Descartes Descomplicado: Biografia e Filosofia

Descartes Descomplicado: Biografia e Filosofia

Olá, marujos! Hoje, falaremos sobre a vida e filosofia de René Descartes de um jeito descomplicado. Mostraremos os principais pontos da vida desse filósofo, matemático e cientista e trabalharemos de forma resumida suas principais contribuições para a filosofia, com links para artigos mais completos. Vamos lá!

Descartes Descomplicado: Biografia

Infância e Juventude

René Descartes nasceu em 31 de março de 1596 na cidade La Haye (que hoje se chama Descartes), na França.

Era filho de Joachim Descartes (juiz local) e Jeanne Brochard. Sua mãe morreu quando ele tinha um ano. O pai se casou novamente e Descartes foi criado pela avó materna e uma ama de leite.

Descartes, aos oito anos de idade (em 1604), ingressou no colégio jesuíta Royal Henry-Le-Grand na cidade La Flèche. Em seus relatos biográficos, o filósofo comenta que não gostava da forma como as aulas eram dadas (que era o estilo escolástico de ensino).

Em 1616, com 20 anos, Descartes se graduou em Direito pela Universidade de Poitiers. Porém, nunca exerceu a profissão.

Carreira Militar

Descartes decidiu, em 1618, com 22 anos, seguir carreira militar e se alistou no exército de Maurício de Nassau, na Holanda.

Durante seu tempo como soldado, Descartes acabou conhecendo Isaac Beeckman, um filósofo e cientista natural que o inspirou a seguir os estudos científicos. Ele também viajou pela Dinamarca, Polônia e Alemanha, onde pode conhecer os locais de trabalho dos astrônomos Tycho Brahe e Johannes Kepler.

Os relatos biográficos dizem que Descartes teve alguns sonhos ou visões em 1619 que lhe chamaram a ser aquele que descobriria um método universal para pesquisar a verdade.

Carreira Intelectual

Com isso, ele deixou a carreira militar em 1620 e iniciou sua “vocação” viajando por vários meses pelo Sacro Império Romano, Holanda, Suíça e Itália para estudar com diversos acadêmicos locais.

Ele terminou por se estabelecer em Paris em 1625, aos 29 anos. Lá, convivia com o círculo da alta sociedade e intelectuais da época. Suas ideias e discussões lhe renderam uma reputação crescente.

Em 1629, com 33 anos, Descartes mudou-se para Holanda, provavelmente pela maior liberdade intelectual. Lá, também frequentou o grupo de intelectuais.

Aos 39 anos, em 1635, Descartes teve uma filha com sua criada Helena Jans van der Strom. Porém, a menina, de nome Francine, morreu com apenas cinco anos.

Em 1637, Descartes publicou anonimamente (com medo da Inquisição) o livro Discurso sobre o Método (cujo nome original é Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência). Entre os apêndices desse livro, estava um tratado sobre geometria, onde introduziu o sistema de coordenadas que recebeu posteriormente o nome de “cartesianas”, em sua homenagem (o nome latino de René Descartes é Renatus Cartesius).

O seu livro mais famoso, Meditações Sobre a Filosofia Primeira (mais conhecido como Meditações Metafísicas) foi lançado em 1641 e relançado em 1642. É interessante dizer que tanto a primeira edição quanto a segunda, possuem anexos chamados “Objeções e Respostas” em que ele vai, como o nome sugere, respondendo objeções que seu pensamento teve (tanto antes da publicação do livro, quanto depois).

Nesse livro, Descartes prova a existência de Deus. Porém, isso não foi suficiente para evitar que, em 1643, sua filosofia fosse condenada pela Universidade de Utrecht (Holanda) e ele fosse acusado de ateísmo. Devido à perseguição que começou a sofrer, ele precisou fugir para a França algumas vezes.

Morte

Em 1649, aos 53 anos, Descartes aceitou o convite insistente da rainha Cristina da Suécia para ele ser o professor particular dela de filosofia e matemática.

Porém, o clima frio não lhe fez bem e ele acabou pegando uma forte pneumonia, morrendo no dia 11 de fevereiro de 1650 na cidade de Estocolmo, Suécia.

Seus restos mortais estão na Abadia de Saint-Germain-des-Prés, em Paris. Entretanto, seu crânio está no Musée de l’Homme (também em Paris).

Descartes Descomplicado: Filosofia da Ciência

Método Cartesiano

Descartes vai ser um dos primeiros a propor um método científico. Como o nome sugere, o método científico é a forma como um cientista deve analisar os fatos para tirar conclusões que podem ser consideradas verdadeiras.

Também podemos chamar de método filosófico porque não deixa de ser uma forma de se analisar um problema filosófico. Inclusive, toda a construção filosófica proposta por Descartes segue o seu próprio método investigativo. 

O método cartesiano consiste em quatro etapas, que ele chama de quatro regras:

1. Regra da Evidência: aceitar como verdadeiro apenas aquilo que for claro e distinto, ou seja, que seja irrefutável;

2. Regra da Análise: dividir o problema em quantas partes menores forem possíveis para serem analisadas separadamente;

3. Regra da Síntese (ou da Ordem): começar a resolver os problemas mais simples para depois resolver os mais complexos;

4. Regra da Enumeração: sempre revisar as análises feitas para ver se não houve nenhum equívoco.

Descartes Descomplicado: Teoria do Conhecimento

Racionalismo

Para um artigo dedicado ao Racionalismo de Descartes, acesse: Racionalismo de Descartes Descomplicado.

Descartes é considerado o pai da filosofia moderna e um dos principais responsáveis por separar de vez filosofia daquilo que ficaria conhecido como ciência moderna.

Ele também inaugurou a corrente filosófica que conhecemos como racionalismo. Essa corrente defende que a origem do conhecimento está na razão humana. Ou seja, que nós possuímos ideias inatas (que nascem com a gente) e só podemos conhecer e compreender o mundo exterior porque antes já preexistia algumas informações em nossas mentes.

Dúvida Metódica

Para um artigo dedicado à Dúvida Metódica, acesse: Dúvida Metódica Descomplicada e Certezas de Descartes Descomplicadas.

Como foi dito na parte biográfica de Descartes, ele se sentiu chamado a encontrar o fundamento do conhecimento verdadeiro. Refletindo sobre como fazer isso, ele propôs um método que ficou conhecido como dúvida metódica. Basicamente, sua proposta foi duvidar de qualquer fonte de conhecimento que trouxesse o mínimo de questionamento sobre a confiabilidade das respostas encontradas por esse caminho.

Aplicando essa lógica, ele percebeu que não se pode confiar nos nossos sentidos (porque eles nos enganam às vezes), na nossa noção de realidade (porque, às vezes, confundimos realidade e sonho) e na matemática (porque, hipoteticamente, poderíamos estar fazendo cálculos de forma errada se um gênio maligno manipulasse nossas mentes sem percebermos) [OBS.: essa parte do gênio maligno é real e, se quer entender isso melhor, leia o artigo completo “linkado” aí em cima].

Posto tudo em dúvida, Descartes percebeu que a única coisa da qual não se poderia duvidar é de que se está duvidando. Se eu duvido, penso. Se penso, existo (Cogito, ergo sum). Depois da certeza que existimos, Descartes vai ter a certeza que Deus existe porque, se somos seres imperfeitos, finitos e limitados e conseguimos pensar em algo perfeito, infinito e ilimitado é porque esse algo existe. Por fim, se Deus existe e é perfeito, ele também é bom; se é bom, não nos engana, e se não nos engana, a noção de mundo que ele nos permite ter é real.

Tipos de Ideias

Para um artigo que desenvolve melhor os Tipos de Ideias, acesse: Racionalismo de Descartes Descomplicado: Os Tipos de Ideias.

Após descobrir o fundamento da verdade, a fonte do conhecimento humano, Descartes foi capaz de deduzir que existem três tipos de ideias:

1. Ideias Inatas: que nascem juntas com a mente humana e que não precisam de nenhuma experiência sensível para acessá-las e compreendê-las;

2. Ideias Adventícias: ideias novas, que são acrescentadas a nossa razão decorrente das nossas experiências com o mundo;

3. Ideias Factícias: são criadas em nossa imaginação e não possuem correspondência com a realidade.

Descartes Descomplicado: Antropologia Filosófica

Dualismo Substancialista

Para Descartes, o ser humano seria formado por duas substâncias independentes: corpo (coisa extensa) e alma (coisa pensante). Elas poderiam existir por si próprias, de forma independente. Enquanto unidos, a alma ficaria alojada na glândula pineal.

A alma seria una, indivisível, e o que chamamos de “eu” ou consciência. Já corpo seria divisível e somente ele poderia ter as percepções sensíveis.

Descartes Descomplicado: Ética

Paixões da Alma

Para Descartes, paixões são “percepções ou sentimentos, ou emoções da alma, que se relacionam particularmente com ela”. Elas são ações do corpo, causadas por ele, que recebe o estímulo exterior e transmite para a alma. A alma, então, afetada, irá reagir dando um novo estímulo para o corpo em resposta.

As paixões não são ruins em si. Ao contrário, são necessárias para que saibamos o que é bom ou prejudicial para o corpo.

Sua proposta não é negar as paixões porque elas fazem parte da natureza humana. O que se precisa fazer é compreender suas causas e efeitos e, com isso, aprendermos a lidar com elas para agirmos (ou reagirmos) de forma adequada.

O filósofo distingue seis paixões elementares (ou primitivas): admiração, amor, ódio, desejo, alegria e tristeza. Dessas seis, ele irá propor outras que são combinações das paixões primitivas.

Descartes Descomplicado: Principais Obras e Comentários

           
Descartes Descomplicado: Conclusão

Descartes é um dos mais importantes filósofos da história. Suas contribuições mudaram toda a forma de se fazer filosofia e, também, de se buscar a verdade. Suas contribuições antropológicas, psicológicas e ética não são tão famosas, mas deram o “pontapé inicial” para estudos que considerassem uma maior relevância fisiológica na compreensão da alma / consciência / psique humana.

E aí? Quer mais detalhes de alguma teoria de Descartes? Comenta! Gostou? Compartilha! Quer artigos como esse de outros filósofos? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

ARANHA, Maria Lúcia Arruda. Filosofar com textos: temas e história da Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2016.

UOL Educação. René Descartes.

WIKIPÉDIA. Les Passions de l’âme (francês).

________. René Dercartes (alemão).

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.