O Existencialismo de Sartre Descomplicado

O Existencialismo de Sartre Descomplicado

O Existencialismo de Sartre Descomplicado

Olá, marujos! Hoje iremos falar sobre o existencialismo de Sartre de um jeito descomplicado. Iremos explicar brevemente quem é Jean-Paul Sartre, sua teoria existencialista e também dar algumas referências da cultura nerd que exploram um pouco da sua proposta. Vamos lá!

Jean-Paul Sartre

Sartre é um filósofo e escritor francês contemporâneo, que viveu de 1905 a 1980. Foi um dos maiores representantes da teoria existencialista (que iremos explorar mais adiante). Ele também era um ativista político, se engajando em diversas causas, especialmente defendendo uma política de esquerda.

Sobre sua história pessoal, ele ficou órfão de pai com quinze meses e foi criado na casa dos avós maternos. Na infância, despertou interesse pela leitura e escrita, mostrando sua vocação para a literatura. Foi no que chamamos aqui de Ensino Médio que ele conheceu a filosofia. Na faculdade, começou a esboçar alguns pensamentos filosóficos independentes.

No mestrado, conhece Simone de Beauvoir, sua companheira de relacionamento aberto. Ela também é era sua parceira na filosofia, sempre colaborando com ele em seus trabalhos.

Em 1938 publicou seu romance A Náusea, que continha traços de sua reflexão filosófica, e que foi um sucesso literário na França. Em 1943 publica O Ser e o Nada: Ensaio de Ontologia Fenomenológica, seu livro de filosofia mais famoso.

Em 1950 assume uma postura politizada, defendendo o comunismo, sendo considerado o modelo do intelectual engajado.

O Existencialismo de Sartre Descomplicado

O Ser Humano como um Ser “Para-si”

Segundo Sartre, deve existir uma distinção entre o ser humano e os demais seres. Para o filósofo, tudo o que não é humano seria algo sem consciência de si, apenas estando no mundo, sem nenhum tipo de propósito, apenas sendo alguma coisa. Ele chama todos esses objetos de ser “em-si”. Essas coisas esgotam-se em si mesmas, não tendo nada a mais a acrescentar ao mundo do que a sua existência tal como é e sempre será.

Por outro lado, o ser humano é diferente. Ele tem consciência de si, da sua existência e da existência das demais coisas no mundo. Dessa forma, Sartre chama o ser humano de ser “para-si” porque essa consciência é livre e se constrói ao longo da sua existência, surgindo incompleta e sempre se aperfeiçoando.

Simplificando, o ser humano sabe que existe, que está no mundo e compreende a existência das demais coisas. Esse saber faz com que ele não tenha um definição, permitindo que ele escolha ser o que bem entender. Por outro lado, todas as demais coisas não tem consciência que existem, apenas estando no mundo, com seu propósito pré-definido pela sua existência em si.

Por exemplo, o cachorro existe para ser um cachorro e uma planta existe para ser uma planta. Nós sabemos o que é um cachorro e uma planta, mas o cachorro e a planta não sabem o que são. O ser humano, por outro lado, sabe que existe, mas não possui uma função determinada. Não existe para ele algo como “ser um ser humano”, porque não existiria sentido nessa frase já que não existe uma resposta pronta para o que é “ser ser humano”.

A Liberdade, a Náusea e o Nada

Sartre chama de náusea a sensação experimentada pelo ser humano no momento em que ele percebe que sua existência não tem nenhum sentido definido. Segundo o filósofo, somos condenados a ser livres.

Dito de outra forma, o cachorro não se importa em ser cachorro porque ele não tem consciência disso. Ele apenas está no mundo. Já o ser humano sabe que existe, mas não sabe qual o seu propósito nesse mundo. Ele pode ser qualquer coisa porque é livre. O ser humano entende que sua existência não tem nenhuma determinação e nenhum sentido necessário, obrigatório. Sua vida é um acaso. Por saber disso, o ser humano se angustia, sofrendo dessa náusea (que é a sensação de enjoo).

Sem nenhuma predeterminação, a consciência humana seria o nada. O ser humano nasce sendo nada e precisa, por suas ações, encontrar um sentido para a sua vida, para que ela deixe de ser nada para ser alguma coisa. Aí está a liberdade do ser humano.

Uma planta nasce planta e será durante toda a sua vida obrigada a ser planta, fazendo a função de uma planta. Por outro lado, o ser humano nasce nada e poderá escolher o que fazer da sua vida. Ser ser humano significaria nascer sem nada, sem nenhuma predeterminação. A questão é que, mesmo nascendo nada, podemos escolher ser alguma coisa e as possibilidades são praticamente infinitas.

A Existência Precede a Essência

Seguindo essa lógica, Sartre vai dizer que todos os seres existentes, exceto o ser humano possui uma essência predefinida. Essência seria a característica fundamental de algo, aquilo que determina o que a coisa é. Pense em um perfume: quando pensamos na essência de um perfume, pensamos no cheiro característico dele, aquele odor que só ele tem e mais nenhum, aquele cheiro que vai determinar que tipo de perfume ele é.

Sendo assim, tudo o que existe exceto o ser humano tem uma essência que precede a existência. Ou seja, um cachorro existe já sabendo sua função e modo de ser de um cachorro; uma planta já existe sabendo que tipo de planta é e o que fará durante a sua existência de planta. Chamamos isso de instinto ou fatores biológicos.

Agora, diferentemente dos demais seres, o ser humano não sabe o que será no mundo. Claro que se sabe o que é um ser humano, mas o que significa ser um ser humano? Que tipo de vida escolher, que decisões tomar, que profissão seguir, escolher se vai se reproduzir ou não, quais hobbies priorizar, quais caminhos trilhar… tudo isso depende de uma decisão que não está estipulada no DNA do ser humano. Cada indivíduo vai ter que escolher cada passo que dá, cada decisão tomar.

A partir das decisões que vamos tomando, vamos moldando quem somos nós. Esse quem somos seria para Sartre a nossa essência. Dessa forma, entendemos que para Sartre a essência do ser humano vem depois da sua existência. Se nascemos nada, vamos nos tornando alguma coisa pelo caminho que vamos traçando em nossas vidas. O conjunto dessas características que marcam nossas vidas e nosso jeito de ser seria, para o filósofo, nossa essência.

Assim, percebemos que a essência do ser humano para Sarte não é fixa, mas flexível, mutável. Ela vai mudando cada vez que mudamos quem somos. Tudo isso só sendo permitido porque somos livres.

Existencialismo como Humanismo

Sartre vai defender que sua proposta existencialista é um humanismo porque ela respeita e dá dignidade total ao ser humano. Em sua proposta filosófica, o ser humano tem inteiro controle sobre sua vida. Sendo assim, seria a proposta mais humanista que existe, que coloca nas mãos do ser humano, de forma individual, o controle total sobre sua vida.

A Responsabilidade, A Má-fé e o Ateísmo de Sartre

Para Sartre, o ser humano age de má-fé quando tenta justificar suas atitudes e fracassos dizendo que foram causadas por algo exterior a eles mesmos. Por exemplo, dizer que agiu de determinada forma porque foi assim que ele aprendeu; ou que sua vida está de um determinado jeito porque Deus assim quis.

Se toda a liberdade está nas mãos do ser humano (inclusive, Sartre diz que a única determinação do ser humano é ser livre), então todas as suas conquistas e fracassos só pertencem a ele mesmo. Lembrando, claro, que estamos falando do indivíduo, não podendo assim, colocar a culpa em alguma característica comum a todos os seres humanos.

Sartre defende que a liberdade traz consigo o conceito de responsabilidade, nos fazendo responsáveis pelas decisões que tomamos e posturas que assumimos. Se queremos aproveitar da liberdade que temos, também temos que assumir as consequências dessa liberdade.

É por isso que Sartre diz que seu existencialismo precisa ser ateu. Não como proposta de negar a existência de Deus, mas como forma de mostrar que Deus não é necessário para explicar as coisas nem dar um sentido para a existência humana.

O Existencialismo de Sartre Descomplicado: Outras Mídias

Sobre a falta de sentido da vida, um ótimo livro que indico é O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Sobre a questão da má-fé, indico a série The Boys.

Sobre a capacidade de autodeterminação do ser humano, indico o filme O Show de Truman.

O Existencialismo de Sartre Descomplicado: Conclusão

O pensamento existencialista de Sartre influenciou e ainda influencia a nossa geração. Ainda seria possível explorar mais profundamente suas teorias, mas a proposta aqui é trazer, de uma forma descomplicada, um resumo da sua proposta existencialista, com todas as suas principais questões trabalhadas (mesmo que brevemente). Espero que esse artigo sirva para te ajudar a entender esse pensador e sua proposta filosófica e, quem sabe, te inspirar a aprofundar mais seus estudos.

E aí? O que achou da proposta existencialista de Sartre? Deixa nos comentários! Gostou desse artigo? Compartilha para mais pessoas poderem aprender! Quer sugerir algum tema para a sessão de filosofia descomplicada? Entre em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

Coleção Ensino Médio 2ª série: Manual do Professor. – Belo Horizonte: Bernoulli Sistema de Ensino, 2019. 64 p.: il.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.