Uma reflexão sobre O Show de Truman: quem somos nós e quem queremos ser

Uma reflexão sobre O Show de Truman: quem somos nós e quem queremos ser

Uma reflexão sobre O Show de Truman: quem somos nós e quem queremos ser

Olá, marujos! Hoje vamos fazer uma reflexão sobre O Show de Truman – O Show da Vida, um filme de comédia dramática que nos faz lembrar dos Reality Shows que vemos nos canais de TV e nos leva a reflexões sobre quem somos nós e quem queremos ser. Ah! Se você nunca viu o filme ou já viu mas não lembra direito da história, não tem problema em ler o artigo, porque eu sempre começo os meus textos contando a história do filme para poder situar você na reflexão. E se você for uma pessoa que não gosta de spoilers, mas também não tem como ver o filme logo, pensa o seguinte: lendo o meu artigo antes, mesmo perdendo a surpresa do filme, você poderá aproveitar melhor o filme, porque relembrará desse texto enquanto a história vai se desenrolando e irá refazer as ligações que fiz aqui. Então, vamos lá!

Sobre o filme

No enredo, O Show de Truman é um programa de TV americano que acompanha a vida toda de Truman Burbank (Jim Carrey). E quando digo toda, é literalmente. Truman foi encomendado em uma barriga de aluguel e adotado pela emissora de TV. Sua vida esteve sendo acompanhada 24 horas por dia e transmitida para as pessoas.

Nas vésperas de completar 30 anos, ele começa a desconfiar que a realidade em que ele vive não é tão “real” assim. Vários fatores como um refletor caindo do teto até situações deliberadamente provocadas para impedi-lo de sair da cidade, fizeram com que ele se tocasse de que algo não estava certo e que ele estava sendo, em certa medida, controlado e sua vida manipulada.

Somado a essa desconfiança, existe um amor não vivido por Sylvia (Natascha McElhone), uma figurante que se envolveu com ele e foi retirada do programa porque ela quis lhe contar a verdade. Esse fato ocorreu na adolescência de Truman, mas ele nunca a esqueceu e isso foi o catalisador para ele ousar desafiar os “imprevistos” e chegar ao extremo do cenário (que era a sua realidade, sua caverna como diria Platão) e fugir do programa.

Uma reflexão sobre O Show de Truman: quem somos nós

Até as vésperas de seu aniversário de 30 anos, Truman nunca havia desconfiado verdadeiramente que estava “preso” em um programa de TV. Tudo era feito para ele acreditar que aquela era uma vida normal e que ele estava tomando todas as decisões. Até mesmo os imprevistos eram justificados pelos produtores do programa, com histórias inventadas veiculadas na rádio ou jornal locais.

A cidade de Truman, Seahaven, era uma ilha. Logo, para sair, era somente de barco, avião ou ponte. Os produtores fizeram Truman, desde criança, ter medo do mar, chegando ao ponto de provocar a “morte” de seu pai. Quando queria sair de avião, nunca tinha voo. Via transporte terrestre, ou o ônibus quebrava ou a passagem estava interditada.

A formação cidadã de Truman também foi manipulada porque, em certo sentido, ele não teve muitas opções de onde estudar, com quem se relacionar, onde trabalhar… Tudo isso foi induzido e controlado pelos produtores.

Mas aí você pode se perguntar: Ué? Mas não é a mesma coisa com a gente? Não existe uma limitação naquilo que eu posso fazer e com quem me relacionar? E a resposta é: Exatamente! Nós, de certo modo, vivemos em um show chamado realidade.

Boa parte de quem somos é consequência da criação dos nossos pais, do nosso círculo de amizades e ambientes frequentados, assim como da educação escolar recebida. E quanto mais serviços públicos usamos, mais influência do governo sofremos. E mesmo que tudo tenha sido particular, ainda ficamos submetidos às leis do país.

Karl Marx vai dizer que nós somos o resultado de nossas relações sociais. Ou seja, que nossa forma de pensar e agir é extremamente influenciada por todas as experiências e condições de vida que tivemos.

É só pensar que, caso tivéssemos vivido no Brasil colônia, nós teríamos outra forma de educação e convívio social, com outra mentalidade. A mesma coisa aconteceria se tivéssemos nascido e vivido no mesmo ano em que nascemos, mas em outro país. Seria outra cultura, com outros valores, outras leis.

Logo, Truman é reflexo de tudo aquilo que proporcionaram a ele. Se tivessem lhe proporcionado outras experiências, ele seria outra pessoa. Da mesma forma, nós somos reflexos do que vivemos e, por isso, nossa formação humana, intelectual, social, afetiva, espiritual moldou nossas características.

Uma reflexão sobre O Show de Truman: quem queremos ser

Apesar de Truman ser sempre conduzido a pensar de um determinado jeito, chega uma hora em que ele se revolta com aquela condição e, sozinho, rompe com aquele sistema e se liberta. Ele tinha uma motivação muito forte, que era o seu amor por Sylvia e isso foi decisivo.

Assim como ele, todos nós temos capacidade de “abandonar” nosso passado e nos decidirmos por mudar de vida. É claro que isso demanda um esforço, uma vontade interior muito forte. É por isso que normalmente só acontece quando algo muito grande está em jogo. Algo precisa nos provocar muito para sairmos da estabilidade, da inércia e nos arriscarmos no novo.

Jean-Paul Sartre acreditava que nossa existência precede à essência. Ou seja, primeiro existimos e depois descobrimos quem somos. Esse “quem somos” começa baseado naquilo ao qual somos apresentados, naquilo que somos formados. Entretanto, chega um momento no qual tomamos consciência de que existimos e somos responsáveis pelo nosso ser, por quem somos.

É de Sartre a famosa frase “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Percebe-se, assim, que apesar de tudo, no final das contas, somos nós os responsáveis por nossas vidas e somos nós que devemos tomar o controle das decisões que teremos.

Isso nos dá medo? Óbvio! Mas isso faz parte do viver, é algo que não devemos deixar de fazer. Para o filósofo, a pior coisa é tomarmos consciência de que precisamos assumir a responsabilidade de nossas vidas e decidirmos deliberadamente não o fazer, continuando a deixar a critério dos outros a condução do nosso viver.

Truman teve a motivação, mas também a coragem necessária para arriscar tudo por um sonho. Ele não sabia se Sylvia ainda o estava esperando. Ele não sabia que estava exatamente em um programa de TV e não fazia ideia de como era o mundo lá fora. Ele não sabia o que o aguardava, mas só o fato de saber que a partir daquele momento ele estaria no controle da situação já lhe deixava feliz.

Ele, que por 30 anos foi covarde, finalmente acordou e reagiu. Talvez seja esse artigo que estava faltando em sua vida para que você acordasse e reagisse também! Pare e pense se tem algo que você gostaria de mudar, mas não tem coragem; algo que lhe é conveniente, que prefere deixar estável que arriscar. Não tenha mais medo e arrisque-se!

Uma reflexão sobre O Show de Truman: conclusão

Não existe garantia do sucesso, mas só haverá sucesso se tentar. Esse blog é uma tentativa minha de conseguir conquistar algo mais do que apenas minha vida de professor. É a tentativa de atingir um público muito maior que apenas meus alunos. É a tentativa de mostrar o bem que a filosofia pode nos fazer e como ela pode ser leve, se bem trabalhada.

O blog ainda não é famoso. Mas eu tinha consciência, quando iniciei o projeto, que a única forma de divulgar o meu trabalho era fazendo o blog! Se eu ficasse parado, apenas pensando sobre as dificuldades que existem para conciliar minha vida de professor com a vida de blogueiro, esse projeto nunca deixaria de ser apenas uma ideia. E agora, se você está aqui, lendo esse artigo, significa que meu sonho está se realizando, que está funcionando, que minha ousadia está dando frutos. Lembra? Você era o meu objetivo!

Assim, termino essa reflexão catártica (desabafo) te convidando a embarcar nessa loucura de realizar nossos sonhos assim como eu embarquei na minha nau dos loucos. Precisamos ser loucos de vez em quando para fugirmos da estabilidade da vida e, assim como Truman, pegarmos nossos barcos e irmos além-mar, rumo aos nossos objetivos.

E aí? Como foi a experiência de ler esse artigo? Para mim foi emocionante escrevê-lo e espero muito que possa ter te emocionado também! Compartilha com a gente, aí nos comentários, o que essa leitura despertou em você e mostre que não estou sozinho! Se você conseguiu vibrar com esse artigo, outros conseguirão também. Então, compartilhe esse artigo ao máximo para contagiar outras pessoas também! E se quiser falar comigo particularmente, caso seja algo muito pessoal ou se precisa de alguém para conversar sobre sua realidade, não hesite em me mandar uma mensagem pelo formulário de contato, e-mail ou em qualquer mídia social.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.