal, acreditasse (cresse) que existe uma conexão obrigatória entre eles. Contudo, segundo o filósofo, essa conexão é circunstancial, podendo ter ocorrido diversas vezes, mas sem a garantia de que continuará ocorrendo. Lembrem: para ele, só é garantido aquilo que está sendo experimentado naquele exato momento.

O Ceticismo de Hume

As ciências trabalham basicamente com a relação de causa e efeito. Um fenômeno é gerado por algo anterior e/ou é o causador de algo que ocorrerá. A lei da gravidade, por exemplo, nos garantiria que tudo aquilo que é solto no ar será puxado para o centro da terra. A dilatação térmica diz que os corpos dilatam quando esquentados. Essas leis funcionam, mas nunca podemos ter certeza que funcionarão sempre, porque a certeza só viria na experiência.

Hume é cético quanto a possibilidade de certeza da ciência. O filósofo defende que a ciência trabalha com probabilidades e não com certezas. O método científico é indutivo, ou seja, parte de exemplos concretos para uma teoria geral. Como só é certo e seguro um conhecimento vindo de uma impressão, a ciência só faz previsões, não sendo capaz de nos dar um conhecimento garantido sobre o mundo.

Empirismo de David Hume Descomplicado: Conclusão

Temos aqui mais um artigo da área filosófica da Teoria do Conhecimento. David Hume foi o maior expoente do Empirismo Inglês do século XVII e XVIII. Sua teoria contestará o pensamento Racionalista de Descartes e despertará Kant do seu sono dogmático (palavras do próprio Kant). Seus questionamentos filosóficos servirão de motivação para que Kant encontre novos fundamentos seguros para a ciência moderna. Se Hume não recebeu o devido reconhecimento filosófico em sua época, hoje ele é fundamental para compreendermos a nossa história.

E aí? Conseguiu entender tudo? Deixa nos comentários outros exemplos de associação de ideias para complementar esse artigo. Gostou dessa explicação? Compartilha esse texto nas suas redes sociais. Ficou ainda alguma dúvida? Entra em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Empirismo de David Hume Descomplicado: Referências

Coleção Ensino Médio 2ª série: Manual do Professor. – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 56 p.: il.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.