Reflexão sobre Locke & Key: A Chave para a Mente Humana

Reflexão sobre Locke & Key: A Chave para a Mente Humana

Reflexão sobre Locke & Key: A Chave para a Mente Humana 

Olá, marujos! Hoje vamos fazer uma reflexão sobre a série Locke & Key que estreou recentemente na Netflix. Essa é uma série focada nos dilemas adolescentes e que envolve magia no mundo real. Eu gostei bastante: tem uma trama interessante, consegue te prender no mistério das chaves e, como não podia faltar, faz algumas reflexões instigantes. Eu vou explorar a questão do inconsciente, que é frequentemente abordado na série através do poder da chave da cabeça. Essa reflexão vai ter alguns spoilers da série, mas não vai entregar o final. Vamos lá!

Sobre Locke & Key

Locke & Key é uma série da Netflix inspirada no quadrinho de mesmo nome (sendo que existem algumas adaptações e mudanças).

Na série da Netflix, a história acompanha os três irmãos Locke, que se mudam para Keyhouse, a antiga casa da família de seu pai. O pai, Rendell Locke (Bill Heck), foi assassinado por um de seus alunos. A família faz a mudança na esperança de recomeçar, mas com a mãe sabendo que a casa tinha alguma coisa a ver com o assassinato.

Chegando na casa, os irmãos começam a encontrar chaves mágicas. Cada chave tem um formato e uma função diferente, e eles começam a explorar essas funcionalidades.

Tudo seria perfeito se não existisse a “moça do poço” (Laysla De Oliveira). Essa mulher aparece para o irmão mais novo, Bode Locke (Jackson Robert Scott), e o convence a soltá-la. Depois disso, ela irá atrás de todas as chaves e os irmãos terão que dar um jeito de se protegerem e neutralizarem ela.

A Chave da Cabeça e O Inconsciente

Uma das chaves mais importantes é a chave da cabeça. Quando aproximamos essa chave de uma pessoa, ela revela uma fechadura na nuca dela. Quando usada, ela “desliga” a pessoa e surge um outro dela ao mesmo tempo que surge uma porta para o interior da mente daquela pessoa. Essa mente se personifica em alguma estrutura física e pode ser explorada, tanto suas partes conscientes quanto inconscientes.

Essa foi a parte que mais me intrigou da série porque nos desperta algumas reflexões interessantes sobre o inconsciente humano. O Inconsciente ficou famoso pelo estudo psicanalítico de Freud, mas a teoria do inconsciente (que as vezes é chamada de subconsciente) é muito mais antiga e foi explorada e teorizada por muito filósofos. Como o termo possui diferentes interpretações, vamos “definir” aqui o inconsciente como tudo aquilo que está na nossa mente e não temos consciência que está lá, seriam aqueles registros mentais que esquecemos ou bloqueamos, mas que não desapareceram e ainda podem nos afetar, mesmo sem sabermos ou percebermos.

Reflexão sobre Locke & Key: Por dentro da Cabeça de Kinsey Locke

Kinsey Locke (Emilia Jones) é a irmã do meio. Ela usa a chave para explorar sua mente para revisitar memórias com seu pai falecido. Sua mente parece um shopping center futurista e ela vai, junto com seu irmão mais velho Tyler Locke (Connor Jessup) descobrir o final de uma história que eles escutaram do seu pai, mas que aparentemente tinha finais diferentes. Contudo, uma série de fatores e lembranças fazem com ela desperte medo, e esse medo se personifica em uma versão monstruosa dela mesma, que ataca tudo o que ela teme. Ela não tinha consciência até então que possui um medo tão poderoso e incontrolável.

Kinsey estava com dificuldades de se enturmar e percebe que essa atitude se devia ao medo que estava sentido. Qual foi sua grande ideia? Ela volta sozinha para a sua mente, retira a força o medo que estava lá dentro e o mata! Parece ótimo, né? Nem tanto… Realmente a falta de medo fez com ela “acordasse” para a vida e se soltasse, sendo mais radiante e feliz. Entretanto, a ausência total de medo fez ela ficar imprudente. Sem o medo para lhe dar freios, ela começou a colocar sua vida em risco e também a agir de forma impensada, falando e agindo sem filtros (o que acabou causando problemas de relacionamento com seus novos amigos).

No linguajar popular, Kinsey foi do “oito ao oitenta” e isso não é bom. Aristóteles, na sua ética, vai defender que a melhor forma de agir para o ser humano é o equilíbrio. Que nenhuma atitude extremista, nem para o lado do excesso nem para o lado da escassez é boa. Ou seja, Kinsey devia sim combater seu medo e controlá-lo, mas não podia eliminá-lo. Ter medo é importante para o ser humano porque lhe dá um freio para algumas atitudes e ações irresponsáveis.

Reflexão sobre Locke & Key: Por dentro da Cabeça de Tyler Locke

Nós não conseguimos ver o que tem dentro da cabela de Tyler, mas vemos como ele se aproveita da magia da chave da cabeça.

Tyler é o típico garoto popular, mas não muito estudioso. Isso não era um problema até ele querer impressionar uma menina que demostrar ser mais estudiosa do que ele. Ela começa a falar de vários assuntos que ele não domina e, para tentar impressioná-la, tem uma ideia: se a sua irmã conseguiu tirar algo de dentro da sua cabeça, ele conseguiria colocar algo dentro dela. E foi o que ele fez.

Tyler jogou para dentro da sua mente ativada pela chave da cabeça alguns livros que ele precisaria ler e magicamente ele aprendeu tudo aquilo como se fosse um dicionário de verbetes.

Primeiramente, pensemos: quem nunca sonhou com isso? Imagina! Poder “aprender” tudo o que quiséssemos apenas jogando a informação para dentro, sem nenhum outro esforço ou gasto de tempo. Parece uma maravilha a primeira vista, mas será que é tão bom assim? Na série, não vimos nenhum grande revés sofrido por Tyler ao fazer isso, apenas uma brincadeira vinda de Jackie Veda (Genevieve Kang): ela questiona se ele tinha decorado algum manual já que falava tudo de forma mecânica. E esse é o ponto que quero chegar.

Quando falamos de conhecimento, estamos falando de uma relação que existe entre a pessoa que quer conhecer e aquilo que queremos conhecer. Essa relação pode se dar de várias maneiras e isso influencia a forma como produzimos determinado conhecimento. Basicamente, precisa existir uma interpretação do nosso intelecto daquilo que recebemos de informações pelos nossos sentidos. Contudo, se não existe uma interpretação, não existe nenhum tipo de filtro intelectual que processe a informação adquirida.

É por isso que, no caso do Tyler, não existia uma humanização do seu conhecimento, porque ele não fez o caminha da interpretação, ele apenas “enfiou” a informação dentro da sua cabeça. Ele, no fundo, não entendeu, apenas decorou. E esse tipo de conhecimento acaba sendo um conhecimento empobrecido, porque não traz um sentido de importância para nós, não expressa nossa paixão pelo assunto. Isso é muito semelhante ao fenômeno da cola que existe nas escolas.

Reflexão sobre Locke & Key: Por dentro da Cabeça de Erin Voss

A última mente a ser explorada nessa reflexão é a da personagem Erin Voss (Joy Tanner). Devido a um trauma que ela deve quando adolescente, ligado às chaves mágicas, ela entrou em um processo de “inércia”. Ela não estava exatamente em um estado vegetativo, mas também não falava nem interagia com as outras pessoas.

No decorrer da série, irão abrir a sua mente com a chave da cabeça, mas, curiosamente, Erin não aparece para entrar dentro da sua mente. Porém, já lá dentro, descobrimos a sua personificação escondida dentro da sua própria mente. Com isso, parece que essa personificação que sempre aparece quando a chave é ativada significa o nosso consciente, que ainda está ativo quando visitamos a nossa mente.

Duas interpretações são possíveis: ou o trauma vez com que seu consciente se trancasse dentro da sua mente, fazendo ela entrar nesse estado catatônico; ou devido àquilo que ela viu no passado, ela conscientemente usou a chave para se trancar dentro da sua mente, provocando, assim, sua reação externa catatônica. As duas opções são bem interessantes porque revelam o poder da consciência de se esconder. Sem explorar as teorias psicológicas possíveis, apenas quero destacar o poder que existe em nossa mente, inclusive para ocultar quem somos de nós mesmos. Seja proposital, seja acidental, pensar que nossa consciência nunca se desfaz, sempre estando presente é algo muito forte que pode ter grandes impactos éticos, como, por exemplo, o que fazer com pessoas em coma a longos anos ou que estejam em um estado vegetativo.

Fato é que mesmo a porta sendo reaberta, Erin não saiu. Se não podia, não conseguia ou não queria, será uma interpretação de cada um que for ver a série. Mas não podemos deixar de notar o quanto ainda é misteriosa a mente humana e o quanto é difícil e fascinante tentar entendê-la.

Conclusão

Locke & Key é, como disse, um série bem legal e que merece ter continuação para continuarmos o desenrolar da história. Essa reflexão só se baseou na primeira temporada, sendo possível que as próximas aventuras tragam novas questões a serem debatidas. No mais, reforço o quanto é instigante pensarmos filosoficamente o ser humano e quanto ainda podemos desenvolver estudos nessa área da mente humana, que começou na filosofia e hoje é mais explorada na psicologia.

E aí? Gostou da série? Deixa suas impressões sobre ela nos comentários! Gostou dessa reflexão? Compartilha para que mais pessoas possam lê-la! Quer sugerir algum tema nerd para fazer uma reflexão ou quer mais artigos sobre a mente humana? Entra em contato comigo.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.